terça-feira, 16 de junho de 2009

Ai. Paraíso. Tô mijando. Espuma grossa. Mistura rica.

A era glacial segue no pé da serra. O despertador toca e dou um migué. Mas não adianta. Precipito meus noventa e cinco quilos cama afora e caio sobre o chão igualmente gelado. Caraio.
Jornal. Banheiro. Tenho cagado tão fino que sobra bem pouco pra tradicional e vintage defecada matutina. Hum. O jornal mete a lenha no Brasil. Hum. Ronaldo diz que vai arrebentar contra o Inter. Hum. Lula diz que a França vai indenizar mortos do vôo da Air France e o governo francês diz "nananinanão". Sumiu uma mala de uniforme do Flamengo no Aeroporto. Adriano tb sumiu depois do chocolate Curitibano. E chega.


Chuveiro. Tá quente. Quente demais. Tá frio. Frio demais. Porra. Fixou. Hum. Roupa. Dex me chama. Ta com lágrimas nos olhos. Hoje ela vai assinar a papelada da dispensa. Não deve ser um dia fácil. Tento anima-la. Ta difícil.

Peguei um cd demo da música "Não vou desistir do amor" que fiz especialmente prum programa que SBT que depois foi cancelado. Os caras encomendaram uma canção sobre aquele reality onde três mulheres deveriam escolher, cada uma, entre vinte pretendentes. Não deu. Tentaram dez pretendentes por candidata. Mas não deu tb. O programa foi cancelado por falta de candidatos a marido. E minha musiquinha tão romanticazinha cantada pela Juliana que podia me dar um dinheirozinho foi arquivada. O SBT pagou o combinado, mas o ideal era a música ser executada pois aí, mesmo tendo vendido a música pro SBT, eu receberia direitos autorais. Por isso to levando um cd demo pra Carol ver se alguém que cuida da trilha sonora da nova novela curte este produto musical que a emissora pagou e não usou. Figas.

Dex pede mais um beijo. Eu volto e dou. E fui. Ligo pra dois dos meus irmãos mais velhos, Ca e Bi e mato saudades.

- Não é nada, não. Apenas saudades. Como vão vcs?

Cá ta apressado e diz apenas que ta tudo bem. Bi conversa mais. Cobra uma visita minha na sua casa. Prometo ir assim que der. Tô sempre devendo algo a alguém.

SBT. Ta rolando um som na cidade cenográfica e sou capaz de apostar que tem algum evento por lá pra promover a nova novela da Iris.

Minha mesa. Lá pelas onze preciso ligar pro Miranda e confirmar nossa conversa na hora do almoço sobre nosso novo CD. Primeiro levo o cd pra Carol. Ok. Depois e-mails e tal. Onze horas.

- E aeh, Miranda?

Tudo confirmado pra uma e meia no Pitanga, na Vila Madalena. Aviso Cavalo que ta no busão subindo a serra que ta tudo em cima. Atualizações internéticas. Esta história da equipe do Astros estar fazendo dois programas ta criando uma tensão, já que uma nova redatora foi contratada. Sempre que rolam estas modificações a galera teme ser mandada embora. Gosto da grana e do clima do SBT. Aqui é minha casa. Mas mesmo se me mandarem embora, especialmente neste momento em que Dex tb rodou, sigo meu caminho. Tenho muito que fazer. Opa. Deu meu horário. Ta rolando mesmo um evento na cidade cenográfica com comes e bebes pros funcionários. A Iris ta me saindo uma patroa muito gentil.

Chego na área da Vila Madalena no horário. Olha o tal do Pitanga aí. Cavalo já esta. A gente senta e combina estratégias. Ele, como sempre, ta menos animado que eu com o CD. É assim. Eu sou movido pelo entusiasmo e pela fé de que se tudo pode dar errado, por que não dar certo?
Entra um cara e pergunta se somos das Velhas Virgens. É o Thomás, assistente do Miranda. Ele trabalhava com o Tom Capone. Falamos um pouco sobre como seria o trampo. Ele diz que acessou o site e que nossa estética é simples e está bem definida. Fala sobre gravar no estúdio de Tom Capone no Rio, Toca do Bandido. Descreve maravilhas da casa, das instalações, do som, dos instrumentos á disposição. Dá mesmo vontade de gravar lá. Não só pelo astral aparente, mas pela aventura de fazer um cd fora de casa. A grana não parece absurda. Sei lá. Estas coisas quem define é o Cavalo. Simpático o Thomas. Precisamo ver , digo, ouvir seus trabalhos. E ver se o santo bate. Mas inicialmente parece um cara legal. Miranda chega com sua namorada. Mulher(?). Isso não é da minha conta. Que ta com ele, isso ta. Falamos de cervejas, whiskys, bebidas importadas, peidos, cachaças. Mudamos de mesa. Cavalo intensifica o interrogatório a Thomás sobre como, quando, quanto. Parece satisfeito. E Cavalo satisfeito é quase como Deus pecar. O rango é bom. Costela de porco com molho de mel. Filé com molho madeira. Hum.

Após comermos Miranda entra no circuito e repete que não ta a fim de trabalhar este ano, mas se Thomas fizer o trampo ele dará uma supervisionada. Miranda vende legal o trampo do parceiro. Miranda parece muito seguro da qualidade dele. Miranda é o cara do conceito, das idéias. Thomás é o homem que afina e toca o instrumento chamado estúdio. O papo parece muito legal. Miranda parece muito transparemte. É o mesmo cara que aparece na TV e que me cumprimenta pelos corredores do SBT. Ao final ele pede umas cachaças que a gente bebe comendo casca de laranja cristalizada. Cool. Uma das cachaças chama-se "Busca Vida". É uma pinga com limão que vem de um alambique da região de Bragança Paulista onde frequantemente as VV tocam. É o Galpão Busca Vida. Eu já conhecia esta pinga que é demais. A outra é Balança Bicha ou sei lá o que. 48 Gl de álcool e muito suave.

A coisa fica assim. Vamo ouvir um cd com trabalhos do Thomás e providenciar um cd com nossas novas canções preles avaliarem o repertório. Tb dei uma pincelada nesta história de fazer um disco conceitual, meio Alice no país das Maravilhas, meio St. Peppers, meio Pink Floyd, meio radio movie. Estamos namorando, se é que vcs me entendem. A grana é que pode ser um problema. Mas na hora certa eu conto pra vcs se rola ou não.

Band. As duas cachaças nada fizeram com minha lucidez. Mas a bexiga somou ás duas pingas outras duas garrafinhas de H2OH maracujá, de forma que estou caminhando até torto pra portaria da Band: preciso mijar! Encontro Fernando fumando. Ele quer conversar e eu preciso mijar. Sigo em direção do banheiro. Um conhecido da produção me cumprimenta e passo batido, pois preciso mijar. Mijar, puta que pariu!

Ai. Paraíso. Tô mijando. Espuma grossa. Mistura rica. Vamos pro canal. Acertos nos textos da Núbia. Pauta da mocinha que toca pelada que vai rolar amanhã á tarde. E pronto. Melhoro o conceito do estranho mundo de "dentro da garrafa" que vai, eventualmente, amarrar as músicas do cd. Minha amiga Lisandra me emeia avisando que está escrevendo um blog onde conta como engabelou seu filho Arthur no domingo levando-o a museus. É bonito enganar inocentes? Heim? Mas ele curtiu. Ela diz que lê este humilde blog sempre que pode e isso a inspirou a escrever o dela. Ela escreve muito bem. Já li textos no passado. Só não entre na roubada, Li, de escrever todo dia como eu. Senão vc ta fudida. Divertidamente fudida.

Antes de sair pra acompanhar a matéria do Saco de Ratos, eu e Fernando vamos jantar. Depois, simbora pro Bixiga.

Bandejão da Band. Barriga cheia de arroz, filé de frango e salada. Pronto. Bora pro bexiga. Vou no meu carro por que de lá já me mando pra casa. Nosso cinegrafista que tb dirige a viatura do Band Sports (Sex Privê é pobre e não tem carro) é o Anderson, o melhor e mais interessado dos cameras que já sairam pra gravar com a gente. Chego primeiro. Brum já tá no The Wall, assim como Watanabe e Rick Vecchione. Aguardo a chegada da equipe e tento pegar o depoimento do Brum do aldo de fora, mostrando a fachada do bar. Não dá leitura da placa que reproduz a capa do lendário LP do Pink Floyd. Ok, vamos pra dentro.

O papo com Brum é , inicialmente, o mais didático. Peço que ele conte quando e como surgiu a banda, a origem do nome e etc. Depois entro no lance das inspirações, das implicações boemias e alcoólicas. Pra terminar, falo da mulherada e dos Vips que costumam comparecer no show. Quero fazer uma matéria legal, que venda a banda e o evento das terças como um happening. Ok. Robério Santana, baixista do Camisa de Vênus, vai mesmo substituir Pagotto que tá, ai, com pedras nos rins. Ele tá certando o som do baixo no palco e faço uma abordagem pedindo que ele fale como conheceu a banda. Perfeito. Levo Watanabe pro andar superior e deixo o palco de fundo. O papo com ele é sobre o cd que está pra sair e sobre o Blues das Amistosas, uma parceria dele com o Bortolotto falando deste estabelecimento de frequencia acima de qualquer suspeita. Rick Vecchione tá la fora comendo. Chama este homem que vamos falar das mulheres. Ele, pelo que sei, tá solteiro. Tento tirar alguma putaria, mas o cara usa a timidez como escudo e se safa. Pergunto sobre a diferença de tocar no Made in Brazil e no Saco de Ratos e ele é curto e grosso:

- No Made tenho que fazer o que meu pai manda. Aqui posso fazer o que quero.

Pano rápido. Oswaldão Vecchione é um bom amigo meu, mas que ele conduz o Made com mão de ferro, todo mundo sabe. E isso, absolutamente, não é da minha conta. Ninguém mantém uma banda de rock viva por tanto tempo na terra de breganejo, funk carioca, pagode e axé sendo bonzinho.

Bem. Falta o homem. Que homem? O vocal e letrista, o ator, dramaturgo, escritor e diretor, o meu amigo Mário Bortolotto. Ele tá fazendo a peça do Marcelo Paiva e deve chegar em cima da hora. É assim. Colocamos Bortolotto ao lado de um retrato do Elvis e mando algumas perguntas que considero certeiras. Ele, como a maioria dos vocais e letristas, só precisa de um mote pra deitar o verbo. Explica com desenvoltura a onda das letras e músicas, descreve bem o cenário boemio que cerca as parcerias e a própria vida da banda. Pergunto das interações do dramaturgo com o letrista e do ator com o cantor. Mas a parte mais legal é ele dizer se cata mais mulheres depois de peça ou show. Marião é direto:

- Depois de show a gente cata muito mais mulher!

Beleza. Ele tá mesmo empolgado com a banda. E tem razões pra isso. Eu já tenho o que preciso de papo. Agora é esperar o show começar e registrar duas das músicas que tem mais a cara do nosso canal: "Putaria" e "Pau no seu cu menina". Como Robério caiu meio de paraquedas sem muito ensaio, Marião e Brum me pedem pra fazer umas duas canções antes, pra esquentar e familiarizar. Robério não tem dificuldade com improvisos: morou, foi dono de bar e tocou muitos anos em New Orleans antes do furacão. A mulherada bonita chega. Lourenço Mutarelli, escritor (O cheiro do Ralo) e ator dá um depoimento emocionado, dizendo que o Saco de Ratos pra ele é tão vital quando o whisky e a Maçonaria. Marcelo Paiva se alonga um pouco mais , destacando a qualidade das letras e o fato de haver poucas ou nenhuma banda com um trabalho tão original, corajoso e cheio de qualidade.

Agora o Anderson tá rodando pelo bar e captando imagens de cobertura. Os amigos e amigas estão todos aí: Dani, Thais, Fabi, Guta, Paula Cohen, Carcarah, Linguinha, Marcio Américo, Flavio Vajman (que tá tocando gaita tb), Paulão do Baranga, todo mundo. Rolam umas traves, mas tudo segue legal no palco. O clima é ótimo. Marião adora adicionar convidados a cada canção. Basta fazer cara de pidão na frente do palco que ele aciona um back vocal, um corinho, um improviso vocal ou um guitarrista. Generosidade. Acho até que isso acontece em excesso e ralenta o trampo da banda. Mas eles não parecem preocupados e querem mesmo esta comunhão. Cool.

Gravamos as músicas que precisavamos. Peço um cd com as músicas do cd que está pra sair. Elas irão ajudar na sonorização da matéria que deve ter uns doze minutos. Quase na saideira, dou com Paulo César Pereio e colho um depoimento sobre a banda. Tento ler seus lábios já que o som tá alto e não ouço o que ele diz. Mas não dá. Vejo o que ele disse amanhã na Band. Chega. Uma cerveja e me mando. Anderson pega a viatura da Band e volta pra nave mãe. Fernandinho vai pegar um táxi. Tô preocupado com a Dex.

Passo perto do Terra Nova e confesso que gostaria de tomar uma saideira, uma vez que passa pouco da uma e quinze da manhã e minha sede é milenar. Mas vou ver a Dex.

Tô em casa e Dex tá trancada no quarto. Bato, ela abre e pergunto como tá. Ela ronrona. Tá meio bebada de sono. Desço e como um pouco da boa comida que ela tem produzido desde sábado. Um pouquinho de TV pra chamar o sono? Sim. Três mocinhas e pegando na TV. Hum. Apresso uma reuinião entre minha mão e meu pênis. E durmo com frio, mas relaxado.