quarta-feira, 1 de abril de 2009

"Os caras que nos contrataram fizeram questão de que participássemos da festa..."

Dia da mentira e um show misterioso perto de Campinas. O Banas fechou nossa participação em uma festa fechada, só pra convidados, num sítio perto de Monte Mor. Pelo que sei os caras queriam mesmo nossa presença, pois vamos levar um kit acústico e tocar sem compromisso o que der na telha, churrasqueando e bebendo, acho.

Gente, fazer isso tudo numa quarta feira á tarde e ainda ganhar uma grana. É bom demais, sô!

Dez da noite tem Brasil e Peru na TV, ao vivo de Porto Alegre e precisamos ganhar pra seguir na luta por uma vaga na Copa da Àfrica do Sul, ano que vem. O Perú é o último e tá quase desclassificado, então, temos e devemos vencer bem.

Arrumei a mala com roupas, a cartola preta e um visual mais simples. Tomei o caminho do SBT imaginando chegar mais cedo, pois quando forem duas e meia eu sumo. Peguei um congestionamento de quase uma hora na Anhanguera e cheguei atrasado como sempre. E vocês são testemunhas que eu tentei.

Congestionamento é igual mau humor feminino: começa sem motivo aparente e quando você está próximo do suicídio, tb sem motivo aparente, a coisa volta a andar. Tomei aquele cappuccino básico da máquina argentina do corredor e tô aqui entrincheirado no computer. A grana do SBT tá na conta. Sempre está. Nunca atrasou, em quase 20 anos que trabalho aqui. Neste ponto, seu Silvio é o melhor patrão. O

s corredores do SBT, por sinal, estão movimentados. Ele acabou com um programa deficitário da tarde chamado “Olha Você" e, na mesma semana, acertou a volta do Ratinho e a estréia do Netinho, este último sob a direção da Marlene “ex-Xuxa” Mattos. Já cruzei ela pelos corredores, com um ar bastante carrancudo e parecendo irmã do Roque. Meu grande amigo e diretor Walter Scaramuzzi que tava procurando trampo acertou sua participação como diretor de externas do programa do Netinho. Já sobre o Ratinho, nada. Tamos aqui. Mas a cabeça tá na sonzeira mais tarde. Noise!

Hoje é quarta, dia de quê? De quê? Hoje tem feijuca, caraio. E feijoada, eu já disse, é como sexo: quando é ruim é bom e quando é bom é ótimo.

Opa! Meu agora amigo Rafael Castilho, corinthianaço, me manda uma crônica que o Nelson Rodrigues escreveu no dia em que a Fiel invadiu a capital fluminense em 76, para semi-final do brasileiro daquele ano, contra o Fluminense. Olha só o que o homem escreveu, lembrando que ele era (onde estiver ainda é) Fluminense:

"Uma coisa é certa: não se improvisa uma vitória. Vocês entendem? Uma
vitória tem que ser o lento trabalho das gerações.
Até que, lá um dia, acontece a grande vitória.
Ainda digo mais: já estava escrito há seis mil anos, que em um certo
domingo, de 1976, teríamos um empate.
Sim, quarenta dias antes do Paraíso estava decidida a batalha entre o
Fluminense e o Corinthians.
Ninguém sabia, ninguém desconfiava.
O jogo começou na véspera, quando a Fiel explodiu na cidade.
Durante toda a madrugada, os fanáticos do timão faziam uma festa no Leme, em
Copacabana, Leblon, Ipanema.
E as bandeiras do Corinthians ventavam em procela.
Ali, chegavam os corintianos, aos borbotões.
Ônibus, aviação, carros particulares, táxis, a pé, a bicicleta.
A coisa era terrível. Nunca uma torcida invadiu outro estado, com tamanha
euforia.
Um turista que, por aqui passasse, havia de anotar no seu caderninho: "O Rio
é uma cidade ocupada".
Os corintianos passavam a toda hora e em toda parte.
Dizem os idiotas da objetividade que torcida não ganha jogo.
Pois ganha.
Na véspera da partida, a Fiel estava fazendo força em favor do seu time.
Durmo tarde e tive ocasião de testemunhar a vigília da Fiel.
Um amigo me perguntou: "E se o Corinthians perder?"
O Fluminense era mais time.

Portanto, estavam certos, e maravilhosamente certos os corintianos, quando
faziam um prévio carnaval.
Esse carnaval não parou.
De manhã, acordei num clima paulista.
Nas ruas, as pessoas não entendiam e até se assustavam.
Expliquei tudo a uma senhora, gorda e patusca.
Expliquei-lhe que o Tricolor era no final do Brasileiro, o único carioca.
Não cabe aqui falar em técnico.
O que influi e decidiu o jogo foi a torcida.

A torcida empurrou o time para o empate.
A torcida não parou de incitar.
Vocês percebem?
Houve um momento em que me senti estrangeiro na doce terra carioca".

(NELSON RODRIGUES publicou este texto no GLOBO em 6/12/76, dia seguinte ao Fluminense e Corinthians).

Meu colega de trabalho (alô seu Silvio), Celsinho Lui me manda um link na Uol e em poucos segundos realizo uma antiga vontade: ter um blog. Agora vou publicar esta porra toda diariamente. Banas me ligou. Eles estão lá embaixo me esperando. Fui pro show.

Duas Heinekens desceram durante o trajeto. Cerca de uma hora e pouco depois estávamos aportando num sítio com ares hollywodianos: piscinas, DJs, palco, ringue para luta no gel, banheiras de hidromassagem e muita bebida e comida. Os caras que nos contrataram fizeram questão de que participássemos da festa. Coisa de fã. Meu amigo! Haja Brahma e Vodka com energético.

Tinha umas meninas com pouca roupa e quase que desconfio que fossem mocinhas da vida fácil. Porra, dizer que puta tem a vida fácil é uma verdadeira sacanagem. Levar rola de quem quer que pague não pode ser muito fácil. Bem, eu tava ali pra tocar e foi o que fizemos. Mas antes desceu muito goró, meu velho. Na verdade o que os caras queriam era que a gente participasse da festa. Tocamos algumas canções com violão, gaita e cajón. Isso enquanto conseguimos ficar sóbrios. No fim das contas acabaram me empurrando no ringue de gel. Mas tava tudo em festa e nem me importei muito. Cai na piscina de roupa e tudo e tirei aquele melequeira. Coloquei as roupas molhadas num saco e me troquei.

Ao voltar pra Sampa a van parou no SBT preu pegar meu carro, lá pelas duas da matina. Confesso que estava meio calibrado e pedi a ajuda do meu bom batera Simon Bro que guiou meu carro até a casa dele em Santana e dali eu toquei até meu lar. Ainda comi um sanduba e resolvi dormir no sofá pra não incomodar a Dex com o ronco animal que se seguiria ao meu adormecimento.