terça-feira, 26 de maio de 2009

O Saco de Ratos, na verdade, não é uma banda. É uma quadrilha de assassinos.

Abri os olhos com uma idéia na cabeça: nada de jornal, banho e computador. Pelo menos agora. Vou sair pra caminhar. Cagar... É, cagar não tem jeito. É mais forte que eu! Bem, já que estou cagando, passo os olhos no jornal. Ok. Chega.

Simbora pra rua, sem celular, mas com I-Pod. Um documento no bolso pra não acontecer comigo o que aconteceu com o Marcelo Frommer dos Titãs, que saiu pra caminhar sem documentos, foi atropelado e quase foi enterrado como indigente. Se bem que, depois de morto, importa mesmo como a gente vai ser enterrado? Ok.

Vou curtir as novas canções das VV caminhando pela vizinhança. A idéia é ir até o Horto Florestal, que fica relativamente perto e depois seguir ouvindo os sons e andando. Boné na cabeça, bermuda, aqueles tênis que usei pra caminhar pela Europa e bora.

Sem pressa, sem desespero. Pouco mais de dez e meia da manhã e to afim é de viajar nos sons.
É muito louco este lance de andar ouvindo um som. Vc mal presta atenção no transito para atravessar a rua. Aposto que o Marcelo Frommer tava com fones de ouvido. Sinceramente, desencanei de tal forma que quando vi já estava voltando pelo caminho que passa pelo canil da PM. Olhei o relógio e já passava de uma da tarde. To com fome. Não costumo fazer este esforços a esta hora. Entro numa Conveniência e pego uma H2OH. Quase penso em tomar uma breja. Mas ainda tenho que ir pra Band e já falei pra vcs: só bebo no trabalho quando o trampo é com as VV ou musical.

To em casa. Banho. Porra, que sensação boa de fazer algo saudável. Ligo o computador e enquanto inicializa desço pra botar água pra ferver. Vou fazer mais uma carga de macarrão e finalizar aquele molho com lingüiça de ontem. Epa, que porra é esta que ta piscando na secretaria eletrônica do telefone? Cinco recados? Quando saí eles não estavam aí. Será que...Puta que pariu: Dex me ligou. Os recados todos são da telefonista internacional indicando chamada a cobrar. Porra. E eu não tava em casa. To morrendo de saudade dela, caraio. Ela não manda e-mail desde sexta e falou comigo via fone pela última vez quinta, acho. Caraio. Ela tentou várias vezes. Podia ter me ligado no celular. Porra, eu não levei o celular. Merda. Paciência.

Vamos ao macarrão. Só sobrou o parafuso. É com este que eu vou. Misturo o macarrão quente com o molho gelado. Ficou tudo morno. Pra dentro. A coca zero ajuda a empurrar. Eu curti este meu molho de lingüiça. E foda-se. Vamos ver o que a Internet me reserva.

Dani Mel me mandou link do clip da música "Que merda que eu dei". Caraio. Tá cheio de celebridades. Nasi, Rodolfo Gamberini, Ronald Ésper, Andreas Kisser, Zé do Caixão, os caras do Pânico, Jorge Kajuru. E ela lá, no makin' of, dirigindo a bagaça. Muito bom. Mandou tb outras letras. Muito legais tb. Preciso ver se dá pra encaixar algo no nosso som. Mas que é muito bom ter uma visão descarada feminina sobre sexo, isso é. Cool.

Ouço tb o som da Banda Antiga Roll, de Manaus. É três, quatro e tome rock, numa onda meio Ramones. Tá tosco pra caraio, mas tem uma energia sincera que é fundamental no rock'n'roll. Leio o release e olha lá, estamos entre as influencias da banda. Honra nossa. Força meninos.

Bem que Dex podia ligar de novo, né? Hum. Opa, toca o fone. Atendo. Um barulho estranho. Será ela? Caralho. Caralho, é um idiota dizendo que ganhei um premio do Domingo Legal. Mando tomar no cu. Ele fica puto, pois pretendia me mandar antes. É um trote for sure. Merda. Ok. Simbora pra Band.

Muito trampo, véio. Pauta de amanhã da afilhada da Rita Cadilac. E roteiros da Núbia. Muito trampo é o caraio. Terminei. Rodragg, o cunhado, me liga com uma notícia nada boa: vovó teve uma parada cardio-respiratória na manhã desta terça feira e ta internada na UTI de um hospital de sampa. Puta que pariu. Além do drama natural da possibilidade de perder uma pessoa da família, Dex e seu Pai (filho da vovó) estão no Egito. E aeh: contamos ou não? Que é que eles poderão fazer de lá? Interromper a viagem? Mas, por outro lado, tenho o direito de esconder de uma neta e de um filho uma informação destas? A polêmica fica no ar. Amanhã, pelas três da tarde, vou ao hospital ver como as coisas estão. E, pelo visto, estão feias.

Gente. A gripe tá em cima de mim. Nariz escorrendo, dor de cabeça, espirros, tosse. Vou mandar cerveja por cima e vamos ver se ela resiste.

To sartando da Band. Vou pra Dublin, pra reunião. Depois eu conto.

Conto já. O papo era com o Elias da Jack Daniels, mas ele ta com conjuntivite e converso com o André, um dos donos do bar. O Dublin tem ótimas cervejas importadas. É um típico pub Irlandês cujo palco fica escondido atrás de espelhos que ficam por detrás do balcão. Vc chega e fica se perguntando onde será o show cujo couvert vc terá que pagar. Na hora "h" a parede abre e a banda surge tocando atrás do bar. André me conta que era barman (ou bartender) e que trabalhava no Charles Edward, cujo palco fica no lado oposto ao do bar. Diz ele que sempre que começavam os shows, a galera ficava de costas e parava de beber. Daí ele e os futuros sócios pensaram: "porra, no nosso bar, o palco vai ficar na mesma direção do bar, pro pessoal seguir bebendo mesmo durante a apresentação". Cool. Aliás, conversamos pra caraio. Viagens, mulheres, bebidas, noite, vida. Puta cara gente boa, apreciador de uma boa breja. Mandou descer várias delas, até uma La Trappe Holandesa Quadrupel. Coisa chique mesmo.

A proposta é armar a participação de convidados num dia em que a Jack Daniels faz uma espécie de promoção no bar. E o convidado sou eu. Ele disse que tanto posso trazer músicos, como tocar com a banda da casa. Nasi e Roger já vieram. To achando ótimo. De repente trago o Walking Pussy. Tem até grana na parada. Eu quero minha parte em cerveja, claro.

E falando em cerveja, mandei Guiness por cima da gripe e to beleza.

Be-le-za!

Porra, tava quase de saída e encontrei o Fernandão, baixista e vocal, que, pelo que entendi, vai tocar aqui no Dublin, hoje. O Fernandão é grande amigo do Fabio Haddad, produtor de uma pá de CDs das VV. E exatamente por isso, Fernandão sempre fez back vocals em nossas canções. Se minha voz presta, preste atenção, a voz do Fernando está lá no fundo, compondo, apoiando, afinando.

Ele me diz que ta fazendo um cd solo e quer uma canção antiga minha chamada "Só e Bem". Bro, é sua, com prazer!

Fui. E o André ainda liberou o estacionamento. Disse pra ele que quem paga breja prum cara como eu arruma um amigo pro resto da vida. Fui.

Bixiga. The Wall. Já chego calibrado. A raça ta toda reunida. O Saco de Ratos, na verdade, não é uma banda. É uma quadrilha de assassinos. Eles trucidam os sons com a competência de assassinos de aluguel, de mercenários. Rick Vecchione, batera, é o esquartejador. Vai mantendo a pulsação como se estivesse destrinchando um cadáver. Pagoto é o estrangulador. Suas linhas de baixo prescindem de outros instrumentos. Bastam os dedos e as mãos pra acabar com o assunto. Os guitas Fábio Brum e Marcelo Watanabe são atiradores de elite. Carabinas, pistolas automáticas, metrancas, rifles, eles vão se revezando no fuzilamento dos inimigos, ás vezes com tiros unidos e certeiros, ás vezes com rajadas destruidoras. E Mario Bortolotto é o "capo" da família. É aquele que coordena as ações destes meliantes da música. Destila seu veneno pétala a pétala. Ta cantando muito e deixou de lado alguns exageros no modo de cantar. Ele tinha mania de esticar demais "esses" e "maneirismos" que tiravam a sinceridade de suas letras. Agora, não! Ele diz o que tem que dizer, com sentimento, fúria, mas deixa que a mensagem fale por si. E ele tem uma puta figura cheia de carisma no palco. É ou não é uma família de mafiosos. Don Bortolotone, meus respeitos.

Fui bebendo, ouvindo, vendo, papeando, bebendo mais. São tantos amigos que parece até uma festa de faculdade. Fome. X-Salada. Breja. Bons papos com Fernanda D'Umbra, Dani Mel, Marcio Américo, Oswaldão Vecchione. Opa, terminou. Marião disse que me chamou pra fazer uma com eles, mas não ouvi. Eles querem seguir bebendo na Roosevelt. Incluam-me fora desta.

Passa das quatro da manhã e estou bem encaminhado na chapação. Vou pro Estadão. Já é quarta feira e por este horário já tem feijoada. Quer melhor jeito de rebater tudo? Feijoada garganta abaixo. Um chocolate de sobremesa.

To a caminho de casa. To subindo a escada. To tirando a roupa e colocando o pijama. Escova de dente. Água. Comprimido pro triglicérides. Posso dormir até bem mais tarde. Meu primeiro compromisso é às três da tarde no Hospital Santa Cecília pra ver como está a vovó. A coisa parece estar mesmo preta. E eu pareço estar indo.