domingo, 14 de junho de 2009

- Ah, Paulão, vc é homófobo.

Well, well, como prometido, parti pra cima da Dex assim que tomei controle do meu corpo ao acordar. Ela não costuma virar noites como eu e demorou a entender que nada me impediria de amá-la naquele início de tarde de domingo. Dedos, fungadas, apalpadas, mordidas. Ela sucumbiu. Mas pediu pra ir primeiro ao banheiro, pois sua bexiga estava tão dura quando meu mano do andar de baixo. Curiosamente, eu estou sem bater punheta desde sexta de manhã. Isso quer dizer uma alta concentração de espermas o que pode, com a benção divina, resultar na encomenda do nosso herdeiro. Porra, isso seria do caralho. Mãos á obra. Sobe tema romântico. Câmeras viram para a cortina que esvoaça levemente com a brisa que invade o quarto. Vão cuidar da sua vida, seus voyeurs de merda.

Chuveiro. Assepssia. Dex ainda na cama. O fone toca. Rodragg quer fazer churrasco aqui. A zona é sempre grande, assim como a festa. Mas Dex ta meio zuada por causa da noite passada. E por ser este seu último dia de férias... Fudeu!

Vamos conversando e tentando decidir o que e onde comer. A primeira sugestão é comer o que ela cozinhou ontem. Ela não quer. A segunda é ir ao mercado e comprar algo. Ela sugere comprar ingredientes prela preparar uma lasanha. Hum. Ta a fim de cozinhar, é? Não. E que tal comprarmos uns bifões de picanha e assar pra comer com a lasanha. Ok. O problema é que enrolamos pra cacete e quando estamos prontos pra dar aquela caminhada até o mercado, notamos que já são quase três da tarde. Até voltarmos e preparar tudo eu estaria falecido de fome. Toca o telefone. Tony ta na casa do André que ta fazendo churrasco e já ligou mil vezes pra nos convidar.

- Estávamos trepando, caralho!

Dex não ta a fim de ir. Acha que tudo vai acabar em bebedeira. Tony aproveita e diz que podemos emendar e ver Goiás e Timão na TV juntos. Ótemo. Dex não quer. Que é que 'ce quer, uma rola?

Saímos em busca de um restaurante. Paramos no Arcos da Cantareira, que é pertinho. Dex não curte a comida daqui. Mas eu a convenço. Fila. Espera. Tamo fora. Vamos áquele restaurante da Engenheiro Caetano Álvares. No caminho André liga no meu celular. Como estou dirigindo, faço com que Dex atenda. Ela não saberá dizer não pro amigo dela de colégio. Pronto. Tamos a caminho do churras do André. Eh,eh,eh. E é sempre um evento de responsa. Frango, filé recheado, lingüiça. E coca cola. Dou uns goles na cerveja. Mas não ta descendo. Estão presentes André e Camila (que ta manca por conta de uma torção contraída quando foi ver Corinthians e Coritiba, semana passada), o filho Igor, Tony, Fabi e o filho Thiago. E eu e Dex. Depois chegam Paulinha e Lu. Este é o quorum do rango. E do jogo. Exceto por Fabi e Dex, todo mundo corinthiano. Tormento no ar. O Goiás, tal e qual fez o Vaxco no segundo jogo da Copa do Brasil, nos sufoca praticamente noventa minutos. Estamos com a defesa reserva, é verdade. Jorge Henrique tb não ta no ataque. Mas de resto, os outros são titulares, incluindo o gordinho que já tah me dando nos nervos. O time simplesmente não arma jogadas e ataca quase nada. Fica se defendendo. O Goiás metralha. Felipe pega uma. A trave salva a segunda. A trave e Elias salvam a terceira. Felipe pega a quarta. A quinta. A sexta. Felipe. Felipe. Felipe salva a pátria alvi-negra e saímos de campo com um zero a zero que tem cheiro de vitória. Um pontinho ganho a duras penas fora de casa. Caraio. O Flamengo tomou um do Coritiba. Dois. Três. Quatro. Cinco. Puta que pariu. Chocolate Curitibano. Gegê deve estar enchendo uma mochila de dinamite e indo pra Gávea. O bicho vai pegar feio nos domínios Rubro-Negros.

De volta ao final do jogo do Timão, caminho até o banheiro vociferando que é muito sofrimento. Que meu pai me fodeu quando me deu este legado. A reclamação só leva um décimo de segundo. Eu amo meu Corinthians até debaixo de merda. Eu sou Corinthians!

Antes, durante e depois da partida Igor e Thiago, dois capetas, ficaram fazendo arruaça sob minhas ameaças de peidar neles. Crianças adoram o mal feito.

- Bufão, Bufão...Bufa aí!

Eh,eh,eh. Não sou muito delicado mas tenho meu jeitinho com os kids. Chega? Bora pra casa. Beijo e me liga.

Frio. Dex quer ver filme agarradinha. Mas tenho que escrever. Ok, escrevo outra hora. Mas cadê o filme? Ela desaba num doce cochilo e eu escapo pra Internet.

Sites, jornais, emissoras de tv, todo mundo falando da parada gay. Três milhões e meio de pessoas na Paulista. A tv mostra os iniciados pedindo igualdade. Perfeito. Um cidadão entra comentando que já sofreu preconceito. O repórter pergunta de que tipo e ele diz que já percebeu olhares e comentários. Um dos problemas de quem se sente discriminado é querer ser mais realista que o rei quando a coisa começa a ser normatizada. Porra, alvo de comentário e olhares eu sou o tempo todo, por causa do meu cabelo grande alvi-negro, da minha barba da mesma cor e tamanho. Das minhas camisetas com inscrições do tipo: "bebum inside", "bebão á Bordo" ou simplesmente "Vai tomar no cu, seu filho da puta". Porra, é natural que, vivendo em sociedade, a gente provoque estranheza. Imagine um índio de cocar e penacho andando na Paulista. Quem não olha? Porra, o sujeito entra no metrô vestido de Carmem Miranda e não quer reconhecimentos?

- Ah, Paulão, vc é homófobo.

Num sou. Mas não cresci dentro de uma caverna. Beijos homosexuais não eram prática comum em público há 20 anos. Hoje são. Natural que algumas pessoas se incomodem ou, muito menos, observem com curiosidade. Acho os beijos entre mocinhas bem mais interessantes e plásticos. Mas já vi macho se grudar sem problema nenhum. A verdade é que no homosexualismo feminino não necessariamente alguém assume o papel do homem, ou se masculiniza. Mas no masculino raramente pelo menos um dos envolvidos não se feminiliza. E é isso que causa um pouco de estranheza. Mas nada que não possa ser superado com boa vontade. Glória Kalil entra na jogada e fala coisas sensatas. Perguntada sobre o que fazer quando no seu estabelecimento comercial dois homems começam a se beijar ela responde que "estas cenas públicas de manifestação de carinho intenso podem, de fato, chocar quem está em volta. Se a coisa for realmente exagerada, o dono tem o direito de avisar. E cabe aos casais, hetero ou homosexuais, averiguar se o local comporta este tipo de envolvimento explícito". Perfeito. Não é só o beijo homosexual que causa problemas em público: um toque mais poderoso pode, eventualmente, criar constrangimento. Mesmo entre heterosexuais. E quer saber mais: todo mundo tem preconceitos dentro de si, inclusive os gays e gayelles. A gente tem informações que juntou durante a vida o que nos levam a analisar as situações e nos posicionar em relação a elas. Então é natural que a gente observe e julgue. O que não pode é constranger e muito menos discriminar. Mas pensar pode, porra. Eu odeio ver gente com camisa do Palmeiras.

- Porra, Glorinha, se tem um amigo meu que não se assume como gay, eu devo ajudar?

Ela diz, com lucidez, que se o cara não quer sair do armário o negócio é respeitar e fingir que o assunto não é da nossa conta. Até porque não é mesmo. A pregação da parada gay combina exatamente com o que eu penso: igualdade. E lembrem-se, igualdade são direitos iguais e não mudar o foco e transformar oprimidos em opressores. Não adianta fazer do heterosexualismo uma prática condenável, assim como foi tratado erroneamente o homosexualismo todo este tempo. I-gual-da-de!

Tenho bons amigos gays e já ouvi inclusive choramingas amorosas deles, com detalhes carnais. Às vezes dá até uma sensação de mal estar. Mas isso é um problema meu e eu preciso melhorar e entender que como diz o Caetano Veloso (a frase não é dele): olhando de perto, ninguém é muito normal. Muito menos nós. Eu. E pra terminar este assunto "goxtoso" com uma notícia legal, fuçando na Internet descobri que o site Whiplash fez um top 20 das melhores músicas pra se ouvir na parada gay. E olha lá, nosso querido "Homem Lindo" entre as indicadas. Quanta honra. Igualdade, já. Cerveja já. Picanha já. Cigarro já. Kassab e Serra, vão pra puta que pariu!

O domingo acaba comigo morrendo de dores por todo o corpo que jaz inerte sobre o sofá. Dex já foi. Não sei se é cansaço dos três shows seguidos ou se é alguma gripe encruada. Mas tudo dói. Dizem que depois de uma certa idade acordar sem dores é sinal de óbito. Eu vou "marrer". Bye.