sexta-feira, 24 de abril de 2009

Noite de Raul!

Acordei pilhado com o show do Raul. Antes de cagar, bater punheta, ler jornal, fui pra internet pesquisar mais sobre ele, sobre o Abre-te Sésamo , sobre as canções. Conheço um pouco da obra e da vida do Raul, mas queria saber mais. Olha só o que apurei: Raul dos Santos Seixas é filho de Raul Varella Seixas. Seu pai, o Varella, é autor de uma canção do "Abre-te", "Minha Viola", que a gente deixou meio Stevie Ray Vaughn.


O disco "Abre-Te Sésamo" é de 1980 e tem a participação de Celso Blues Boy. A maioria das canções é parceria de Raul com Claudio Roberto, mas há tb a participação da Kika Seixas (sua ex) em "Só pra variar". A canção "Angela" é uma declaração de amor do Raul para a Kika, que na verdade se chama Angela. 

Um assunto que me interessa muito está ligado á canção "Conversa pra Boi Dormir", que nós misturamos com uma citação do repertório do Tim Maia, "Coroné Antonio Bento" (na verdade a música é de Luis Wanderley e João do Vale): eu queria saber como era o relacionamento destes dois gênios da música brasileira. Veja só: os dois tinham fama de não comparacer a shows, os dois se envolveram com sociedade/religiões que influenciaram seu trabalho (Raul - Sociedade Alternativa e Tim - Religião Racional), os dois têm influencia poderosa de vertentes da música americana (Tim do soul e Raul do rock), os dois misturaram esta influencia estrangeira com cultura brasileira, samba, baião e MPB. Eles eram contemporaneos e diz Nelson Motta que na época "Racional" do Tim, ele tentou cooptar o Raul pra sua fé, mas o fato de ter que parar com drogas, alcool e sexo fez Raul declinar do convite. Tim teria ficado muito puto por algumas pessoas confundirem ou tentarem achar semelhanças entre a Sociedade Alternativa do Raul e o seu engajamento Racional. 

Uma coisa era bem oposta á outra, pelo que puder apurar: enquanto os racionais pregavam a purificação dos vícios, incluindo sexo, a Sociedade Alternativa pregava liberdade abslouta, ou seja, "faça o que tu queres, pois é tudo da lei". Tenho que admitir que se tivesse que escolher iria pra sociedade do Raul e do Paulo Coelho.

O próprio Tim Maia desistiu da abstinencia total proposta pelos racionais e voltou ao mundo da maconha, do pó e do whiskão alguns meses depois. Nisso, os dois concordavam. Mas, como diz tb Nelson Mota, eram dois gênios e como tal, não se suportavam.

Então, caberá às Velhas Virgens unir estas duas estéticas errantes no palco, ainda que postumamente? Será que algum fenômeno pode acontecer? Será que os dois, onde estiverem, podem não curtir a mistura? Vai tudo pro Baú do Raul e pra feijoada do Tim Maia, hoje á noite. É noise!

Bem, já perdi tempo demais na internet. Uma passada voando pelo banho, separei a estante, gaitas e coisas a serem usadas na passagem de som, ás sete e meia da noite, que vai funcionar como um ensaio geral. Tô com as letras praticamente decoradas, mas deixarei uma cola no palco só por segurança.

Tô a caminho do SBT com transito livre. Dex me liga dizendo que o seu carro, que ela comprou na Sorana por indicação minha, tá com problemas. O óleo tá uma pasta estranha, o carro está fraco, trepidando e ela quase não chega ao trabalho. Lá vou eu deixar minhas coisas num dia de show pra resolver isso. Liguei pro meu amigo Laércio, que cuida da parte financeira da Sorana e gentilmente me deu assessoria na compra do veículo. Ele disse que ia ver o que dava pra fazer, uma vez que o carro é usado e a garantia já era.

Aviso Dex que pedi ajuda ao Laércio. Tô puto, pois estou sendo responsabilizado por tentar ajudar. Apenas indiquei o local onde ela poderia, se achasse por bem, trocar de carro. Eu já troquei de carro três ou quatro vezes lá e deu tudo certo. Ela diz que tá só desabafando, mas sou eu quem tem que tomar providências. É foda! Mulher independente é o caralho!

Os diretores do Astros me chamaram para falar da nova fase. Fomos nós, eu, Fernanda e Tom, que vai me substituir nas férias. Muito papo, sonhos, viagens, divagações e eu pensando nas minhas férias. Hoje é sexta. Semana que vem tem feriado na sexta, o que quer dizer que só faltam, tirando hoje, os quatro dias da semana que vem preu sumir. Me ajude, São Jorge!, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora Aparecida, Santo Antonio, Santo Expedito, São Judas, São Lucas, Jesus Cristo e todo mundo. Help me!

Fui pro almoço. Voltei do almoço.

Dex resolveu mandar o carro pra oficina da Sorana de guincho. Ok. Menos um rolo.
Preciso correr pra Band, pois vou ter que desaparecer de lá mais cedo pra passar o som. É correria, é demência, é disparate, é loucura e eu no meio. Fui pra Band.

Porra. No caminho eu vim pensando. Será mesmo que nenhum trabalho na minha vida jamais foi bucha? Ou todos foram buchas? Claro que foram. Foram sim! Porque, de um jeito ou de outro, todas estas merdas de trabalhos paralelos sempre fizeram com que eu desviasse meu foco e minha energia da música, do rock'n'roll, que é o que eu gosto mesmo de fazer. Olha só este dia em que a gente vai estrear uma espécie de tributo ao Raul Seixas. Eu deveria ter levantado sossegado, depois do meio dia. Passado o dia pensando no que quero fazer, nas músicas, nos comentários. Pra chegar lá descansado e seguro, uma vez que vou virar a noite no palco. Mas não. To aqui as voltas com estas merdas de programas de TV, textos da casa do caralho, reuniões da minha rola, carros quebrados. Vai tudo tomar no cu. 

Maldita criação responsável que eu tive dos meus pais que me impede de jogar tudo pro alto. Porra. Tem um monte de gente que faz isso. Chuta tudo e foda-se. Mas eu não sei ser assim. Tenho dívidas pra pagar, tenho responsabilidades. Tem gente confiando no meu trampo em várias partes e se eu sair... Claro que posso ser substituído, mas crio problemas. Inclusive pra mim. Eu sou um merda dum cuzão vendido. É isso que eu sou. Não sei dizer não pra nada. Me chamam pra trabalhar aqui e eu vou. Mais um trabalho ali e eu vou tb. Tem que fazer o show novo em homenagem ao Raul? Bora. Tem disco novo. Vamos compor e ensaiar até altas horas. A esposa quer atenção e vc não dá? Que merda de marido vc é! Vai tomar no cu todo mundo, especialmente eu. Pare o mundo que quero descer.

Pronto. Já dei meu pití. Deixa eu voltar pro trampo.

Voltei. Escrevi. To meio que me mandando pra passagem de som. Dei carona pra Soninha. Puta trânsito nesta cidade. Levei duas horas e dez minutos até o Paddys. Tava tudo atrasado na passagem de som. Eu, Cavalo e Tuca fomos pro buteco da frente tomar uma ou doze. No meio do papo, Juju, esposa do Cavalo, chegou com dois amigos. E Tuca fez a demência de pedir uma cachaça preu dividir com ele. Hum. Bebi e a coisa pegou. Caraio! Fiquei meio zureta. Algumas cervejas depois, atravessamos de novo a chuvosa Avenida Luis Dumont Vilares e dentro em pouco estávamos todos no palco, passando cada detalhe do show do Raul. Eu diria que foi um belo ensaio geral.

Dei carona pro Tuca até a casa dele. Voltei pra minha, tomei banho, coloquei meu chapéu pantaneiro na cabeça e minha camisa "Game Over" e voltei pra pegar o baixista. Ele me convidou pra entrar e conhecer sua nova "goma". Garagem pra caminhonete e pra moto, uma escada, sala, cozinha, dois quartos, banheiro, quintal com churrasqueira. Hum. Ta tudo aí. Parabéns, veio! Em poucos dias a coisa toda já está parecendo um lar. De homem solteiro, mas um lar. E, creiam, quando a gente se separa, sentir que nossa casa é um lar evita noites de insônia.

Pegamos também o Banas no caminho. Paramos no escritório do Tuca prele recuperar uma "cola" do show que ele tinha esquecido lá. Ok, sentido Paddys Pub.

Parei na rua de trás que tava infestada de carros. Nunca havia tocado por lá numa sexta feira e parece haver uma boite "da hora" que lota as imediações. Lembrando que "da hora" é minha rola.

Cumprimentei alguns e fui pro camarim, atrás, em cima. Ali fiquei, como sempre fico, bebericando até o início do show. Chegaram cervejas e tira gostos. Pedi uma Guiness, já que a breja do camarim, fornecida pela casa, é Sol (argh!). O grande guitarrista Nuno Mindelis, que eu não conhecia pessoalmente, me foi apresentado e engatamos um puta papo legal, sobre suas recentes andanças por Londres, bebedeiras, mulheres e etc. Ele tava acompanhado de um cara que ele me apresentou como massagista, farmacêutico e amigo, William. Tb gente boa. Papo bom até bem pouco antes do show. Sylvio Passos, o homem do fã clube, o parceiro, o Mr. Raul Seixas, tb subiu por lá pra ver o que deveria fazer na apresentação da nossa performance raulseixista. Marcelão, nosso contratante de Santos, Tilson, Fran, Mickey Rourke e um monte de amigos tb subiram lá. Meu recente tatuador Arthur tava ao lado do palco. Eu vi lá de cima. O pessoal do Skink estúdio, onde me tatuei, é parente dos donos do Pub (Anita, do Pub, é irmã da Luana e do Arthur, das tatoos). E tem o gerente gringo conhecido como "Mister" que é um puta cara legal. Gosto de tocar aqui.

Sylvio foi pro palco e disse que fez questão de nos ter no palco "Toca Raul". Falou umas coisas legais e atacamos com nossa seqüência bem ensaiada. Tava um público bem legal. Quase cheio. Errei uma ou outra letra, sempre mantendo a pasta de colas ao lado, mas acho que ninguém se ligou. Foi um show, eu diria, técnico. Saiu tudo como ensaiado e a galera curtiu. O final teve a participação de Nuno Mindelis e Sylvio Passos em "Rock das Aranha". Porra, o Nuno toca pra caralho.

Depois disso engatamos alguns sons das Velhas e não resisti a dar uma latada na minha testa. Como o povo que tava ali era bastante nosso, a temperadura da bagaça subiu. Meu sobrinho Dani me mandou uma Heineken num momento de secura no palco. Grazie, mano! E a coisa foi bem divertida. Fim de show com Abre essas pernas e simbora.

Pelo que apurei, todos curtiram o respertório do Raul. E nossa demência alcoólico-roqueira foi a esperada.

Desci, falei com a galera, tirei algumas fotos. Bebi várias, voltei pro camarim, assinei o DVD do Roberto Coladillo, nosso fã Londrino e me mandei pra casa. Dois reais pro guardador de carro corinthiano. Gritos de "Eu sou Corinthians" pela noite já sem chuva e dentro em pouco eu comia pizza na cozinha lá de casa. Dentro em pouco eu tava no chuveiro. Dentro em pouco na cama. 

Fui.