sábado, 30 de maio de 2009

Na estação seguinte, Santana, um casal de dinossauros adentra o vagão.

Aeroporto de Cumbica. Desembarque Internacional. Tem um grupo com bexigas verdes e amarelas, flores e uma faixa. Será que algum jogador brasileiro tá vindo no mesmo vôo da Dex? A faixa tá enrolada e não dá pra ver o nome da pessoa que eles estão esperando. São cerca de seis da manhã. Tá frio. Eu tô ao lado deste grupo de dez, doze pessoas. Não tenho bexigas e nem faixas, mas porto uma Hortencia pro meu amor. Tem gente pra caraio esperando gente. A cada vez que a porta automática abre, alguém suspira, alguém sorri, alguém procura, alguém caminha. O vôo, inicialmente marcado para descer ás cinco, aterrisou com meia hora de atraso segundo o placar do aeroporto.

Eu, com esta tosse selvagem e interminável, pulei da cama vinte pras quatro. Procurei um chá destes que a gente bebe quando tá gripado e mandei pra dentro. Odeio remédios, mas esta gripe tá me tirando do sério. Acho que contive os sintomas o quanto pude com bebida. Mas bastou parar de beber que ela veio como um tsunami. Vi um pouco de tv. Li o jornal. Caguei. Simbora pro aeroporto.

E cá estou. Cadê ela? A galera da recepção verde e amarela segue fazendo barulho. Opa. Abriu a faixa. "Glau: welcome, we love you". É uma moça e se chama Glaucia. Cheguei a achar que era algum jogador brasileiro do Barça, campeão da europa. A final foi em Roma. Se fosse, teria que ser o Silvinho, ex-Corinthians. Mas não é. Aliás, saquei que não poderia ser, pois algumas pessoas da "tchurma" vestem camisas da Inglaterra. E o Barça venceu o inglês Manchester United, sorry, o "Unidos de Manchester". Mas é uma tal de Glaucia. Será alguém do atletismo? Sei lá. Nada mais importa. Olha minha moça vindo ali, de tênis, jeans e o rosto mais bonito que eu já vi. Corro e a abraço. Beijos e choro. Nem sei se apenas pela vovó ou de saudade mesmo. Seu Ricardo passa reto e quando me dou conta ele está na lateral. Entrego a flor pra ela. Abraço meu sogro e vamos pro carro. 

Comentários negativos sobre o Cairo e o Egito. Natural. Eles tiveram problemas lá e foi lá que souberam a morte da vovó. Dex diz que a cidade parece ter sido bombardeada. Lixo pelas ruas. O Rio Nilo podre. Mas das piramides eles gostaram. Evito falar da morte. Carro. Esqueci de pagar o estacionamento. Volto. O local do pagamento é praticamente onde estávamos, ao lado do desembarque. A moça que a galera estava esperando chega. A balbúrdia e os gritos são o alarme. Dou uma volta até lá pra ver . Hum. Baixinha. Sorridente. Não, ninguém famoso ou conhecido. Apenas familiares e amigos saudosos esparando alguém querido.

Ok. Tá bem frio. Tô com uma touca cinza de caveira que a Dex me deu. Carro, de novo. Estrada. Vou de mãos dadas com Dex. Os comentários sobre a viagem seguem. Tá cedo. O transito está bem bom. Quebro pela Vila Maria. Estamos na casa dos pais de Dex. Dona Livia e seu Ricardo se abraçam longamente. Ela comprou pão e fez café da manhã pra todo mundo. Ela conta detalhes da internação, da morte e do enterro. Lágrimas escorrem dos rostos dos recém chegados. Ok. Café da manhã. Dex me presenteia com uma garrafa de Vinho do Porto. Taí meu remédio pra gripe. Hora de sartar. À saída Rodragg chega com Bafo. Dex e seu Ricardo recolocam sorrisos no rosto ao encarar o mais jovem da família. Ainda dentro do carro, Bafo olha pra mim e fala algo parecido com Paulo. E sorri. Fala "vovô", "Dedé"...tá falando tudo. Fala cabeça e mostra onde fica a dele. Simbora voltar pra dentro. Além da gripe me derrubando, não dormi nada nesta onda de pega-los no aeroporto. Quero ir pra casa bodear. Mas o Lorenzo merece este pequeno atraso. De volta á cozinha, estão todos brincando com ele. Ele escolhe os colos. E dá aquele sorriso que só criança sabe dar.

Agora vamos. Back home. Dex diz alô pra nossa casa como se ela fosse responder. Desço malas, flor e tudo que veio com ela da viagem. Rodragg deve vir pra cá com Lorenzo em seguida. Sinto muito, mas preciso dormir. Às duas horas preciso estar no centro de doação de sangue do Hospital das Clínicas, pra participar de uma campanha chamada Sangue Corinthiano, que três vezes por ano conclama os seguidores desta seita chamada Corinthians a doar sangue. Não posso doar. Tô gripado e fiz tatuagem a menos de doze meses. Mas posso ir lá dar apoio. Foi isso que os meninos ligados á campanha pediram quando foram a um ensaio das VV entregar camisetas e tirar fotos promocionais. Não posso doar, mas posso apoiar. Mas isso é só lá pras duas da tarde. Agora, bode. Dex me dá outro presente. Tô meio zureta e não compreendo a camiseta com dois homens estilizados. Um se chama "You" e tem o pau pequeno. O outro se chama "me" e tem o pau grande. Sacou? Eu demorei um pouco, pois tava meio anestesiado.

Dex deita o meu lado. Eu tô com a cara inteira dolorida, sinusite, acho. Dói abrir a boca. Os dentes doem. Gripe filha duma puta. Ficamos alguns minutos abraçados. O interfone toca e Rodragg tá na área. Dex tá viajando há quase vinte e quatro horas e tb queria descanço. Ela desce e eu apago. Quando me dou conta é meio dia e muito e Dex já está ao me lado de novo. É bom te-la na cama outra vez. O latifundio está menor e mais quente, agora. Levanto e vou pro chuveiro. A idéia é ir de carro até a Gabaju, deixa-lo lá e acionar o metrô até a Estação Clínicas. Mais rápido, barato e seguro. A água quente minimiza os sintomas da gripe. Dá vontade de ficar aqui pra sempre. Tô me trocando. Coloco a camisa da campanha. Dex levanta e diz que vai tb. Será cu caraio. Mas ela vai tb apenas até a casa da mãe. Diz que tá com fome e quer ingerir comida caseira. Vamonóis.

Dex tá entregue. Volto até a estação Jardim S. Paulo. Dex me emprestou dez reais pra passagem. Tá comprada. Tô no metrô. Na estação seguinte, Santana, um casal de dinossauros adentra o vagão. Ela é uma pterodátila de seus cento e cinquenta quilos. Ele, um tiranossauro de mais de duzentas tonaledas. Ai, meu Deus. Vão se sentar sobre mim. Não. Ao meu lado. Porra, não sou um cara pequeno, mas ao lado destes macróbios fiquei espremido. A dinossaura fala pra caralho e ele apenas diz que sim com a cabeça. Depois de muitos minutos falando sem que ele responda, ela pergunta se ele está ouvindo. Ele diz que sim. Mas tenho certeza que não. Marido é tudo igual. A porta se abre em outra estação e um Japa emo com brinco de cruz na orelha entra com sua namorada tb japa. Ele carrega um case de instrumento musical. Um cavaco? Não creio. Um violino, mais provavelmente. 

Outra estação. Uma moça de calça branca e cintura fina se aproxima do banco onde estou cercado pelos dinos. Bela. Sandália nos pés com unhas bege. Calça branca é bonita até no varal. Os dinos seguem se beijando a um palmo da minha cara. São noivos e não casados. E se curtem. Ela faz piadas, ele responde com tatibitati. Uma dá um piparote da orelha do outro. O outro aperta o nariz do outra. A porta se abre em outra estação e uma morena toda de preto com cara de pecadora e boca carnuda se apresenta. Há uma inscrição na camiseta dela: "há mais de 30 anos fazendo sua vida ser melhor". Que frase é esta? Que lugar é este? O japa do violino troca sorrisos com sua japa. A gostosa da calça branca se move, encantando os arredores. A morena pecadora se vira e mostra a patrocinadora da frase e da camiseta ás suas costas: "Gruta Azul". É uma conhecida boite de Porto Alegre, um puteiro de classe. A moça é patrocinada e aparentemente sua cara de pecado é mais que intuição minha. Danada! Baixinha, atarracada e sexy. Lá se foi ela. 

Chegou minha hora de baldear pro ramal da avenida Paulista. Basta atravessar a plataforma. Uma japinha de camiseta amarela sem mangas e salto alto está do outro lado. Deve estar passando frio. É bela. As mulheres são belas. Os dinos tb desceram.

Pronto. Mais um casal de japas adentra esta nova composição. Este é menos emo. Já sua acompanhante usa aqueles chinelos com meia. Horrivel. Mas isso tb não é da minha conta. As estações deste ramal da avenida Paulista são amplas e bonitas, me lembrando o metrô de Madri ou de Paris. O de Londres é legal tb. A diferença é que lá sempre tem alguém tocando nas estações e aqui, não. Clinicas. Desço. Subo. Atravesso. Onde será a doação de sangue? Gente com camisa do Corinthians pra lá e pra cá. Devo estar perto.

O prédio é este. A rampa, dois pavimentos abaixo. Uma bandeira do timão na porta e fila de gente pra doar. O pessoal parec feliz com min ha chegada. Não sou nenhuma celebridade, mas tenho fãs aqui, além da causa ser das mais nobres. O pessoal tira fotos e grava entrevistas comigo. Tem gente com camisa de outros times vindo doar. Vi vários bambis. Porco, nenhum! A campanha chega á sua terceira edição e cresceu muito. Parece que são 38 pontos de doação, incluindo quatro deles no Japão. Cool. Fico observando uma camisa do Timão toda autografada pelos jogadores que vai ser sorteada entre os doadores. Tem até assinatura do Fenômeno, mas pra mim a mais importante é a do Mano. Este é o cara! Beleza. Força proceis, rapazes. Mesmo com uma puta dor de cabeça e a gripe me desnorteando, acho que valeu ter vindo apoiar a iniciativa pessoalmente.

Metrô. Baldeação. Personagens. Eu cochilo. Cheguei. Dex me liga e pede preu pega-la na casa da mãe. Eles iam ao cemitério, mas resolveram deixar pra amanhã. Caminho de casa. O porteiro me entrega um pacote com a gaita que mandei consertar na Bends.

Casa. Eu e Dex engruvinhados no sofá, vendo tv. Cutuca, alisa, mexe, chupa. Tamo na cama. Depois de mais de quinze dias, minha lingua, a dela, meu sexo, o dela. Os corpos. Hum, adoro esta nêga. Seus gemidos. Seu sabor. Sono.

De volta ao sofá. Bobagem querer manter os olhos abertos. Seis da tarde e vamos prum cochilo. Que não termina mais no dia de hoje.

Toca o telefone. O relógio diz que são nove da noite. Ricardinho da Móoca bebum quer que eu vá a um churrasco lá agora. Explico a gripe, Dex e desligo. Dois minutos depois, Marcão liga do mesmo lugar. Eu havia pré marcado uma bebedeira com ele na sexta. Mas antes de Dex dizer que chegaria no sábado. Aí ficou inviável. Ele manda condolencias pra ela e diz que a gente se vê semana que vem. Blz.

A gente nem jantou. Mas o cansaço é mais. Acho que hoje eu só acordo amanhã.