quinta-feira, 4 de junho de 2009

- Eu bebo vinho há dois mil anos e to muito bem!

Despertador. Oito da manhã. Frio, porra. Jornal. Politicamente incorreto, ligo o chuveiro e deixo a água quente correr pra aquecer o banheiro. Mais destroços do avião. Corinthians venceu com bravura? Cuzice, isso sim! Inter, a mesma merda. Esqueçamos estes detalhes e pensemos na final.

Festival Internacional de Teatro em Londrina este fim de semana. É o mais antigo do Brasil. Tocaremos lá sábado á noite. A cidade deve estar fervendo. Eu gosto disso. Hoje tem ensaio. Chega de ler. Banho. Dex bate na porta.

- Entra, caralho - (este fui eu)

Tranquei. E nem percebi. Saio do chuveiro e abro a tranca. Frio do caralho, porra. Dex dá descarga e corta a água quente. É fácil a vida do brasileiro numa manhã gelada? Foda! Ela me dá um beijinho. Tá tudo certo. Com muito custo visto a roupa. Dex tá lá em baixo testando a lareira. São oito e meia da manhã e ela segue em férias. Ela quer estrear a lareira amanhã á noite num fondue só pra mulheres, já que estarei ensaiando. Ela quer que eu coloque a cara dentro da lareira pra ver em que posição a válvula fica aberta ou fechada. Tenho mais o que fazer. Ela se invoca. Pequeno entrevero em andamento.

Mando fax pra imobiliária que vendeu meu apê com minha certidão de casamento/divórcio. Tento dar um beijo de despedida pra deixar tudo bem, mas ela rosna e eu tb. Fui. Cachecol. Luvas, touca. E o Guia dos Curiosos - Sexo, que é minha nova leitura. A leitura pode resultar em alguma coisa pro nosso tesudo Sex Privê Brasileirinhas.

Ligo pra ela da rua, em frente do sacolão mais próximo, e digo que tem lenha pra vender lá. Ok. Ela me liga depois, perguntando qualquer bobagem. É assim que casais se desculpam. Tb te amo, coração!

Solzinho inconsistente. Marginal. Anhanguera. SBT. Atualizações. Sigo me desviando das balas perdidas do trabalho. Assim seja. Fê tá toda enrolada com o programa 62, da semana que vem. Em seguida será o meu, o 63. O 64 será dela, final. Logo vão me encontrar, eu sinto.

Hoje a sala tá com lotação quase completa. Valezin dá as caras. Foi este filho da puta querido que zoneou ainda mais minha mesa. Ele confessa antes de me dar boas voltas das férias. Marcão diz que eu sou INRI CRISTO. Lembro de uma entrevista que vi dele esta semana na Luciana Gimenez onde ao ser perguntado se bebe whisky ele diz que acha melhor evitar os destilados, pois este tipo de bebida faz mal pra pele e envelhece. E finaliza com esta ode ao vinho:

- Eu bebo vinho há dois mil anos e to muito bem!

Demência pouca é bobagem. Alguém na sala pergunta se INRI come as suas seguidoras. A unanimidade confirma que ele come, sim, as bucetinhas das suas seguidoras. Jesus Cristo de Araque. Mas simpático!

Já tamos ao meio dia. Almoço? Depois sei que o trabalho vai acabar me encontrando. Triste sina!
Puta monte de gente no restaurante. Geralmente isso só acontece ás quartas, quando o SS grava Tentação com os clientes do Baú. Hoje tá mais pruma turba de figurantes. Pensei que fossem da novela, mas parece que é o Netinho que trouxe a galera da Cohab. E tem tb um monte de policiais. Inclusive do Batalhão de Choque. Será pra novela? Que porra é esta?

Como salada, lingüiça e filé de coxa de frango. Um cafézinho e tô na minha mesa. Eu sei, eu sei. Tenho que ir à ilha de edição ver o que rola. Droga. Será que não podem pagar preu não fazer nada?

Fui. Aninha me falou que o 63 ainda não tem nada a ser visto. Vejo amanhã, então. Ok. Falei com meu diretor mais direto Edu Ligeirinho e ele me deu uns toques sobre o roteiro. Mas só amanhã mesmo.

Na Band parece que o bicho tá pegando. Calazans me liga perguntando que horas posso estar lá, pois teremos uma reunião. Pequenas confusões operacionais, imagino. No problem. Reunião é comigo mesmo. Preciso comer algo por volta das quatro pra tomar o trimedal. De resto, simbora nesta quinta de reuniões, finalização de textos da Nubia e ensaio das VV. Definitivamente, é noise! Tem que ser!

Sex Privê Brasileirinhas. A reunião já foi e parece que ta tudo em paz. E eu sou da Paes. Da Julia Paes, caralho. Textos. Textos. Roteiros. Offs.

Caraio. Trampei tanto que quando me toco já passa das oito. Subo, janto algo no bandejão da Band e me mando pro ensaio.

Cavalo pede que conversemos um pouco antes de começar o som. Ele nos informa que ele e Banas estiveram reunidos com a Cida, que já foi nossa assessora de imprensa e era para ter voltado a trabalhar com a gente por ocasião da Virada Cultural. Não rolou. Mas agora vai rolar. Arestas aparadas, segundo ele, ela começa agora do zero, novamente. Precisamos de alguém que amplifique as coisas que a gente faz. Não adianta ser a maior banda independente do Brasil se ninguém souber disso.

Outro tópico do papo tem a ver com o novo cd. Cavalo, que é o dono da Gabaju (a gravadora), diz que fez as contas e neste mercado onde quase ninguém mais compra CDs, para lançar algo com alguma chance de pelo menos se pagar precisamos vir com cd e DVD juntos. Ok. Mas para fazer os dois produtos, não podemos gravar as dezesseis canções que estamos ensaiando. Na verdade, pelo plano dele, só poderíamos gravar doze naquele esquema instrumento a instrumento, com capricho. Para não cortar outras duas canções, o jeito seria gravá-las mais acústicas, barateando gravação e mixagem. E idéia não é ruim, pois assim a gente inclusive vem com duas canções com arranjo diferenciado das outras. Adoramos e temos orgulho de nossa independência, mas não é nada fácil se manter assim. Sobre as duas canções excedentes, a do Corinthians e a do Pedrão (filho do Cavalo e meu afilhado), ficariam pra depois. Porra, toda vez que a gente começa a pré-produção de um cd rola este drama de ter que cortar músicas. Desta vez parecia que não ia rolar, mas não é assim. Não temos grana pra gravar tudo que a gente quer. Eu sei que o Cavalo deve ter razão. Mas limar músicas é sempre foda.

Me proponho a bancar estas última duas que seriam divulgadas apenas na internet e tal, mas ele não curte a idéia. Bem, nada que não possamos discutir depois, imagino. Ensaio. Todo mundo meio cansado, pois todos vieram de dias de trabalho, notadamente eu, o Tuca e o Cavalo. Bora. Depois que começa o tesão vem! Igual sexo!

Fazemos uma espécie de sintonia fina em oito canções. Acertamos finais, aprimoramos aberturas, passagens, solos e depois de duas passadas cada uma delas já ta com cara própria. Minha voz não está grande coisa, por causa da gripe, mas vamos indo.

Bate meia noite e Tuca fala com seu jeito retardado que "tem gente cansada". Ele. Eu tb. To no ar desde as oito da manhã. E sem beber nada.

Tentemos matar mais duas canções para totalizar oito e paramos, eu proponho. Ok. Uma já era. Antes da última meu intestino me trai e lá vou eu cagar. Os cachorros do Roy me seguem e ficam pulando na porta do banheiro: Janis e Feroz, dois vira-latas abestalhados. Porra, não tem cesto de lixo. Jogo os papéis sujos na privada. E quem disse que a descarga consegue mandá-los privada abaixo? Porra. Que é que eu faço? Subo de volta pro local do ensaio e aviso Roy.
Finalizamos mais uma música. Bate meia noite e meia e estamos pregados. Cavalo fala novamente sobre o cd e digo que a gente pode muito bem tentar gravar as outras duas, totalizando as dezesseis. Não sei o que se passa, mas ele fica ofendido e diz que está disposto a largar a produção do cd. Caralho, não era pra tanto. Porra, se o problema é este, deixemos estas duas de lado. E quantas forem necessárias. Ninguém aqui tem conhecimento e experiência pra produzir um cd como ele, que já fez oito ou nove. Eu, do fundo do coração, estava tentando somar, mas não ta rolando.

Peço que falemos do assunto em outro momento, quando todos estivermos mais de cabeça fria. Caralho, que pemba desnecessária. Sei lá, provavelmente não estou conectado com as dificuldades e os terrores que o Cavalo tem passado pra viabilizar o novo cd. Sei que as coisas estão complicadas e ao que parece ele tomou meu comentário como uma esmola ou coisa parecida. Pelo que to sacando, lançar o cd apenas com seus próprios meios e os da gravadora é uma questão meio pessoal e moral dele. Questão de honra. Só saquei isso agora. Porra, não ta mais aqui quem falou. Se as condições financeiras da gravadora e do mercado se mantiverem como estão hoje em dia, acho difícil que consigamos fazer outro disco de estúdio como este. Ser independente não é mole, gente.

Nos despedimos friamente na rua, em frente da casa do Roy, sob esta onda gelada que assola São Paulo. Coerente. Dou carona pro Simon e vamos falando do terror que foi o jogo com o Vaxco. Tuca dá carona pro Cavalo e as coisas ficam assim. Mal entendido, mal explicado, sei lá. Conheço o cara há mais de 20 anos, somos parceiros e sócios. Somos compadres e amigos e uma bosta dessa não vai mudar nada. Pelo menos do meu ponto de vista. Paciência. Vai ver estou supervalorizando.

Ligo pra Dex que ta num bar no aniversário da Rita e da Paula ( elas são gêmeas). Segundo Dex, a festinha ta miando e eu to a caminho de casa. Melhor cuidar da gripe e dormir. Amanhã tenho muito que fazer no SBT e na Band. E depois mais ensaio.

Pelo tom da voz da Dex, tá na cara que ta meio breaca. Que bom pra ela.

To em casa. Dex chegou. Ta mamadinha e engraçada. Conto pra ela sobre a treta com o Cavalo. Ela diz que a gente resolve. E eu sei que resolve. Frio. Dex no banho. Eu me trocando. Os dois na cama. Ela ta quentinha. Dou umas bolinadas, mas o frio, a bebida e o cansaço vencem. A gente tenta dormir abraçadinho, mas isso só dura segundos. Ninguém consegue dormir abraçado, meu velho. Mas o amor permanece. E, como dizem os Vaxcainos, o sentimento não pode parar. Mañana.