domingo, 19 de abril de 2009

Esta cidade deveria se chamar Corinthians

Domingão tranqüilo, prenunciando sofrimento. Ser corinthiano é isso. Nada de especial no jornal, nem na privada, a não ser merda. Fui pro banho e Dex me pediu pra evitar a bronha. Perguntei por quê?

- Com bronha demora muito – disse ela.

Ok. Sem bronha, então. O que costuma fazer o banho demorar é que quando eu chego ao pinto, devido às grandes dimensões, causa uma certa morosidade na assepsia. Eh,eh,eh!

Já fora do chuveiro, quase duas da tarde, meti minha camisa branca do Timão, aquela que tenho usado em jogos importantes este ano e que tem dado sorte. Dex ficou me tirando, dizendo que eu não a tenho assediado ultimamente. Pulei em cima dela e fiz o serviço. Bem feito. Com direito a boca naquilo, aquilo na boca e aquilo naquilo. Nossa, quanta classe, heim? Nos bons tempos eu diria boca na buceta, pinto na boca e pinto na buceta. É, ando regenerado. Na verdade já estou na pilha do jogo. Vamos almoçar, então, porra.

Pensei em irmos à pé, seguindo na nossa exploração gastronômica das redondezas. Mas a hora não espera e fiquei com medo de demorar pra sair o rango e perder o início do jogo. Fomos de carro. Encontramos um restaurante por quilo pouca coisa pra frente do Pão de Açúcar. Dex não curtiu o rango. Eu como qualquer coisa que não me coma antes. Tomei uma Brahma. O simpático garçom quis me empurrar Bohemia que, como eu já disse a vcs, ta com gosto de perfume. Mandei guardar pra família dele.

- Brahma, caralho!

Comemos rápido e Dex decidiu comer sobremesa no "Amor aos Pedaços". É do lado. Bora. Mousse de chocolate pra mim, torta de nozes pra ela. Cinqüenta centavos de troco que foram pra mão do cuzão do guardador de carros. Eu não gosto de guardador de carros. A gente paga pro cara não detonar nosso carro. É a instituição do acharcamento, da chantagem. Bem, deixa pra lá.

To em casa, solitário. André ligou querendo ver o jogo e beber cerveja aqui. Cerveja não tem, pois eu to na pilha do jogo mas tem ensaio depois. Inocentemente, marcamos de ver o jogo de domingo que vem juntos, sem atentar que ainda teríamos que ganhar dos bambis pra fazer a final com o Santos. Será um bom presságio?

Meu amigo Robinho, de Telêmaco Borba, bambi juramentado que tem as mesmas tatoos de garrafas que eu nos braços, me manda um torpedo dizendo que vai ser dois a um pra eles. Respondo apenas 1 a 1. Ele diz que duvida. Deixa pra depois do jogo. Fabinho, que tem acertado todos os últimos palpites de placar, me diz que vai ser dois a zero. Eu digo um a um. Com qualquer um dos dois a gente passa. Esta final é importante para quem, como nós, ta vindo de uma dramática queda pra segunda divisão. Temos 25 paulistas, mas superar Palmeiras, São Paulo e, se Deus quiser, o Santos vai ser coisa pra se orgulhar. 

Nestas finais do paulistão os times envolvidos têm seis títulos mundiais, seis libertadores, e mais 16 brasileirões. Somos o estado brasileiro com mais títulos no futebol, nacionais e internacionais. Todo respeito a Minas e Rio Grande do Sul, mas lá o campeonato só tem dois times. Quem não ganha fica em último. Não venham falar de Ipatinga, América, Caxias ou Juventude. Todos meros coadjuvantes. No Rio tem quatro, mas faça a soma de títulos brasileiros, libertadores e mundiais e vc vai entender que o campeonato estadual mais difícil do Brasil é o paulista. Simbora pra cima delas. Da bicharada.

Começa a partida e até onde eu sei, só moram corinthianos nas redondezas da minha casa. Mas a cada ataque do São Paulo (e não são poucos, especialmente no primeiro tempo) alguém por aí grita "uh". Tem bambi na área. Vou pegar minha espingarda de matar viado. Eh,eh,eh. Sabe como é o nome dela: Ronaldo.

O primeiro tempo passa nervoso com o São Paulo mais articulado, sempre parando na defesa menos vazada do campeonato que é alvi negra. Ronaldo mete um chute meio de canto, mas Bosco pega. Ele ta no lugar do Rogério Ceni que lascou a unha e está no departamento de beleza do time do Morumbi.

Passei um primeiro tempo razoável e estranhamente tranqüilo, com o coração na boca, é claro. Ver o jogo na NeT é um problema, pois o sinal direto da TV aberta chega primeiro nos aparelhos de TV das redondezas. Sendo assim, se sai gol a galera da vizinhança grita primeiro. Deste modo, a cada ataque do São Paulo eu tampo os ouvidos, pra não ouvir a bola entrar antes de ver.

O segundo tempo começa e eu to pensando que não consigo antever uma final entre Santos e Timão. E o medo de um gol dos bambis aumenta. Bola na área do Corinthians e Borges cabeceia na trave. Caralho. Felipe ainda tocou? Meu Deus, mais quarenta e cinco minutos de sofrimento, porra. Eu ainda morro disso. Nove minutos e quarenta e sete segundos, e um frio percorre minha espinha. Uma voz sei lá de onde me diz: "vamos perder". Não caraio, nunca. Dez minutos e trinta e pouco, Ronaldo mete uma bola pro lado de lá, Jorge Henrique chuta, a bola bate na trave... Epa, voltou livre pro Douglas na marca do pênalti. 

É gol, é gol, é gol. Perder é o caralho, voz do além. Agora eles precisam fazer dois. Estamos invictos há vinte e três partidas este ano, a caminho da vigésima quarta. Mais um. Mais um para fechar a tampa do caixão. Bola esticada pro Ronaldo, na corrida. Um filho da puta dum diretor do São Paulo disse esta semana que o Ronaldo é um ex-jogador. Ele corre pra bola, ganha da zaga são paulina na corrida e mete... Na rede!

Gol, gol, gol do ex-jogador, diretor bambi da minha pica. Mexe com quem ta quieto. 

Faltam alguns minutos pra acabar e a única exlicação pro Timão não ter enfiado mais uns três é manter a escrita das previsões do Fabinho. Terminou! Tamo na final com o Santos. Pau no cu da bambizada. Já gritei e vibrei pra caralho. Mas to sóbrio, por causa do ensaio, trabalho, trabalho, puta que pariu. Robinho me liga de Telêmaco Borba. A casa dele ta cheia de corinthianos, comendo seu churrasco e bebendo sua cerveja. Ele disse que perdeu a sede. Chupa, bambi!

Pai Fabinho me liga e aos gritos eu digo que ele é o cara, que quero os placares dos próximos jogos. Ta tudo numa alegria danada. Ouço gente gritando e carros buzinando na vizinhança. Vou daqui da ZN para a casa do Roy na Vila Mariana observar como respira esta cidade que se chama São Paulo. Mas deveria se chamar Corinthians!

Ge e Claudia, tios da Dex, chegam junto com a sogrona. Ela ta feliz, diz que é corinthiana. Ge virou a noite trampando no SBT e ao chegar em casa emendou vendo a Fórmula 1. Tá morto. Desmaiou no sofá. Na TV, Ronaldo fez alguns elogios pro São Paulo, sua torcida, mas destacou que sempre tem que ter alguém falando merda. Ele ta se referindo ao tal de Leco, diretor do clube. Fala agora cuzão. Leco pra mim é leite. Bebidinha e criança e de bambi. Pois bem, o gordo, o acabado, o ex-atleta fez o gol que matou seu time, seu cuzão!

To a caminho do ensaio e a galera ta pra lá e pra cá com bandeiras do timão. Natural. Sofremos muito ano passado com a queda. Agora derrubamos os maiorais. Pouco importa se o campeonato paulista ou marciano. Chupa bambi.

Compro ou não compro umas brejas pra levar no ensaio? Durante todo o domingo só tomei aquela Brahminha do almoço. Vi o jogo na seca em nome de um bom ensaio. Mas durante o ensaio tenho que bebemorar o timão, caralho!

Parei no Pão de Açúcar de Santana e comprei doze latinhas de Itaipava. No caminho pelo estacionamento vi uma cena que considero das mais sexies daquele dia: uma moça de calça jeans e camiseta branca, sentada no banco da frente de um carro, com os pés descalços sobre o painel. Uau! Sou absolutamente fanático por pés de mulher. Olhei rapidamente, nem prestei atenção no rosto dela. Só fotografei os pés. Como eu adoro pés femininos. Segue o enterro.

Sigo singrando o asfalto da área central da cidade de Corinthians e a alegria é geral. Tuca pediu que eu levasse meu baixo, pois Cavalo tinha esquecido o dele na Gabaju. Meu Jazz Bass está ao lado da cerveja, no banco da frente.

Chego na casa do Roy com todo mundo lá, inclusive Juju. Abraços efusivos no Simon, depois no Tuca e no Cavalo: somos todos Corinthians e tamos felizes. Já lá em cima, no Begginers Studio, decidimos passar o show do Abre-te Sésamo. Mesmo tendo gravado o último ensaio e copiado pra todo mundo, o fato é que os arranjos e a harmonia estavam bem esquecidos. Então passamos uma ou mais vezes cada canção até acertar detalhes e especialmente o modo como acabavam. Depois passamos tudo de novo, da capo, e o resultado ficou legal. Acho que de música mesmo temos uns trinta e cinco minutos. Mais umas bobagens que eu vou falar entre e durante algumas canções deveremos chegar aos quarenta e cinco. 

A partir da primeira passada, com tudo razoavelmente lembrado, passamos a bebericar as Itaipavas que já estavam geladas. O estúdio do Roy fica na parte de trás de sua antiga e meio maltratada casa. Ele tem dois cães, uma cadela que eu não lembro o nome e um viralata vagabundo e puxa saco chamado, pasmem, Feroz. Claro que de feroz ele não tem porra nenhuma.

Ensaio encerrado, tomamos as últimas quatro brejas e eu rumei pro Terra Nova pra honrar a vitória corinthiana. Tuca disse que tb ia. Simon foi pra casa, Roy ficou em casa mesmo e Cavalo deu uma carona pra Juju até Jundiaí, onde ia conhecer o estúdio do Mickey Rourke e aproveitar pra dormir por lá.

Ainda sobrou uma latinha que fui tomando através da 23 de maio, Anhangabaú, Prestes Maia, Tiradentes, Praça dos Expedicionários, Ataliba Leonel, Dr. Zuquim e depois Nova Cantareira. Na altura do MacDonalds á direita na Maria Amália e é só encostar no Terra Nova. Pouco mais de meia noite.

No caminho Dex me pediu pra não ir beber, mas eu fui. Ela me pediu preu não chegar tarde e prometi que não. Mas acabei atrasando. Tinha uma galerinha bebericando por lá. Heinz, o dono, jogava pôquer com mais três habitues do bar, entre eles dois bambis, todos meus amigos. Mas eu não fui lá pra tripudiar. Só queria comer alguma coisa e bebericar no balcão. Passou meia hora e Tuca chegou com seu uniforme de motociclista. Bebi algumas Serra Maltes, comi um sanduíche de picanha da casa (e a picanha feita pelo Heinz é a melhor do mundo) e engoli uma ou doze pingas de maracujá. 

Papo bom, brincadeiras divertidas, um bando de corinthianos se aproximou do balcão pra pagar. Já fui puxando assunto, mostrando meu despertador no lado direito do peito e inflamando gritos de guerra pra fuder os bambis que jogavam discretamente. Eh, eh,eh ! Deu certo. 

Dentro em pouco tava todo mundo contando piadas de bambis e gritando pelo Timão. E os bambis bem quietinhos. Bateu uma, uma e meia. Quinze pras duas, paguei a conta e saí fora. Lola, a esposa do Heinz, me contou que eles estavam fechando o bar impreterivelmente á uma da manhã, pois haviam tomado uma multa do Psiu de mais de vinte mil reais. É mole? Isso derruba qualquer negócio. Cada vez mais estão limitando o trabalho deste locar sagrado chamado bar: não pode beber e dirigir, não pode fumar e tem que falar bem baixinho. Porra de sociedade hipócrita do caralho.

Ok, cheguei em casa pouco mais de duas da manhã. Dei aquele ataque na geladeira, onde havia frango assado e sorvete. Mandei pra baixo em grandes quantidades. Depois subi e comecei a rever um filme brasileiro no Canal Brasil que eu havia visto quando moleque, na lendária, saudosa e masturbatória sala especial da TV Record. Isso na época em que a Record era uma emissora de TV e não um alto falante de uma seita religiosa. 

Cara, olha elenco de " A Virgem": Nuno Leal Maia, Kadu Moliterno, Tony Tornado, Nadia Lippi e a então quase coroa mas ainda deliciosa Célia Helena, grande atriz de teatro, cinema e TV. Nádia Lippi era o cabaço do título. E Célia Helena a mulher do caseiro que é atacada por Nuno Leal Maia no meio do mato. A cena é muito quente, pois inicialmente ela resiste, mas depois entra na onda. Célia Helena, além de dar seu nome a teatro e escola, é mãe da não menos bela Ligia Cortez, tb grande atriz, filha da Célia com o Raul Cortez que apesar de tudo indicar que era gay, produziu uma filha linda e foi casado com uma mulher deslumbrante como a Célia Helena. O curioso é ver a galera toda super jovem, Tony Tornado com cara de moleque. Os caras vão prum sitio com as namoradas e decidem no palitinho que tira o cabaço da Nadia Lippi. Gente, que buceta que ela era. Hoje deve ter se convertido a alguma religião pentelha e autoritária, procurando perdão por ter sido bela e ter dado a buceta na juventude. Que mal há nisso? 

É Raul, Deus não é tão mal assim. Boa noite.