quarta-feira, 15 de julho de 2009

- Será este velhote com bóia na cabeça o novo coordenador da redação?

Cinco. Seis horas de sono. Não. Umas quatro, no máximo. Mas já valeu. Acordei tossindo como um cão asmático, mas mais descansado.


Deliciosa rotina de volta: jornal, merda e banho. Gosto das coisas sempre sob controle. To ficando velho. Envelhecendo sem criar juízo, como diz a música Boêmios Errantes, parceria minha com o Brum.

Por mais que eu me meta com Tv e trampo, sei a que pertenço e de onde venho: sou um bebum, um cara da boemia. E sempre vou voltar pro bar.

Sim, o Cruzeiro vai pra cima dos Estudiantes pela Libertadores hoje á noite. Se fosse outro time brasileiro eu torcia contra. Respeito os inimigos. O Cruzeiro não fede e nem cheira. Quero que este jogo se foda. A não ser por um estagiário lá do SBT que é fanático pelo time azul. Moleque gente boa. De resto, foda-se o Cruzeiro, os Estudiantes. Fodam-se.

A porcada vai encarar o Mengo no Rio. E os filhos da puta tão jogando bola depois da saída do Luxemburgo. O tal de Jorginho acertou o time. Que merda. Quer saber: os jogadores não suportavam mais o Luxa e derrubaram ele. Agora, com um técnico da casa, tão suando a camisa. Não posso culpá-los. Luxemburgo, o que tem de competente tem de mala. E ele é muito, mas muito competente mesmo. Que mais, heim? Política? Economia? Não!

Tem uma foto do Bortolotto em cena na peça do Marcelo Paiva. E uma critica positiva. Bom ver os amigos serem elogiados.

Chuveiroterapia. Roupa. To tenso com este primeiro dia no Domingo Legal. Já estive lá, conheço as pessoas, mas sempre temo que interfira demais na minha vida e atrapalhe meus porres, meus rocks e meus momentos em casa. Algumas pessoas comem, bebem e dormem TV. Eu não sou uma delas. E não há salário no mundo que me faça deixar as VV. Antes, o contrário. Mas se der pra ganhar uma grana e trabalhar numa outra atividade que eu desempenhe bem e sinta algum prazer (que é escrever pra TV) ok!

Transfiro a papelada e documentaiada da pochete pra bolsa. Vou encarar esta. Olhando na luz do dia, ela não é preta e nem verde como disseram. Um marrom escuro, talvez. Foda-se. Vou encarar.

Bora pro SBT. Bora.

Combustível no posto. Transito ruim. Ruim? Filha da puta de ruim. Perco uma hora e meia na marginal. Vai tomar no cu. Que cidade desgraçada. Transito do caralho. Em determinados momentos a coisa simplesmente pára. E o pior é que o engarrafamento nada tem a ver com a Anhanguera, por onde saio em direção ás terras Abravanélicas. O terror vem da marginal Pinheiros. Parece que ontem, no ato da retirada de algumas favelas na região da Lapa, o povo interrompeu o transito na marginal em protesto. E como o trabalho teria que continuar hoje, a morosidade pode ter a ver com isso. Olha, compreendo o drama de quem tem a casa desmontada e, com família e crianças, tem que sair por aí. Mas que porra eu tenho com isso pra passar duas horas preso dentro do carro? Porra, polícia, tira estes caras da marginal e me deixa passar, caralho. Não vai machucar ninguém, mas o protesto de 300 não pode sacrificar 30 mil. Porra!
SBT. Domingo Legal. Não tem muita coisa acontecendo aqui. Vou até minha ex-mesa e, aí sim, começo a retirar as mil fotos, frases e doideiras que faziam fundo na parede atrás da minha cadeira. Sempre que alguém, desavisadamente, entrava aqui, este era o point de observação e, não raras vezes, risos. Tem frase sobre o Lula: "Lula é meu Pastor, por isso estou pastando". Tem fotos do pedroca, do bafo e da laurinha, filha do Cris e da Tâmara. Muitas fotos minhas no palco, com a barriga de fora, vestido de Lily na despedida dela no Kasebre. Tem frases sobre bebida e bares do Nelson Rodrigues, do Grouxo Marx, do Churchill. Posters do Timão. Uma foto de bailarina com tratamento para parecer antiga tirada pelo Maga, aqui do pool. Nossa é muita coisa. E pensar que tudo começou com uma frase meio demente que lancei bebaço numa viagem da banda: "Todo o tempo ou nunca, todas as pessoas ou ninguém, estão esperando tudo ou nada, obrigado".

As pessoas do pool lamentam minha saída diante desta imagem melancólica da retirada dos cartazes. Sempre foi assim quando deixei algum trampo: minhas paredes sempre foram abarrotadas de demência, desabafos e declarações. Olha esta foto. Eu com uma camisa escrito "Vai tomar no cu" e a seguinte legenda: "Paulão demonstra seu apreço pelos apresentadores de TV".

Outra hora falo mais disso. Agora to quase chorando. Merda. Pronto. Mural limpo. Agora é copiar meus arquivos pro pen drive que comprei em Manaus, na zona franca. E não é que coube tudo. Ces't fini!

Beijo as pessoas. Não to saindo da empresa. Na verdade, estarei dois corredores á frente. Mas é uma etapa que se encerra. Voltei pro SBT pela décima vez há dois anos pra fazer o Viva a Noite por, no máximo, três meses. E fui ficando. Trabalhar num pool de redação foi a melhor experiência profissional da minha vida. Pelas pessoas, pela coerência de atitudes e pensamentos, pela comunidade. Por mim não saia daqui. Mas o Domingo Legal tem uma redação á parte. Fui. Levo, inclusive, a bóia que me compraram para colocar na cadeira quando a hemorróida estava atacada. Obrigado, amigos. Nunca vou esquecer destes dias. E nem de vcs.

Entro na produção do DL com a bóia na cabeça. As pessoas que não me conhecem, a maioria jovens, estranham.

- Será este velhote com bóia na cabeça o novo coordenador da redação?

Sou eu mesmo. E agora eu vou tocar o puteiro nesta porra.

Tenho mais quatro colegas na redação. Acho que já disse isso. Dante, ex-colega de facul e amigo de tantas, Ed, que conheci no pool e indiquei pro Dirlan, Nadia, com quem trabalhei no inicio dos anos 90, aqui mesmo no SBT (ela era produtora e não redatora como hoje) e o Jorge que só conheço de ois e tchaus. Simbora tomar conhecimento do que rola no programa. Não vou mentir: não assisto Domingo Legal e faz muito tempo. E não sou obrigado a assistir TV: eu faço TV. Quem assiste é telespectador. To como cachorro que caiu da mudança.

Preciso de um login. Preciso falar com o Miranda e sabar se ele ouviu e o que achou do material do novo cd das VV. Preciso acertar uma data com Oswaldo Vecchione para participar de seus shows de quarta no Aurora. Jr. me chama e pede que conversemos. Porra, vi este menino entrar como estagiário, virar assistente, produtor e agora diretor. Cheguei a ser entrevistado por ele num trabalho de faculdade. Espero que a porra da promoção não suba á cabeça.

Ele me fala de um encontro que será gravado, reunindo mãe e filho que não se vêem há 30 anos. Me passa uma seqüência de coisas e pede que roteirize. Ele grava amanhã e sexta. Ok, então a pizza tem que sair hoje. Vou pra Band, volto e escrevo. Agora é almoço. Vou comer. To ansioso, tenso, apreensivo. E hoje é quarta feira. Mereço uma feijuca. Hoje não tem regime. Ah, deliciosa e querida feijoada. Néctar de Deus na Terra. Pronto.

Jr. ainda não me passou as informaçõs pro roteiro. O Domingo Legal está indo ao vivo aos domingos, meio dia. Seria legal eu estar no SBT neste meu primeiro fim de semana. Mas tenho show em Cascavel, interior do Paraná. Tento arrumar passagens de avião pra voltar de lá na manhã de domingo, a tempo de estar no programa. O show é sábado, mas começa lá pela uma e meia da manhã de domingo. Termina pelas quatro. Não tem vôo saindo de Cascavel. A cidade mais próxima é Maringá, 300 km. Nosso busão levara de quatro a cinco horas pra percorrer este trajeto. Logo, só consigo chegar no aeroporto pelas oito, com sorte. Então, só posso procurar vôos a partir das nove. E o último vôo da manhã sai ás oito. Não dá. Londrina fica a 400 km. E o último vôo da manhã é ás nove. Tb não dá. Os outros vôos saem na hora em que o programa estará começando. Então, já na primeira semana de trabalho, serei obrigado a xavecar meu chefe e explicar que estarei fora fazendo show e sem chance de chegar para trabalhar. Em resumo, vou dar um gato. De repente já sou despedido de cara. Não foi este o acertado, mas sempre me preparo pra tudo.

Quase quatro da tarde e vou me mandar pra Band pra resolver coisas como meu último roteiro da Núbia, carta de demissão, nota fiscal. Lá vou eu pescando pela marginal. Este meu sono sempre aumenta quando dirijo. Band. Preciso cagar. Será a última com funcionário? Acho que sim!

Sex Prive Brasileirinhas. Abraço todos. Alguns lamentam minha partida. Outros desejam boa sorte. Mato os roteiros da Núbia. Agora preciso extrair só os textos dela e do locutor para por no TP. Ensino o trampo de paste up pro Marcelinho. Ele faz a minha e me libera. Ainda tenho que voltar pro SBT e fazer o roteiro do Jotaerre. Tom chegou e estou indicando-o para me substituir. Ele conversa com Calazans.

Vou até o RH e assino meu pedido de desligamento. Crachá devolvido. A moça que me atende pergunta se gostei de trabalhar na Band e digo que adorei e que vou sentir saudades. É verdade. Dá um nó na minha garganta e sinto que vou chorar. Caraio, isso não acontece nestas ocasiões faz tempo.

Volto pro Sex Prive e vou me despedindo de todos: Fernando, Boy, Marcelinho, Luciano Patrícia, Helena, Fábio. Subo até o Band Sports, dou tchau pra Soninha, pra Maura e pro Edu, o chefão.
Calazans ta lá fora no Quiosque, conversando com o Tom. Porra, quando entrei aqui tava louco pra ir na tal "Festa do Seu João", um evento para funcionários e colaboradores em homenagem ao patrono dos Saad, donos de tudo aqui. Sempre me disseram que a balada é muito louca. Vai rolar dia 14 de agosto e eu não estarei mais na área. Bosta!

Dou um abraço no Calazans, que foi quem me levou pra Band e sempre bancou minhas faltas por causa de shows. Porra, agora fudeu. Voz embargada. Lágrimas nos olhos. Obrigado pela oportunidade de conhecer a empresa e a família Band, meu amigo. Amei este lugar. Espero voltar um dia. Viro as costas e saio sem conseguir falar direito. Vou chorando pro carro. To virando um banana, mesmo. Ligo pra Dex e mal consigo falar. Tchau Band. Me senti em casa aqui como só no SBT. Boa sorte pra nós.

Transito. Anhanguera. Redação do Domingo Legal. Dante ainda ta trampando. Dan é meu amigo há mais de vinte anos. A primeira vez que entrei no SBT foi ele quem me levou, pois mesmo antes de fazer faculdade de RTV, ele já trabalhava em produção de chamadas lá na Santa Veloso. Lembro direitinho disso. Vai ser uma honra trabalhar com ele. Sua onda é mais para direção que roteiro, mas ele se vira vem com isso tb. Lá se foi ele, ver o seu time verde encarar o mendo na Tv, em casa. Ele me diz que sua mulher e filhos estão em João Pessoa. Ele está só e vai direitinho pra casa. Regenerou-se. Eh,eh,eh!

Ligo a TV. Flamengo e porco. Sou mengô. Ataco o roteiro. Gosto de escrever. Um a zero pros porcos. Dois a zero pra porcada. Porra, mengão? Que caraio é este? O Cruzeiro segue empatando com os estudantes argentinos. Quase onze da noite.

Termino o roteiro mais de onze da noite. Cruzeiro faz um. Vão ganhar esta merda. Opa, os estudantes fizeram um. Xiii. Vou pra casa. Caminho vazio. Porra nenhuma. Quase onze e meia e a ponte da Anhanguera parada. Vejo carros de polícia e suas luzes. Que merda esta porra de polícia ta fazendo parando o transito uma hora destas. Sou trabalhador. Quero ir para casa. Ei, policia, vai se fuder! Liberou. Marginal. Caminho de casa.

Casa. Dex me espera com o jantar pronto. Fez fraldinha no forno. Hum.Um pouquinho de tv. Caraio, o Cruzeiro perdeu dos estudantes. Puta que pariu. Olha lá o Verón levantando a taça. Opa, quase cai.

O estagiário vai ficar triste. Ele é gente boa. Mas a vida nem sempre é gente boa com a gente. Boa noite.