quarta-feira, 8 de abril de 2009

"Caraio, tenho que agendar a porra da inspeção veicular de poluição..."

Meu relógio digital, assim como a maioria das máquinas, é um mistério pra mim. Eventualmente ele começa a disparar seus alarmes em horas imprevistas sem que eu tenha programado nada e é claro que eu não consigo desprogramar. Muito bem. A última novidade dele é dar um apitinho curto e baixo de hora em hora. Ouvi o apito e chequei o horário: cinco da manhã.

Sentia meu corpo esgotado, como que tivesse sido atropelado. Sabe aqueles tratores que a gente vê aplainando o asfalto? Uma porra daquelas pesa em torno de cinco mil quilos. Pois é, é este peso pra mais que eu to sentindo sobre o corpo após o embate com a Dex. Despertei e notei que ela já caminhava pelo quarto, se arrumando. Abri os olhos com dificuldade e a vi toda vestida com a touca de banho na cabeça.

Mas, na verdade, i just call to say i love you.

Seguiu-se um papinho mais ou menos e vamos indo.

Estou á frente do computador ás dez em ponto. Há anos não chego no horário. Bora fazer o que deve ser feito e depois fazer o que eles me pagam pra fazer. Sempre de olho no prazer mais próximo, a feijuca do almoço.

Ratinho me chamou na sala dele pra explicar um projeto de programa de minha autoria chamado "Vamos quebrar tudo", aonde pessoas insatisfeitas com seus eletrodomésticos vão ao palco pra se vingar e destrui-los, ao vivo, correndo o risco de ganhar aparelhos novos. Ele não pareceu muito animado com minha dissertação vocal, pois trata-se de um programa inteiro e ele queria quadros pro seu novo programa. Ok. Desejei-lhe boa sorte na sua volta. E mandei o projeto por escrito pra bela Vanessa Guzzo, que vai voltar a trabalhar com ele. Seria du caralho trabalhar com Ratinho. Apesar de Palmeirense, sou fã do cara!

Tom tá feliz da vida por ter visto o show do Kiss ontem. Ontem, quando tava voltando pra casa, vi o movimento da moçada indo pro anhembi. Cool. Sou fã de Kiss, mas já vi duas vezes e ontem eu tinha outros beijos em mente. Ainda que tenham ficado só na mente.

Caraio, a feijuca desceu que foi uma beleza. Furei a fila. Às quartas feiras o SS grava Tentação e uma multidão que vem participar do programa vai almoçar no mesmo horário que nós. Aí o jeito é furar, com a anuência do Chef baiano do restaurante, Mr. Alê. Bom papo sobre os rolos sentimentais com os amigos durante o almoço. É bom ouvir de outros que vc não é o maior desgraçado do mundo. Simbora pra ilha!

Vi um monte de imagens da gravação de sexta passada. Preciso ir juntando as partes pra escrever este novo roteiro. Deu a hora. Bora pra Band. Hoje á noite tem Porcão e Sport. Queria poder secar os verdes, mas estaremos ensaiando. E depois do ensaio, senão durante, preciso tomar umas e outras. Caraio, tenho que agendar a porra da inspeção veicular de poluição. Os caras inventaram mais esta em Sampa. Vc paga uma taxa que, dizem eles, depois será reembolsada. O problema é que a inspeção é pra carros de 2003 pra cá. E os carros que realmente prejudicam o ar e a vida desta cidade são aqueles velhos, arrebentados, detonados. Estes não vão ser vistoriados. E sabe por quê?

Porque não há espaço e pátios pra recolher os que serão certamente reprovados, a maioria, claro. Quer dizer: já que não podemos investigar os verdadeiros culpados pela poluição, investiguemos os que não causam problema. Cobremos uma taxa de cinquenta paus que depois a gente reembolsa. É ou não é um governo da cabeça do meu pau. Me diga se não é uma merda de uma corja envolvendo presidente, deputado, senador, vereador, prefeito e governador. Me diga se não é uma corja de filhos da puta! Vai ter uma homenagem pra esta gente no novo cd das Velhas. Olha um trecho:

"A puta tá indignada

A puta não tem mais cliente

Ela anda tão desesperada

Porque o filho da puta é o presidente

O filho da puta, o filho da puta

O filho da puta é o presidente."

Depois eu sigo homenageando todos eles, os políticos brasileiros.

Tô louco pra tomar uma, caralho. E ta toda a direção do canal pornô na sala do lado. Bem, se sumirem até umas sete e meia dá tempo de fugir pro mercadinho aqui do lado. St Marche. Eu disse mercadinho? Puta mercado fino. Mercado de gente rica. Coisa do Morumbi. Aliás, andando nas imediações da Band se encontra os piores motoristas de Sampa. Tudo filhinho de papai, um monte de madame caquética, uns caras que pensam que são embaixadores dirigindo barcas a dez por hora no meio da faixa e ainda uns motoristas que tiraram carta na época que as rodas dos carros eram feitas de madeira. Quer se aborrecer no transito? Venha pro Morumbi!

O farol abre e a galera leva quinze minutos pra engatar a primeira e acelerar. É de foder. Por isso que eu gosto da ZN: lugar de motorista malandro. Quem nasceu lá? Um tal de Ayrton Senna, conhece? E digo mais: co-rin-thi-a-no! É! Tem que engolir! Fittipaldi? Corinthiano! Barrichelo? Buááááá. Corinthiano tb. Massa? Bambi. Foda-se Massa da minha rola. Eu sou Corinthians!

E vou tomar uma no mercado, foda-se.

Fui mesmo. Eu, a Soninha, o Marcelinho, o Fernando e o Luciano "Patricia", a galera do canal. Soninha é produtora, Fernando é assistente, Luciano é editor e Marcelinho, que cuida da programação, acho que tb é assistente de produção. Foi coisa de uma hora e quinze de breja, mas já comecei a me sentir melhor. Com o álcool circulando, meu fígado relaxa e meu cérebro se convence de que eu não fui abduzido. Porra, tomamos primeiro umas Harp irlandesas. Aí fizemos a besteira de pegar uma Pilsen Uruguaia de um litro. Que diferença de qualidade, gente! Bebemos mesmo assim. Depois encaramos umas Brahmas extras e uma Heineken e a coisa melhorou de novo. Marcelinho voltou pro trampo, Luciano se mandou e Fernanado e Soninha sairam pra gravar o lançamento da Revista Sexy especial com as mochileiras.

Eu, que já estava a caminho do ensaio na casa do Roy, tentava falar com Dex ao telefone e nada. Nada no celular. Nada em casa. Onde é que esta cavalheira se meteu, porra? Na casa da mãe dela o telefone estava bloqueado. O corno do meu cunhado desligou o celular. Onde anda esta porra desta mulher, caralho? Foram cerca de 30 minutos até a casa do Roy e nenhuma noticia da moça. Eu já tava achando que ela tinha desencanado mesmo de continuar casada comigo. Eis que quando eu estava virando na Avenida Brasil ela liga, de casa. Disse que tinha passado mal no trampo, que chegou e foi direto tomar uma banho rpa depois me ligar. Perguntei dos vários torpedos que mandei durante o dia e não tive resposta. E das millhões de ligações a partir das seis da tarde. Ela disse que o celular caiu no chão do carro, que ela ficou trabalhando até tarde, sob pressão.

Soltei os cachorros. Puta falta de consideração. Ela me conhece, sabe que depois destas tretas como as que vivemos nestes últimos dias eu fico ligando brincando, tentando quebrar o gelo. E ela sabe o poder que o silencio tem pra encher a cabeça da gente de minhocas. Meti a boca. Ela se desculpou. Desliguei puto. E fui ensaiar. Só o rock das Velhas Virgens me cura, me salva. Só no palco eu tenho paz.

Chegou todo mundo, fomos nos ajeitando e preparando o som. Tuca e o marido da Ju, nosso querido Mickey Rourke, foram comer um sanduíche. Cavalo chegou e foi atrás. Dali a pouco estavam todos de volta. Juju me deu uma cueca samba-canção do timão preu usar no aurora amanhã. Uau! Amo presentes do Corinthians.

Começamos passando "O Gênio da Garrafa". Descobrimos ( o Roy descobriu) um riff de guitarra na mesma divisão do refrão final ("eu vou, eu vou, pra dentro da garrafa, agora eu vou"). Claro que tem uma onda meio Branca de Neve e os Sete anões, misturado com Jeannie é um Gênio, Baboo e mil e uma noites. É um Gênio Bêbado que só atende pedido de bebida. Tem uns breques no meio e trabalhamos pra deixar cada um diferente do outro. Está quase definida e deve ter um solo de slide do Roy. Passamos para "Bunda Boa". Na verdade são dois rockões tradicionais, cadenciados. Nesta da bunda a gente fez um começo mais mansinho, só guitarra, voz e marcação. Aí ao invés de irmos pro refrão, a banda toda entra pesada na segunda parte da letra e só depois vai pro refrão: "e onde quer que eu vá estou sempre atrás de um drink e de uma bunda boa (e o coro: bunda boa) , adoro carteado e whisky, mas não resisto a uma bunda boa (coro: bunda boa); atrás da bunda boa eu vou, vagabundo de bar é o que eu sou"!

Cool. Em coisa de uma hora e meia fechamos as duas. Aí chegou a vez de trabalharmos uma que tava bem crua ainda: Strip’n’blues, do Roy. Pensamos em fazer desta canção um dueto entre ele e a JU, cantando, se desafiando, se sacaneando. Como o próprio nome da música sugere, o cara quer que a moça tire a roupa e ela quer algema-lo. Fetiches em profusão. O refrão: "eu to ligado em tudo isso que vc faz; este strip’n’blues, baby,é demais".

Enquanto a JU se ambientava com a melodia e o Roy se convencia que vai ter que cantar a porra da música ao vivo, puxei o Cavalo de lado e fomos comprar umas cervejas. Na saída descobrimos que o Porcão havia vencido o Sport em Recife por dois a zero. Caraio. Óia os porco se levantando. Já o Santos empatou em Maceió com o CSA e não evitou o jogo de volta na Copa do Brasil. Sábado o Palmeiras entra em campo na Vila com moral alta e o Peixe que se vire pra segura-lo. Caguei pros dois. Minha cabeça está no timão contra os bambis domingo. Seria lindo a gente despachar as meninas tricolores e encarar nosso maior rival verde na final. Campeonato paulista é assim: ganhar não adianta nada, mas perder é uma cagada geral.

Compramos modestas 15 latinhas e voltamos. Já da rua dava pra ver que a canção do Roy tava saindo, o dueto funcionando. Saquei a mão competente do Tuca numas quedas de andamento, numas filigranas legais. Ficou do caralho. Vai ser interessante sair do palco e ver os dois novatos duelarem. Uhu!

Na seqüência, já com as latinhas na mão, começamos a trabalhar em "Mais um copo", da Ju. Ela é que deve cantar, pois a canção fala de uma mina que cuidou do cara chapado e não deixou ninguém se aproveitar: "se cu de bêbado não tem dono, não deixei ninguém comer (o seu)". A idéia inicial era dar uma onda meio hard rock a la Kiss. Mas bastou deixar a coisa mais suingada, rollingstonesmente falando, que chegamos á fórmula. O Roy foi puxando presse lado, pensa que eu não vi. Mas era isso mesmo.

Sensacional. Temos quatro músicas bem encaminhadas pro próximo cd. Bebemos mais umas e outras. Ju e Mickey Rourke, que nada bebeu durante a noite toda por motivos motorísticos , se mandaram pra estrada de volta pra Jundiai (ele tinha trampo ás sete da manhã e já passava da uma e meia). Nós ainda descemos pra sala do Roy pra ouvir um presente deixado pelo lendário Carlini pai, uma paródia cervejeira de Born To Be Wild, chamada Bud to be Weiser, cheia de trocadilhos com nomes de brejas e um texto muito legal no mesmo clima. É pena que nossa experiência com versões seja ruim. Tentamos fazer uma versão de "Locomotion", da Carole King (gravada pelo Grand Funk Railroad, por exemplo) e recebemos uma negativa: eles só aceitam versões literais. Teríamos que ter escrito algo assim: "todo mundo dançando esta nova dança, vamos lá, vamos nos mexer, eu sei que você vai gostar de experimentar, pule pra frente, pule pra trás...". Caralho. Vai tomar no cu. Parece mais letra de Axé, né? E nossa letra é assim: "aconteceu num sítio perto de sorocaba, todo mundo chapado e bem louco..." Conhecem? Aí como eles não quiserem liberar, mudamos algumas notas e "A minhoca que acendia o rabo" virou uma canção nossa. E foda-se a Carole King e "Locomotion" da minha rola.

Voltando ao Carlini pai, como a idéia é muito boa, de repente usamos apenas no show. Fiquei com os textos e vamos ver o que vai rolar. Antes de sair de volta pra casa, notei um torpedo da Dex no meu celular:

"08/04/09 – 22h03 - Seu livro me fez dar a primeira risada do dia"

Eu já disse pra vcs, escrevi um livro sobre nosso mês de mochileiros pela Europa em 2008 e ela tá lendo o que se poderia chamar de primeira versão. Cheguei em casa, tomei banho, jantei e quando o relógio estava perto das três deitei e morri. Antes lembrei do torpedo e pensei:

- Cool. Pode ser que a tempestade esteja ameaçando passar.