domingo, 21 de junho de 2009

Vc Beijou macho na boca?

Despertador maldito. Hoje é domingo. Não preciso levantar com hora marcada. Caralho. Que merda é esta? Tô sossegado. Domingo. Domingão. Sossego. Porra. Parece que eu tenho alguma coisa pra fazer hoje. Caraio. O que seria? Hum. Puta merda, a gravação em Jundiai. Tuca vem me pegar dez e meia. São dez e quinze. Chuveiro. Ressaca. Bebemos bem ontem. Uhu. Tem uma latinha vazia de Itaipava na pia do banheio. Caralho. Vontade de cagar durante o banho. Saio. Molho tudo. Cago. Volto pro chuveiro. Lavo o cu! Terminou.

Tá tocando o interfone. To pelado. É o Tuca. Roupa. Tombo pondo calça. Tô pegando letras, gaitas. Fui. Agora é Gabaju. Tamo no carro novo do Tuca onde cabem os cinco, um Suruba azul 98. Cambio automático. Eu disse Suruba! Poderia até ser Subaru. Roy chegou. Cavalo entrou. Pegamos Simon. Anhanguera. Temos encontro marcado com Juju ao meio dia na rodoviária de Jundiai, que fica á beira da Anhanguera. Antes de sair de sampa, enquanto esperávamos Simon em frente a uma banda de jornal, comprei uma publicação com um cd de Beethoven encartado. Meti Beethoven no cd player do carro e cá estamos nós ouvindo a Quinta Sinfonia, que marca o rompimento do compositor com o Clássico e seu ingresso no Romantismo. É, mano! Eu manjo de música erudita tb. Em poucos segundos todo mundo apaga ao som do "Bethô"..

Pedágio. Pedágio. Rodoviária. Mickey Rourke diZ ao celular que Ju está naquela mesma avenida, mais pra frente, esperando a gente. Basta seguir por esta grande via que sai da rodoviária. Vamos indo. Ju é tão desléxica em relação a caminhos quanto a demente da Lili. Vamos indo, indo e achamos a retardada.. Vira á esquerda. Vira á direita. Chegou.

A casa é da família do Mickey Rourke e o estúdio fica embaixo. O irmão dele tá na área tb. O estúdio é bem legal especialmente a sala de gravação e os amps. Começamos a ajeitar as coisas pra levantar o som. Pelo que vejo, tem um GK pro baixo e Marshalls pras guitas. O Mickey Rourke é batera, por isso a do estúdio é top. Tudo ligado. Som levantado. Mickey colocou um microfone sobre a bateria pra pegar tudo (overall) mas não tá rolando. Ele diz que vai fazer uma outra diagramação sonora. Manda a gente ir comer enquanto ele ajeita a parada.

Padaria "Pão d'Oro". Quilo. Saladas. Arroz, feijão. Picanha. Bife á rolê. Coca zero 600 ml. Todo mundo rangando. Acabou. Chocolates. Sanduba pro Mickey Rourke que ficou ajeitando as coisas no estúdio. Simobra gravar.

Os caras estão dentro da sala e eu fora, na técnica, pra ver se a voz vale de primeira. Costumo matar de cara, mas como a gripe e a tosse não me deixam há um mês, tá tudo meio foda. Cagar. Preciso. Fui. Descarga quebrada. Tem que abrir e fechar com chave de fenda. Bora gravar.

Já é a sequencia que deve estar no cd, pra contar a história do Genio da Garrafa:

1. Gênio da Garrafa: Tuca toca o baixo com palheta dando mais peso. Eu faço uma voz de retardado pra pedir os desejos. Como o baixo tá em linha quase não ouço nos fones. É sempre estranho não ouvir um dos instrumentos. Tira o peso. Mas vamosimbora. Esta é a canção que mostra o Gênio ainda no mundo comum, atendendo aos pedidos do seu amo.

2. A Boca, a Buceta e a Bunda: resolvemos bem esta. Ficou pesadona. Simon acha que ficou meio Red Hot.. Deus te ouça. Aqui o Gênio tá entrando no mundo de "dentro da garrafa" e dando de cara com os guardiões. Ele terá que responder a uma charada para ser liberado a passar pela Boca, Buceta e a Bunda.

3. Bunda Boa: Acertamos o fim. Gosto da guitarra bem rock'n'roll do Cavalo. O Gênio respondeu corretamente a charada e está entrando "Dentro da garrafa". Recebe cumprimentos dos amigos e vai contando sua história.

4. Ninguém Beija como as Lésbicas: esta música tinha duas versões, uma minha e outra do Cavalo. A letra é minha. Misturamos as duas versões e ficou bem legal. É meio jazzy, quase bluesy. Genio tá na praça central, no Anhangabau de "Dentro da garrafa" e vê um trailer-chamada da estréia do filme num painel. O filme foi feito com base nas memórias que sua ex-mulher vendeu prum cineasta. Há toda uma polêmica de que sua ex-mulher, que agora é uma vingativa dona de puteiro, revele intimidades da vida sexual do Gênio, suas preferencias sexuais. Há especulações que, por algum motivo, a ex-esposa do Gênio teria deixado de curtir homens e passado a se dedicar a transar com meninas. As pessoas de dentro da garrafa questionam Gênio sobre o teor do filme e ele desconversa.

5. Essa Mulher só quer viver na balada: Pau puro. Uma onda meio Engenheiros do Hawaii (Toda Forma de Poder). Um rockão oitentista de refrão inspirado em Cassia Eller e Riachão. Gênio conversa com seu amigo Velho Safado usa a música pra explicar os motivos de sua separação da ex.

6. Cu de Bêbado não tem dono: Um hard rock de refrão pegajoso e riff grudento. Juju canta esta canção de autoria dela. É a segunda vez que uma música com letra entra num CD das VV sem ser minha ou do Cavalo. A primeira foi "A Minha vida é o rock'n'roll" do Made, no primeiro cd. É a resposta da ex do Gênio para a separação. Na vida real, Juju fez a canção pro Mickey Rourke, seu marido, que tomou um porre e, entre outras coisas, ficou pelado em plena festa. Mickey Rourke toca numa banda de pop rock chamada Almada e é um bebão de marca. Bom sujeito.

7. Bortolotto Blues: um ragtime no estilo de "Dreamers ball", do Queen. Batera só no aro, base baixinha e uma letra minha musicada pelo Cavalo baseada num papo que tive com meu amigo dramaturgo, diretor, ator, escritor e vocal do Saco de Ratos, Mario Bortolotto. No contexto de "Dentro da Garrafa", a música é cantada quando Roy e Juju (o casal de atores que faz os papéis de Gênio e sua ex no filme) discutem. Juju está com ciumes de Roy e ele se justifica com esta letra, dizendo que chifrar dá muito trabalho.

8. A Balada do Adney Narigudo: meio Living Colour, meio Red Hot, encurtamos o refrão segundo sugestão do Tuca. Escrevi a letra contando um encontro meu com este figura de nariz proeminente que trabalha com seguros no SBT. Ele me contou a balada demente em que havia se metido na noite anterior e eu apenas tranquilizei sua consciencia de bebado cheio de remorso. Na história, Gênio tá encanado que está bebendo demais e descontroladamente e pede conselhos a seu amigo Velho Safado que faz por ele o mesmo que eu fiz pelo Adney. "Vc Beijou macho na boca? Deu a Bunda ou chupou rola? Então tá tudo bem".

Aqui fazemos um intervalinho pra ver como tá o jogo do Brasil. Subo pra ver na sala da casa do Mickey Rourke, junto com seu irmão. A mãe deles aparece pra me cumprimenta e me chama de senhor. Estes cabelos brancos me dão uma aparencia de Matusalém. Ta três a zero em cima da Itália fora o baile. Cavalo voltou com cervejas, amendoins, bolachinhas e quitutes de festa junina, como paçoca e tal. Vai ter peido que não acaba mais na área. Simbora em frente.

9. A Última Partida de Bilhar: balada do Cavalo com letra minha sobre o cara que resolve abandonar a boemia e fica deprê. Os corinhos que fiz com Juju ajudam a criar o clima do Guns. Riff slashiano e mortal do Roy. No enredo, Gênio diz que pensa em largar as bebedeiras, mas Velho Safado desaconselha, contando sua experiencia pessoal mal sucedida e triste quando tentou sair da noite.

10. A Filha da Puta: meio Dick Dale, meio Clash, meio TrashMan, meio Ramones, quase uma surf music. Gênio e sua ex se encontram na rua e ele a provoca com esta canção. É uma progressão de meio em meio tom que anda mais de uma oitava. Tive dificuldades pra cantar esta, principalmente por causa da minha gripe. Ficou gritada pra carallho, mas é demo e tá valendo. A ex fica, como a música afirma, puta com os versos cantados pelo Gênio.

11. Eu bebo pra Esquecer: uma onda meio faroeste, batida de House of The rising Sun. Na versão final tem que ter um solo de trumpete pra dar o ar Mariachi. O Gênio, depois do encontro com sua ex que termina em discussão, volta pro bar pra encher a cara e contar pras pessoas como foi traido pela esposa.

12. Velho Safado: começa meio bolerão, mas vira hard core. É o tema do Velho Safado, que vive na balada e é motivo de comentários venenosos da vizinhança de dentro da garrafa. "Mas me diz onde é que este velho vai, este velho é safado e toda noite ele sai". Juju divide os vocais comigo, fazendo as respostas.

Caralho. O Timão já deve estar jogando. Mando um torpedo pro Brigadeiro, meu plantão esportivo, prele ir me municiando dos números do jogo. Ele responde que está a postos.

13. Strip'n'blues: Dueto do Roy com a Juju. Música e letra do Roy. Um rock bem legal. Roy entra numa onda vocal meio Keith Richards. É só uma demo e a tendencia é que Roy sinta-se mais seguro no futuro. Ele ta encanado e acha que ta ruim.Vamo lá. Ele canta, Ju canta e depois o dois vão juntos. Jogo de vozes final bem interessante, com um respondendo pro outro. Pouco antes da estréia do polêmico filme "Ninguém beija como as Lésbicas", a nata da sociedade de "dentro da garrafa" está no teatro central, inclusive Roy e Juju, o casal vinte do local, que faz os papéis principais do filme. Eles são amados pelo povo e exatamente por isso são aclamados e obrigados a fazer uma versão ao vivo do seu maior sucesso antes da exibição do filme. Jane e Herondi? Não. Mick e Tina Turner. Eh,eh,eh.

De dentro do aquário onde agora corrijo algumas vozes, gesticulo pra Simon perguntando se meu plantão esportivo não mandou nenhuma notícia do jogo. Ele diz que não. Peço a ele que ligue pra alguém. Qualquer pessoa. Andrés Sanches. Toquinho. Quem ele quiser, porra. Ele liga pra André Cabeça e lá vem a boa nova: Timão três a zero na bambizada. Uhu! Quem fez? Cristian. Chicão. Jucilei. É noise!

14. O amor é outra coisa: Ficou rápido este rockão com cara meio ZZ top. A letra é muito declamada e quase que não consigo cantar. Quando gravamos a base foi sem minha voz. Fui pra dentro do estúdio e regi Roy, Simon e Tuca. Cavalo não tocou nesta. Tivemos algum trabalho. Paramos. Fizemos intervalo. Depois saiu. Coloquei a voz e a gaita depois. É a moral ou o moral da história. Na hora "H" de começar o filme polêmico, esta canção manda uma mensagem pros que vivem de especular sobre a vida das celebridades, implementadores de preconceitos, fofoqueiros e etc. Não vou entregar o fim da trama, caralho.

Ok. Os Bambis fizeram um. Mas valeu. Ainda gravamos Todo Poderoso Timão e Vc Me faz. A primeira declarando meu amor ao Corinthians e a segunda com Cavalo declarando seu amor ao seu filho. O Cavalo acha que Vc me faz, é meio pop Londrino. Eu acho que Todo Poderoso Timão é Metallica. De todo modo, as canções não estão no contexto do cd. Elas não devem entrar, mas registramos. Roy não tocaria nesta canção alvi negra, já que é Palmeirense. Mas como é uma demo, liberamos sua participação porquinha. Na versão definitiva teremos, espero, seu lendário pai Luis Carlini, este sim, corinthiano dos bons. Corrigimos vozes. Colocamos coros.

Refizemos "Esta mulher só que viver na balada" que desapareceu misteriosamente do computador. Onze da noite. Todo mundo bodeado. Milhares de peidos acumulados no estúdio. Inclusive do proprietário, peidorreiro juramentado. Mickey Rourke vai dar uma mixada e manda pra gente amanhã ou depois. Gentileza imensa do cara que nos cedeu o estúdio e uma tarde noite de muito trampo. Vai ser muito bom pra gente saber a quantas andam as canções. Estrada. Roy, como fazem as crianças, apagou. Eu, como fazem os velhos, idem. Quarenta e poucos quilometros até a marginal. ZN. Simon desce. Cavalo vai dar uma carona pra Roy já que o metrô já parou a esta hora. Depois vai pro lar doce lar em Santos. Tuca me larga em casa.

Jantinha de arroz, batatas, cebolas, alhos e linguiças da Dex. Ela tá acordada, me esperando. Que saber como foi. Quer histórias. Conto algumas. Ela diz que eu devia tomar banho, pois passei o dia todo gravando, suando. Eu digo que to mortão. Eu digo boa noite. Ela vem depois. Mas eu desmaio antes. Nos vemos durante a noite, amore mio.