sexta-feira, 12 de junho de 2009

“Virgulino Sparrow”

Dia dos namorados. Saio da cama pelas oito. Frio. Frio pra caralho. Jornal, merda e banho. Tenho que chegar cedo no SBT. Tem muito trampo lá, depois mais trampo na Band e depois o show. Simbora. No caminho começo a pensar em duas coisas. Uma leva á outra e a outra remete á primeira, saca? To muito abstrato? Igual o Humberto Gessinger? Ok.

É assim. Sempre, ou melhor, desde muito tempo temos criado personagens nos shows das VV. Já foi o Sr. Sucesso, o Comandante do Exército dos Derrotados, o loko, o padre, o homem lindo, o pirata e por aí vai, todos linkados em músicas. Mario Bortolotto odeia meus figurinos, mas eles dão certo. It works on show business, you know. Olha o Kiss que não me deixa mentir. No próximo cd, o " Ninguém beija como as lésbicas", o personagem é um gênio bebum, o "Gênio da Garrafa". Eu tava encafifado em como definiria este visual. Me vestir pura e simplesmente de gênio, roupa padrão, calça bufante, sapatinho com bico virado pra cima, coletinho "mamãe quero dar", turbante... Tudo isso me parecia por demais "É o Tcham". Mas na ida pro SBT pensei em duas coisas que acho que funcionariam, unindo um pouco de originalidade, pertinência e demencia, que é mais importante:

Traje um: terno e gravata chiquérrimos e apenas um turbante.
Traje dois (o meu preferido): me visto de Elvis (aquela roupa do fim de carreira, macacão, gola alta, capa, lantejoulas, cintos)...e um turbante, claro. Um Elvis meio árabe. Porra, eu sempre sonhei me vestir de Elvis. Quem assistiu "3000 milhas pro inferno" com os caras assaltando um cassino em plena Las Vegas viu a infinidade de combinações destas roupas do Rei. Uau! Vou me vestir de Elvis.

Aí continuei pensando no show e no fim desta música do gênio (que deve abrir o show como "Cubanajarra" abre o atual) onde ele canta assim: "eu vou, eu vou, pra dentro da garrafa agora eu vou, eu vou...". Porra. Vamos criar um mundo fantástico que fica "dentro da garrafa", para onde o gênio volta quando acaba o trabalho. Pensem bem, tudo que a gente prega é levar as pessoas pra "dentro da garrafa". Uma coisa meio The Wall, meio Dark Side of The Moon, meio Alice no País das Maravilhas, meio que um disco conceitual. Que tal? É isso. Preciso pensar melhor neste papo todo pra propor pro Cavalo.

SBT. Já tem um monte de e-mails da Aninha me chamando pra mudar completamente aquele roteiro que eu finalizei na quarta. Ela me mandou os e-mails nove da noite de quarta. Eu sai ás quatro da tarde.

Ligo pra ela e pergunto se ela não tem ambiente em casa. Se não tem namorado ou alguém pra comer. Véspera de feriado, nove da noite e ela me mandando e-mails de trampo. Porra!

Atualizo as coisas na Internet. Celsinho ta dizendo que quem quiser ir na parada gay pode se montar na casa dele. Ele não é gay, mas tirador de sarro. Aliás, foi um link do blog do Uol que ele me enviou que me pos nesta roubada de escrever todo dia aqui. Sergio Valezin diz que todo redator que se preze deve ir á parada gay pra estudar o que acontece, coisa de trabalho. Quer dar o cu e não sabe como, Valezin? Este tb não é viado: é redator da "Praça é nossa". Eu esculhambo o papo e digo que vou "montada" e de metrô, só pra "causar". Eu adoro trampar no pool de redação do SBT com este monte de retardados.

Ilha de edição. Fizeram o favor de transformar o programa de quatro blocos em um de três. Mudaram completamente a ordem das apresentações. Enfim, viraram o programa do avesso. Dá-lhe consertar. Levo algum tempo fazendo isso, já na minha mesa, e não vou almoçar. Caralho! Preciso falar com o Miranda sobre sua participação na produção do nosso cd. Finalizo o novo roteiro. Mando pra Aninha. Corro pro restaurante. Ainda pego Tom e Tâmara terminando de comer. Mando salada, escondidinho de carne seca e costela de porco pra dentro. Área. Banheiro. Fio dental. Bufas mil. Desço pro estúdio á procura do Miranda. Ele ta no camarim dos jurados, de chinelo e camisa florida, ao seu estilo. Arnaldo Sacomani tb ta aqui, no seu novo fashion com chapéu e camisa social. Cyz sai do banheiro e é extremamente gentil quando Miranda me apresenta como um dos caras que cuida do som do Astros. Explico pro Miranda que, na verdade, sou roteirista do SBT e faz tempo. Cyz segue sendo simpática. Entro em detalhes com Miranda sobre o que podemos fazer juntos no novo cd das VV. Ele me pergunta o que pretendemos. Digo que temos dezesseis canções, o nome do cd, que pretendemos fazer o cd em alguns estúdios de amigos, sob a produção do Fabio Haddad que já fez isso pra gente antes. Digo que quero saber se ele tem interesse, tempo e quanto custa. Ele me explica que não ta muito a fim de trabalhar este ano. Quem tem apenas dois compromissos definidos: o disco do Cordel do Fogo Encantado e o especial Global do Roberto Carlos com roqueiros cantando acompanhados de orquestra.

Me diz que tá trabalhando com um ex-assistente do Tom Capone e que o estúdio do cara fica ao lado de sua casa. Sugere que façamos o cd com ele, no estúdio dele e ele, Miranda, iria dando uma acompanhada, sugerindo coisas e etc. Parece interessante. Mas parece interessante tb fazer o cd com um produtor que já conhecemos e ter, quem sabe, a assessoria do Miranda. Como vamos definir o que, com quem, onde e quanto? Num papo, num bar, semana que vem. Ele me diz que pode ser terça feira, na Pompéia, perto da casa dele. Ok. Ligo pra vc na segunda pra combinar onde e a que horas, Miranda? Ok.

Preciso da presença do Cavalo nesta reunião. Ele saca muito mais de produção fonográfica que eu. Precisamos descobrir se levamos Miranda pro nosso esquema, se ele nos leva pro dele ou se desistimos de tudo. Precisamos, eventualmente, conhecer o estúdio e o trampo do cara que ele quer nos indicar. Ver se rola uma vibe legal, se o santo bate. Sinceramente, admiro o conhecimento de mercado e o feeling do Miranda e queria muito suas opiniões no cd. Mas tb queria trabalhar com nosso homem de confiança que é o Fabinho. Terça a gente vê. O fim do papo rola a caminho do estúdio do Astros. Encontro meu diretor Edu Puppo. Encontro do meu diretor e diretor dele, Ricardo Mantoanelli. Denis Salles. Toda a galera da produção. Encontro o sempre boa praça Thomas Roth. Ok. Te ligo segunda, Miranda. Boa gravação pra vcs todos.

Minha mesa. Mais acertos internéticos. Bora pra Band. Marginal livre. Quero mijar. Quero cagar. Tem um cara mijando numa árvore ao lado da Band. Vou mijar lá dentro, no banheiro. Não sou selvagem, porra. Banheiro 1 fechado para obras. Banheiro 2 fechado para obras. Idem para o 3. Caralho. Todos os banheiros em obras. Onde é que se mija, porra? Claro. Na árvore, do lado de fora. Viva os selvagens. Opa, achei o vestiário da galera e dá pra mijar. Seguro a cagada. Depois eu cago.

Entro no Sex Privê Brasileirinhas e começo a trabalhar nos dez roteiros dos programas da Núbia a serem gravados provavelmente na quarta. Calazans, o chefe e responsável por esta gravação, ta com problemas de saúde e só poderia gravar...Hum...segunda não dá, pois não há tempo hábil pra avisar a Núbia. Terça...Hum...Ele tem o tal exame dele. Quarta tb. Quinta tb. Sexta ele ta numa outra gravação do Band Sports fora de sampa. Fudeu. Resta pedir ao Luciano "Patrícia" que faça a gravação, provavelmente na quarta. Ok. Calazans liga pro Luciano e ta tudo combinado. E lá vou eu ralar nos dez roteiros.

Muitos detalhes de horário, gerador de cacacteres, comentários, algum molho na locução da Núbia...Creiam, isso dá trabalho e toma tempo. Banas me liga por volta de seis e meia e me diz que passa nove e quinze pra me pegar pro show.

- Não dá. To todo enrolado aqui.

Fico de ligar pra ele quando sair. E da-lhe escrever. Terminei. Nem peidei. Nem arrotei. Nem me levantei da cadeira. Oito e meia. Bora correndo pra casa. Nem arrumei minha mala ainda. O transito na capital dos engarrafamentos está legal na Nove de Julho. Vai dar tempo. Porra. Tudo parado a partir do buraco do Anhangabaú. Lentidão. Tempo passando. Na ponte das Bandeiras a coisa melhora. O congestionamento era para pegar a Marginal. Estes filhos da puta estão indo pro litoral no dia dos namorados com um frio destes. Vai gostar de meter assim na casa da minha rola.

Cheguei. Dex me ligou que ta no shopping com Bafo, Rodragg e Bio. Não vai dar tempo de vê-la antes de ir. Minha namorada!

Arrumo a mala. Deu a hora. Cago. Passou da hora. Uma dose de vinho do porto. Trabalhei igual cão nesta emenda de feriado. O interfone avisa que Banas e Van do Jorjão tão lá fora. Eu tb to. Cumprimento o motora e o Banas na boa. Nada de rusgas com o Gnomão (Banas) por conta da briga na reunião de ontem.

Tuca ta dormindo. Demora pra sair. Tamos atrasados. Tuca entra na Van e não percebe minha presença no banco de trás que ta envolvido pelo escuro da noite. Já a caminho da Gabaju, onde pegaremos os outros, Tuca pergunta de mim e eu, com voz cavernosa e espírito do cão digo:

- To aqui!

Ele se assusta. Todos rimos. Gabaju. Todos abordo. Juju, mulher do Cavalo, vai tb. Estrada. Pegamos Juliana , a cantora, na rodoviária de Jundiaí. No caminho conto pros caras sobre meu encontro com Miranda e as idéias de figurino e conceito do novo cd. A gente se perde a caminho do Cerâmica Clube, em Mogi Guaçu. Cavalo nos lembra que já tocamos aqui. Eu não lembro nem quanto calço.

Roda, roda, roda baleiro, atenção...Depois de muito custo, tamo aqui. Palco grande e legal. Ta bem cheio. Camarim farto. Frutas, salgados, vodka, rum, suco de laranja, coca cola pra cuba, limão, liquidificador. Rico ta fazendo as batidas. Tem até banheiro. E chuveiro. O contratante lembra que foi ele quem nos trouxe aqui em 2001. Mostra fotos. To novinho, sem barba. Tem Claudia, Lips e Caio. Saudades destes tempos. Mas meu tempo é hoje e a hora é agora. Bebo um hi-fi. Uma breja. Uma cuba. Uma batida. Mais uma breja. Cavalo, Tuca e Juju (esposa) bebem vinho. A banda de abertura acabou o show. Quero beber em paz. Tive dia duro. Preciso tirar a pele do trabalhador e virar artista. O álcool induz, saca?

Alongamento. To trocado. Meu chapéu de pirata que roubei no casório do Fabião do Sex Prive parece indumentária de cangaceiro e me auto-declaro o pirata "Virgulino Sparrow". Palco.
Tudo certo. Muita molecada na platéia. Show bom. Som bom. Todo mundo bem. Marcinho, nosso roadie de batera não veio. Quem ta no lugar dele é o Marcelo Mickey Rourke, marido da Juliana (cantora).

O chão do palco é de taco. Um dia, depois de molhar tudo com cevreja como faço, vou tomar uma banda histórica num assoalho como estes e me estabacar no chão igual um saco de merda. Será hoje?

Ta indo tudo bem. Imprimi os sets no SBT e ta tudo claro e cristalino. Minha gaita sumiu do praticável da batera. Reapareceu. Vamos pro bis. Raul. Ok. Tudo como planejado. To tirando fotos com a galera, dando autógrafos, abraços, beijos do lado de fora do camarim após socar minhas roupas molhadas na mala. Tenho um Hi-fi na mão. Uma breja em cada bolso do roupão preto. Fico muito tempo ali. O locutor que apresentou o show organiza o encontro com os fãs. Os seguranças dão apoio. To me sentindo uma celebridade. Terminou. Cadê a breja? Só na van. Cadê a comida? Acabou. E eu nem jantei. To na van tomando uma breja, molhado, morrendo de frio. Não tem hotel em shows a menos de 300 km de sampa. Jorjão liga o ar quente e melhora a temperatura. Cavalo e minha comadre estão sob cobertas no banco de trás. Simon ta do lado. Ao meu lado tão Mickey Rourke, depois Juju. No banco da frente Tuca apagou e Roy fuma com Banas. Frio. Deixamos Simon. Juju e Cavalo. Roy. Banas. Eu. Tuca segue.

To empurrando minha mala de roupas vestido no meu roupão preto, com um frio do caralho dentro da rua do condomínio onde moro. Brrrrrr! Sala. Roupas molhadas jogadas no chão. Roupas úmidas penduradas. Pelado, subo pro banheiro. Banho salvador e quente. Cabelo molhado. Vejo um pouco de tv. Quase oito da manhã. A seleção brasileira ta na África do Sul e a torcida que comparece aos treinos dá um show. Shows de coreografias e carinho com nosso time. Apaguei. Apaguei? Vou pra cama. To apalpando a Dex. Ela se defende. Eu desisto. Té.