sábado, 18 de julho de 2009

- Porra, garçom, cadê meu “Buraco Quente”, caralho?

Meio dia e meia. Caralho. Ressaquinha mínima em andamento. Passou. Água. Parada pra almoçar. Comercial. Costela. Frango. Ótima comida caseira. Busão. Faltam 150 km pra Cascavel. Eta cobra distante, caralho!

Pornopopéia. Este livro é inacreditável. O cara ta numa sessão de budismo chapado de ácido, tentando comer uma mocinha que tem um terço da idade dele. É do caralho. Rio muito com o Reinaldo Moraes. Que puta escrita vertiginosa, parece um mergulho de um penhasco. E a gente nunca chega no chão.

Hotel. Como sempre, estou desesperado pra cagar.

- Banas, pede minha chave rápido que o charuto ta na boca!

Preencher ficha. Vou me cagar. Nome, RG e assinatura. Ta na boca. Vem logo elevador. Ai, porra. Demora pa porra. Contrações. Aperto o botão do décimo. Vai sair. Demora. 1,2,3,4, ai,ai,ai, 5,6,7, puta que pariu,8,9,10. Abre, porta morfética. Porra, 142 é décimo quarto. Volto por elevador. 11, vai ser aqui mesmo, 12, socorro, 13, mamãe, 14. Porta. Cartão na porta. Maria Santíssima, Jesus. O cartão não libera. Fudeu. Entrei. Malas no chão, Roupa no chão. Merda pra fora. Alivio.

Caralho! Um minuto de silencio. Ah, delícia. Agora tudo pode voltar ao slow habitual.

Internet no 4° andar. Jotaerre me mandou sugestões de texto para off da matéria do Encontro. Tá perfeito. Manda bala, respondo. Atualizações. Bronha. Banho? Cama. To precisando dormir. Não.

Banho! Bronha? Why not?

Cama. Agora, sim! Guarani perdendo em casa pro Paraná na segundona. O Vaxco parece que ganhou ontem. Ou vai ganhar daqui a pouco. Sei lá. A Lisandra é uma Vascaína chata como todos os verdadeiros torcedores, mas ta na sugundona e agente tem que entender que nem mesmo a porra do bacalhau de merda merece isso. Ninguém merece segunda divisão. Exceto o Santos e o São Paulo. Eh,eh,eh!

Leio mais Reinaldão. Cochilo. Acordo. Porra, seria melhor apagar a luz e desligar a TV. Mano Menezes ta na reprise do Roda Viva. Gosto de vê-lo falar. Tranqüilo, sincero, sério pra caralho. Este sujeito pode se tornar o técnico mais importante da história do meu time. Como? Basta ganhar a Libertadores. Mas mesmo se não ganhar, já está entre os três ou quatro mais importantes, ao lado do Brandão, do Luxemburgo (argh) e do Oswaldo de Oliveira. E tem o Parreira. E o Nelsinho. E o Antonio Lopes. Dorme, Paulão filho de uma puta! Dorme.

O tempo passa e eu me reviro na cama. Eu me remexo muito. Muito. Zapeia, zapeia, desliga a Tv, desgraçado! Que porra de toque de interfone estranho é este? Hum! É o do meu quarto, baixinho pra caralho. Parece que é no quarto ao lado. Jantar, decreta Banas. Eu não deveria ir. Deveria ficar com fome, no quarto, pra não incorrer naquele drama da caganeira perto da hora do palco. Mas to, realmente, com fome. Bora.

Todos na Van que não cabe todos. O motora falador diz que faz duas viagens, mas nem precisaria, pois é muito perto o local do rango, diz ele. Todo mundo espremido. Esqueceram de chamar o Simon. Simon inside. Go!

E roda, roda, puta que pariu, como estes motoras são dementes, nénão? Ele disse que era do lado. Quase chegamos em Foz do Iguaçu e nada de rango.

É um bar. Noturno. Bar da Esquina. Aparentemente bem freqüentado. Ta vazio, agora, oito e pouco. Não tem exatamente rango. São porções. Peço uma salada com rosbife e um sanduíche de carne moída chamado "Buraco Quente". A galera vai de porção de picanha, calzone, caldo sei lá de quê. Banas pede um chopp escuro. Eu não deveria começar a beber tão cedo e com esta azia que me atraca. É atraca, mesmo! Mas não resisto. Dou um gole no dele e peço um. Cavalo, Tuca, Roy e Edu estão se divertindo na mesa de bilhar ao fundo. Cavalo está estranho. Dex disse que eu deveria falar com ele. Tentei deixar as coisas andarem, mas sinto que ele ta estranho mesmo. Precisamos falar. But not now, you know? Now we eat!

Isso se o filhadumaputa do Garçom trouxer meu rango. O de todas as pessoas chega primeiro e vou pilhando os pratos, sempre indignado com a demora do meu. Banas me ridiculariza, dizendo que tenho chilique e tal. Mas veja se não é de foder: eu faço o pedido primeiro e o meu simplesmente não vem. Ta todo mundo servido e este mastodonte barbudo mais para Iaque aposentado não tem seu prato servido. É foda? É foda, caralho!

- Porra, garçom, cadê meu "Buraco Quente", caralho?

Já pesquei em vários pratos, tudo muito bom. Inclusive este filé mignon com queijo em cima que o Banas pediu. O garçom chega com o "Orifício em Chamas". E só depois da terceira mordida é que eu entendo porque este sanduba de pão francês com carne moída recebe a denominação de "quente". Pi-men-ta! A principio suave, mas depois danada! E eu, hemorróidico crônico, sigo mandando a bagaça pra dentro. Na saída é que vai ser foda.

Tem comida pra caralho na mesa. Cancelamos uma das saladas. Eu já cancelei tudo. To zanzando pela casa, arremessando bolas de bilhar na caçapa com as mãos. Eu não jogo, lembram?
Bora. Van. Peido. Carro. Elevador. Banas, Juju, Tuca e Mickey Rourke. Peido no elevador. Meu, claro!

Quarto. Fio dental. Escova. Luzes e Tv desligados.

- Ô mano da portaria, vc pode me acordar meia noite?

A saída pro show é meia noite e meia. Vou dormir. Pouco. Meio que sim. Meio que porra nenhuma. Hum, que horas? Dez pra meia noite? Dormi? Então dormi.

Vou cagar. E sempre ligado no interfone que deve tocar a qualquer momento pra me acordar. Tocou? Porra nenhuma. Se dependesse deste filho da puta deste recepcionista eu ia ter minha porta arrombada pelo Banas. Cago de novo. Mole, pasta! A pimenta arde no cu. No cu!

Hall. Galera descendo. Van. Indo. Noise. O lugar parece estar bombado. Square. Banas havia me avisado que o camarim era longe do palco. E, de fato, tem um estacionamento inteiro preu correr através na hora da troca de roupa. E no sereno, com frio. É assim que minha gripe nunca se cura. Argumento com Banas que, além de eu sair de um lugar quente pro frio, ainda terei uma distancia grande pra percorrer, trocar de roupa e voltar. Haja fôlego. Concordamos em levar parte da roupa pra van e para-la na porta de acesso ao palco. Mesmo assim, a mudança brusca de temperatura não há de melhorar minha já resfriada garganta de cantor urso!

Ok, drinks no camarim. Juju e Caran providenciam batida de Kiwi. Vou cagar. O camarim é distante do palco, mas tem banheiro. Abaixo as calças, começo o serviço e coloco a latinha de skol no chão, á minha frente. Fechada. Merda ardendo no meu cu. No meu cu! E a latinha? Parada, na minha frente! Não se trata de nenhuma duvida shakespeariana do tipo, "beber ou não beber, eis a questão". A questão é avaliar quantas daquela, mais algumas batidas, terei eu que ingerir pra ficar no ponto?

Ali dentro daquela lata de alumínio, por sob aquela tampinha móvel, reside o líquido que me inspira e me derrota. Que amo, mas ás vezes me odeia. Cerveja. Abro agora? Sim! Golão. Vida que recomeça. Com merda, ardência e tudo.

Uma mocinha baixinha de olhos azuis e nariz proeminente entrevista Cavalo com o celular e depois a mim. É prum site, aparentemente, de fofocas. Ao lado dela uma morena com cara de índia, mais alta, ombros de fora e uma tatuagem num destes ombros ostenta uma máquina fotográfica. É a parceira da repórter. Todas bem jovenzinhas.

To na segunda lata. To no terceiro copo de batida. Agora rola uma de abacaxi. Vinte minutos pro show. Alongamento. To colocando o figurino. Com a barba grande e o cabelo desgrenhado, vestido de pirata, por um momento penso que to parecido com o Jim Morrison em fim de carreira. Um pensamento sublime, já que o sujeito era do grandississimo caralho. Fodão mesmo!
Vamos pra lá? O séqüito das VV segue pelo estacionamento abarrotado e entregue ao vento frio noturno. O som da música eletrônica vai nos abraçando e levando pro palco. Ao lado da porta de entrada, dois seguranças discutem e meio que se atracam com um freqüentador. O moleque, com ares de surfista, diz que o segurança é macho ali, mas quer ver quando se encontrarem nas ruas.
Marcelo Mickey Rourke ta anunciando a banda no palco. Entra o audio do Baudelaire. A banda tá da porta pra dentro e eu da porta pra fora. Estico o braço e fazemos o brinde. Eles no palco. Os seguranças ainda discutem com o cara. Ele diz olhando pra mim que veio ver o show da minha banda e que os caras querem jogar ele pra fora. Eu não vou meter a mão nesta cumbuca. Vou pro palco. Mas antes deixo a latinha que ta pela metade na mão do cara. Sorte!

O palco é bem alto, sem acesso do público. Coisa de dois metros e meio três de altura. Bem embaixo estão os camarotes que pensam estar em posição privilegiada pra ver a pataquada das Velhas, mas vão é levar muita cerveja na cabeça. Mais atrás tá a galera. A casa ta lotada. Eu diria de 800 a mil pessoas. Bora. A cerveja e a batida terminaram com minhas dores de barriga. To legal. Inteiro. Bora, porra. Muitas meninas bonitas, com cara de modelo, nos camarotes. Algumas vão torcendo o nariz pras obscenidades que eu declaro, mas a maioria ri e me inspira. Sorriso de mulher sempre inspira. Depois da terceira canção, entro com aquela baba de quiabo, perguntando se eles nos viram no Faustão semana passada. Se viram nosso mais recente clipe na MTV. Não? Claro que não, esta gente nos ignora. Eles é que vão tomar no cu! Vibração.
Mais uma. Mais outra. Edu viado na lojinha. Passem lá! A mulher do diabo no palco. Saio pela porta e encaro um frio do caralho. Pra vcs terem uma idéia da diferença de temperatura, quando entrei no palco meus óculos rayban da 25 de março embaçaram por completo. Agora, ao sair, voltaram ao normal. Ta frio ou não tá? Me jogo dentro da Van e começo a troca de figurino.
O motorista desajeitado tem dificuldade pra afivelar meu sutiã. Roupa molhada retirada. Batina por cima do sutiã. Tênis. Bora voltar. O show segue animado. Cavalo sai do palco e vai tocar no balcão do bar. A galera delira. Ele volta. Estendo um pouco o discurso em Siririca Baby. O mesmo em Madrugada e meia. Antes, em Blues do Velcro, Juju dança com duas mocinhas que já subiram no palco num show em Foz. Juju me sopra os nomes no final, preu agradecer. Bianca e Bruna.
Terminou. Trouxeram a roupa de mago pra Van. Uhu! Me troco rápido e volto. Explico a coisa dos vinte anos da morte do Raul.

Raul em andamento. Enquanto Juju canta vou até Simon, despejo boa parte da latinha em sua cabeça e faço como se estivesse passando shampoo. Ele tenta se safar, mas está no meio da música e indefeso. Eh,eh,eh!

Depois do Raul ainda rola a dobradinha "A minhoca que..." e "Beijos de corpo". Quando estamos prestes a desistir, a galera puxa "Eu bebo sim" e ainda fazemos esta pra eles. Agora já era.
Uma grande parte da galera está ao lado da escada de acesso ao palco querendo autógrafos, fotos, etc. Digo que só vou tirar a roupa molhada e já volto. Faço isso. No camarim, dois sites me entrevistam. Coloco cervejas nos bolsos do roupão vermelho. Entra uma galera de moleques.

- Paulão pra presidente do Brasil!

Seus dementes, sou um bebum. Eles dizem que o Lula tb é.

Dou cervejas pra todos. Fotos. Vou ver a galera na frente do palco. Cavalo passa por mim e elogia a execução do show. Ele segue estranho. Precisamos conversar.

Frio do estacionamento. Cumprimentos no caminho. O cara no carro me pede um cd. Dou a cerveja que tenho na mão. Olha a galera toda aí. Mais fotos, abraços, autógrafos. O pessoal do camarote sai pra me cumprimentar. Rodo mais um pouco. Tem umas meninas empolgadas ali. O cara que passou o show todo me xingando me abraça agressivamente. É o jeito dele de dizer que curtiu. Chego na barraca. Edu já ta desmontando a bagaça. Dou-lhe uma das minhas brejas. A gente brinda.

Volto pro camarim. Busão. Tuca e Roy foram por aí. Hotel. Bodinho antes do café? Ok. Daqui a pouco a gente zarpa pra sampa.