sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A mocinha domina Juju, lambe seu pescoço e segue apertando sua bunda.

To meio bebão. Meu joelho está a um palmo da privada. O chuveiro é elétrico, a janela tem a tranca quebrada, a toalha ta pendurada na porta de madeira que está aberta dando visão pro quarto. É um banheiro de azulejos marrons. Se abrir meus braços esbarro nas paredes. A pia está pouca coisa mais longe que a privada. Basta mover a cabeça um pouco para a minha esquerda que vejo meu rosto de Tiradentes bebão no espelho quebrado. Atrás de mim, na altura do meu pescoço, há uma espécie de prateleira de plástico branco onde jaz um pedacico de sabonete. Lá fora Belchior segue cantando:

"Talvez eu morra jovem, nalguma curva no caminho, algum punhal de amor traído, completara o meu destino. Meu bem, vem viver comigo, vem correr perigo, vem morrer comigo, meu bem, meu bem, meu bem".

Ligo pro Bortolotto que ta em Mossoró com Reinaldo Moraes pra dizer que to ouvindo "Coração Selvagem" e lembrei dele. Mais um gole. Dois ou três. Porra, não é assim que se começa um dia.

Então. Sete e vinte e to na área. Deixo a tranca da porta da sala aberta para que Dona Rosa penetre e trampe. Bosta. Ricardo Gomes agora é herói e a bambizada já tah em quinto. Puta que pariu. A porcada empatou com o Grêmio, mas segue na liderança. Senadores trocam gentilezas por causa do Sarney: um chama o outro de coronel de merda e o outro chama o um de cangaceiro de terceira categoria. Isso tudo tb serve pro Sarney.

Olha ai, ataque de hackers tira o Twiter do ar. Eu falei que ia saber disso, lembram? E banho. E bronha? Bronha! E Internet. E tudo mais. E simbora pro SBT, que hoje anoitecerei em Uberlândia.

Minhas malas já devem estar lá, assim como a banda. Tem uma série de entrevistas, tv, rádio. Eles seguram sem mim.

Bate onze e meia e to atarefado no SBT. Finalizo o roteiro da edição das imagens dos depoimentos do encontro. Almoço voando. Salada.

Texto sobre a vinda de um show com o personagem de desenho animado Ben 10. Thiago que mandar logo o off da Gi. Ok.

Preciso fazer as fichas da tal de dança da esteira. E nestas e noutras são quatro e vinte e pouco da tarde. Jannaina quer me passar os participantes da Piscina de Amido. Jorjão segura a bronca. Ele, Dante e Ed vão ter que fechar o programa sozinhos, pois além de mim, Nadya tb tem um compromisso teatral e se mandou mais cedo. Bom trabalho e obrigado, rapaziada.

Desço com meu carro até o estacionamento lá de baixo. Na volta vão me deixar com duas malas pesadas aqui na portaria e não vou querer subir até a parte de cima do SBT arrastando estes caixões. Então, deixo meu carro aqui e quando voltar, subo com as malas nele. O taxista ta á minha espera. Oitenta e três reais. É isso que pago antecipadamente com cartão de crédito pela corrida até Congonhas.

Tamos indo. O tráfego está lento. O motora vai por um caminho padrão que inclui marginal Pinheiros e Avenida dos Bandeirantes que ta colada com super bonder. Agora ele sai pela direita e começa a quebrar pelas bandas de Brooklin, Santo Amaro. Chegamos ao aeroporto por volta de vinte pras seis. Caraio, mais de uma hora de trajeto. Se não saio na hora que sai poderia me foder. O bicho ta pegando pra encostar o carro. Desço no meio do congestionamento de táxis na área de desembarque e vou atravessando o aeroporto em direção do check-in da TAM a pé. Gente, como tem mulher gostosa no aeroporto. Geralmente elas vem bem arrumadas, de sandalinha mostrando os dedinhos dos pés. Olha esta moça de vestido com listras verticais cinzas. A roupa lhe é gentil com as ancas e ela tem um rebolado hipnótico. Deve ser carioca. Só as cariocas rebolam assim. Ok.

A TAM tb tem sua loja de check in automático. Já fiz isso em Campinas, quando voei de Azul. Moleza. A mocinha pede meu documento e já carimba o bilhete. Quase seis horas e to passando para a área de embarque. Ta cedo, mas assim posso beber mais. Tem uma porra dum barzinho que tem chopp Brahma e brejas Stella e Bohemia. Nada que me seduza muito.

O Chopp custa a bagatela de 7 reais e trinta. Vai ser ladrão assim no inferno. 375 ml de vinho Periquita é 16 reais. Vai se fuder! Arrumo uma cadeira perto do caixa e pago quatro chopps no cartão, para ir bebendo aos poucos. Lá se foi um. E ta bem bom. Um cara com sotaque carioca encosta no balcão querendo devolver dois tíquetes de chopp, pois já chamaram o embarque do vôo dele. Ninguém no bar parece muito interessado em lhe devolver a grana.

- Se quiser eu faço o favor de beber os dois pra ti! Mando.

Ele não assentiu ao meu gentil oferecimento. Um outro carioca pede um chopp com colarinho de três dedos. Caraio. Será que sobrou alguém lá em "Ipanema"? Ta toda a cariocada aqui. E é bem raro um carioca que gosta de colarinho. A maioria pede sem colarinho. Pelo menos, a maioria dos que eu conheço. Gegê, por exemplo, não curte colarinho. Bem, foda-se. Já bebi mais um chopp e pedi o terceiro. Chega uma galera de terno e com máscaras anti-gripe suína. Curioso vê-los levantar a máscara e abaixar a cada gole e breja.

Hum. Mais um chopp está descendo, da mesma forma que em seguida eu to descendo as escadas rolantes para chegar no meu portão de embarque. Primeiro fui pro lado errado. Às vezes bastam três ou quatro drinks pra gente estriquinar a cabeça. Ok. Vamos embarcar. A maioria das abordagens em Congonhas é feita de busão. Minha pltrona é na última fileira, por isso peço pra entrar pela porta de trás. Ok. Tamaqui. Tem duas mulheres nestas três cadeiras. Uma ta no corredor, a outra na janela e a minha cadeira, que é a do meio, está atulhada de bolsas e badulaques das duas. Peço licença e digo que vou atrapalhar o sossego delas. A mocinha da janela pergunta se me importo de trocar com ela e ir na janela. Digo que só não topo ir em pé no corredor. Troca feita, as duas são amigas e estão tricotando e fazendo palavras cruzadas. Momentos antes de tomar meu assento, xavequei o comissário e ele me conseguiu uma breja antes do vôo sair do chão. Cool. Bom sinal. Uma das vantagens de voar de TAM é ter cerveja. Sol. Hum. Ou Xingu. To bebendo Sol. Foi o máximo que consegui ainda em terra. Cerveja dada não se olha os dentes.

Subimos. Uma das moças está grávida. Descubro isso por que ela resolve justificar sua preferência pela cadeira do corredor. Aparentemente grávidas mijam pra caralho. A que está ao meu lado, no meio, ta com dificuldade pra resolver as palavras cruzadas. Pergunto se posso dar palpite. Ela diz que sim. Ta um clima legal de conversa mole. E adoro conversar, como vcs já devem ter percebido.

Opa, serviço de bordo em andamento e ganho um sanduba e...mais uma breja. Hum. Na volta para retirar os dejetos, os comissários recebem mais um pedido de cerveja meu. To num ritmo ótimo: o vôo vai durar cerca de uma hora e já estou na quarta? Ou será a quinta. Terceira? Peço mais uma e resolvo a questão. Ou será a sexta? Quarta!

Ajudo a moça de óculos e pele clara ao meu lado a matar as palavras cruzadas. Puxo assunto com a grávida sobre os perigos de voar no estado interessante em que ela se encontra. Ela me explica que ta no início da prenhez e que o perigo é voar mais perto do parto. Não sei exatamente como e nem porque, mas tamos falando de relacionamentos. A futura mãe não vive junto com o pai da criança, apesar de planejar casar-se com ele. A mocinha do meio primeiro diz que tem namorado, mas depois chama de marido. E eu não vou ficar aqui investigando a vida alheia. O papo vai até o ponto em que afirmo que nenhum homem consegue entender uma mulher e vice-versa. Mas que este é exatamente o interessante dos casais: o convívio dos opostos.

Mais uma cerveja, agora Xingu. Peço amendoim e ele vem! Não sei que tipo de pataquada eu enunciei que fez com que elas dissessem que é raro um homem respeitar o jeito de ser das mulheres como eu disse que faço. Pra elas, tem muito homem machista no mundo. Por mais um motivo desconhecido deste tríalogo improvável, elas me contam que são de Uberlândia e eu as informo que sou das Velhas Virgens, uma banda considerada machista. A moça do meio conhece nossa fama e então explico a ela que na verdade não somos machistas e sim, "damos nossa versão dos fatos". Ela concorda e seguimos em camaradagem.

Opa, este solavanco indica que descemos. Estamos em terras mineiras. E preciso desesperadamente mijar os quatro chopps e a conta perdida de latinhas.

Peço encarecidamente licença á mocinha dos óculos e á grávida e me atabaco no banheiro. A urina sai e eu quase que gozo de prazer. Mijar é bom!

Passo direto pelas esteiras de malas. Minha bagagem são a bolsa masculina e a jaqueta de couro e ta tudo pendurado em mim.

To no saguão do aeroporto. Não vejo ninguém conhecido e ninguém se aproxima de mim. Ato contínuo, procuro um bar. Antes de reiniciar a bebedeira, dou de cara com Banas. Droga. Justo quando eu ia pro bar! Marquinho motora do nosso busão ta junto. E tb o motora da Van. Pronto. Bora pro Hotel. Pegamos todos os músicos. Antes da janta passamos no local do show pra pegar a galera da técnica. Um galpão grande com palco limitado quase na altura do chão. Mais uma vez, vou ter que segurar a galera com o joelho. Pego minha mala pessoal e volto pra Van. A técnica ta tirando leite de pedra e só vai comer depois. Vamos prum bar que ta bem cheio e parece ser um point local chamado Saideira. Puta barulhão de falatório. Peço uma porção de frango á passarinho e sigo bebendo Itaipava. Na minha mesa estão Marquinho e o Porcolino, o homem da mancha Verde, tb motora. E Simon. Os outros estão perdidos em outras mesas. Caraio, quanta mulher tem neste bar. Minas Gerais tem muita mulher, nénão? A técnica aparece. O motora da Van foi pegá-los.

Cervejinha, franguinho e vamonóis. Porra, não posso seguir comendo e bebendo neste ritmo senão prejudico o show. Saio do bar e vou me sentar lá fora no ponto de ônibus que fica bem em frente. As pessoas vão terminando o rango e saindo. Van. Hotel. Tô pelado no meu quarto. Podia dar um bode. Vou dar! Dex me liga meio bebinha de vinho. Eu to bêbado de sono.

Acordo poucos minutos antes de descer pra nossa saída em direção do show. Coloco uma bermuda, camiseta, chinelo e me voi.

O contratante ta com problemas com o volume do som. Aliás, a noite chama-se "Sexta Reggae". Que grande banda de reggae somos nós, némesmo?

Acho que vamos ter que entrar antes das duas da matina que era o combinado. Tamaqui. A cozinha é nosso camarim. Aparece uma breja. Sol. Outras. Copos. Vodka. Gelo. Refri. Vou misturando o que posso pra dar uma chapadinha rápida. As "otoridades" ainda estão na área e a banda que ta no palco ta tocando bem baixinho.

Vamos ter que entrar antes mesmo. Ao lado do palco pegaram uma barraca de quermesse, envolveram-na com sacos de lixo preto e este é o lugar onde vou me trocar. Detalhe: sem quase nada de luz! Abro minha mala de figurino e vou pendurando as roupas. To com um copo de algo parecido com uma batida de frutas mal amassadas que nós mesmos aprontamos e duas latas de breja.

Procuro as gaitas, uma em C(do) e outra em D(ré) e dou pro Marcinho. Dou uma alongadinha mínima. Ponho a roupa do pirata. Ta bem escuro aqui dentro. Juju chega. A banda chega. Marcinho faz a abertura com a garra de sempre. Brinde no ar. Texto de Boudelaire rolando. Bora. Como eu previa e já havia até sido informado, o som é ineficiente. Da minha posição á frente da banda mal ouço o baixo. Guitarras não existem no retorno e a batera ta longe. Cubanajarra foi. O show segue. Combinamos fazer uma música nova hoje: "Essa mulher só quer viver na balada". A idéia é fazer antes de "Tequila". Cavalo puxa a canção e mesmo olhando para suas mãos não consigo sequer intuir a introdução. Roy ta fazendo o riff inicial e não ouço tampouco. Sendo assim, não consigo entrar cantando o refrão que abre a canção. Vou direto na segunda parte. Perco o segundo refrão. Ninguém ouve nada. Que cagada. A música termina sem que nada tenha sido compreendido. Preciso puxar "Tequila" rápido pra não derrubar a vibe. Pego uma gaita e ta escrito D. Preciso da C. A outra tb é D. Caraio.

- Me ajudem que peguei duas gaitas em Ré! - imploro aos roadies.

Surgem várias gaitas retiradas do bolso de minha mala. Todas em D. Não é possível, eu mesmo selecionei uma Bends novinha em C. Porra. Cavalo me manda puxar "Toda Puta Mora Longe". Simon conta. Não ouço nada, incluindo a mim mesmo. Não lembro o início da letra. Cavalo ta com uma cara de poucos amigos. Digo ao microfone que não to ouvindo nada e peço pra música começar de novo. Contagem. Me aproximo de Cavalo e ao mesmo tempo que tento ouvir a melodia pra lembrar a letra, pergunto a ele como começa a letra que simplesmente sumiu da minha cabeça. Ele não responde. Vou até Roy na esperança de ouvir o riff e lembrar da canção. O que me vem á mente é a letra de "Excesso de Quorum". A galera ta me olhando esperando que eu cante. Caraio. Como é mesmo que começa esta porra?

- Agora que vc ta saciado...

Uhu! Lembrei do começo e aí veio tudo de carreirinha. Vamonóis. Vamos até o fim e meu retorno desapareceu de vez. Anuncio Juju e enquanto ela entra de "Mulher do Diabo" eu reviro minha mala atrás de uma gaita em Do. Vou precisar dela pra "Uns drinks", no fim. Ah, esqueci tb a roupa de mago, mas esta ficou em sampa. É uma merda montar a mala de figurino cansado do jeito que eu tava na quinta. Só sai bosta.

Trouxe o chapéu cônico de mago, mas esqueci a túnica. Porra!

Achei caída num canto da mala a gaita novinha da Bends que eu tinha separado pra hoje. Ok. Entrego pro Marcinho. A música da Juju já passa do meio no palco e eu ainda não tirei o figurino molhado pela latada e muito menos coloquei meu sutiã de "Homem Lindo" e a batina de "Deus é pai". Rápido. Roupa tirada. Juju ta terminando. Peço ajuda de Marquinho pra colocar o sutiã e ele se atrapalha bastante. Vai terminar a música da Ju e eu não to pronto. Porra.

- Amarra esta merda deste sutiã, caralho!

Conseguiu. Pus a batina por cima. A música terminou e eu to entrando. Ufa, foi por pouco.
O show segue. Ninguém ouve nada. Roy desligou seus pedais e ta tocando direto no amp. Puta que pariu. A galera segue curtindo, mas ta muito difícil pra nós. Simon me olha e sei que ele não ouve porra nenhuma tb. Em "Blues do Velcro" há uma invasão de mais de 20 mulheres sobre este palquinho. As mocinhas ficam loucas e apalpam Juju de todo modo. Olha só aquela ruivinha, apertou a bunda mesmo com Juju se defendendo. A mocinha domina Juju, lambe seu pescoço e segue apertando sua bunda. Esta daí quer realmente comer nossa cantora. Loucura, loucura, loucura! O show vai indo e todo mundo mouco!

Beleza. Chegamos ao fim. Volto pro camarim. Ao menos recuperamos a vibe. O pessoal pede mais. Volto com o papo do Raul. Só com os óculos em formato de estrela e uma camiseta do Creedence. Raul vai legal. Terminou com a galera pulando e curtindo.

Fotos, autógrafos, beijos, abraços. Tamos no meio da galera.

Passado algum tempo, sento-me num canto, no chão, sozinho pré beber em paz. Que show cagado, caraio! Dentro de minutos to cercado pela galera que senta-se tb e neste momento me sinto pregando no monte das oliveiras.

Banas me intima a ir pro busão.

To dentro dele, com algumas brejas. Vou pro meu quarto, ligar o som, esperar o café e a hora de zarpar pra encarar os 500 km que separam Uberlândia de Bauru.

To meio bebão. Meu joelho está a um palmo da privada. O chuveiro é elétrico, a janela tem a tranca quebrada, a toalha ta pendurada na porta de madeira que está aberta. É um banheiro de azulejos marrons. Se abrir meus braços esbarro nas paredes. A pia está pouca coisa mais longe que a privada. Basta mover a cabeça um pouco para a minha esquerda que vejo meu rosto de Tiradentes bebão no espelho quebrado. Atrás de mim, na altura do meu pescoço, há uma espécie de prateleira de plástico branco pregada na parede onde jaz um pedacico de sabonete. Lá fora Belchior segue cantando:

"Talvez eu morra jovem, alguma curva no caminho, algum punhal de amor traído, completara o meu destino. Meu bem, vem viver comigo, vem correr perigo. Vem morrer comigo, meu bem, meu bem, meu bem".

Ligo pro Bortolotto que ta em Mossoró com Reinaldo Moraes pra dizer que to ouvindo "Coração Selvagem" e lembrei dele. Ele não atende. Manda um torpedo. Mais um gole. Dois ou três. Porra, não é assim que se começa um dia.