quarta-feira, 1 de julho de 2009

Pelado, minha pança branca avantajada, os cabelos alvi-negros desgrenhados e a touquinha preta na cabeça. Ridículo.

Sete e meia da madrugada. Ele tocou na minha orelha e eu nem sequer puder pensar em não levantar. Tenho muita coisa pra fazer hoje. Preciso da mão de Deus pra conseguir fazer tudo. Ele tá sempre comigo. Começo a subir e descer escada, preparando figurino pra dois shows. Depois é minha mala de roupas pessoais. Perco cerca de meia hora com isso. Tenho que levar esta porra e deixar na Gabaju, caso eles tenham que me pegar n SBT amanhã. Aí preciso resgatar meu amp de baixo que tá lá e trazer pra casa. Puta trampo. Mas antes disso vamos ler o jornal e dar aquela cagada. O Interchoronal de POA segue mantendo sua performance de bambis gaúchos. DVD com erros dos juizes a favor do Corinthians, provocações. Mano Menezes sabe o caminho e vamos comer vcs vivos dentro da casa de vcs, seus babacas. Me fala se este negócio de DVD de erros do juiz não é coisa de viadinho? Chupa aqui, ó! E simbora pro chuveiro. E simbora por a roupa. Deixei a porta encostada, pois dona Rosa vem fazer a limpeza hoje. Dou um beijo em Dex, coloco as malas no carro e simbora pra Gabaju.

Tô aqui. Malas na sala, segundo orientações do Vini. Foi ele quem, outro dia, fez as cópias do cd demo e da coletanea com todos os cds das VV preu entregar pro Miranda e pro Tomás que trampa com ele. Agora preciso achar meu amp. Opa, tá na garagem. Cadê o cabo de AC pra ligar na tomada? Hum. Não to achando. Ligo pro Caran. Tava dormindo, coitado. Nosso técnico de som não sabe de nada e me dá o fone do técnco de palco, Rodrigo Beduino. Tb tava dormindo. Acho que só eu e o Tuca estamos no ar antes das dez da matina nesta banda.

Rodrigo me diz que deveria estar na caixa do cabeçote. Mas não tá. Ele não sabe onde está. Tinha que estar na caixa do cabeçote. Eu, energúmeno que sou, resolvo verificar na parte de baixo da caixa com o amp e? Está. Sorry gente, por acordá-los.

Back home. Ainda páro no caixa eletronico pra tirar a grana da D. Rosa. Dex tá com boas chances de voltar a trabalhar, mas até entrar din-din eu pago a faxineira. Em casa de novo. Como pesa esta porra de caixa de som. É o falante do baixo, com seus graves. Tudo devidamente guardado na salinha das tranqueiras, cabos, cds, vinís, cases, instrumentos e etc que fica ao lado a lavanderia onde D. Rosa passa a roupa. Subo e deixo a grana com a Dex que ainda ronrona na cama. Que inveja. Área.

Tô atrasadaço. Novidade, né?

Transito filha da puta. Tô chegando. Cheguei. Antes da meia noite serei Campeão. É só nisso que eu penso.

Atualizações internéticas. Hora do almoço. Tem feijoada e eu estou tentando perder um pouco destes mais de 96 kg de banha. Vou chocar a todos comendo salada. Alessandro, o chef, não se conforma.

- A culpa é sua. Desde que vc virou chefe da cozinha do SBT eu engordei pra caralho.

E com esta frase finalizada por um sorriso termino com os argumentos do baiano para que eu sucumba á minha adorada feijuca. Logo eu voltarei a comê-la, querida!

Back my table. Oba, minha sobrinha me manda um e-mail dizendo que semana que vem volta de Barcelona, após cerca de um ano estudando lá. Morro de saudades de ti, Má. Cavalo me manda e-mail com os fones do Tomás preu entregar nosso material. Miranda me disse que tá fora de sampa e que volta na terça, pra gravar no SBT. Aí entrego em mãos. Tomás não atende. Mas sua faxineira (acho) sim. Me dá o endereço. Porra, preciso resolver isso hoje. Amanhã, conforme for, não terei tempo de fazer o avião com os cds e tb textos explicando a onda do disco conceitual.

Bem, por aqui pelo SBT, tô zerado. Já me reuni com o Ocimar, diretor do TV Animal e deixei tudo engatilhado pra semana que vem, uma vez que vou desaparecer sexta e na quinta vou apenas passar das 10h ás 12h. Depois é estrada, breja e rock'n'roll.

Quer saber, faltam vinte pras quatro e tô saindo, a caminho das Perdizes, onde fica o estúdio do Tomás. Liguei novamente e ele atendeu. Tá me esperando.

Vou pela Rua Clélia. Infelizmente tô aqui ao lado do porcódromo. Ô lugar horroroso. Me dá até enjôo. Ok. Casa-estúdio do Tomás. Ele me mostra a sala de gravação e seus equipamentos. Me explica que dá pra gravar voz, coros e todos os instrumentos exceto batera. A idéia dele é gravar as bases num outro estúdio, que poderia ser muito bem a Toca do Bandido, no Rio, que era do Tom Capone. Falo um pouco sobre o conceito do trampo. Ele parece interessado. Quero saber sua opinião depois de ouvir a bagaça. Beleza, véio. Tenho que ir pra Band. Fui. Cheguei. Tô doidão fechando os textos pra gravação da Nubia, na sexta. Não virei nem quinta e nem sexta. Tenho que finalizar estes dez roteiros rigth now. O Luciano Patricia tá repetindo um trecho do Jazz Duro, nosso porno-correspondente internacional que faz matérias em bastidores de filmes adultos (domingo, dêz e meia da noite, Sex Prive Brasileirinhas). Como ele tb é ator pornô, muitas vezes entra na parada e come as moças. E sendo gringo, seu português é macarrônico o que deixa tudo mais engraçado. É o caso deste episódio. Olha o que ele fala:

- Estou aqui, todo bem vestido, para participar de um suruba. Vão participar dez caras, mas pau duro mesmo, só uns três.

Eh, eh, eh.

Terminei os textos e vou ver meu Timão amado. O transito tá surpreendentemente bom. Vou ouvindo o hino do timão e chorando. Salve o Corinthians, o campeão dos campeões.

Tô em casa. Tom vai me encontrar na frente do Terra Nova pois não sabe onde é a casa do Tuca. Antes disso, coloco meu chapéu de vaquinha ao lado da TV, pego minha camisa da sorte do timão (assinada pelo Neto) que não é lavada dede o início da Copa do Brasil, alojo meu baixo e a estante pras letras no carro, beijo na Dex e área. Tom tá atrasado. Passo no mercado e pego uma maminha. Pego tb uma Stella Artrois long neck. Tom vai demorar. Posso ter sede. Eu não vou esperar aqui com o churrasco comendo na goma do baixista. Falo pro Tom me ligar quando estiver perto que dou as coordenadas até o local do evento.

Casa do Tuca. Já tem uma galera. E vai chegando mais. Churrasco. Vinte e cinco litros de chopp. Não vai dar pro cheiro. Era pra ser Colorado, mas o Germano não tinha para pronta entrega, então trouxe chopp Germânia. Melhor. Beber chopp Colorado, ainda que seja do caralho, não convém em dia de final com o Inter (atenção mulherada, o apelido do Inter é Colorado).

Não quero esquecer de ver a matéria sobre o arraial das VV na Tv Cultura, no Metrópolis. E não posso parar de pensar no jogo.

Tom, que havia se perdido, chegou. Trouxe junto Marcelo Nicchio, meu amigo Minduim, que não vejo faz tempo. Fizemos um piloto de programa de TV comigo e Soninha Francine apresentando. Era um programa de literatura. Anunciava livros. Não vingou. Meia Noite e Uns era o nome. Pena. Ele era batera de uma banda. Caralho, Coitado do Próximo. Foi assim que eu o conheci. Participei de uma demo com eles. Banda legal. Tocou no Rock'n'roll bar. Ele ta com uma camisa do Timão que, ele me lembra, eu que dei prele. Saudades, amigo. Subamos.

De volta á pilha do jogo. À pilha de ser corinthiano. Outros times do mundo chegam com tranqüilidade, chegam com confiança. A gente sempre chega com receio, pois tudo pode acontecer pra dificultar nossa vida. A gente só ganha sofrido. Nossos torcedores trazem esta dor no sangue. A gente sabe que vai ter que segurar a laje na hora que a casa ameaçar desabar. A gente sabe que vai ter que nadar muito até a praia. A gente ta acostumado a lutar com unhas e dentes pelo triunfo. Precisamos de todo mundo. A nação corinthiana se reconhece no olho. E hoje ta todo mundo aqui. Nop camarote do Tuca.

Pausa. Começa a passar a matéria gravada em Jundiaí na Festa Junina das VV. Eles construíram um roteiro como o de um falso documentário sobre tradições brasileiras. E venderam o bebão do Arthur como um diretor bêbado. Ele faz bem este papel. Olha lá eu aceitando a Dex em casamento. Que linda ela de noiva caipira. No fim ficou tão chapada que perdeu o buquê. Ângelo, o verdadeiro diretor, achou e guardou pra ela. Grazie, signore!

Ficamos no ar por bem uns 4 minutos, suponho. Porra: horário nobre, quatro minutos no ar numa emissora de programação diferenciada como a TV Cultura. Só mesmo o pessoal do Massaroca pra nos dar uma colher de chá destas. E uma matéria muito boa. Sensacional. Obrigado manos.

Play the game. A casa do Tuca ta com lotação recorde. Não vou escalar as pessoas até porque misturo muitos nomes. Mas tá todo mundo aqui. Até Simon e André Cabeça, porra. As crianças se estapeiam. Quem sofre mais é a gatinha da Duda, filhota do Zé Boy. Queria ter uma filha assim. O Ian ta cagando pro jogo e se diverte no computador. E o Igor, nosso bebê Koala, imita Freddy Krueger e tenta furar o abdome de todo mundo.

Foco, moçada. Foco, caralho. Começou. Germano, de vez em quando, saca uma garrafa de Colorado e serve pra mim. Puta cerveja boa, vai tomar no cu! Os caras do Inter vem pra cima, mas não estão sufocando. Cinco minutos. É pouco. Dez minutos. Não é nada. Segue o zero a zero. Nossa torcida está num cantinho. A deles canta uma paródia de Brasília Amarela, dos Mamonas, pra saudar o time. A nossa: "vamos jogar com raça e com o coração, é o time do povo, é o coringão"! Eles atacam mas nada rola. Bola na área do Inter. Quem é este que virou e mandou a bola pro gooooool? Sei lá. Um monte de gente entrou na frente da TV. Mas o fato é que estava impedido e o gol não valeu. A gente segue. Eu puxo grito de guerra. Alguém puxa grito de guerra. A casa do Tuca parece um apêndice (viu Lisandra?) do estádio. Eletricidade no ar. Falta. Bola na área do Inter. Quem é aquele anãozinho que pulou e fez o goooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooool? Jorge Henrique, que o Gegê falou que era o maior cai-cai do Rio de Janeiro. Cumpadi, aqui ele ta decidindo. Timão um. Agora o Interchoronal tem que fazer quatro. Três a um ainda é nosso. Quero só ver.

Epa, bola nas costas da zaga pra André Santos fuzilar e mandar pra rede. Ele manda a torcida dos caras calar a boca. Que falta de fairplay, André. CALA A BOCA TORCIDA DE BAMBI DO SUL! É dois a zero pro timão. Agora eles só levam se fizerem cinco. Chupa. Nilmar cara a cara. Felipe. Nilmar chuta. Felipe. Alô, Nilmar, vai lavar piscina (o Nilmar não parece um moleque em férias ganhando uns trocos limpando piscina?). Acabou o primeiro tempo.

Coração de torcedor á parte, veja só o que é um dia após o outro. O Inter vinha arrebentando no brasileiro. O timão ia se virando. Ambos de olho na Copa do Brasil. O time reserva do Inter ganhava sempre e bem. O do Corinthians perdia, raramente empatava. Como parar a máquina gaúcha? Bem, coisas da vida. Dunga convocou Kleber e Nilmar do Colorado e André Santos do Timão. Kleber perdeu a posição pra André na seleção. Nilmar pouco jogou. André deixou boa impressão. D'Alessandro se machucou. E o Inter começou a perder. E o Timão começou a ganhar. No primeiro jogo, o dos dois a zero no Pacaembu, o Inter jogou sem três, entre eles D'Alessandro e Nilmar. Nós tb sentimos a ausência do André Santos. Sentimos nada. Marcelo Oliveira jogou pra caralho na lateral esquerda. Abrimos uma vantagem de dois a zero. E cá estamos no intervalo da finalíssima, no caldeiraço de Beira Rio pintado de paixão vermelha e branca. Nilmar e Kleber nitidamente voltaram de moral baixa da seleção, ao contrário de André. Os caras tomaram dois gols em casa e precisam fazer cinco em quarenta e cinco minutos. O bundinha do D'Alessandro nada fez. Coisas da vida. Mano Menezes rules!

De volta ao jogo. Os caras tentam. Mas é Ronaldo quem fica cara a cara com o tal de Lauro e deixa que o goleiro defenda. Ronaldo parece só gostar de fazer gols decisivos. Quando é apenas pra aumentar o placar, algo no DNA dele impede que ele marque. Ok, nunca duvide de um gordinho, está escrito num cartaz na arquibancada.

Os caras estão descontrolados. Não é pra menos. Ainda que a torcida siga apoiando, a responsabilidade pesa um caminhão em todos eles. Preciso mijar. Caraio. Vou. To lá, vendo a espuma proliferar. Gritariana sala. Não é gol. Treta. D'Alessandro foi expulso e quer brigar com William. Ele persegue o William que se esquiva com ar de "não sou lutador, sou jogador". O Argentino encarna tudo de ruim que pensamos dos nossos hermanos: burrice, prepotência, preconceito, irracionalidade. Vai pro chuveiro, seu bostinha! Vc não jogou nada. Deu inúmeros mergulhos querendo cavar faltas e induzir o juiz a expulsar corinthianos. Esta "milonga" Argentina só é comparável ao "jeitinho brasileiro". Ambos cheiram a safadeza, corrupçãoe terceiromundismo. Alô, D'Alemerda: vc suja o nome do seu país. Vaza.

Os caras seguem tentando e fazem um. Quem? O irmão do Richarlyson. Dois. Quem? O irmão do Richarlyson. Nem vou dizer nada deste rapaz. Ter um irmão como este já é castigo suficiente. Eles perdem mais gols. Felipe faz o impossível. Ronaldo entra na área e chuta uma bola ainda mais impossível por cima do gol. Mata esta merda preu descansar, pelamordeDeus. Opa, arrumaram uma expulsão pro Elias. O coeno do juiz tinha que compensar a retirada do D'Alemerda. Olha só, o Magrão chamando o Elias pro pau. Encara um cara do seu tamanho, seu animalzinho. Este jogo chama futebol, ainda que vcs tenham um atacante chamado Taison.

O cara deu seis minutos de acréscimo. Ninguém em sã consciência pode crer que eles farão cinco neste tempo. Mas a gente tá no terror e com o coração na boca. Se ainda fosse o Grêmio imortal, ainda poderia ser. O tempo passa lento e segundos parecem um cachorro dormindo ao sol. Não se mexem.

Vai terminar. Faltam dois. É campeão. É campeão. A-ca-bou! Como eu havia previsto, ganhamos o título dentro da casa deles. Comemos a buceta da esposa colorada na cama vermelha deles. Chupa.

O camarote da casa do Tuca tá em festa. O chopp acabou. Germano trouxe mais. Eu abraço um a um. E sarto com o coração nadando de braçada no mar da alegria alvi-negra.

A cidade está em festa. Muitos carros com bandeiras do Timão buzinando. A cidade respira a festa do Timão. A cidade chama-se Corinthians. Um motociclista pára ao meu lado no farol da Ibirapuera. Ele ta com uma camisa do campeão. Eu to com o fone cantando o hino. Ele ouve. Vem com a moto até a janela, levanta o capacete e começa a cantar comigo. O farol abre. O carro de trás buzina, mas não pára andarmos. Ele tb é da religião. Tamos os três, sob a garoa e o frio de Sampa, com a noite nos dando cobertura, parados no farol e cantando nosso hino. Que lindo.

Chego no ventania ainda cantando o Hino. A noite vai ser boa. Rick tá montando a batera. Brum ta por ali. Não tem muita gente. Armamos tudo. O som começa. Walking Pussy no palco. Belos momentos de Jam. Começamos com So Lonely do Police. Depois eu emendo Todo Poderoso Timão. Canto com gás e garra. Amor pelo meu time. Tem uns corinthianos no balcão. Outros ao lado do palco. A gente emenda Guitar man, do Bread. É uma homenagem ao Brum, que puta guitarrista. Tocar com ele é assim: uma, duas partes de letra e ele debulha no solo. Mais uma parte e mais momentos sublimes de improviso.

Eu toco o menor número de notas possível. O refrão se repete em Sol, Do e Ré e é o que eu toco.

"Night after night, who treat you right, baby it's the guitar man. Who's gonna still the show, you know, baby, it's the guitar man".

Uau. Emendamos "Wild Thing". Apesar do virtuosismo do Brum e da cadencia do Rick, meu baixo tosco e limitado nos leva pruma coisa meio grunge. Eu gosto.

Um gordão negro misturando inglês com português se aproxima e pede que toquemos Marvin Gaye. Não tá ensaiado. Ele pede Stevie Wonder. Não tá ensaiado. Tento agradá-lo com Smokey Robinson. A galera curte. Uma mocinha pede pra fazer dueto. Depois ela me disse (e então eu lembrei) que ela me entrevistou num programa da TV? Que TV? Não sei!

Os pedidos seguem e a resposta é sempre a mesma: não tá ensaiado. Led Zeppelin? Creedence? Sabbath? Motorhead. Não está ensaiado, caralho! After Dark, Tito & Tarântula, está ensaiada. E sai legal. Muito legal, apesar de umas traves no baixo. Vamos esculhambar: Ary Toledo, o Vendedor de Bucetas. Esta sempre funciona.

Emendamos uma Velhas Virgens. Agora é Mulher de Escorpião, do Cuelho. Vamos indo. Cordas quebram e Brum, com auxílio do onipresente Ayala, vai trocando. Eu enrolo. Brum diz que precisa mijar mas na verdade vai dar uns amassos na namorada. Eu puxo meu sambinha Praia de Paulista é o Bar á capela, com um acompanhamento do Rick. Canto num tom muito alto. Sempre me esqueço de afinar em sol, que é mais agradável pra mim. Ok. Foi.

Tocar com o baixo impede que eu beba sossegado durante o show. Com as mãos ocupadas fica dificil, caralho. E a sede é enorme. Chamamos o vocal da banda que toca nas sextas no Ventania pra participar e ele manda "Got my Mojo Working". O bar levanta. Eu não consegui isso nem com Siririca Baby. Ok, a casa é dele e a torcida, eu calculo, tb. Terminou? Terminou. Cumprimento Brum e Rick. Tesão tocar com vcs, amigos. Desço pra tomar uma. Brum precisa se mandar pro aeroporto, pois vai tocar em Campo Grande amanhã. Rick tem que estar no trampo ás oito. E eu lá pelas dez.

Começa a Via Sacra dos Malas. Uma loira balzaca me pega na frente do palco e começa a falar de música, que o som das VV ( que ela viu com o filho no Kazebre) é muito bom e não precisa das letras apelativas. Eu tento me desgrudar, mas ela insiste. Por que as pessoas acham que a gente quer ouvir as longas e enfadonhas histórias delas bem no momento em que a gente quer relaxar depois do show? Escapo dela e vem o negrão gordo semi-gringo que já me atormentou com pedidos durante o todo show, subindo até no palco pra falar no meu ouvido. Puta que pariu. Escapo dele e a loura vem de novo. Insiste em cantar um blues de sua autoria que ela inscreveu num festival de colégio. Eu ouço. Puta letra de maconha e viagem sem sentido prático nenhum. Interrompo e digo que falta rola dentro. E saio.

Um cara de bandana de caveira quer comentar o fato de termos tocado "Modern Love" (tocamos esta tb e foi o maior sucesso da noite, apesar dos meus erros) do Bowie.

- Tocamos músicas que a gente gosta – respondo seco.

Ele conta como conheceu David Bowie na Praça da Apoteose no Rio com detalhes. Muitos detalhes. Todos os detalhes. Eu tendo escapar da mesa e ele entorna meio copo de caipirinha no meu braço. Foi sem querer. O cara te meio lesado. Em geral tenho paciência com bêbados. Tenho paciência até comigo. O cara agora ta contando como conheceu Tommy Iomy, do Black Sabbath. Com todos os detalhes que nem Deus lembraria. Que mais? O show do Nazareth com o Uriah Heep. Eu tento levantar e ele me puxa. Digo que Rick precisa de ajuda e saio.

O negrão gordo vem de um lado. A loira hippie vem do outro. Vou sair da frente e deixa-los trombarem de frente, como num desenho animado. Corro pro balcão. Peço uma latinha pra viagem. Vamosimbora? Brum já se mandou pro Aertoporto com a moça. Agradeço a gentileza da galera do bar, pego cartazes da banda produzidos por eles. Até conheço o cara que diagramou o cartaz. Brigado a todos. Eu me diverti. Este é sempre meu cachê: diversão!

Tamos enlatados dentro do Fox vermelho com a bateria gigantesca do Rick. Ayala está em alguma parte do banco de trás, entre ferragens e o bumbo. Abro a latinha que trouxe pra beber a caminho de casa. Estico a mão e uma outra mão, esta paraguaia, sai do meio da bateria e pega a lata, desaparecendo no pântano negro do banco de trás. Eu peço e a lata volta. Largo Ayala na Augusta. Rick mora na Pompéia, perto do porcódromo. Pergunto como ta o pai dele. Não muito bem, parece. A gente segue pelas ruas do Pacaembu, depois Perdizes e enfim Pompéia. O assunto agora caminha pra histórias de fantasmas. Ai que medo. Descemos a batera. Quatro e meia da manhã. Rick é um puta cara sereno. Por fora, pelo menos. Tchau, veio. Espero repetir a dose no palco em breve.

Tô com muito sono. Bocejando. Força. Help me god.

To em casa. Desço as coisas. Preciso de banho. Coloco a touca pra não molhar o cabelo. Olho no espelho e dou risada com o que vejo: pelado, minha pança branca avantajada, os cabelos alvi-negros desgrenhados e a touquinha preta na cabeça. Ridículo.

Entro no quarto ainda com a luz da sala acesa. Pego o despertador e programo pras oito da manhã. Na verdade, Dex já tinha feito isso. Ela acorda e me pergunta as horas. Cinco e quarenta e cinco. Vou dormir pouco mais de duas horas. Vida de negro é difícil. Mas eu faço tudo por um bom show de rock'n'roll. Nada tenho a reclamar do meu destino, meu Deus. Faço que gosto e sou feliz.