domingo, 24 de maio de 2009

Ele não é viado, mas fica numas de beijar os caras na boca.

Não é meio dia ainda. Ainda poderia dormir mais. Mas quando morrer eu durmo. Hoje, que eu to vivo, quero viver. Desço pra pegar o jornal e ver como foi a vitória do Timão. Antes ligo o computer. Aproveito pra tomar o comprimido do cabelo. Pronto. Vamos escrever presse povo de meu Deus. To cagando merda dura. Muito bom. Lá embaixo rola o ruído da máquina lavando a roupa dos shows no fim de semana.


Dex me ensinou a não misturar roupa branca, com preta e colorida pra não manchar. Roupas delicadas, só dentro da fronha. Mas roupa de show eu jogo tudo junto, indistintamente. E deixa a coisa rodar.

O Timão venceu bem, mas Felipe fez uns milagres. O importante são os três pontos. Fomos pra quatro e, até que se encerrem os jogos deste domingo, estamos em oitavo. To crendo que ao final da rodada estejamos entre décimo e décimo segundo, pois outros times vão nos passar. Vamos começar a remar, mano. Ou Mano!Se por acaso der merda na Copa do Brasil, ainda temos quatro vagas pra libertadores no brasileiro. Mas creio que, com garra, raça e coração, o time do povo tem chance contra qualquer um. Corinthians: eu acredito!

Chega de cagar. Desço e faço um capuccino. Computer.

Porra, preciso ligar pro Brum e ver a quantas anda nosso som de hoje, com a banda Walking Pussy. Já inventei vários nomes de bandas sazonais. Os "Quatro Irmãos Barbado", por exemplo. Teve tb "Pussy Lovers". Cada vez é uma formação, mas é divertido.

Parece que a bagaça começa ás sete da noite. Armo de chegar lá no Espaço Rio Verde (por que não espaço alvi-negro?), na Vila Madalena. Parece tb que o dono do espaço é o Guga Stroeter do Heartbreakers, uma banda de standards instrumentais. O Guga, se bem me lembro, toca vibrafone. Caraio, ou estou muito enganado, ou ele era de uma banda de reggae/salsa dos anos 80 chamada "Sossega Leão", onde tocava tb o Skowa, que hoje ta no Trio Mocotó. É uma galera que gosta de tocar sons latinos, dançantes.

Antes do Rio Verde, pelas cinco e meia, tenho que passar perto do Parque Antactica pra pegar nosso batera, Rick Vecchione. O lance será acústico. Ou semi. Odeio passar na área do chiqueirão. Do porcódromo. Me dá arrepios, náuseas, nojo, tudo de ruim. Pareço um vampiro na Igreja. Eca. Disconjuro!

Bom. Tudo escrito, tudo programado. Pego a estante e monto a pasta com letras dos sons. Que mais? Simbora. Não almocei que não deu tempo. Mas quero chegar á casa do Rick rápido, pois ta tendo Bambis contra Porcos no chiqueiro e eu não quero pegar o congestionamento da saída dos torcedores. Beleza. Rick ta dentro, com as tralhas de todo baterista. Porra, tem um comando policial na Avenida Sumaré e ta um puta congestionamento. Daqui a pouco acaba o jogo e vai virar um pandemônio. A polícia não tem mesmo que fazer, né? Montar um bloqueio policial ás seis da tarde nas imediações de um estádio de futebol com clássico é coisa que só pode vir de Portugal. E vamô relinchar.

Opa, cheguemô. Lugar bonito. Tem um coreto e um bar ao ar livre cercado de árvores. É aqui que vamos tocar. São vários os ambientes: tem um circo, para as crianças, tem uma grande sala de convivência e um estúdio onde os Trovadores de Bordel vão fazer seu som. Pilotando a churrasqueira do Churrasco'n'roll, Batata. Tem uma porrada de amigos e conhecidos. Rubens K, Eldo, algumas mulheres que não sei quem são. Marião ta entrando. To na mesa com o Geléia, um dos vocais do Trovadores, que é uma mistura de tango e bolero com rock e brega. É muito bom. Eles me convidaram pra fazer uma participação no som deles a partir das nove, em "Litrão de Pinga", um cover dos Movidos a Álcool. Olha a letra aí:

Litrão de pinga
"Só porque eu cheguei um pouco tarde
e vomitei no tapete da sala
não prescisava pegar tão pesado
com esse podre bebum desalmado
Fui encontrando espalhados no chão
os pedaços do meu violão
os meus discos de Lindomar Castilho, estavam
todos jogados no lixo, isso tudo até
dá pra aturar,mas quebrar o meu litrão de pinga
aaaaaai não dá
você quebrou! O meu litrão de pinga![2]
você realmente não tem coração!
você quebrou! o meu litrão de pinga![3]
(Quebrou tudo sua Diaba)
Era da boa, era do interior
era safra tipo exportação
mas você sem dó nem piedade
jogou meu litro de pinga no chão"


Até imprimi, mas não tô lembrando direito da melodia. Foda-se, subo lá e faço uma onda com os caras.

Porra, ainda não almocei. E como tava cagando liquido, não ficou nada no meu estômago. To zerado desde ontem. Tem um latinha na minha mão fornecida por Fabio Brum. Corro no Batata e roubo um espetinho de carne. Mais um de linguiça. Agora vai.

Oswaldão Vecchione, Ayala e Juju chegaram na área. As mesas estão todas tomadas. Cool. Simbora tocar. Sou baixista de origem, mas como nas VV quem opera o baixo com muito mais competencia é o Tuca, sempre fico um pouco inseguro de tocar e cantar sem muito ensaio. Sou um baixista medio, mas bem ensaiado vai. Sem ensaio é arriscado. Beleza. Começamos com "Vampiro", das VV, um som sobre pessoas que chupam bucetas menstruadas. Ai, que nojo, né?

- Tá com nojinho, zéro dois? Nunca será!

O baixolão do Tuca tá plugado e tá fazendo uns estalos horriveis no retorno. Eu páro a música no meio e peço pro técnico dar uma ajeitada. Beleza. Agora rola. Simbora de novo. Hum. O esquema é assim, uma, duas partes de canto e solo do Brum. Fomos mandando em sequencia coisas nada a ver como "Slave to Love" (Brian Ferry), "O Vendedor de Bucetas" (Ary Toledo) e "Modern Love" (Bowie). As putarias sempre fazem sucesso. A galera não conhecia este som do Ary e entrou no clima: "olha a buceta, bucetinha e bucetão".Teve Velhas Virgens, "Prostitua", teve Smokey Robinson, Bread, Cuelho de Alice e tudo terminou com "Minha vida é o rock'n'roll", com participação do Oswaldão e do Marião. Legal. Terminamos com chave de ouro.

Vou beber. Batata me arruma um pratinho de plástico com farofa, vinagrete e linguiça. Flavinho, que organiza toda a bagaça, me apresenta loira Dani Mel, locutora, cantora, performer. Uma época ela fez um programa com Ricardo Corte Real e Marcelo Nova que ia ao ar na Tv e no rádio. Lembro dela. Ela escreve umas letras de putaria com o ponto de vista feminino. Interessante. Me diz que o seu texto circula na internet como se fosse do Luis Fernando Veríssimo. Eu já li isso: "ainda bem que eu dei", "ainda bem que eu não dei". Um papo assim. É muito bom. Trocamos e-mails e vamos ver o trampo dela. Mulher que escreve putaria sempre pode render alguma coisa legal pro nosso show. O Trovadores tão começando a tocar e vou pra lá. Tem umas vinte pessoas dentro do estúdio. Todos parecem conhecer o repertório das banda. As músicas são assim: "Farinha", "Vida de Solteiro", "Morro dentro da lei", "Seringa" e por aí vai. A banda tem um batera e dois percussas, baixo, guitarra, dois vocais e um naipe de metais com trompete e trombone. Tudo muito afiado. A sensação é meio de uma banda de Mariachis diretamente do a Vila Madalena. É bem legal. Gélia me chama pra cantar o som do Movidos a Alcool. Não lembro de nada, mas vou improvisando. A galera é muito gente boa. Na sequencia rola " Morro dentro da Lei". Procurem na internet que é do caraio.

Volto cá pra fora e sigo bebendo com Rubens K, Marião, Brum, Eldo e algumas amigas deles. Dani Mel tb tá por aqui, assim como Fabi Vajman, que tá discotecando. Flavinho Vajman pede meu cartão pra liberar a entrada e algumas cervejas que eu bebi. A partir de agora se continuar bebendo tenho que pagar. Mas é impossivel. A cerveja acabou. E, sendo assim, este se tornou um lugar inabitável pra mim. Antes de me mandar ainda falo com Geléia que, descubro, é tatuador e me oferece uma tatoo na faixa. Gente, tatoo na faixa é melhor que feijoada. Vamos marcar, véio!
Área pra Roosevelt. Parlapatões. Bebida comendo. 

Ligo pro Robério Santana, do Camisa, e ele desce com seu cão Jack Daniels, para se juntar a nós. O bar tá cheio. Gente nova, gente velha, atores, atrizes, habituês da Roosevelt. Jordão que participou do clipe "Um trago Com Deus", do Cuelho, fazendo seu papel, ou seja Deus. André Cecato com a maior napa do universo. Ele não é viado, mas fica numas de beijar os caras na boca, só de sacanagem. Aperto o saco dele e ele desiste da minha boca. Quem viu "Carandiru" sabe quem é ele: um cara barbudo que toma uma paulada na cabeça quando impede outro cara de pendurar a roupa no varal. Deste conflito, diz o filme, pode ter começado a histórica rebelião que terminou em chacina. Eu tiro ele, dizendo que revi Carandiru e que ele é cuzão, pois apanhou no filme. Não dá nada. Cecato é bródi.Surge um violão. Pego o baixolão no carro. Pronto, tá armada a esbórnia, o furduncio, a bagunça, com todo mundo bebendo, cantando e músicos se revezando nos instrumentos. Cerveja desce a rodo. Jack Daniels, que é a bebida favorita do Marião e do Robério, tb. Uma. Duas. Três. Quatro. 

Que horas são? Onde estou? Quem sou eu? Receba-me, senhor, em seus braços.