domingo, 31 de maio de 2009

É bom ser casado. E dormir enredado.

Acordo cedo por conta da tosse. Dex se levanta e diz que vai comprar pão e remédio pra mim. Quer me levar ao médico, mas eu reluto. Ela sai e eu apago. Ela volta e me chama pro café. Sete da manhã. Capuccino. Pão fresco. Trimedal. Vamos ver se tudo melhora. Internet. Atualizações. Sono ou banho. Veremos. Sono. Dex vai pro banho.


Eu fico enrolando na cama. Ela me cutuca. Quer que eu vá pro banho. Chupeta que é bom, nada. Ah, tem sim. Uhu! Eu vou. Inclusive pro banho. Quem é que diz não pruma mulher? Banho tomado. Meus sogros estão lá embaixo. Vamos ao cemitério. Dex e seu Ricardo ainda não tiveram a chance de ir até lá. Não vai ser uma coisa muito fácil.

Estamos todos no carro da Dex. Ela tá dirigindo, pois eu aleguei que tô doente e não dá pra dirigir. Viadagem pura. Antes de sair, dei um tapa numa dose de Vinho do Porto que no século 19 era usado como anti-gripal. E ainda dizem que com o tempo a ciência progride. Preferia uma garrafa de Vinho do Porto a esta merda de Trimedal. Todos bebem. Até seu Ricardo que é avesso a alcool.

O cemitério é bem próximo. Cinco minutos de carro. Dex encosta na via lateral. Atravessa a rua com a mãe pra comprar flores. Eu entro por uma porta lateral que não é a que eu entrei no dia do enterro. Mas tenho a sensação que por aqui é mais perto. E eu to certo. É só virar á esquerda, depois à direita e tamos aqui. As coroas continuam sobre os azulejos. Seu Ricardo está na entrada do cemitério esperando a esposa e a filha. Vou lá tb. Seu Ricardo passa por mim e vai em direção do túmulo onde tb está enterrado seu pai. Eu acompanho as mulheres. Pronto. É agora. Lágrimas silenciosas descem nos olhos castanhos de Dex. Seu Ricardo se apoia na parte superior do túmulo e baixa a cabeça. Ele tá sentindo muito a perda da mãe. E mãe, velho, é foda!

Fico de lado e só entro em ação em alguma possivel emergencia. Deixo Dex chorar e observar o local. Quando sinto que ela tá precisando forneço meus braços e meu ombro. Dona Lívia faz o mesmo com seu marido. Porra, pra eles é como se fosse agora. É neste momento que os dois estão encarando a morte da pessoa querida que era a vovó, especialmente para eles. Não sei se rola esta história de preferidos, mas se rolar, este é o filho preferido e ela a neta preferida. Sem dúvida. Seu Ricardo chacoalha a cabeça como que discordando de tudo. Dex joga uma medalhinha que comprou na viagem dentro do túmulo. Tiro o vaso comprado pela Dex do pacote, subo no túmulo ao lado e coloco num ponto mais alto. Se ficar ali no meio das coroas, será varrido como lixo na segunda feira. É isso. Saímos todos dali. Pego a direção do carro e quase provoco um acidente. Esperei Dex e seu Ricardo entrarem e tive a nítida sensação que dona Livia tb havia entrado. Soltei o carro, já que estávamos numa descida. Dona Livia ainda não havia subido e desequilibrou-se pra calçada. Nossa. Que susto. Sorry, sogrinha! E vcs aí parem de rir que eu não faria isso nem com a sogra. Até porque Dona Livia, "A Improvável", é muito querida. Ela não se conforma de eu dizer que ela é improvável. Eu explico que ela faz e fala coisas inacreditáveis, mas como ela existe não pode ser chamada de impossivel. Então, é "Improvavel". Já Dex é "Indomável". Ninguém manda nesta mulher. E eu a amo inclusive por isso.

Bem, de volta ao nosso condominio, entro em casa pra pegar um pacote de carne comprada pelos meus sogros que ficou na nossa geladeira. Seu Ricardo não tá legal. Não quer ir almoçar com a gente. Vai trocar de carro com o Rodragg e depois vai pra casa. Vamos eu, Dex e D. Livia almoçar. Um telefonema pra Rodragg define o local: Bar Brahma do Campo de Marte. Oba, vou provar aquele Virado que o André comeu outro dia. Deixo as moças na entrada e vou estacionar. Longe. Beleza. Tô de jaqueta de couro e cachecol. O calor faz o suór descer. Gripe é um pé no saco. Mesa. Peço um "Blood Mary". Dex pede chopp. Rodragg chega com Bio e Bafo. Ele me vê e fala algo parecido com Paulo. Eh,eh,eh. Eu amo este menino, porra. E estes olhos azuis? Tá lindo!
Uma criança na mesa gera o que se pode chamar de pandemonio. Ninguém come sossegado. Ele é elétrico. Ele quer os talheres, o saleiro, a toalha, os pratos, tudo. Fico ensinando ele a falar seu apelido, "Bafo". É ouvir e repetir. Dex sai andando com ele. Rodrigo pede chopp. Bio idem. Dona Livia vai de suco de laranja e Virado. Virado pra mim e Dex too. Rodragg pede picanha. "Blod Mary" ruim. Peço mais suco de tomate e menos gêlo. O garçom gentil faz a alteração e segue ruim. Ponho sal, pimenta. Ruim. Vamos beber do mesmo jeito. Matei. Peço uma coca zero. Do lado de fora há uma grande banda tocando Jazz. 

O dia tá frio, mas ensolarado. Dex volta com Bafo e Bio sai passeando com ele. De repente, foram todos fumar e estou só na mesa. Chega a comida. To faminto. Começo a atacar o Virado que tá ótimo. Os outros chegam e começam a comer. Rodragg reclama da picanha muito passada. Dona Livia do Virado, assim como Dex. Eles têm paladares apurados. O meu é mediocre. Pra mim tá bom. Comemos nos revezando com Bafo. Eu, não. Eu como mesmo. As moças e Rodragg é que se revezam. Terminei. Sai com Bafo no colo. Ele segue repetindo o próprio apelido que eu ensinei: "Bafff...Bafoo".

As pessoas de paladar apurado reclamam da comida com o maitre. Eu mostro aviões e o palco pro Bafo. Agora quem toca é um trio de jazz. Volto pra mesa. Peço café. Conta. Área.

Rodragg sai prum lado e eu com Dex e a sogra pro outro. Sogrinha entregue em casa. Eu e Dex a caminho da nossa. O rádio anuncia o segundo gol do Santos sobre o Timão B. Estamos com os reservas e eu tô longe do meu lugar da sorte, no sofá de casa. Assim que chegar a coisa melhora. Cheguei. Noto que Dex tá procupada com a influencia da derrota do timão no meu humor dominical. Explico que estamos jogando com o time reserva e a derrota era previsivel.

Casa. Começo de segundo tempo. A torcida o Santos reclama uma goleada, mas os reservas marcam direito e até contra atacam bem. O tal de Marcinho faz boa jogada e Morais chuta. Fabio "cuzão" Costa solta e o jovem zagueiro Renato mete pra rede. Dois a um. Num falei que no meu ligar da sorte a coisa melhoraria? Em mais uma ou duas arrancadas de Morais poderíamos ter empatado. Os adversários tropeçam na bola. Curiosamente, com time completo e em casa, com a torcida do lado, estão afobados. O Juiz expulsa injustamente Lulinha que já havia cagado um passe que resultou em gol no primeiro tempo. Com um a menos é foda. O Santos faz mais um no finzinho. Beleza. Era isso mesmo que eu esperava, mas o reservas até que engrossaram a coisa toda. Dex quer ver tv. Zapeia, zapeia. Opa, ás oito da noite tem Homem de Ferro legendado no 64. Ela não quer ver. É só daqui uma hora e meia. Oba, Two and a Half man. Oba, Big Bang Theory. Dex vai deitar e eu engato no Homem de Ferro. Merda de dublagem, mas o filme vale. Já vi no cinema. Começa com Ac/Dc, Back in Black. Uhu!

No meio do filme acordo Dex, como ela pediu. Ela fica ao meu lado semi morta. Peço prela fazer um macarrão ou pedir ma pizza. Ela enrola. Enrola. O filme termina. Desço e como pão frio com molho gelado. Ela desce e faz sanduiche quente prela. E este vai ser nossa janta. Mais filme? Não. Sono. Cama. Encho o saco dela por ela não ter feito e nem pedido a comida. Fico me lamentando enquanto ela finge de morta. A gente ri. É bom ser casado. E dormir enredado.