domingo, 20 de setembro de 2009

- Vamos pra qual hospital, amor?

O carro estaciona e o motorista anuncia o fim da jornada. To deitado no banco, todo torto. Isso não vai acabar bem. Ao tentar me sentar, a fisgada é mortal e a dor me abraça com o peso de um lutador de sumô. Caio no banco. Carol se preocupa. Vou repetindo o movimento, só que mais lentamente. Consegui sentar. Saio do carro e a coisa ta feia. To arqueado e adernado pra direita. A produtora quer ajudar, mas mando o motorista leva-la que eu tomo conta de mim. E assim é. Beijos e obrigado, querida.

Entro no saguão do aeroporto como um robozinho antigo, esfregando os pés no chão a passadas curtíssimas. A volta é de Tam. Aproximo-me do check in slowly. Me apoio no balcão e entrego o papel da Internet. Identidade? Ok!

Sem bagagem? Só meus sonhos e as dores do mundo, né Hyldon.

Preciso cagar. Tento me encaminhar prum dos cantos do saguão, mas a dor é demais e no meio do processo me sento. E ali fico. A dor vai diminuindo a conta gotas. Caraio! Uma mãe ainda jovem e uma filha muito bela sentam-se ao meu lado. Um irmão de boné metido a NX Zero vem pegar algo e um pai tb em forma faz o mesmo com a mãe. Eles estão pegando documentos para fazer o check in pra elas. Ok. Parece que conseguiram. O pai convida o resto do pessoal a sentar do outro lado, onde há 4 cadeiras vagas próximas. E eu fico só. A dor ainda ta aqui. Mas a merda bate na porta e resolvo me mover. Vou até a ponta do aeroporto e a porra do banheiro não é aqui. Volto, sentido centro. A cada passo a fisgada aumenta. Sou um velho peixe fora d'água, tentando me debater até um curso de rio. No meio da travessia os olhares de um funcionário da Gol cruzam com o meu e, sei lá por que cargas d'água, ele me cumprimenta. E o cara é anão. Não to delirando não! Eu pergunto do banheiro e ele, simpaticamente, aponta atrás de mim. To salvo. Devo esta a Branca de Neve. Brincadeirinha, mano!

Entro, acho um box trancável e me deixo assentar com dificuldade. Opa. Me ajeitei.

- Fora de mim, merda!

Terminei. Assepssia, hum, pronto. Lavando as mãos. Voltando pra frente do portão de embarque. Entro direto, mesmo antes do horário marcado. Perco a vergonha e me aproximo da mocinha da TAM.

- Preciso de uma cadeira de rodas. Tô com muita dor nas costas e ta difícil caminhar!

Ela assente com a cabeça. Sento-me por perto. Antes bebo um gole d'água com gosto de cloro no bebedouro. São 10h15 da matina. O vôo sai ás 11h e chega em sampa 13h30. Fico ali, observando como as mulheres são belas no aeroporto. Todas de sandália mostrando os dedinhos, ou sapatos chiques fechados. As calças, mesmo os jeans, são agarrados e novos. Algumas delas são muito belas de rosto tb. Homens vem sempre largados, barrigas proeminentes. Mas as mulheres, mesmo as mais balzacas e até as da "melhor" idade, vem ajeitadas. A não ser as mães. A beleza delas é diferente. Olha aquela ali, de tênis, camisa social e um figurinha no colo que não tem um ano de idade. Ele ta de touca azul e dorme largado nos braços da mãe. Se não estivesse de touca azul ainda sim eu saberia que é homem pela pose: uma perna pra cada lado, um braço meio na cabeça, o outro largado. Bem ao lado, um outro bebê está ajeitadinho no colo da mãe. Uma mocinha, claro!

Olha só aquela mocinha, maiorzinha, comprando café no pão de queijo. Está com um tamanco alto e sexy. Cabelos louros farmácia, mas a juventude faz de seu rosto um país de beleza natural turisticamente sedutor. E aquela outra "mocinha" de seus quarenta, andando elegante com seu tailleur e salto agulha. As mulheres iluminam nossa vida. Uau!

Embarque. Uma velhinha, bela ao seu modo, foi com a primeira cadeira de rodas. Mesmo com dores e dificuldade, fico sem graça de assumir a segunda, á disposição ao lado. A miss Tam parece ter esquecido de mim e lá vou eu a passo de tiozinho a caminho do embarque. Beleza. To na segunda fileira. Vôo recheado. Roberta Miranda tava na fila. Paulo Vilhena esconde-se sob um Ray ban, com um corte de cabelo meio "arnaldoantunesco" no primeiro banco. O cara do teste de fidelidade e astro pornô Marcos Oliver tb ta na área. E tem eu, o 11º CQC.

Ao meu lado duas mulheres, ambas mais velhas que eu, conversam animadamente. Pego os fones da aeromoça e passo a curtir os 13 canais de áudio á disposição. Tem também uma revista de bordo com Hebe na capa e matérias sobre SS e sobre, adivinhem, o CQC. Aliás, estas poses do Marco Luque fazem parte de um ensaio que eu presenciei ao vivo no estúdio ao lado do CQC, na primeira eliminatória. Uma onda meio Kill Bill esculhambado, ao estilo dele. Na tv Tam o repórter mostra os bastidores do programa. O clima no camarim. Curiosamente, hoje estão todos os sete, exatamente por causa da eliminatória do concurso. Marcelo Tas, o capo, deixa clara sua participação em algumas decisões da direção do programa. Claro, ele é o ancora. Interessante estas reportagens estarem á minha volta justamente neste momento. Lembro que numa das outras travessias aéreas deste final de semana vi aquele seriado do multi show (Mothern) e não é que reconheci o Rafinha Bastos fazendo o pai de uma das crianças. Minha amiga Fernanda D'Umbra faz parte do elenco tb. CQC is all aroud me! Deep in my dreams, hope in my future too!

Sanduichinho misto bom. Suco de laranja. Mais revista. Esta Brasil é bem legal. Tem umas piadas, causos do Rolando Boldrin, matérias interessantes. E nesta onda, com Paulo Vilhena esticando suas pernas por cima das revistas á sua frente o vôo vai. E chega. E lá vamonois. Passo de formiga. O saguão das esteiras não tem fim. Saio. Procuro Dex. Acho. Carro. Beijos saudosos.

- Vamos pra qual hospital, amor?

Ela achou um na Voluntários da Pátria, o mesmo em que operei meu tendão de Aquiles e que agora mudou de nome: Hospital São Paulo. Há um pronto socorro ortopédico. Vazio. Sou o primeiro candidato, digo, paciente. Ficha feita, lá vou eu pra sala do dr. explicar a dor, como ocorreu, minha rotina corrida neste fim de semana, mostrar o remédio que to tomando. Ele observa rapidamente a caixa dos comprimidos e diz pra continuar tomando, mas de 8 em 8 horas. Repouso. Terapia com gelo. Massagem depois. E um soro com corticóides, exatamente igual ao que tomei em Campo Grande e que não adiantou porra nenhuma. Nada tem adiantado. Nem para curar a dor e nem para segurar este trator chamado Eu! Yeah!

To na espera para tomar o coquetel intravenoso. O Todo Poderoso é o filme da Tv, na Globo. Soro. Peço pra enfermeira pegar leve com o furo, senão a tinta da tatoo vaza. Ela ri. Ela está de meia branca, transparente, e tem uma tatoo no peito do pé. O soro vai lento. Tento dormir. Não rola.

Ligo pro Brum e cumprimento-o pelo seu aniversário, aproveitando para informa-lo de minha maratona em sua terra. Ligo pro Dan no SBT e descubro que estamos ganhando bem da Record, todo o tempo. E que ta tudo sob controle. E neste corversê, se foi o soro e to de volta ao carro. Dex quer almoçar. Vamos num restaurante meio rústico que fica dentro de uma garagem ali mesmo numa travessa da Brás Leme. Fila de espera que se desfaz assim que eu volto do banheiro. Dex pede um macarrão de molho vermelho com carne e berinjela. Eu peço um espeto á brasileira. Com arroz, fritas e farofa. E carne, claro! Antes, oito bruscchetas, quatro de alho e quatro com gorgonzola. H2OH de maracujá pra mim e jugo de naranja para la señora.
Comemos o espeto com arroz, fritas e carne (hum!) e mandamos embrulhar o macarrão. Puta gulodice do caraio pedir dois pratos. Bora pra casa.

To mortão. Pego o jornal e descubro que o Timão só encara o Goiás com volta de Ronaldo no Pacaembu ás 18h30. Cama. Apago feio. Acordo por volta de 20h00 e corro pra Internet pra saber do jogo. Dex me adianta que Fabinho ligou e que tava 2 X 0 pros inimigos. Caraio. Que pesadelo é este?

Ligo o computer. 3 X 0 para os verdes do centro-oeste. Meu Deus, que desastre pra quem queria ganhar e se aproximar dos líderes. Vou ser sincero, não faço questão de ganhar o brasileiro. Só não quero que dê bambi ou porco. Não gosto do Inter tão pouco. O Timão faz um, mas na seqüência o Goiás aumenta. E é 4 a 1 o final da bagaça. Entro correndo no twitter e antes de mandar notícias minhas e das VV, cuido em acalmar o coração dos corinthianos. Me solidarizando com a perplexidade em relação ao resultado e lembrando que já estivemos na segundona e superamos, que já ganhamos dois títulos este ano, força Corinthianada. Um tiro só, nem mesmo quatro tiros, vão nos derrubar.

Engatilho minhas atualizações, antes notando que o Twitter passou de 5 mil seguidores. Sejam bem vindos.

Vou nessa, a contragosto da Dex que quer atenção, até ás 23h, quando desço, encaro o macarrão e tomo meu remédio. As costas seguem doendo e eu tortinho pra direita como o DEM, o que parece incomodar a Dex. Paciência se ela acha que é "h".

Termino a atualização até sábado. To caindo de sono. Antes de entrar no quarto onde Dex já está de velha e linda, ajoelho-me á porta, rezo e agradeço por ter conseguido vencer. Se não a disputa do CQC, ainda, vencer a mim mesmo e minhas dificuldades. Amanhã sei se continuo ou não. Mas a vida, esta sempre continua até terminar de vez. Mas não agora. Ainda não.