sexta-feira, 15 de maio de 2009

- Maçã ou cachaça, honey darling?

Dex ta em Istambul. Mandou um e-mail dizendo que chegou bem, que o guia ta tentando falar português e que as mulheres de véu já deram uma encarada nela. Disse que não dormiu nada durante o vôo. E que me ama. Uhu!

Aqui, eu to meio zureta da bebedeira desta noite que virou manhã. Mas to legal. Liguei pro Tuca e vou pega-lo ás quatro pro ensaio. Cavalo me ligou e vai trazer o Pedrão aqui. E eu preciso cagar, tomar banho e atacar a feijuca da geladeira.

Cavalo chega com meu afilhado. Cara, o menino ta cuspido e escarrado a cara da mãe. E ta mais tranqüilo tb. Em agosto ele completa dois anos. Claro que fica explorando tudo o tempo todo, mas se contenta em brincar com umas latinhas coloridas da Dex e alguns pregadores de roupa. Porra, conheço o Cavalo desde 1986. Ele ainda era menor de idade quando começamos a tocar juntos. E não bebia. Eu ensinei este menino a entornar. Teve fases muito loucas, de metaleiro a punk. De putanheiro a sem banho. E ver o cara pai de família é fantástico. Te amo, compadre!

Lá se foram os dois. Banho, raspa de feijuca e lasca pegar o Tuca. Transito danado até a Vila Mariana. Simbora ensaiar. Juju veio de Jundiaí e vamos passar primeiro as músicas que ela canta: uma dela mesmo que diz que "Cu de bêbado não tem dono" e outra em dueto com o Roy, "Strip'n'Blues". Cara, dois puta refrões pegajosos compostos pelos dois, não em parceria. To deitado, semi-morto, ouvindo a banda ensaiar na sala ao lado e tenho que confessar que estou orgulhoso. Só de sacanagem, fico mandando umas frases desconexas, como se eu estivesse falando dormindo.

- Vamo trabalhar, gente!

Eh,eh,eh. Pronto. Juju terminou a parte dela e já tá se mandando de volta pra Jundiaí. Sim, ela se abalou de lá até aqui nesta tarde chuvosa pra ensaiar duas canções. Mas é assim. Não adianta eu ficar passando. É ela que vai cantar. Pois bem, simbora.

Comecei minha participação com a "Balada do Adney Narigudo" e ta cada vez melhor. Pesada, Living Color. Tem um solo de baixo e digo pro Tuca lembrar do Flea do Red Hot nesta hora. Enquanto Cavalo vai descansar estamos fazendo "O Amor é outra coisa". Toco gaita nesta e tá bem ZZ TOP. Agora faltam as últimas quatro pra fecharmos as 16 finalistas do nosso novo cd. A balada gun'senroseana "A Ultima partida de bilhar" é a que tenho mais dificuldade. A letra é minha, mas foi o Cavalo quem musicou e criou nuances interessantíssimas na interpretação que eu ainda não peguei. Mas é de matar de boa. "Bortolotto Blues" terá um arranjo bem acústico, talvez com a participação de Flavio Vajman tocando uma espécie de washboard corporal. Não sei como chama isso. As duas últimas estão sendo preparadas para ir apenas pra Internet e nem devem entrar no cd. Tenho dificuldade de cantar ambas sem chorar. Sério. A primeira é uma composição do Cavalo pro filho. Ele escreve (e eu canto) no refrão a seguinte frase: "eu só quero o seu amor". E eu engasgo. Amor de pai pra filho é algo que me emociona, ainda mais vindo deste eterno zangado chamado Alexandre Cavalo Dias. A seguinte é minha homenagem ao meu Corinthians querido. Esta é de foder, porque eu falo que é uma tradição que aprendi com meu pai...a letra toda me arrepia...Nestas duas canções falamos de paixões. A do Pedrão ta bem fechada, meio pesada e meio melódica. Diz Cavalo que está Artic Monkeys. I like it!

Na minha Tuca, que tava reclamando que tb tinha direito de descansar em alguma canção, me entregou o baixo e foi deitar. Cavalo criou um riff muito legal. E Tuca, ao final, veio com uma idéia meio Ministry que deu uma cara industrial pra coisa toda. Muito legal. Tamos prontos pra gravar o ensaio durante a semana. Nada que vá ser divulgado, mas apenas pra gente não esquecer os arranjos e ir finalizando as canções. Ta du caralho.

Ensaio encerrado, Cavalo e Simon declinaram de minha carona e foram pro metrô. Roy vai tocar no Bixiga e é uma opção de programa pra mais tarde. Eu levo Tuca até a lanchonete Estadão, no centro de sampa, prele experimentar o delicioso sanduba de pernil do local. Coisa de Deus, gente. Chicletinho para tirar o meu bafo, água mineral com gás pro Tuca e fomos ver o novo trampo da Lu Vitaliano, a banda Os Vigaristas. Metade da banda é o Saco de Ratos do Marião: Pagoto no baixo, Rick Vecchione na batera e meu amigo Fábio Brum na guita. A Lu é atriz e fez testes pra substituir a Lily nas Velhas. Mas é demente. Uma demente querida. Mas demente. Veio fazer uma participação no Café Aurora sem saber a letra. Impressionou a todos com sua presença de palco e sensualidade. Mas tive que sussurrar "Abre essas pernas" no ouvido dela e isso a derrubou. Ainda assim continua sendo linda, talentosa e amiga. O nome do bar é New Jazz, acho. João Moura, 739, travessa da Teodoro Sampaio.

Chegamos cedo. Demais. E encontramos nosso amigo Tilson, agitador cultural e corinthiano da gema. Ele nos apresentou um cara que eu esqueci o nome, mas que acabaria tocando gaita e sax tenor nos Vigaristas. Um negão de respeito, grandalhão e bem humorado. Porra, eu e minha memória. Sempre esqueço os nomes dos caras mais gente boa. Trocamos algumas idéias, já que eu tb toco (toquei?) sax tenor. Ele disse que ta tocando faz sete meses, pra não esperar muito. Mas tocou legal, sim. Nas gaitas foi ainda melhor. Muito bão. Sorry ter esquecido seu nome, man.

O bar foi enchendo aos poucos. Fabi Vajman, atriz e irmã do Flavinho, chegou reclamando que teve que cancelar o espetáculo daquela noite por falta de público. Mas tava supreendentemente bem humorada. Fazer o quê, né? Eu digo pra ela que a gente pode escrever, produzir, ensaiar, divulgar, mas não pode buscar as pessoas em casa. É assim.

Olha Os Vigaristas no palco. Basicamente um repertório de standards de blues e rock. A Lu domina a área. Demais. Sabe quando a pessoa vai com muita sede ao pote? No caso dela o pote ta cheio de cachaça e ela ta virando uma atrás da outra. Pra quem tem que ler as letras e aparentemente está afinando a apresentação com a banda, excesso de álcool tira energia e confunde as coisas. Só tem fera no palco. A Lu brilha. Canta bem. Interpreta bem, ás vezes demais. Vocaliza em cima dos solos de guitarra e gaita. Parece que ela ta lavando a alma. Em cachaça. A banda não ta perfeitamente entrosada com o repertório e com ela. Ninguém percebe, mas eu to acostumado a ler as caretas dos músicos. A Lu revesa um gole de cachaça (e já é a quarta ou quinta) com uma mordida de maçã. Como eu to na primeira mesa, sirvo meio que de roadie dela.

- Maçã ou cachaça, honey darling?


O resultado todo é muito legal. É como eu sempre digo: há dois shows, um do palco pra trás e outro do palco pra frente. Pra trás eles parecem meio batendo cabeça, ás vezes. Mas pra frente a galera ta gostando e isso é que importa.

Eu sigo bebendo e curtindo. O garçom é o mais atrapalhado, escondido atrás dos óculos fundo de garrafa. O que to ingerindo agora é Hi-Fi. Mas já pedi Bloody Mary, Tequila Sunrise e várias cervejas, todos constantes do cardápio, e descobri que não tinha. Peço uma cachaça Seleta. Pra baixo. Cervejas. Eu gosto de beber. Tem um monte de amigos e conhecidos vendo o show. 


Quem? Ayala, Oswaldo Vecchione, Juju (guita e faz tudo do Made in Brazil). A Carla que mora com o Brum disse que sempre lê o blog dando risada. Hum, ela tá de namorado! Uhu! E a Fabi Vajman dançando freneticamente. Ela e a Lu estão conectadas. Tanto que...Olha as duas dançando no meio da galera, agora! A Lu ta meio doidona e a seqüência das canções não combina com a ordem das letras na sua estante. A cada início, suas mãos meio inebriadas vasculham desesperadamente as letras, pra começar a cantar.

Caraio, adivinhem? Me deu vontade de cagar e fui pro banheiro. Merda forte. Fedida mesmo. O cara que ia entrar depois de mim recebeu meu aviso:

- Eu não entraria ai se fosse vc - informei!

O show acaba meio abruptamente. Brum tem outro show pra fazer, numa casa chamada Ventania, no Ibirapuera. A verdade é que a coisa aqui em Pinheiros começou meio tarde. Lu não curtiu. Este show parece ter muito mais importância pra ela que pros outros. Dá pra notar que o bar, com as mesas todas tomadas, ta cheio de convidados dela. A banda desce do palco e ela segue fazendo um improviso á capela onde meio que se desculpa por ter se atrapalhado com as letras e por outro lado diz que gosta é de improvisar. Cool.

A verdade é que a gente, os homens, tratamos banda de rock um pouco como time de futebol e não admitimos muito a presença feminina. E a verdade é que esta coisa da buceta dá a elas uns sentimentos estranhos pra gente que tem rola. E é difícil para homens saber lidar com uma front woman como a Lu. Ela ta meio mamada, exagerou um pouco, mas tem talento e carisma. Só precisa controlar um pouco, dosar, direcionar. Fiquei mais fã dela que já era. E a banda tb é do caralho. Pra mim foi tudo certo. Um show visceral. Um show de gente que ta viva.

Brum se mandou pro Ventania. Eu to pensando em ir pra lá. Outras pessoas tb vão pra lá, pelo que pesquei nos papos. Paguei a conta e fomos Eu, Tuca, Flavinho, a irmã e um amigo. A cidade á estas horas é qualquer coisa de divino. Traquila, iluminada, linda.

Porra, eu conheço o Ventania. Já vim aqui com o Brum. É um bar de blues. Tem uma banda que deve ser da casa mandando clássicos. Esqueci de contar que o Brum, meio mamado, queimou o fusível ( posso escrever fuzil? É mais legal)...queimou o fuzil...eh,eh,eh...ao ligar o amp. Por isso, antes de sairmos do outro bar, tivemos que achar o Pagoto que costuma (e tinha mesmo) ter todo tipo de peça de reposição na mochila. Pegamos vários fuzis...Brum trocou o fuzil...eh,eh,eh...e começou a guerra...eh,eh,eh...

Tá lá ele tocando no palco e eu e Tuca tamos cá, nos embriagando. Preciso dizer uma coisa que já devo ter dito, mas tenho que dizer de novo: Fábio de Oliveira Brum é e encarnação do demônio quando toca guitarra. Vai tomar no cu. Como este filho duma puta toca. Puta que pariu. Tem, sem puxação de saco, uma coisa meio Clapton, meio Jeff Beck. É de foder! É de FODER!

A cerveja vai descendo. O bar ta com bastante gente. Um clima de festa blueseira ta no ar. O cantor da casa conduz bem a moçada. Brum ta me chamando com o Tuca pra fazer uma canja. Mandamos "Honk Tonk Woman" dos Stones. Umas traves aqui e ali, mas rolou bem. Muita gente conhece as Velhas e pedem sons nossos. Brum puxa Uns Drinks numa versão mais shuffle, igual a que a gente fazia no Cuelho. Cool. Eu gosto de palco. Fabiana Vajman ta executando sua dança frenética bem na minha frente. Flavio Vajman entra no palco e manda muito com sua gaita em Do. O Flavinho toca pra caralho. O M.C. da casa entra no palco com duas cervejas e ta tentando me tirar da jogada. Eu agradeço a cerveja e digo que as pessoas estão pedindo pra tocarmos Siririca Baby. Ele insiste em tocarmos algum clássico de blues, pois ele quer cantar tb. Eu peço que ele faça a gentileza de nos deixar atender o pedido da galera e depois a gente devolve o palco pra ele. Ele sai meio contrariado. Não fui eu quem pediu pra subir, amigos. Quando vc convida alguém pro palco tem que saber ser um bom anfitrião. E isso quer dizer: espere sua vez de voltar, caralho. Ninguém aqui quer roubar a festa de ninguém. Mas quem ta no palco sou eu. E enquanto eu estiver, sou eu quem dá as cartas, amigo!

Um batera vestido com chapéu, blazer de risquinha e até mesmo uma bengala sobe pra tocar com a gente. Esqueci o nome dele tb (sorry too, man), mas parece ser um habituê da casa e, pelo visual, poderia estar andando nas ruas de New Orleans. Muita gente boa. Negão de classe!

Siririca rola como no show, com discursos e insinuações de masturbação. É assim que funciona. É assim nas Velhas e será sempre em qualquer lugar onde duas ou mais pessoas se reunirem bebendo e citando nosso nome. Porra!

O batera da uma quebradas, mas volta sempre no tempo. Que legal.

Chega. Tamo na mesa de novo. O baile segue. Another Hi-Fi, que eu divido com meu bom amigo Ayala, o roadie dos roadies. Tilson, aquele que encontrei no início da noite no outro bar, reaparece. Olho pro Tuca e tamos sartando. Ruas e ruas de paz e inspiração na metrópole ás quatro e meia da manhã. Um sanduíche na Braz Leme. Tuca não quer beber mais. Eu até beberia, uma ou doze. Tuca ta na casa dele. E eu na minha. Uma punhetinha? Não. Cama. Amanhã tem churras. Sinto saudade, sim da minha menina. Mas curtir a night é um bom jeito de passar o tempo. See you tomorrow!