quinta-feira, 14 de maio de 2009

Mulheres são ótimas, mas tomam conta da nossa vida.

Eu adoro ir a aeroportos. Mesmo quando não vou viajar. Quando vou viajar, então, é bem "mairr legal", como dizem os cariocas. Chego bem antes, levo pouca bagagem, faço logo o check-in e vou pro bar tomar uma ou doze. Já entro no avião tri-li-li e sigo bebendo. Faço amizade com as aeromoças e, fazendo cara do gato de botas no Shrek, consigo mais e mais cervejas.


Quando não sou eu quem vai viajar tb me divirto. Tento chegar com antecendencia e começo logo a explorar a variedade de brejas dos bares do lugar. Pago cerveja pra quem vai viajar, pago pra quem veio se despedir e pago pra mim tb.

Era isso que eu tinha em mente quando acordei nesta quinta-feira com a missão de levar minha amada Dex a Cumbica, junto com o pai. A coisa correu bem tranquilamente, na verdade. Dex levantou mais cedo, mas não me acordou. Deve ter feito os últimos ajustes na mala, arrumou um pouco da bagunça da pia por conta da galera de ontem e só me cutucou por volta de nove meia. Caguei, li o jornal, tomei banho e quando eram onze horas estávamos pegando seu Ricardo. Dona Lívia deu uma choramingada, mas tudo ficou sob controle e zarpamos pro aeroporto.

Aí eu pergunto: o que porra eu estou fazendo neste calor do caralho, neste trânsito da porra, nas imediações da Jova Rural, Zona Norte braba de Sampa? Bem, não eram onze e meia e nosso veículo se aproximava do aeroporto quando Dex lembrou-se de ter deixado seu Cartão de Crédito dentro da carteira, na bolsa marrom, sobre o móvel da TV, no condomínio Bougainville, em nossa casa no Jardim Virginia Bianca, Vila Albertina, Tucuruvi, São Paulo, Brasil, Hemisfério Sul, Planeta Terra, Sistema Solar, Via Láctea, Universo. 

Porra, viagem internacional sem Cartão de Crédito não dá. E se acontecer alguma emergência, como é que faz pra arrumar grana? Seu Ricardo tb não tem Cartão e eu não podia emprestar o meu. O resultado é que aquele tempo em que eu pretendia ficar de chamego com a Dex, almoçar junto e tal foi pulverizado. To aqui no meio do congestionamento após vencer a Dutra e um trecho da Fernão Dias, a caminho de casa. Imaginei que ia ser mais fácil por estas quebradas, mas me fodi.

Pronto. I'm home! Liguei pra ela conferi qual era exatamente o cartão que ela queria. Achei sua identidade, mas ela disse que pra viagem basta o passaporte e eu sei que é verdade. Mas tenho que admitir que no lugar dela eu levaria até Certidão de Nascimento. Eu sou assim! Borá voltar.
Não posso negar que estou puto. P-U-T-O! Porra, que correria do caralho e absolutamente desnecessária. Preciso me acalmar. Ela ta indo curtir a viagem e eu não posso fuder a partida. Calma, Paulão, seu cuzão!

Carro parado numa das vagas do gigantesco estacionamento do maior aeroporto do Brasil, simbora encontra a moça e seu genitor. Não foi difícil. Ela pediu milhões de desculpas e se pendurou no meu pescoço. Tivemos poucos minutos pra namorar um pouco antes deles entrarem. Beijos, apertos, suspiros, porra, são só 18 dias e ela vai com o pai, se divertir, não pra forca. Nada de lágrimas, Paulão.

Mas que elas vieram, vieram. Cuidado com os gregos, porra. Vai com Deus amor, volta pra mim!
Nos próximos dias estarei por minha conta, fazendo o que der na telha sem precisar avisar, discutir, dar satisfações. Mulheres são ótimas, mas tomam conta da nossa vida. Depois que a gente conhece aquela que faz a nossa cabeça (e isso não tem que ser eterno...porra, nem a vida é, caralho!), ela passa a ser o centro do nosso universo. Não há tempo pra mais nada. Muito menos pra gente. 

De um modo ou de outro, tudo gira em torno dela, como muito bem descreve Chris Rock: all about her! Ou é algum compromisso que ela marcou e vc tem que ir, ou é alguma coisa que vc quer fazer e que ela não quer fazer junto. Ou pior, algo que vc quer fazer e ela não quer que vc faça. No meu caso, é beber a noite toda. Vai ser curioso estar em Sampa sem ter que dar satisfações, saboreando a tal liberdade. As mulheres agem como aranhas e vão enredando a gente numa teia que, quando a gente percebe, ta pedindo permissão pra fazer coisas que sempre fez antes de conhece-las, como jogar bola, ver o jogo do time, tomar uma breja com um amigo. É inacreditável como elas, todas elas, conseguem nos enrolar em argumentações, em memórias, em discussões que nos confundem e das quais a gente sempre sai perdendo. É de fuder. Todas são assim, basta vc transforma-las em titulares. Sentiu segurança, firmeza, aí elas começam a passar o novelo em torno da gente. É inevitável. 

A Dex tem todas essas características, mas tem virtudes raras, como senso de humor, inteligência e sabe ser tarada. E é gostosa. Ô nega ajeitada!

To com fome e encarei um MacDonalds no próprio aeroporto. Depois fui pra casa atualizar as coisas da Internet. Peguei as gaitas e coloquei no carro, pois, como os senhores já sabem, hoje tem ensaio das VV.

Tô na pista da Band. Atrasado, como sempre. Cinco e quarenta e um. Quando encostava o carro dois veículos se chocaram bem á minha frente. Lá estão os dois motoristas batendo boca no meio da rua enquanto eu me encaminho para a portaria. To no Sex Prive. A gravação com a Núbia deveria ter começado ás duas e agora estar no fim. Na verdade, ta tudo atrasado tb. Começou por volta de quatro e meia e deve ir até umas oito. E eu to pensando seriamente em jantar aqui na Band. Depois do ensaio, vou pra night, encotrar os vagabundos da Roosevelt. Flavinho Vajman, um destes vagabundos que eu citei, me liga e quer armar uma apresentação acústica num evento chamado Churrasco'n Roll que ele ta agitando aos domingos. Seríamos eu e o Brum. Sei lá o que faremos, mas se Oliveira topar, é só fazer um ensaiozinho que rola. Já fizemos muitos sons juntos, numa época em que a onda era tocar músicas de filmes. Caralho, como era o nome daquela banda?

- Não lembro, Flavinho. Coloca aí que o nome da banda é "Walking Pussies" (ou bucetas andantes).

É um nome antigo, que eu usei pra fazer uns covers em alguns bares no passado. Vai ser divertido. Parece que a coisa vai rolar dia 24. Daqui até lá, muita cerveja passará dentro do copo. Fui jantar. Depois é ensaio no Roy. Espero que todo mundo tenha lembrado.

Chego sob chuva. Não to com o menor saco de ensaiar. Mas, como diria Mauricio Manieri, vamulá! De cara já intimei a galera a tomar umas e outras depois do ensaio. To solo e não tenho hora pra voltar pra casa. "Sou do sereno, não tenho hora, se fecha a porta por dentro eu durmo do lado de fora". Só não posso esquecer de por água nas plantas.

Fizemos na vaquinha e Dimitri, o homem do "gravanuuu", foi buscar umas brejas.

Começamos com "O Gênio da Garrafa". Pra variar, esquecemos boa parte do arranjo. Mas a boa notícia é que o Simon lembrou das passagens de batera e saiu legal. Aí começa o drama. Passamos "Bunda Boa" e Cavalo comenta que tá muito parecida com a anterior. Velho, passamos nada mais que uma hora e quinze tentando mudar a cara do som, que saiu do rock'n'roll, foi até o blues lento e acelerou até ficar meio AC/DC. Nada que ficasse melhor que o arranjo anterior. Quando meu saco já dava sinais de querer explodir, pedi que passássemos pelo menos uma vez "aquela porra" inteira e sai da sala. Ficamos numa tensão tão grande que Cavalo e Simon me seguiram e começaram a alongar pra tirar a "nhaca". Eu tava muito a fim de ir pro bar e acabar com tudo. Liguei pra Juju e avisei que o ensaio da sexta seria de tarde e perguntei se ela poderia vir. Ok. Ela precisa passar as canções que vai cantar, saca?

Voltamos ao trabalho comigo relutando. Mas eis que "Eu bebo pra esquecer" salvou a pátria. Saiu direitinha e o clima melhorou. Pra terminar, "A Filha da Puta", que é um exercício de digitação. Perfeita ou quase. Simon deu umas esquecidas no final, assim como Tuca. Tava todo mundo já cansado. Passava meia hora da meia noite quando paramos com tudo. Cavalo deu carona a Simon e ficou de, eventualmente, aparecer. Roy e Dimitri garantiram que iam aparecer. Mas a verdade é que fomos eu e Tuca comparecer á Roosevelt.

Primeiro tomamos uma num buteco novo cuja dona é amiga do Tuca, mas não estava por lá. Da mesa do bar vimos Mario Bortolotto passar na calçada em direção aos Parlapatões, a esta altura já de portas fechadas, mas com a galera toda bebendo dentro. Coisas do Psiu! Terminamos a breja e estamos aqui, Eu, Tuca, Marião, Lingüinha, Carcarah e alguns flutuantes, bebendo várias. A Melissa que virou o reveillon lá em casa com o Brum e o Marião tb tá na área. Indo e vindo, de mesa em mesa, como uma música do Barão. Melissa trabalha no figurino da Band e de vez em quando eu a vejo por lá. Na primeira vez foi difícil lembrar de onde eu a conhecia, especialmente quando ela mandou beijos pra Dex.

- Porra, como é que esta mulher conhece a minha mulher? Pensei.

Mas agora ta fácil, ainda que eu viva em dúvida se seu nome é Melissa ou Marina. Qualquer coisa eu pergunto pro Marião.

Ele, que tava na água por conta de uma interação medicamentosa com antibióticos, acabou deixando-se seduzir por uma dose de Jack Daniels. E onde passa um boi, passa uma caixa. Seguimos falando de assuntos fundamentais e absurdos. Um amigo pentelho do Marião ia e vinha enchendo nosso saco e o dele. Sabe estes caras que dizem boa noite começam a contar sua vida? Pois é. Cara chato.

Bebida vai, bebida vem, Carcarah tava meio puto por causa de uma briga com a namorada. Novidade. Elas têm o que a gente quer, amigo, mas isso tem um preço. Outro tema colocado á baila (que porra antiga, seu!) era minha solteirice causada pela viagem da Dex. E a verdade que a gente só quer mesmo ela. Quem? A boemia!

Bebe, bebe, fala, fala, ri, mija, come amendoim, peço uma Cuba. Depois outra. Tuca tá firme tb. O homem recém separado ta num clima dos mais notívagos.

To no balcão. Uma mocinha se aproxima e diz que é fã da banda. Me apresenta seu irmão que é ator. Se tem uma coisa que a gente encontra aqui são atores e gente de teatro.Galera divertida. Na verdade, to lembrando que troquei algumas palavras com o cara ao chegar, quando Tuca tentou abrir uma conta e lhe pediram um documento. Ao verem que ele tava comigo, começaram a marcar no meu nome. Não venho tanto quanto antes, mas ainda tenho prestígio, porra! Ao me perguntarem quem era o Tuca eu disse que era meu namorado. Aí comentei que dizer estas coisas num bar cheio de gente de "tiatro" não gera a mesma estranheza e piadas de outros bares. Aqui esta cena seria perfeitamente plausível. E quer saber? Deveria ser plausível em qualquer parte. Se o cara gosta de rapazes, seja feliz. Quem sou eu pra definir o que é certo pros outros. Pra mim o negócio é buceta. Mas cada um que curta a noite ao seu modo.

Mudamos de bar. Amistosas. O bar do Charles Bronson. Eu to com fome e peço uma porção de frango a passarinho. É legal que todo mundo pode beliscar. Mais brejas. A noite ta terminando. Fiquem com Deus, meninos e meninas. Minha primeira noite free acabou nos braços da madrugada. Isso dá samba! Ou blues. Simbora, Tuca, pra ZN.

Amanhã tem mais. Amanhã tem!