segunda-feira, 18 de maio de 2009

O surdo, o esclerosado e o careca.

Nove da manhã. Frio. Tô melhorzinho? Tô!

Merda, jornal. O cara escreveu que o Corinthians jogou com time misto. Misto é o teu cu, jornalista cuzão. Tava todo mundo lá, exceto o Jorge Henrique e o William. O elenco reclama da falta de coleguismo na hora dos passes. Em resumo: bando de fominha que quer resolver os lances sozinhos.

Santos em crise com empate em três gols contra o Goiás. Tavam ganhando de três a um e cederam a igualdade na Vila. Fabio Costa quis bater em alguém. Madson foi chamado de corinthiano e chorou. Que honra ser chamado de corinthiano. Acho que ele chorou de emoção. Fabio Costa é que não muda. É todo malandrão, este cretino.

Marcão meteu a boca no porco que perdeu de dois do time reserva do Inter. Tá todo mundo puto nos times de Sampa.

Banho. Bronha. Computer. Encomendei o remédio do cabelo. Tem este tb. Ta pensando o quê: aqui é tudo fake. Até os vinte e oito centímetros de pau. Na verdade, são só vinte e cinco. Foi por telefone. O quê? A Finasterida. O remédio do cabelo. O mesmo do Romário. Lá pelas onze, quando sair, eu pego em Santana. Hum. E agora? Almoço na Band? Ou na rua. Sei não.
Pego o remédio. A farmácia de manipulação oferece estacionamento grátis. Aproveito pra almoçar. E hoje é segunda feira, dia de Virado à Paulista. Gente, buceta é bom? E cerveja? E feijoada? E nosso time campeão? E churrasco? E viagem? E grana? Mas mesmo tudo isso perde o valor diante de um Virado à Paulista. Arroz, bisteca, lingüiça, ovo bem passado, banana à milanesa, torresmo, couve e, claro, o tutu de feijão. Vai tomar no cu.

Saí rodando por Santana atrás do Virado. No primeiro restaurante, nada. No segundo. Nada. Bati quatro ou cinco restaurantes e nada de Virado, que é o prato do dia. Não sabia? Segunda é Virado à Paulista. Terça é, hum, Bife à Role com purê. Puta que pariu! Quarta é feijuca. Quinta é macarrão com frango e sexta é peixe. Sábado voltamos à feijuca e domingo é o que sobrar da semana inteira. Popularmente conhecido como "Restô d'ontê", ou, resto de ontem.

Bem, já que estou caminhando, vamos até o "Famoso Bar do Justo". Os caras estão abertos desde 1946 e costumam fazer um Virado de responsa. Tai. Manda aí. Uma coca zero tb. Não tem, só Pepsi. Zero? Zero!

Na mesa ao lado, dois velhotes se embriagando. O magrelo é meio surdo e chama-se Paulo. O grandalhão é o Rubens e esquece as coisas. Deve ser vítima do Mal de Alzheimer. Eles se tratam formalmente e por isso pesquei os nomes. Paulo ta bebendo uma cachaça. Heim? Cachaça, caralho! Ouviu? CA-CHA-ÇA!

Ruben ta na Antarctica e numa cachaça tb. Esqueceu? Antarctica e cachaça. Puta merda. Os dois estão felizes de terem saído de casa após alguns dias muito mal. Os dois devem estar na casa dos oitenta e cinco, noventa. Estão bem, ainda. Ruben é mais forte, tem a voz poderosa, como se tivesse sido militar ou coisa parecida. Esqueceu? MI-LI-TAR. Ah, não preciso gritar, o surdo é o Paulo. A coisa continua assim. Ruben fala com Paulo que não ouve e responde qualquer coisa. Ruben esquece que Paulo é surdo e fala baixo. E Paulo segue respondendo qualquer coisa. Chega um careca, muito, muito mais jovem. Deve ter uns cinqüenta e cinco. É um menino. É assim saudado pelos velhotes.

- Senta aí, garoto! - diz Ruben.

O careca já veio armado com uma Skol e uma dose de vodka. Pruma segunda feira, pouco mais de meio dia, os caras estão com sede. Meu Virado chegou. Com licença.

"Quando eu estou aqui, eu vivo este momento lindo, comendo meu Virado e as mesmas emoções sentindo. São tantas deglutidas, são momentos que almocei aqui. Virados, feijoadas, delícias que eu provei aqui...".

O tal de Bar do Justo tem pelas paredes várias premiações de qualidade, atendimento, petiscos e etc. O garçom, um velhote mais jovem que os companheiros da mesa ao lado, não gostou muito de ter que limpar as mesas enquanto a freguesia não chega pra comer. Uma garotinha de seus cinco, seis anos, provavelmente filha da dona, se dispõe a ajudar e lá estão as duas gerações trabalhando lado a lado. Nenhuma delas faz o trabalho direito. Mas tudo bem. Finalizei. Café. Cartão de Crédito. Deixo os meninos ainda conversando e bebendo animadamente. O surdo, o esclerosado e o careca.

Volto pro estacionamento e por um minuto não preciso pagar nada. O limite da cortesia da farmácia é uma hora. Gastei cinqüenta e nove minutos na minha gambiarra gastronômica. To bem comido e joiado. Band.

Sex Prive está ás moscas. Cheguei cedo. Pessoas almoçando, suponho. Apenas o master crente, meu caro amigo Boy, está presente pra abrir a porta blindada de aço. É, nosso conteúdo é censurável, então ninguém pode entrar aqui sem autorização. Porta de aço trancada o tempo todo. Ta passando o filme do Mateus Carriéri. Gente, ele come tantas gostosas, mas tantas, que dá até vontade de bater uma punheta. Ele vai comendo: duas, três. É de matilha. É foda. Olha o rabo daquela ruiva, caralho. Ele mete e a loira fica olhando. Ô delícia. Quase tão bom quando o Virado á Paulista... Eh,eh,eh! Computer. Atualizações. Twiter. Orkut. E-mails.

Ela ta lambendo o cu dele. Caralho!

Oh, não! O Virado ta pressionando a Picanha de ontem á noite. Tudo lubrificado pelo caldinho de feijão e lá vem merda. Banheiro. Porra, a merda tá preta igual piche e a consistência é a de asfalto. Ao realizar minha assepsia anal noto que o papel higiênico rasga e fica preso no vão do meu cu. Porra. Lá vou eu resgatar este fiapo de papel fétido. Maldição. Terminei. Voltei. To aqui. 

Vai começar outro filme: "Homem não entra". Filme de lésbicas. Mocinhas se querendo. Se lambendo. Se felando. Seviciando-se a si próprias e vice versa, entende? Eu amo. Eu apoio. Eu dou a maiorrrr forrrrrça.

O chefão da produtora Brasileirinhas, sócio do canal com a Band, está vindo pra cá com convidados. Eu não o conheço pessoalmente, mas chefe na área nunca é coisa boa. Vamos ver no que dá.

Não deu nada e eu to indo pro ensaio. Um puta transito e ta quase dando a hora do rodízio. Me falaram que tem um serviço na prefeitura que, quando vc ta preso no transito em dia de rodízio, basta ligar e cadastrar a placa do seu carro que a multa é suspensa. Mentira. Lenda. Liguei lá e o serviço não existe. No fim, cheguei ao Roy um pras cinco.

Todo mundo meio atrasado, começamos gravando a música da Ju e depois seu dueto com o Roy. Cavalo fez "A última partida de bilhar" no violão, preu sacar a linha melódica. A coisa toda tava bem engatilhada que acabamos gravando onze canções. Faltaram cinco que finalizaremos na quinta. Saímos dali eu e Cavalo num puta clima de dever cumprido. Fomos direto pro Mercearia São Pedro. Ligo pro Marião pra ver se ele tá lá ou se quer carona. Ele tá na pré-estréia de um filme nacional chamado "Mulher Invisível". Eu e Cavalo começamos os trabalhos ingerindo várias Serras. Passa-se pouco tempo e a turma toda aporta no Mercearia: Trovão, Cassiano, Jiraya, Lingüinha, Carcarah, Marião, Loureiro e Marcelo Rubens Paiva. O Marcelo é bem amigo do Mario e de vez em quando aparece. Nunca tive chance de dizer a ele o quanto o primeiro livro dele, "Feliz Ano Velho", mudou minha vida. Aproveitei a coragem advinda do Hi-Fi e falei. Paulo Cesar Pereio tb tá por aí. Opa, ta indo embora. A galera toda se anima a ir pra festa de lançamento do filme, ali numa travessa da Cunha Gago. Boca livre.

E cá estou eu, bêbado feito um gambá, ouvindo este som ruim do caralho e mantendo sob minha vista gente como Caco Ciocler, Senton Mello e Luana Piovanni. Bebida a rodo. Uma cuba. Duas. Três. Caralho. Resolvi subir uma escada e cheguei a uma sala que parece ser um local vip.
Opa, to na minha cama. Não lembro de quase nada depois da tal sala vip. Tentaram me tirar de lá e eu não saí. Que mais? Lembro apenas de estar tropeçando e caindo sobre a mesa dos manobristas na porta da casa. Cavalo na direção. Dei PT. Ele parou pra colocar combustível. Ele capotou no sofá. Eu na cama. To aqui. Desperto meio assustado, num último esforço de me manter acordado. Fiz alguma merda? Fiz. Já fui.