quarta-feira, 10 de junho de 2009

Sou uma réplica bêbada de INRI Cristo após sair da máquina de lavar

Acordei faltando cinco pras dez. Mal. Não de ressaca. Com sono. Quebrado. O jornal já está no banheiro, pois peguei quando cheguei. Desço e penduro as toalhas verdes e laranja no varal. Deixei batendo antes de dormir. Coloco as toalhas pretas na máquina.


Cago enquanto leio. Como sempre, porra. Tô lesado. Brasil e Paraguai hoje na TV. A gente só torce pro Brasil quando o amistoso é contra a Itália, Inglaterra, França ou Argentina. Ou quando estamos disputando Copa ou algum torneio. De resto, a gente torce mesmo é pro nosso time. Eu sou corinthiano. Às vezes brasileiro. Uma vitória hoje praticamente nos garante na Copa. Então, vou torcer. Que mais? Mais nada. Volto pra cama. Vou dormir até as onze.

Porra, soninho abençoado. Acordo melhor. Desço e penduro as toalhas que faltavam. Roupa lavada, sim senhor. Banho. Água quente de Deus. Uau! Saio do chuveiro por volta de onze e vinte. Vou chegar atrasado pra caralho. Que é que eu vou fazer? Sou boêmio. Amo virar a noite no bar. O problema não é a boemia, mas a merda do trabalho no dia seguinte. É isso que tá errado. Será que o Lula, bêbado do caralho, não pode criar a bolsa cachaça, pra dar uma grana para bêbados com serviços prestados á pátria como eu? Merda.

E aeh? Ligo pra Dex e ela não atende. Simbora pro SBT. Transito absurdo. Chuva pentelha. Dia filha duma puta. André me liga me informando que pela internet só tem ingresso de numerada coberta, cento e oitenta milhões de reais. Vai tomar no cu. Pacaembu abortado. Vou ver o jogo do Timão contra o Inter na TV semana que vem. Olha aí o que ta tocando. Paulo Diniz, "Pingos de Amor". Que canção maravilhosa. Como sofrem os que amam e não são amados. Como a gente pena por causa do amor não correspondido. Tudo lembra a mulher amada. A gente sofre, chora, se descabela. Dor de estômago. Tristeza profunda. Porra. Olha que romantismo lindo. Ele diz que se eles voltarem e forem novamente "nós dois" vai chover "pingos de amor". Que coisa linda. Eu amo esta canção. Ponho no repeat e choro. A ressaca ajuda na emotividade, claro. Ligo pra Dex e cantarolo o refrão. Ela curte. Digo que to morrendo de saudade. E to mesmo, caralho. Que vontade de voltar pro bar. Porra.

Caralho. To no SBT. Aninha ta me esperando. Ela quer roteiro. Eu escrevi ontem, mas mocozei. Vou escrever só mais uma besteirinha e mando prela divertir os editores. Mas isso vai ser depois do almoço. Será que eu vou comer? O quê? Quarta feira? Feijoada, puta que pariu! Claro que vou. Puta fila pra pegar a comida. Fico agitando, reclamando da demora. Pego no pé do Chefe de Cozinha, Alessandro, baiano vagabundo e talentoso. Digo que ele ta com um topete de "viagem". Que é por isso que todo mundo acha que quem trabalha em tv é viado. Ele chegou outro dia e já está com este cabelinho de moça. Ele ri. Feijuca no prato. Sigo lesado. A máquina de VISA não funciona. Não paguei um só almoço esta semana. A mocinha vai marcando. Minha conta já passou de trinta reais. Pago sexta. Sento-me á mesa com Thereza, Galvão, Pri, Fe e Tom. Esqueci os talheres. Tô lesado, porra. Pessoas me informam que Gugu acertou com a Record por três milhões de reais por mês. Caralho. Será que desta vez ele vai? Tem que ir. É muita grana. Por outro lado, Tutinha, leia-se dono do Pânico, teria estado no SBT negociando a vinda daqueles dementes pra cá. Será legal. Que mais? Nada.

Sala. Acertar detalhes do roteiro. Responder internets. Meu guarda chuva está aberto no meio da sala. To meio zuado de ontem. Heim? O quê? Passam das quatro? Band. Transito. Chuva. Saída de carros por causa do feriado. Inferno na terra. Sono imenso. Chego á Band mais de cino e meia. Vou cagar. Toco umazinha pra animar. Tô precisando. Sex Prive Brasileirinhas. Fernando chega da matéria com as Fetish Dolls. Eu assisto a fita. As mocinhas se chupam pra valer. Caraio. Caraio. Ca-ra-io! Fiquei de pau duro. Olha o pezinho da morena. Hum. Fabião, o chefe, desce pra ver como estão as coisas. Ele vai desaparecer da emissora semana que vem. Não diz o motivo. Estará incomunicável. Pra mim ele vai fazer curso de Babalorixá. Pergunto pra ele se é isso, via e-mail. Ele diz, rindo, que é quase. Gente boa Mr. FC Moraes.

E aeh? Dou uma adiantada na parada dos roteiros da Núbia. Sexta eu mato esta porra. Mas hoje... Hoje...Hoje eu não quero mais trabalhar. Eu vou esperar dar oito da noite e correr pra casa. Arrumar a mala de figurino. Dar um bodão. E depois ir pro Aurora tocar. Chega!

São Paulo. Quem conhece? Quem mora! Quem ama? Quem é burro. Levei nada menos que duas horas e dez para chegar em casa. Sai da Band oito da noite e cheguei na ZN dez e dez. Depois descobri que tivemos nada menos que trezentos quilometros de congestionamento nesta quarta feira pré feriado. Me diga vc o que leva um ser humano a se submeter a uma coisa destas? Duas horas pra percorrer uma distancia que, na estrada, eu percorreria em vinte minutos. Mesmo na cidade, sem transito, levaria trinta e cinco minutos. Ainda que nesta cidade filha duma puta com transito normal, uma hora. Eu devo mesmo ser um filho de uma puta rampeira pra passar por isso e ainda declarar meu amor por este lixo de concreto e fumaça. E eu ainda amo esta merda. Ei, Paulão, vai tomar no cu.

Tuca bate na porta. O Brasil tá empatando com o Paraguai na TV. Preciso arrumar a mala. Comer alguma coisa. Dormir um pouco. Tomar banho. Bater uma punheta.

Tuca entra e ajudo ele a carregar o meu amp de baixo que ele vai usar no Aurora hoje. O porteiro liberou sua entrada com o carro até a porta da minha goma. Mas ele não pode ficar aqui. Carro carregado, ele se manda pra ver o jogo em algum lugar. E volto pra partida. Tem mocinhas se chupando no 285. Fico pulando da Globo pro canal pornô. Caralho. O Paraguai fez um gol. Como? Foi num destes pulos pro canal da putaria. Já sei: é a Globo que dá azar. Mudo pra Band e me atenho á partida. Luciano do Valle tá cego. Ele não acerta um nome de jogador. Deficiencia visual em último grau. Olha a bola na área. Olha o Robinho pegando de bate pronto. Um a um. A Band não falha, apesar do Luciano Wonder narrando. Acabou o primeiro tempo. Desço correndo e esquento um saduba congelado no micro. Pra dentro. Subo e começo a arrumar a mala do figurino. O segundo tempo começa e eu ainda estou arrumando a mala. Eis a situação da rodada:
Brazil 1 X 1 Paraguai.


Jogo 1 X 0 Cochilo.


Sanduiche 1 X 0 Punheta.


Sofá 1 X 0 Banho.


De todos estes placares, só o do Brasil mudou. Nilmar, o inimigo, mete um e o Brasil vira. Lindo. Jogo termina. Eu to cochilando no sofá. Caraio. Vou apagar e perder o show. Uma. Duas. Na terceira tentativa me jogo do sofá e caio no chão. O banho empata o jogo. Simbora pro Aurora. Queria chegar cedo pra bebericar em paz. Não deu.

Tá tudo livre, agora. Levo doze minutos de casa ao Bexiga. Ainda garoa. Páro o carro no chinês. Quinze reais. Cavalo encosta o carro na minha frente. Banas tá na porta do Aurora com Fernando Zandaroots. Pra dentro do Aurora. Quase uma da manhã. Devemos entrar no palco pelas duas. Duas e dez? Edu, Roy, Simon, Marcinho, Rico, fãs. Olá pra todo mundo. Um cara com uma tatoo igual á minha. Foto. Mais fotos. Vou empurrando minha mala de rodinhas pelo meio da galera. Camarim. Juju tá lá. Cavalo entra. Tuca idem. As brejas congelaram. Coloco as latinhas na pia e abro a água pra descongelarem. Tuca fecha torneira e diz que eu não respeito o planeta. Abro a torneira e mando o planeta tomar no cu. Ele fecha. Eu abro. E assim vida segue.

Penduro minhas tranqueiras na porta do banheiro do Aurora. Acho que vou cagar. Foi o sanduiche congelado. Enquanto cago de porta aberta (minhas tranqueiras penduradas impedem o fechamento da porta) chega um Hi-Fi. Ruim pra caralho, mas eu bebo. Bebo cerveja tb. Banas traz ao camarim uma galera de uma banda cover dos Stones. Só ouço as vozes. Não vejo as caras. É uma mina e um cidadão. Zé Boy tá na frente da porta, me impedindo de ver o que acontece lá fora e impedindo os caras de me verem cagando. Terminei. Os Stones se foram. Papo furado no camarim. Cuba boa. Mais uma cuba. Nada de alongamento hoje. Alguém diz que tô bebendo demais. Cavalo ensaia dar uma esculhambada em mim. Digo que todo mundo bebe, todo mundo faz merda. Ali ninguém está livre de encher a cara e fazer merda. Vamos pro show.

Cavalo tá meio de tromba comigo. E eu com ele. E vamos pra festa. Set normal. Exceto pelo pedido atendido de "Toda Puta mora longe" dos carecas do The Wall. Em "Siririca..." eu desço do palco pra ensinar uma moça a pegar no pau do rapaz ao lado. E o show? Faço alguns discursos inspirados. Pelo menos na minha opinião. Cavalo segue meio de tromba. No bis, antes de voltar, lembro Simon que é legal ele esticar o final de "Uns Drinks" pra dar tempo de eu me trocar e virar Mago Seixas. Eles estão felizes. O show foi legal. Voltamos com Raul. Ok. Enfio "Eh, Meu Pai" antes de "Rock das Aranha". O pessoal pede mais. Eu pergunto o quê? Não entendo o que eles dizem. Começo "Homem do Bigode cheiroso" á capela. Cavalo toca. Tuca toca. Emendo "O que é que vc tem na boca Maria". Chega.

Tô arrumando minhas tralhas molhadas no camarim. Tô mal humorado com a tromba do Cavalo que eu nem sei se ainda está de tromba. As pessoas vão saindo. Coloco meu roupão amarelo. Saio, dou uns abraços e beijos em fãs, faço fotos, autógrafos. Vou cumprimentando as pessoas. Desço a escada e vou dizer oi pra mocinha da chapelaria que sempre cumprimento quando chego. Falo com a galera daqui e dali. Mais fotos e autografos. Zé Paulo e a primeira dama Aline estão indo embora. Trocamos algumas palavras. A chuva derrubou a lotação pela metade. Peço uma Heineken e Zé Paulo me dá. Bye, bye.

Vou subindo. Fran vem se despedir. Beijos. Um cara me chama pra conversar com mulheres que, segundo ele, são feministas. Jogo aquela baba de quiabo nelas e derrubo o preconceito contra nós. Com charme. Eu sou bom com as palavras. Volto. Camarim. Todo mundo se mandando. Pego minhas coisas e vou tb. Um dos funcionários do bar me oferece uma bebida. Digo que tô indo. Ele fala a palavra mágica: Cuba!

Tô bebendo a cuba e batendo papo. O bar tá quase vazio. Garçons e barmen trocam idéia comigo no balcão. Hora de abrir área. Tenho uma Itaipava na mão e duas nos bolsos do roupão. O dia amanhece. Passo no Parlapatões pra ver se ainda está aberto. Está. Mais umas brejas pra baixo e a galera do teatro. Um cineasta bate papo comigo sobre seu filme via internet. Tô meio bebão, mas acho que ele me chama pra fazer uma ponta. Porra, eu tô de roupão amarelho, all star (um preto e um vermelho) e cueca samba canção. As joelheiras estão arreadas e parecem polainas nos meus tornozelos. Os cabelos alvi-negros estão desgrenhados. Sou uma réplica bêbada de INRI Cristo após sair da máquina de lavar. Tá difícil não me notar. Pensando bem, este é o únco lugar do mundo onde eu poderia não ser muito notado. Primeiro pela alta frequencia de dementes, bêbados, drogados, freaks, gays, etc. Segundo que aqui na rua ao lado existem dezenas de boites de strip e eu poderia muito bem ser um striper bêbado indo pra casa. Ou ainda, um noivo em despedida de solteiro.

Marião chegou. Ele tava conversando com a Paula Cohen, a moça dos belos peitos da peça de terça. Ele tá bem breaco. Desce um whisky pra ele. Vamos pra outro bar. Ele leva o whisky num copo descartável. Mais brejas. Mais conversa fiada. Marião tá chochilando na mesa. Tem mais gente cochilando na mesa. Tento convencer Marião a ir pra casa dele. A gente sai do buteco e vai pra outro tomar...Café com leite e coxinha. Este coquetel matinal desperta Marião e ele promete ir pra casa. Eu acredito e me mando pra ZN. Tô em casa. Desfaço mala. Jogo roupa molhada no chão da lavanderia. Subo as escadas nu. Frio. Banho. Cama. Oito da manhã. Dex chega hoje.