sábado, 6 de junho de 2009

Tudo espalhado pelo chão e o cheiro de cachorro molhado voltou.

Não sei a que horas acordei. Nem sei se acordei. O busão faz as paradas normais, mas não me lembro de ter descido. Frio. O motora é o Marquinho. Tem outro motora meio grandalhão com cavanhaque que eu não conheço. Parece. Parece. Caralho, ele ta com uniforme da Mancha Verde. Porra. Uma caralho dum porco. Parece simpático. Gente boa. Sei lá. Neste transe meio estranho em que me encontro, tamos em Londrina. Chegamos por volta de três da tarde. Eu almocei? Sim, almocei. Porra, esta ressaca de merda tem que parar.

Fico olhando pra Londrina de dentro do busão e concluo que passei dez anos da minha vida bêbado. Já estivemos tocando aqui umas seis vezes e eu não lembro de nada nesta cidade. Puta que pariu!

O hotel é ao lado da rodoviária. Hotel perto da rodoviária é sempre um código de que será uma merda. Simplesinho. Na recepção milhares de troféus de motociclismo. O quarto tem duas camas, banheiro, nada de armário e nem sabonete. Quando não tem sabonete, é sinal de cagada.
Tv comum e controle que não funciona. Room 33. Não tem interfone. E quando não tem interfone é sinal que a coisa é ralé. Pra mim pouco importa. Vou ficar deitado tentando curar esta maldita ressaca. Vou pro chuveiro. Volto pra cama. Rezo. Peço a Deus que me tire este enjôo. Vomito? Não vomito. Odeio vomitar. Dor de cabeça filha da puta. Jogo do Brasil contra o Uruguai. O goleiro deles tomou um peruzaço. O Brasil não ganha dos caras em Montevideo há 33 anos. Tomaram de quatro. Ai, ai, ai. Vou morrer. Chuveiro. Reza. Cochilo. Ânsia de vômito. Preciso ficar bom pro show. É só isso, meu Deus, ficar bom pro show!

Oito da noite. O drama continua. Rico bate na porta me chamando pro jantar. Não quero nada. Só água mineral e sal de fruta. PelamordeDeus!

Minutos após a porta abre e cá está o sal de fruta e a água. Bebo. Melhoro? Não melhoro. Chuveiro. Reza. Caganeira. Dor de barriga, Enjôo. Suór frio. Vou dar óbito. Simon trouxe o computador dele e tem um truque da internet pra ver o pay per viem sem pay, you know? Ele ta vendo o jogo do Timão contra o Coxa no Pacaembu. Peço a ele, via torpedo, que me mantenha informado, pois vou morrer e não tenho condições de ir ao quarto dele ver a partida. Simon diz: uma zero, Souza.

Eba. Ai. Banheiro. Caganeira. Enjôo. Chuveiro. Socorro. Apago. Sairemos á meia noite pro local do show. Onze e meia. To preparado. To melhorzinho. Vou sobreviver. Será que consigo fazer o show? Porra!

Dois amigos de outrora de Realeza tão no hotel tb. Não vejo os caras faz tempo. Eles vão com a gente na Van. O local é aberto e longe do centro da cidade. Tipo um sítio. Tem uma banda meio country-pira no palco. Palco grande. Não ta lotado, mas tem uma galera. Vou fazer o show careta. To me sentindo bem, mas não dá pra beber agora. Acho. O camarim tem banheiro. Geladeira. Bebidas. Mas fica longe pra caralho do palco. E vou ter que correr até aqui pra fazer as trocas de roupa e voltar. Vai ser foda. Tem vários fãs do lado de fora do camarim com quem me correpondo via internet. Falo com alguns. Alongamento. Contratantes simpáticos na área. É um encontro de repúblicas. Acabou show da banda de abertura. Ta frio. To pronto. Água mineral. Suco de laranja. Tamos ao lado do palco. Bebo uns goles de cerveja sob o olhar atento de Tuca que quer ver o meu "repune" diante do alcool. Não tem "repune". Desce bem. Desce mais. Brinde e vamos. Peço a Deus que me perdoe os pecados alcoolicos antes de subir. Que seja um bom show. Que eu suporte. Erro a letra de Cubanajarra. Porra, a letra começa na segunda, volta pro Domingo e depois vai pra terça. Eu começo na segunda e vou até quarta. Que porra é esta? O show segue.

Me parece que começou meio lento, mas foi pegando, pegando. Muita mulher bonita na frente do palco. Colírio! Anuncio Edu Viado. Juju entrou. Corro pro camarim. Longe. Loooonge. Faço minha troca. Cadê meu sutiã? Dei pro Márcio lá no palco, junto com os boás? Sei lá. Peço que Banas vá ver isso enquanto coloco a batina. A música da Ju ta terminando e eu to ao lado do palco tentando por o sutiã por baixo da batina. Banas tenta me ajudar mas é atrapalhado pra caralho. A música acabou. To pronto. Vamos lá. Segue a demência. Frio. Acabou "Homem Lindo". To sem camisa. Frio, porra. Pego a camiseta que separei e deixei com os roadies. Ela tem as singelas inscrições: "Vai tomar no cu... Seu filho da puta".

Siririca levanta a galera. Fiz um discurso legal. Já dei mais uns goles de cerveja durante o show. Desceu bem tb. Claro. Blues do Velcro. Juju surge no palco com uma mocinha das mais bonitinhas, olhos verdes. Ta com bom gosto nossa vocal. Durante a performance ela dá uns beijos na convidada. Hum, danada! Lá se foi Nayara. Ou será Mayara? Bem, quem vai comer é a Ju, mesmo.

Terminamos com Uns Drinks. Saio correndo pra me vestir de Mago. Puff, puff, puff. É uma São Silvestre cada vez que tenho que trocar de roupa. Imaginem se eu tivesse que cagar? Puta que pariu.

Tamos no palco de novo. Set de cinco canções do Raul. As pessoas gostam. As pessoas cantam. É um orgulho tocar Raul. A contrário do que sempre faço, não tiro a bata de mago. Ta frio! Esqueço de tocar gaita na introdução de Sábio Chinês. Pego no meio. As pessoas cantam singelamente. Raul era um gênio. Encontro de Raul e Tim Maia em "Conversa pra Boi dormir". Ótimo. Fechamos com "Rock das Aranha". O contratante queria que tocássemos Homem do Bigode Cheiroso. Dou um migué e não canto. To melhor do que imaginava. Mas ainda não to fidedigno. Fotos com a galera ao lado do palco. Fotos na caminhada até o camarim. Autógrafos. Cumprimentos. Água mineral, pelo amor de Deus. Mais fotos e autógrafos e vai e vem. Algumas pessoas, gentilmente, querem saber o motivo as saída do Lips. Saiu por que entramos em conflito. Saiu por que tava com outras prioridades. Saiu por que a convivência tava difícil. Saiu por que brigamos. Saiu por que quis. Ele acha que foi saído. Nem eu sei direito.

Busão. To molhado e ta frio. Simon me conta que o Timão ganhou de dois a zero. O segundo foi do Douglas. Cool. Juju errou umas letras e fingiu que nada aconteceu. Enchemos seu saquinho ruivo. É só brincadeira.

Quase cinco da manhã. Hotel. Desarrumo minha mala com roupas molhadas. Tudo espalhado pelo chão e o cheiro de cachorro molhado voltou. Ligo pro Zé Paulo, dono do Aurora. É aniversário dele. Quarta feira tocaremos lá e eu o cumprimento direito. Chuveiro. Bronha deliciosa. Cama. Dia longo. Mas eu consegui. Frio.