segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Treme Japão - Capítulo 8 - Contra Tudo e contra todos, invasão concretizada e o título: Bi do mundo, Porra!



Japão  - 16 de dezembro de 2012    Sunshine City Prince Hotel – Tóquio –Domingo

O dia mais importante da minha vida de corinthiano. Abri os olhos e chequei o horário, pouco mais de 8 e meia. Eu havia desabado na cama por volta das seis e estava zuado pela ressaca e pelo cansaço. Não era assim que eu deveria acordar neste dia histórico em que iríamos decidir pela primeira vez o mundial interclubes fora do Brasil, com o poderoso Chelsea que, entre outras proezas, havia eliminado os sobrenaturais do Barcelona. O gosto de rodapé de puteiro estava por toda minha boca. A saída pro estádio internacional de Yokohama aconteceria pelas 9h30, 10h00, com previsão de chegada ás 11h. Aí era só esperar até 19h30 para jornada épica do timão começar.
Abri o cofre ao lado da cama, estiquei o braço e procurei meu amuleto da sorte no meio de documentos e yenes: o ingresso da final.

“FIFA Club World Cup Japan 2012 presented by Toyota
Match por third place (M7):  Loser Match 5 (Al Ahly) VS. Loser Match 6 (Monterrey)
                          Final (M8): Winner Match 5 (Corinthians) VS. Winner Match 6 (Chelsea)
INTERNATIONAL STADIUM YOKOHAMA 16 December 2012 (Sunday)
13h30 Open no re-entry 16h30 Kick off (M7)
                                       19h30 Kick off (M8)
Category 2     Match 7/8   Gate West    Entrance W26   Level 2  Row 28   Seat 603

23,000 Yenes (incl. Tax)”

Era isso. Meu bilhete para conhecer a fábrica de chocolate do Willy Wonka. Meu passaporte pro paraíso. My ticket to ride. My stairway to heaven. Que loucura! É hoje. É agora.
Pulei da cama com ânimo de quem ainda tá bebum e movido por uma paixão mais que centenária que seduz milhões. Movido a álcool, pra falar a verdade. Banheiro. Fase 1,  privada, com direito a todo tipo de jatinho quente nas áreas de lazer. Fase 2, chuveiro, uma espécie de ritual pra tentar recuperar a energia do meu corpo. Viva a água quente. Vitória. Saio do banheiro e acordo Adney. Ele se move pra fazer suas necessidades mictóricas enquanto eu coloco o hino do Timão no meu lap top. Abro a cortina e um dia razoavelmente iluminado pelo sol se anuncia. Ao soar das primeiras notas, as lágrimas caem. A gente de ressaca já fica sentimental. E num dia como este, fudeu! Separo minha roupa, minhocão, camisa listrada bege comemorativa do centenário.
-          Vai ser esta – grito alucinado e sozinho no quarto – vai ser  esta a camisa do título!
Pego a camisa do meu pai e beijo. As lágrimas não param nunca, sonorizadas pelo hino. Adney sai do banheiro e tb está elétrico. A parada é louca. O bagulho é incontrolável. Ligo pra acordar Jorginho e ele já tá na lida. Tá todo mundo pronto. Roupas sobre o corpo, hora de descer pro café. Sim, vamos rebater a bebedeira com tudo que tenho direito. E se tivesse feijoada, putchero, churrasco, bife à rolê e virado à paulista eu mandava pra dentro tb.
O salão de café da manhã parece uma convenção de corinthianos. Excetuando-se um ou outro desavisado, tá todo mundo uniformizado e pegando fogo. A gente se encontra, se abraça, grita, é nois. E é nóis.
Tem uma galera de negros americanos no canto de lá. Eles fazem parte de um coral, gospel eu imagino, cujo regente é um senhor, tb negro, numa cadeira de rodas. Aparentemente eles estão fazendo apresentações aqui. Tem outros dois negros tb com naipe americano. Black Rodrigo me explica que o careca é um rapper chamado “G” e o rastafari chamado Young é seu empresario. Diz que contou pros caras sobre o timão e os dois resolveram se juntar ao bando de loucos pra ver a final. Já tinham até comprado ingressos. Rodrigão alistou os caras e é visível que já estão bem iniciados na nossa religião, no nosso rito, na nossa fé: vai Corinthians!
O saguão parece uma estação do metrô na hora do hush. Em dia de jogo do Timão, claro. Camisetas, faixas, jaquetas, bandeiras, tudo com o símbolo do Corinthians. Mil fotos e flashes por todo lado, com mil e uma pessoas. É o dia que todos esperamos na vida. É o dia que cada Corinthiano, vivo ou desencarnado, esperou na sua existencia. Lá em cima tem um monte de espíritos se agitando, tenho certeza. Pense em Antônio Pereira, Joaquim Ambrósio, Anselmo Correia, Carlos da Silva e Rafael Perrone, os caras que num dia 1º de setembro de 1910, pelas oito e meia da noite, na esquina da Ruas Dos Imigrantes com a Cônego Martins, no Bom Retitro, iluminados pela reticente chama de um lampião, fundaram o Timão.
Imagine aqueles torcedores dos anos 10, anos 20, quando o futebol ainda era amador. Imaginem Neco, Teleco, Claudio, Luizinho, Baltazar. Imagine quem viu o esquadrão do quarto centenário. Pense em todos que amargaram os 23 anos de fila. E nos que invadiram o Maracanã em 76. Imagine os Corinthianos que vc conheceu e os que não estão mais aqui. O pai do Adney, o pai do Afonso, o meu pai. E todos os milhões de torcedores do timão no Brasil. Isso aqui é por eles.
Vamos pra luta, porra!
O trajeto dentro do Yellow Bus do Mohamed é tenso. Nenhum de nós consegue sequer intuir o que nos espera. Cada metro avançado pelo busão, cada prédio, praça, placa, viaduto do trajeto, tudo passa meio em slow.
Yokohama fica a 27 km de Tóquio em linha reta. Mas de condução são 38 km. Não pode levar mais que 50 minutos, especialmente num domingo.
O povo tá movido a álcool. Garrafas de tequila, vodka, whisky e tudo que possa dar um grau circulam de mão em mão. O povo grita o nome do Corinthians. Estamos numa interseção  fantástica entre o Pacaembu e o Yokohama Stadium.
“Vamô, vamô Corinthians, esta noite...teremos que ganhar!”
Já dá pra ver o estádio. Ele está numa área plana e bastante descampada. Não há grandes edificios na redondeza, apenas áreas de lazer e campos de futebol, de treinamento, imagino.
Olha o monstro que foi palco da final da copa de 2002 lá. Inaugurado em 1998, o Estádio Internacional de Yokohama (em japonês Yokohama Kokusai Sogo Kyogi-Jo) tem capacidade pra receber 73.237 pessoas e é a casa do Yokohama F. Marinos, time da J. League. A julgar pela ocupação corinthiana no jogo de quarta contra o Al Ahly, teremos maioria. Estamos encerrando uma era no que diz respeito a mundiais interclubes da Fifa no Japão, cujos torneios foram disputados aqui desde 2005 e que nesta final de 2012 se despedem da Ásia. Em 2013 será, como vcs sabem, no Marrocos. Torcedores do São Paulo, em 2005, e do Inter de Porto Alegre, em 2006, tem ótimas lembranças de Yokohama, onde foram campeões. E com a ajuda de Jesus Cristo, Santo Expedito e São Jorge, nos juntaremos a eles em boas recordações no dia de hoje.
As pessoas vão descendo dos ônibus, se abraçando, cantando. Tá sol, mas um vento frio circula entre nós. Vcs sabem disso. Parece o outono em São Paulo, mas com temperaturas mais baixas. Beavis e Butt-head exibem orgulhosos sua garrafa de Absolut. Eu sigo sem tocar em nada alcoólico e não é promessa, não: é ressaca da grossa. Vamos caminhando, atravessando um, dois cruzamentos e a sombra do Yokohama já nos cobre, baixando a temperatura. O relógio marca por volta de 11 da manhã, meia noite no Brasil. Lá tem pessoas rolando na cama, envoltas na bandeira. Lá tem gente pensativa, olhando para a TV com o terço na mão, contando os segundos pro início do jogo. Lá tem vagabundo começando um churrasco que vai atravessar a madrugada. Lá tem gente no buteco, travado, pensando em aguentar até a hora da partida começar. Lá tem gente no terreiro, na Igreja, na Mesquita e na Sinagoga pedindo apoio espiritual. Lá tem secadores não acreditando que viveram para ver o Timão conquistar o mundo no exterior. Tb não acreditam que teremos nosso estádio e que ele será palco da abertura da Copa de 2014. Eles não se conformam de perder a piada. Mas o tempo, como avisou Bob Dylan em 1964, está mudando: The Times They Are A-Changin'!
Vamos indo em uma desengonçada filha indiana. Pronto! Chegamos até a entrada Leste, uma espécie de largo onde está instalada a favelinha da Fifa, com barraquinhas de rango, um palco pra manés falarem merda em vários idiomas e malaristas da bola mostrarem seus dotes de rara beleza plástica mas sem utilidade pra futebol-competição. Além de lojas, claro! Igual o primeiro jogo.
São dois, três lances de escada que dão acesso ao estádio propriamente dito, em cuja fachada estão estendidos painéis com os escudos dos quatro times envolvidos na rodada dupla e da FIFA. Olha lá!
Os Corinthianos vão tomando as escadas. Cantando, bebendo. Bandeiras são estendidas. Olha essa: “Chuuupa palestra – Coringão campeão” . As barraquinhas de rango só vão começar a funcionar daqui uma hora. Tem uma barraca para cada continente. No caso da América do Sul, temos a barraca brasileira que vai vender espetinhos de carne e linguiça. E pastel. Tem umas pessoas de olhos puxados, notadamente japas gorduchas de avental, preparando tudo. Devem ser brasilianos moradores daqui. Será que o churrasquinho vai ser de carne de enguia? Socorro!
Saio para dar um rolê e rapidamente encontro o monumento erguido por ocasião da copa de 2002, com diversas informações sobre os finalistas, incluindo pé do Cafu e a mão do Oliver Kahn, da Alemanha, em placas de cimento.
As lojas da Fifa vendem de tudo. Mas ainda não estão em funcionamento. Para cada 100 Corinthianos que encontramos, surgem duas pessoas com a camisa azul do Chelsea, e ambas têm olhos puxados. Ainda não vi aqui sequer um torcedor de azul com perfil de britânico. Invadimos a porra do Japão, caralho!
Opa, meu intestino pede passagem (está surpreso?). Procuremos um banheiro antes que seja tarde. Saio pela direita do estádio e bem próximo dali, assim que passa a loja da FIFA, já tem uma pequena fila. Entro nela, ainda com as contrações sob controle. Já dentro, alguns dirigem-se ao mijatório Totô. Eu quero nº 2, então procuro uma cabine vaga. Uma se abre e vejo de onde estou que se trata daquele maldito buraco no chão, onde a gente faz o serviço acocorado. No estado ressacado que estou não vou me arriscar a perder o equilíbrio e naufragar em fezes. E agora? Opa, outra porta. Esta tem banheiro com configuração ocidental. Tô dentro.
Hum. Hard work. Na parede, um cartaz escrito em português que virará souvenir: “O papel higiênico se dissolve em água. Após o uso (do)  papel higiênico, jogue-o no vaso sanitário e de a descarga”, isso num papel timbrado da FIFA. Tá no meu bolso. Quando rolar a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, ambas no Brasil, vai ser difícil explicar pros gringos que em nosso país não se deve jogar nada na latrina, senão entope. Ok. Tô mais leve.
Saio dando a volta no estádio, num rolê à esmo, sem objetivo definido. Penso em encontrar algum jornalista brasileiro, corinthianos que conheço como Benjamin Back, Casagrande, Neto. Ou quem sabe algum ex-jogador que esteja aqui apenas pra empurrar o timão. Tá muito cedo. Passa pouco do meio dia. Aqui só tem torcedor. Vou até onde um bloqueio exige credenciais para seguir.
Olha um pombo amuado num canto da estaca de sustentação do estádio. Na sombra faz um frio desgraçado. Tô voltando. Não há brechas na segurança japonesa que permitam uma incursão minha em alguma parte especial e reservada do estádio. Fico caminhando lentamente como a ressaca sugere por uns 30 minutos e ao voltar àquele larguinho da FIFA já triplicou a quantidade de corinthianos. Tem uma galera fazendo um samba e me parecem moradores do Japão, pois todos agem como brasileiros, ainda que tenham olhos puxados. A Gaviões tem uma filial aqui. Aliás, Black Rodrigo me avisou que pela uma da tarde a Gaviões vai fazer uma espécie de desfile desde a estação do metrô próxima até o estádio. Ele garante que vai pra lá reforçar as linhas da Gaviões. Eu to zuado. Rodrigão me representa!
Adney já tá sambando com os japas. Tá doidão. Todos estão mergulhando firme no goró, especialmente nos destilados. Olha o Falcony atacando uma dose de Suntory Whisky no gargalo. Rock’n’roll! Tem cerveja Asahi tb. Lembram do “seo” Adilson e seu eterno escudeiro Roberto? Tb tão nessa. Improvisaram até um copo feito com a latinha de cerveja. Daqui a pouco as barraquinhas de rango vão abrir. Há muitas crianças japonesas em excursão. Algumas arriscam um “Vai Corinthians”. Emissoras de tv do mundo todo começam a registrar nossa invasão e olha só quem é que tá falando com a BBC?  Dalmir! Fico observando sua explanação e todo seu amor pelo timão e lembro de um papo que tivemos no busão.
-          A minha paixão pelo Corinthians começou quando eu tinha entre 7 e 9 anos, Paulão... ou seja, entre 1982 e 1983... nesta época não tinha corintianos na minha família. Por isso que acredito que corintiano não vira, ele nasce! Se fosse influência da minha família, eu torceria por outro time. Sou do tipo que quando o Corinthians perde um jogo importante, classificatório ou uma final, eu fico um bom tempo sem assistir programas de esporte para não ver ninguém falar mal! É como uma relação pai e filho, sabe! Eu posso falar mas não aceito que ninguém de fora fale mal dele. Existe uma música (neste momento ele embargou a voz de emoção) que posso ouvir o dia todo que não me cansa: é o hino do timão! E como prova desse amor incondicional, entre comprar um carro e vir para o Japão... Bom, acho vai demorar um pouco pra eu ter outro carro
Muita gente vendeu e deixou de comprar coisas pra vir até aqui torcer pro Corinthians. A recompensa destes sacrifícios será o grito de campeão, ainda hoje, aqui no Japão. Olha o Dalmir ali, falando pro mundo. Cada um aqui tem uma história de amor ao Corinthians.
A muvuca tá formada. Adney bate no meu ombro e fala preu prestar atenção num japa magrelo, de óculos, japa legítimo mesmo, que tá rodeado por corinthianos a um metro de mim. Inicialmente ele parece estar falando o famoso “curi-curi-curi”, mas não é isso. Apuro a audição e saco que ele está falando nomes de jogadores do timão. Caraio, ele está escalando o timão, no melhor sotaque nipônico:
-          Cassiô, Capitã Aressandrô, Ticao (Chicão), Pauro Anduré, Fabio Santôs, Rauf, Paurinrô, Dugrás, Daniro, Emersôn e Guererô.
-          Él, él, él, Japonês é da fiel – grita a galera
Hordas de crianças vão se aproximando para tirar fotos com a torcida. A cada 5 minutos algum grito de guerra une todos os brasileiros. Olha o poropopó! Que emoção do caralho.
Abriu a barraquinha de comida. Encaro um espetinho de linguiça, outro de carne e um pastel. Coca Cola pra adoçar o fígado. To sentadinho comendo e vendo a galera multiplicar seus tentáculos. Vão brotando corinthianos de todas as partes. Tem uma passarela que deve vir da estação do metrô que está tomada por corinthianos. O Japão todo está!
Rango engolido, uma parte da galera sai para encontrar com o povo da gaviões. Resolvo comprar umas lembrancinhas na barraca da FIFA. Camiseta, boné, cachecol, chaveiro, o que der. Tudo no Visa! Tudo dentro da mochila.
Olha o Adney já emendando a bebedeira de ontem com a de hoje. Garrafa na mão, sambando. Opa, três japinhas com camisa do Chelsea passam perto dele. A galera grita Corinthians. Os Japas saem andando. Adney emenda:
-          Isso é pra vcs abrirem o olho, cambada de japa paga pau de inglês!
Gafe em andamento. Os sambistas dekasséguis brasileiros todos têm olhos puxados tb. Os caras dão uma medida no meu parceiro que, á francesa, sai do samba e vai dar um rolê. Eh,eh,eh.
O largo da Fifa, na entrada leste, onde nos instalamos, vai ficando tomado por Corinthianos. Formigueiro alvi-negro. Passa de duas da manhã no Brasil. Aqui faltam uns 20 minutos pra abertura dos portões. 4h30 da tarde tem a decisão de terceiro e quarto lugares entre Al Ahly e Monterrey. Somos Monterrey, mas mais do que tudo, teremos uma preliminar para ajudar a passar o tempo.
Black Rodrigo volta da “recepção” para a Gaviões. Conta que eram mais de 500 corinthianos fazendo zona na rua, tocando samba, gritando pelo timão e a polícia japa tentando dispersar a multidão. No mesmo local há um pub, me conta ele, onde estavam 20 ou 30 torcedores genuínos do Chelsea. Ao verem o cerco acidental da fiel entraram em pânico e foram  evacuando o bar. Rodrigo, corinthiano de “mileano”, acostumado com entreveros com a policia brasileira, se mostra surpreso com a calma das autoridades japas. Diz que apenas um policial, mais fortinho, encarou a galera e promoveu a dispersão. Nenhum incidente mais grave aconteceu, segundo ele.
Falo prele sentar e beber um gole, pra sossegar o facho. Não vou acompanha-lo no drink por que senão morro. O povo em volta começa a cantar nosso hino e os pulmões quase saem pela boca. Comentamos algo sobre os 23 anos sem título e ele diz que praticamente nem sofreu com isso, pois nasceu em 77.
-          Na minha família todo mundo é corinthiano... A não ser meu pai que não liga muito e torce pra Lusa. Mas o mais fanático de todos sempre foi o meu avô, pai da minha mãe... O cara era ignorante mesmo! Meu pai conta que quando namorava minha mãe e o timão perdia não podia sequer dar boa tarde pro futuro sogro, que ele achava que era tiração de sarro... Esse meu avo foi um cara que era um tipo de ícone pra mim, sabe... Ele foi na invasão de 76 do Maracanã  e no titulo de 77... E acima de tudo era corinthiano, a ponto de que no fim de sua vida, quando ele já não reconhecia ninguém... Bom, eu tava visitando ele e de repente ele estendeu o braço em minha direção... Todos ficaram meio surpresos e confusos, achando que ele tinha se lembrado do neto... Mas a verdade é que ele não estava me reconhecendo. Ele estava querendo é pegar o símbolo do Corinthians da minha camisa...(e as lágrimas descem pelo rosto do meu amigo Rodrigo Preto)... Foi foda! Esse meu avo me deu uma vez, em 91, um quadrinho dele, do Corinthians. Ele não deixava ninguém nem encostar nesse quadro e ele me deu... E eu o guardo até hoje. Fiz questão de trazer comigo pro Japão, uma espécie de homenagem... E um jeito de trazer meu avo comigo tb!
Um gole de whisky serviu de ponto final do papo. Aquele não era um dia de tristeza. Era um dia de emoção. De rever momentos bons e maus de nossa vida de torcedores. De lembrar das pessoas que marcaram nossa história com o amor ao Timão.
-          Hoje é dia de sermos campeões por todas estas pessoas que amamos e que não podem estar aqui. Vai Corinthians!
Disse isso, me levantei e dei uma olhada geral na muvuca alvi-negra quase intransitável que tinha se tornado aquele largo. Opa... O que é aquilo? Lá longe, na ponta, três cabeças loiras começam a se destacar em meio à multidão corinthiana. Torcedores legítimos do Chelsea, altos, com sua pele branca e a camisa azul, carregando cada qual sua mala de mão. Eles olham prum lado e pro outro e parecem bastante assustados com a maré alvi-negra que os envolve.  Com o olhar perdido, eles vasculham o local atrás de conterrâneos e torcedores do time deles. Não há mais nenhum ali, naquele momento. Eles passam de fininho pela lateral das escadas e vão procurar sua turma. Imaginei que aquele local fosse uma espécie de ponto de encontro reservado à torcida corinthiana. Imaginei que num outro espaço do estádio poderia haver uma concentração de adversários semelhante á nossa. Comentei isso com um cara que tava passando e ele disse que havia percorrido todo o entorno do estádio e que a muvuca era só aqui mesmo. Só de corinthianos. Uau!
Olha só uma bandeira da fiel Rio de Janeiro com o Cristo Redentor vestido com nossa camisa. São duas da tarde e aparentemente os portões já abriram. Saio contornando o estádio para procurar meu local de entrada, que fica no portão oeste, oposto a este. A quantidade de corinthianos é absurdamente maior que a de japinhas de camisa do Chelsea. Torcedores ingleses de fato, vejo poucos. Tamos indo praticamente juntos. Eu, Jorginho, Adney, Dalmir, Falcony, Edu... Rapha e Rodrigo tb... Tabajara tb.
Não podemos entrar com garrafas de bebida ou latas. O povo começa aquele trabalho de “secar” garrafas, latas e copos que tem nas mãos. Eu não seco nada. To zerado. E zuado. Simbora pra dentro. A segurança pede preu abrir minha mochila. Dão uma olhada geral. Só encontram dois misseis, 4 granadas e um submarino nuclear. Nada pra preocupação! Eh, eh, eh!
Opa, ganhei umas toalhinhas úmidas destas que quando agente fricciona elas criam calor e aquecem nossas mãos. Pego várias. Souvenirs, vcs sabem. Dou mais uma parada no banheiro, já dentro do estádio. Fila interminável. Torcedores de ambos os times usam banheiros juntos, dividem corredores sem nenhuma confusão aparente. Acho que estamos todos contagiados pela civilidade japonesa. Pelo menos, até aqui!
À procura do nosso lugar. Subindo para o nível 2, fila 28, assento 603. É a ultima fileira do estádio. A cobertura nos envolve a todos e chuva não vamos pegar. Mas há indicações de um vento gelado que vem pelas costas. Quando o jogo começar vou levantar e ficar andando aqui atrás desta última fileira. Como diabos posso pensar em ver um jogo destes sentado. Não vai rolar!
O povo levanta para fumar. O povo levanta para ir ao banheiro. O povo levanta pra comer. Peço que me tragam uma marmitinha de Yakissoba. Daqui não saio até o final do jogo. Tamos todos sentados juntos, mas a numeração dos nossos ingressos não nos coloca tão próximos assim. Se chegarem os verdadeiros donos das cadeiras, vamos ter que procurar nossos lugares numerados. O estádio vai enchendo e a predominância corinthiana vai ficando cada vez mais evidente. É muita gente. A cada período de 5, 10 minutos, um novo coro geral de amor ao Corinthians começa em qualquer parte do estádio e logo contagia a todos. Os japas com camisa do Chelsea, os japas neutros, os japas  brasileiros que moram aqui: todos demonstram cara de espanto com a intensidade e a entrega dos nossos gritos de guerra. É uma coisa de arrepiar mesmo. Sabemos que o time depende do nosso urro. Por isso viajamos tantos mil quilômetros. Viemos assoprar a bola. Viemos jogar com o Corinthians. Viemos viver e morrer pelo nosso time.
Falta mais ou menos uma hora pra começar a disputa do terceiro lugar. Nossa posição é  praticamente a mesma do outro jogo, no escanteio. Deste mesmo lado, atrás do gol, está a torcida do Monterrey. Atrás do outro gol está a do Al Ahly. Mas no entorno dos torcedores egípcios vai se criando uma espécie de cerco. É a gaviões chegando. Eles vão espremer a torcida do campeão africano até que ela desapareça como que engolida pela areia do deserto. É só esperar pra ver.
Acho que já comi tanto que não consigo dar cabo do yakisoba que está até gostoso. Fecho a marmita e coloco sob a cadeira. Tão chegando os donos das cadeiras ao lado e nossa galera vai se dispersando. Juntos mesmo ficamos eu, Adney e Jorginho, o trio de sempre. Tem uma família de japas do Japão ao nosso lado. Ao ver que somos corinthianos um dos filhos prefere fechar a jaqueta para esconder a camisa do Chelsea.
Na fileira á frente da nossa chegam três brasileiros que claramente moram aqui. Apenas um tem olhos puxados. O outro é muito alto e calado. E este terceiro, de cavanhaque, bem, este está acelerado por alguma substancia estranha. Falando pelos cotovelos, discursa dizendo que já bebeu muita cachaça e whisky. Que tá muito louco. Saca uma garrafinha e nos oferece um pouco. Alguns bebem. Eu estou sem condições físicas de ingerir álcool. É uma pena, pois há vendedores oferecendo cerveja o tempo todo. Passei tanto tempo reclamando a falta de cerveja em estádios no Brasil e quando estou em um que libera o produto, minha ressaca não me deixa beber. Pela segunda vez na mesma semana. Mundo cruel!
Levanto pra esticar as pernas no corredor atrás desta ultima fileira onde estamos alojados como havia previsto. O estádio está enchendo e a coisa está em torno de 60%, 70% de corinthianos. Tamos todos aqui, batendo papo pra diminuir o frio e esquecer o relógio que se arrasta. Alguém levanta uma questão sobre a primeira lembrança do Corinthians que cada um tem ou teve na vida.
-          Pergunta difícil – diz Edu - tenho quase certeza que já nasci Corinthiano! Mas a primeira imagem que eu me lembro do Corinthians foi o gol de carrinho do Viola na final do paulistão de 1988 contra o Guarani... Eu tinha 4 anos na época..... Lembro que estávamos meu pai, meu irmão e eu na sala assistindo o jogo.... E na hora do gol foi uma festa, uma gritaria e eu não entendia o que tava acontecendo... Quando acabou o jogo saímos na rua e tinha um monte de corinthianos com bandeiras, rojão, som nos carros, uma festa.... Ai eu queria fazer parte de tudo aquilo... Eu já tinha camisa, bermuda, meião que minha mãe tinha me dado, mas acho que não entendia pra que era tudo aquilo... Acho que ali começou o meu amor pelo Corinthians... E depois disso vieram muitas histórias, sendo o Japão a ultima...
-          Ultima, não – interrompo – a mais recente! A primeira de muitas no exterior! Vai Corinthians!
O cerimonial da Fifa está em andamento. Vai começar Al Ahly e Monterrey. Diversão, afinal de contas. A torcida mexicana abre uma grande bandeira azul e branca com a seguinte frase: “contigo hasta el fin del mundo”. Bonito! Todos tem suas paixões e num estádio de futebol elas são mais escancaradas que em qualquer lugar do universo.
O brasileiro que engoliu um papagaio segue falando pelos cotovelos, contando detalhes da sua vida com esposa e filha na terra do sol nascente. Fala de terremotos. Fala daquele que se seguiu ao tsunami em 2011 e resultou no vazamento de material radioativo na região de Fukushima. Diz que não estava exatamente lá, mas que estava perto. Fala sobre o relacionamento com os japoneses. A saudade do Brasil. Do horóscopo chinês. Tudo em menos de 30 segundos. Seus amigos parecem incomodados com sua verborragia descontrolada tanto quanto nós. Ele cutuca, puxa pelo braço, pega na gente com força pra falar. O cara é muito chato. E pegajoso! Vai morrer!
Jogo em andamento. A torcida do Monterrey manda aquele grito de guerra maluco deles que eu não entendo nada. O jogo começa quente. Opa, confusão entre o goleiro e o zagueiro do Al Ahly. Batem cabeça na entrada da grande área e a bola sobra limpinha pro 14 de azul dar um boa tarde e empurrar a bola pra rede. Corona, 3 minutos do primeiro tempo, Monterrey 1 a 0. Jo soy mexicano, bitchô!
Depois do gol, o jogo segue morno e nós com frio. To sentado vendo a partida e me dá um sono danado. Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
Heim? O que foi? Acabou o primeiro tempo? Dormi de roncar, me informa Adney. O estádio já está bastante tomado. Estarei sonhando? Só o que se vê, só o que se ouve é Corinthians. Se cabem 73 mil pessoas aqui, eu diria que neste momento estamos beirando 40 mil, com imensa maioria nossa. Meu Deus, que torcida é esta? Lotar um estádio do outro lado do mundo? I-n-a-c-r-e-d-i-t-á-v-e-l!
Não queria mas tenho que levantar. Vou ao banheiro. Fila de novo. Espera. Se há 10 pessoas na fila, sete são corinthianos, dois japas com camisa do Chelsea e um que não se sabe para quem vai torcer. Aproveito e dou um barro, pra poder fixar minha bunda definitivamente na cadeira 603. Tamo de volta.
17h30 e está pra começar o segundo tempo da decisão de terceiro lugar. Ano passado “Los Rayados”, como é conhecido o Club de Fútbol Monterrey, ficaram em 5º no Mundial Interclubes na Fifa, desclassificados nos penalties pelo Kashiwa Reysol. Portanto, se baterem os egipcios agora, terão sua melhor atuação no torneio. Mais: com o terceiro lugar o Monterrey igualará a melhor campanha de um time mexicano, o Necaxa, que ficou em terceiro no mundial interclubes da FIFA de 2000, no Brasil, que foi ganho pelo Timão. O Al Ahly já foi 3º em 2006 e 4º em 2012.  É isso, vamos repetir 2000: time mexicano em terceiro e noise com a taça. Vai Corinthians!
O segundo tempo já tá comendo faz uns 15 minutos. A não ser 3 egípcios e 12 mexicanos, ninguém tá ligando muito para o que está acontecendo. Já tá escuro. O frio dobrou. A blusa vermelha que eu  trouxe para vestir foi incorporada ao capuz do casaco e ao cachecol na tentativa de segurar a friaca que tá foda! A imagem deste “bololô” de roupas sobre meu rosto não é das mais belas, mas está salvando-me do frio. O lugar onde não há como impedir o congelamento é mesmo a bochecha. Fico com as mãos enluvadas sobre elas, como se estivesse surpreso ou assustado com algo. Tá muito gelado! Um vento encanado nos atinge por trás. Opa! Jesus me não me abane!
Jogo sonolento, com o Al Ahly sem competência pra empatar e o Monterrey dormindo. Opa, contra ataque do Monterrey. Vem da esquerda. Aqui  na nossa frente. Bola pro meio. Tocou na saída do goleiro. É o 9, Delgado. Gol! Os mexicanos vão á loucura na geral. Ao lado deles já há uma boa concentração de gente de azul. A pequena torcida do Chelsea tá ali. Do lado oposto, a Gaviões ilhou os poucos torcedores do Al Ahly. O pequeno circulo da torcida egipcia já foi posto de lado e garanto que não tarda a ser engolido pela nossa maior organizada.
Papo vai, frio vem, o brasileiro que engoliu um rádio segue falando mais que bêbado na praça. E o juiz apita. Fim de jogo e o Monterrey vibra com seu terceiro lugar. Tô feliz pelos mexicanos. O estádio está tomado por nossa torcida. A gaviões engoliu a torcida do Al Ahly como um buraco negro engole um planeta. Já era. Os gritos de guerra do timão não param. E o repertório é diverso.
Pronto. Times da decisão de terceiro já se foram.
Minha nossa senhora, daqui a pouco começa. Queria poder ligar pros amigos no Brasil. Mesmo sendo de madrugada, queria contar a emoção que tô sentindo. Mas meu celular, sei lá por obra de qual magia eletrônica, não funciona em terras do sol nascente.
Olha só quem chegou: Afonso, o mestre Jedi, dá as caras pra ver o jogo com a gente. Não sei como nos achou neste mar de gente. A fiel manda em Yokohama. Imagino a surpresa dos locutores e da imprensa em geral com esta invasão. Já havíamos invadido o Maracanã em 76, mas estávamos a 400 e poucos quilometros de casa. Aqui é o Japão. Estamos a 19 mil...eu disse 19 mil quilômetros away from home. Porra, onde vamos parar? Da próxima vez vamos invadir a lua? Uhu!
O nipo-brasileiro destrambelhado grava a invasão corinthiana com o celular. Ele intima que todos nós mandemos recados para os que ele chama de “antis” e “paga paus”, nossos adversários mais íntimos em São Paulo. Uma vez. Duas vezes. Chega uma hora que não temos mais nada a dizer diante da tensão e da insistência descabida e descontrolada do discurso dele. Um de seus amigos manda ele calar a boca. Adney já estava medindo o cara pra pô-lo pra dormir. Que cara insuportável.
Opa. Vai começar. Os jogadores devem estar no túnel. Tema musical. Cerimonial. Bandeira do timão na frente. Bandeira do inimigo atrás.Times em campo. Capitães na frente. O goleiro deles usa capacete. As crianças japinhas de mãos dadas com os jogadores usam amarelo e vermelho. Nosso time tá de branco sob o agasalho preto e eles de azul, de manga de camisa. Inglês tá acostumado com frio. Olha o Davi Luis. Ele deu uma entrevista dizendo que é corinthiano. Entrega uma pra noise aeh, mano! Fabio Santos faz um carinho na taça ao passar por ela.
“Vamô, vamô Corinthians, esta noite...teremos que ganhar!”.
Olhos naufragando. Nenhum de nós crê estar aqui. A gente se abraça. Estamos todos de pé. O coração bate desenfreado. (Pai, pai, tô aqui. Vamos ganhar. Vamos ganhar.)
 Jorge Henrique tá escalado no lugar de Douglas. O capitão deles apresenta os vagabundos pro Blatter e mais uns pica paus, entre eles Mario Gobbi, nosso presidente e uma japa que deve ser da família real. Morram! Menos o Mario Gobbi, claro!
Opa, chegou a vez do Alessandro apresentar nossa gang...Paulo André... Cassio... Paulinho... Chicão...Guerrero... Ralf... Jorge Henrique... Danilo... Fabio Santos... Emerson Sheik... Não tem hino.
Trio de arbitragem turco. Timão ataca pro nosso lado neste primeiro tempo. Vamos ver a rede balançar bem de pertinho. E logo. Deus ajude! São Jorge, me acuda!
68 mil ingressos foram postos à venda, alguém me informa. Se vendeu tudo – e eu não sei onde cabe mais gente viva aqui – temos pelo menos 50 mil Corinthianos. 40 mil? 35 mil? Ok! É o Pacaembu. Tamos em casa.
“Corinthians...Corinthians minha vida...Corinthians, minha história...Corinthians meu amor”
Jogadores se abraçam em campo, cada time do seu lado. Timão demora  mais. É a concentração final. No telão está escrito “Moment of Hope”. Não é hora de usar meias hope, meu amigo e sim um momento de esperança. Esperança de título. Vamos pro jogo! Saída deles.
00’09. Os caras de azul no ataque...fazem 1, 2...tocando a bola, mas o Chicão tira...serão longos 90 minutos...ressaca não sinto mais...to em pé, andando de um lado pro outro, como um pinguim engessado...
00’28. Tá rolando um bate-rebate...tipo um jogo de tênis...Chicão, chuta, eles rebatem
00’37. Tomamos a bola...calma...vamo noise...Fábio Santos...Emerson...a bola saiu...que frio desgraçado.
01’01. Lateral...os caras mandam a bola pra direita... saiu pela linha de fundo...O povo no Brasil deve esta elétrico...não sei bem o que fazer...Vai Corinthians!!
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
01’31. O canto da torcida roda o estádio como uma holla...os japinhas de azul aqui perto olham pra gente com cara de espanto...arregalar os olhos eles não conseguem...Tiro de meta...Cassio manda pra frente...Paulinho...Alessandro...os caras roubam a bola.
01’45. Eles pela esquerda...Chicão põe pra fora...eles batem pra trás...até o goleiro que usa capacete...Dá-lhe Capacete!
02’10. Capacete sai da área e chuta...chegou no Cássio... Cássio Queixada...tá rolando uma espécie de gol a gol entre Capacete e Queixada...
02’38. Falta no Fabio Santos...Jogo amarrado...temos que desamarrar...temos que ganhar...nem pensar em prorrogação e penalties... Bola na área, nas mãos do Capacete...dizem que ele usa esta proteção por que prometeu pra mãe...Pode ser pra cobrir os chifres tb...voltaram a bola pra ele e ele chuta de novo...pingue-pongue...
03’29. Falta deles no ataque...Quanto tempo falta pra acabar? Vou enlouquecer hoje. Opa, Ralf no chão...Inglês animal!
04.12. Paulinho na esquerda...matou...Fabio Santos...Emerson...Danilo...para Paulinho...Ramires tira...
04’44. Lateral... Fabio Santos...Danilo...a zaga deles tira...Fabio Santos para Danilo...de calcanhar...Fabio Santos na área...para Paulinho... Ai, Jesus!... Vai meter na rede...Filha da puta de Ramires que tira na hora “h”...Vi a bola lá dentro...bem aqui, nas minhas barbas...um bom soco na cadeira pra acalmar...quase quebro a mão...
05’06. Matamos um contra ataque deles...Tamo chegando...Emerson pelo meio...Tabelou com Guerrero...Lá vai... Davi Luiz tira...tocou na frente... trombada com Alessandro...falta pra eles...Jogo parado...
06’04. Ataque deles... Jorge Henrique tira... falta do Guerrero...
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
06’56. Eles em cima da gente...cruzamento da direita...Jorge Henrique tira... Graças a Deus
07’21. Olha o perna de pau do zagueiro deles... errou e deixou a bola sair... inglês sabe é de rock...de bola sabemos nós...
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
08’05. Paulinho mete bola para Emerson... a maldita zaga azul tira... bola esticada...Cássio, digo, Queixada!
08’33. Bate-rebate no circulo central, parece uma roda de bobinho...
08’48. Tomamos a bola...vamô...Fabio Santos puxa o contra ataque... passe de merda para Emerson...a zaga sai com ela... a Torcida não pára...
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
09’28. Óia eles aeh...bola pra franga loira espanhola, Fernando Torres...Com a mão...e aeh...caiu...chutou...na zaga...outro chute...escanteio pros caras...
09’54. Escanteio batido...Chicão erra...a bola sobra... ai minha Nossa Senhora...chute à queima roupa de dentro da pequena área... fudeu, fudeu... Queixada pega...a bola engancha debaixo dele... mas não entra. Não entra! Quase me esmerdeio todo!
10’35. Outro ataque deles...tiramos...lateral nossa...deu falta do Emerson... Que é que há, juiz? Ramirez bate.. Deve ser namorado do Juiz...
12’17. Eles no ataque... bola na ponta esquerda... dominou... voltou pro meio... mandou pra frente...fora...
13’17. Emerson pegou o cara no circulo central...falta!
14’00. Ramires erra passe...Tiro de meta...
14’40. Ralf perdeu a bola no meio...socorro... recuperamos!
15’50. Guerrero recupera a bola no meio... esqueceu a bola...Toma remédio pra memória, porra! A bola tá com o Capacete...
16’47. Olha eles se cagando...entregaram a bola pro Emerson... vamô... entrou na área...tá se ajeitando pra bater... pra meter o gol... Davi Luiz entra na frente e a bola sai... Emerson nem chutou, porra!
18’04. Cruzamento na nossa área... Alessandro tira... agora é contra ataque... é agora!
18’12. Danilo na esquerda... Jorge Henrique no meio... bateu..Capacete pegou fácil, aqui na minha frente... quero ver um gol do timão...  Não sei se a torcida do Chelsea tem grito de guerra... aqui só se houve a nossa torcida...
“Timão, ê, ô... Timão, ê, ô... Timão, ê, ô...”
19’16. Jorge Henrique cai de maduro... Lá vem estes azuis de merda... o 17 é malandrão... quis meter no meio das pernas do Ralf...aqui não, violão!
19’27. Emerson pra Paulinho...bateu...subiu! Demos uma equilibrada, mas não tivemos uma chance cara a cara como aquela que eles tiveram...Isso é sinal que ainda vamos ter... Meu copo nunca está meio vazio! Vamos ganhar, porra!
“Timão, ê, ô... Timão, ê, ô... Timão, ê, ô...”
20’12. Pegaram o Paulinho no meio... o juiz não dá nada... Lá vem eles... o 10 azul tá na área...a gente tira...
20’30. O cara de azul dribla na entrada da área... levou o Chicão que fez falta...ai minha nossa senhora... a um passo da grande área...
21’32. Quem bate é esta ave pernalta de cabelos esculhambados chamada Davi Luiz que disse que é Corinthiano...chuta pra fora, então! Bateu na barreira! Chupa!
21’43. Contra ataque... Emerson pra Jorge Henrique...pra Emerson... Drible da vaca, Jesus! Davi Luiz faz a cobertura e toma a bola...não to gostando deste cara!
22’00. Lateral... Jorge Henrique... saiu
22’15. Close de Davi Luis no telão...tá rindo de quê...tirou o Guerrero...tu vai encontrar o seu, malandrão...
22’43. Paulinho cruza...zagueiro recua tranquilamente para Capacete...
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
23’42. Ataque nosso na direita...Jorge Henrique...erra...O desgraçado do Davi Luiz tira mais uma...porra, vamos matar este cara!
23’51. Óia os caras na direita...bateu na zaga...Rebote...o cara quer ser o Garrincha e levar dois...se fudeu!...Tiro de meta!
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
25’00. Fabio Santos troca passes na lateral esquerda...a zaga deles tira...
25’11. Lateral da área, esquerda do nosso ataque...Guerrero meteu no meio das pernas do zagueiro deles...Jesus me abane!...Vamonoise! Foi pra área...caiu...penalty...sim ou não...o Juiz não deu...Hey, Juiz, vai tomar no cu!
26’15. Negão azul na direita...cruzou...errou de novo...O cara é uma mistura de Ataliba com Wagner Love...
27’27. Trama deles pela ponta esquerda...cruzamento passou...No telão, close do Rafa Benites, técnico destes babacas de azul...É irmão do Nigel Mansell...E olha lá, a franga loira espanhola, Fernanda Torres...
28’19. Guerrero de cabeça no meio... tirou o zagueiro... que jogada...meteu pro Emerson atrás da zaga... vai fazer... tem que fazer...faz, desgraçado... chutou...  por cima...Não, não, não!
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
29’20. Tabela deles pela esquerda...Tiramos... o Juiz atrapalha, mal colocado...sai da filho duma putinha suja!
29’33. Passe errado... lá vem eles... bola na direita... lá vai o Ataliba Love... lateral...
30’36. Erramos o chutão... Lá vem Ramires... tá no chão... cobraram rápido... Franga Loira em ação... não pega... linha de fundo!A proveita e retoca a maquiagem, menina!
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
32’06. Alessandro mete uma bicuda pra fora... uhu!!!
32’28. Bola atravessada na nossa área... passou por todo mundo... lá vai o Ataliba Love...Tira Paulo André, porra!
33’29. Paulinho na ponta direita... Danilo... lateral...
33’58. Bola no peito do Guerrero na entrada da área deles... Trombou... virou... chutou uma... travado... chutou de novo... enviezado... bola passando na boca do gol... Lá vem Emerson...sem ângulo
...cruza...cruza...chuta... e vai fora...acho que ainda triscou na trave...
34’43. Erro na nossa saída de bola... a Franga Loira pega e chuta no Chicão...
“Timão, ô, ô... Timão,ô, ô... Timão, ô, ô...”
37’06. Bola nas costas da nossa zaga...franga loira em ação...matou... um toque, dois, toques... dentro da área... fudeu... chutou... Queixada segura mais uma... puta que pariu...
38’17. Alessandro bate lateral na nossa frente... bem ali, ó!
38’43. Toca, toca... toca, porra! Danilo...Jorge Henrique... Fabio Santos... é agora... bico pro gol...na zaga...
38’53. Ataque deles... pela esquerda... na área...Ai... Ataliba... olhou...mediu... colocou no canto...Queixada vai buscar no cantinho...mão trocada...Queixada pegou! Eu vou morrer, meu Deus!!!
39’25. Escanteio...tira Queixada de soco...mamãe!
39’22. Davi Luiz e Guerrero enrolados... Guerrero pega bola com a mão... falta do Guerrero que fica no chão... Juiz corno desgraçado! Guerrero sai de campo...
40’11.Cruzamento dos caras...ajeitou...vai chutar de fora da área...Queixada!
42’35. Noise... Jorge Henrique cruza... tira a zaga... escanteio pro Timão...
43’04. Batido... saiu... Emerson... falta!
“Timão, ô, ô... Timão,ô, ô... Timão, ô, ô...”
44’43.Davi pernalta chuta da defesa... Fabio Santos sobe de cabeça... uma “menina” inglesa fica estatelada no chão, estrebuchando... vai parir... nem falta foi... Juiz manda jogar mais 1 minuto.
45’32. Franga loira protege a bola na lateral... toma encoxada...se emociona... se apaixona... e a bola sai...
45’59. Apita o desgraçado!Acabou a primeira etapa de sofrimento...
Intervalo. 10 graus de friaca no telao. O que fazer meu Deus? Mais 15 minutos até o recomeço da batalha. A batalha final. Eu não vou sair daqui. Os caras foram fumar, claro! Gente...gente...vcs se deram conta do que o Cássio fez neste primeiro tempo? Ele pegou pelo menos duas bolas impossíveis. Eu disse:I-M-P-O-S-S-I-V-E-I-S! Meu Deus! Poderíamos estar perdendo. Ai, ai, ai!
Opa! Olha só quem surge, passeando pelo estádio: Black Rodrigo. Ele me conta eufórico que assistiu ao primeiro tempo dentro do coração da Gaviões, atrás do gol do Capacete.
- Paulão...Aquele policial japa fortinho tava lá...o povo acendeu o sinalizador e ele estava tentando apagar...Na primeira vez que tentou tomar o sinalizador da galera, jogaram ele de volta e arrancaram seus sapatos...Eu pensei que ia fechar o tempo, mas ele deu a volta e veio de mansinho pelo outro lado...Aí como quem não quer nada, pulou e pegou o sinalizador...Se a polícia brasileira fosse assim nossa vida seria melhor....
- Cada povo tem a polícia que merece, vagabundo...eh,eh,eh – filosofei
Lá se foi ele de novo. Curioso é que o estádio está lotado e ainda assim dá pra circular, ir ao banheiro, comer alguma coisa. Bem, comer tá complicado, pois as filas, dizem, estão enormes. Eu vou sair daqui? Nunca! Só saio com a taça
Opa, Chelsea de volta. Passaram os 15 minutos? Não deu nem tempo de destrancar o furuvió! Cade o Timão? W.O. não, porra! Sabem o que dizer WO? Há quem diga que é Win Out, ou seja, vencedor por ausencia. Na Wikipedia tá escrito que é Walk Over, vitória  fácil, ou seja, quando uma equipe está impossibilitada de competir. Sei lá! Isso é coisa deles, os ingleses. Que, aliás, já estão postados... Gritaria no ar. Somos nós voltando! Danilo, Guerrero, Jorge Henrique, Emerson. Timão voltando. Cassio esta do nosso lado do campo de novo, como no primeiro jogo. Aqui não vai entrar nada. Se vier bola a gente assopra pra longe! Aguenta coração! Times sem alterações. Vamô, pelamordeDeus! Prorrogação? Penaties? Não! Saída nossa!
00’21. Bola na frente... Guerrero... a zaga toma... (vamos tomar uma? A ressaca se foi!)
01’20. Eles cruzam bola na nossa área... nossa zaga tira...
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
01’29. Lateral esquerda nossa... falta no Danilo...
02’06. Lateral deles. Porra, o tempo não passa! Acho que vou dar óbito de tanto nervoso. Andando de um lado pro outro. Adney me cutuca e aponta um japinha a uns 10 metros da gente, á nossa esquerda, com camisa do Chelsea. Com aquele jeitinho meio emo dos japas. Adney diz que vai pegar o cara. Começo a me ligar no no Nacional Kid tb.
02’19. Vamo Emerson... nada
02’34.  A gente troca passes do lado esquerdo do ataque... Lateral...
03’15.  Emerson no chão... Falta... mas o cuzão do juiz deu a falta pra eles... A regra é clara: todo juiz tem que morrer!
03’39. Danilo pra Guerrero na esquerda... Davi Luiz vem com suas ferraduras... o juiz não dá nada...esta ave pernalta faz o que quer e o juiz deixa...V-e-a-d-o!
03.52. Emerson divide forte com Davi Luiz na lateral... mas só tá dando esta garça descabelada na zaga do Chelsea, porra!
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
04’40. Capacete manda chutão para o ataque deles... Tiramos... Danilo divide... Ataliba ficou com ela...
05’40. Bola indo para nossa linha de fundo... proteção tranquila do capitão Alessandro... um segundo de tranquilidade... opa, se atrapalhou... o azul roubou...bola cruzada... ai minha santa Maria... vai chutar... chuta na zaga... Não dá uma dessa Alessandro, caraio!
06’05. Emerson pra Danilo... pra Emerson... cai... falta nossa...
06’46. Paulinho... Jorge... Frente para o gol... tá longe... chute... tira a zaga
07’18. Cruzamento por baixo na área deles... passa sem ninguém chegar...
07’34. Lá vem eles no contra ataque, Jesus!! Bola pra franga loira... impedido... o bandeira não marca nada... na nossa frente... filho duma que ronca e fuça! Tem que morrer! Deficiente mental, visual, chifrudo!
08’00.  Paulinho na raça para Guerrero...devolve pro Paulinho... agora vai... não foi!
08’14. Lá vem eles... bola enfiada na esquerda... o cara entrou... sai, sai, sai do gol, Cássio... chutou... Queixada salva mais uma...
09’16. Emerson... Danilo... Emerson... limpou... bateu na defesa...
09’31. Ataque dos caras... o santo e amado bandeirinha, figura admirável e querida no futebol,  marca o impedimento...ufa!
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
10’30. Olha o Platini no telão. Boquinha de chupar uva! Jorge Henrique quebra um deles no circulo central e leva amarelo... Tá certo!
11’32. Bola no peito da franga loira... na área... ai... ai... ai... se cagou!
12’19. Falta no Jorge Henrique no meio de campo... nem quinze minutos ainda... assim vc me mata!
13.31. Guerrero levou dois... como joga este peruano, porra... entrou na área... errou... escanteio...
13’55. Bateu Jorge... a zaga tira... outro escanteio...
14’24. Danilo tira... bola na esquerda mal passada para Fabio Santos... tiro de meta pro Capacete cobrar...
15’57. Jorge na direita... pra Paulinho na área... ai... entrou... e... e... roubou a zaga... Alessandro cruza de novo... A garça pernalta tira...
16’13. Bate e rebate... Chicão com a bola quase no meio de campo... um toque... dois toques... meteu pro Paulinho... adivihem quem tirou?
Aquele brasileiro falador voltou a discursar. O japinha folgado com a camisa do Chelsea é o único a gritar o nome do time aqui na região onde estamos... Ele olha pro nosso lado toda vez que o Timão perde a bola... é pessoal... vou colar o brinco dele antes do Adney...
16’50. Chicão cruza... tira a zaga...o japinha me olha e ri... vai morrer... lá vem eles... Fabio Santos toma a frente do Ataliba...vamonoise de novo... Guerrero na esquerda...para Emerson... de calcanhar... Guerrero... na área... cruzou...chutou... tira a zaga... escanteio... é agora... A torcida fica louca... gritaria do caraio...
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
17’44. Bateu o Emerson... tira a porra da merda da puta que pariu da defesa deles...
18.04. Jorge Henrique cruza... tamos em cima... Guerrero, no peito... estádio fervendo... Paulinho... Paulinho... vai...vai... vaaaiii... pra fora!
19’11. Toque de bola refinado aqui na nossa cara, lateral esquerda... Danilo e Fabio Santos trocam passes rente á linha... que tranquilidade... os caras estão serenos...com nervos no lugar... fazendo o que tem que ser feito... a bola vai de pé em pé até a direita com Alessandro... Boas sensações no ar!
21’00. Cruzamento da direita na nossa área... Sobe Chicão e tira... Jorge Henrique cai... bola deles...
21’24. Franga loira na direita... Danilo em cima... cutuca e toma a bola... o beija flor espanhol deu um passo de balé...Parece um cisne loiro... saimos trocando bola rente à linha de novo... com classe!
23’02. Ralf para Guerrero na esquerda... lá vai... parou... Danilo... para Ralf... chutou na defesa... sobra com Emerson na direita... cruza...defesa tira
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
23’27. Alessandro toca mais atrás para Chicão...
23’29. Chicão com a bola no meio de campo... lança á meia altura na direção da área...
23’30. Para Paulinho, que dá um toque de letra, de costas para o gol, na direção de Jorge Henrique...
23’31. Jorge é baixinho... será que pega? Ele se estica...
23’32. Jorge Henrique devolve com a pontinha do ultimo fio de cabelo para Paulinho...
23’33. Agora Paulinho tá de frente pro gol, entrando em diagonal na área... preparando o chute de esquerda... tira um...Vai...
23’34. Tira dois...vai... vai bater... a bola foge um pouco do controle...
23’35. Danilo vem ao encontro de Paulinho... pega a bola...
23’36. Danilo corta para o meio da área...angulo aberto...dois zagueiros e o goleiro á sua frente... vai bater pro gol de direita...
23’37. Danilo chuta...
23’38. A bola bate no zagueiro e sobe em direção á pequena área...
23’39. Dois zagueiros do Chelsea sobre a linha de gol... Davi Luiz um passo á frente deles... bola flutuando sobre a área em direção ao homem de branco com a camisa 9.. .o Peruano, camisa branca, número 9...ele olha para a bola... Davi Luiz olha para a bola... o estádio olha para a bola...o peruano camisa branca número 9 olha para a bola... a bola flutua sobre a área do Chelsea. Está a pouco mais de um metro da linha do gol...Paolo, o Guerrero, olha para a bola á sua frente...

(Quarta feira, 6 de março de 1968 – São Paulo, Estádio do Pacaembu, Campeonato paulista, quebra do tabu no qual o Corinthians não vencia o Santos em Campeonatos Paulistas havia 11 anos, Corinthians 0 X 0 Santos: 13 minutos do segundo tempo – Narração Fiori Gigliotti)

“ ...zero a zero, Corinthians e Santos no Pacaembu... prepara-se Joel, correu, balão subindo, descendo... bola que fica para Paulo Borges... faz o passe rasteiro para Flávio, devolve para Paulo Borges, vai descendo o moço que veio de Bangu, ajeitou, chutou.... gooooooooollll!
Paulo Borges... tiro comprido, de pé esquerdo, recebendo de Flávio... Claudio saltou, nada pode fazer... Bola na caçapa santista... estremece o Pacaembu com o delírio da torcida Corinthiana... o tempo passa: 13 minutos e meio, Paulo Borges, número 8, um para o Corinthians, zero para o Santos no Pacaembu...”

...Guerrero corre em direção da bola...

( Domingo, 5 de dezembro de 1976 – Rio de janeiro, Estádio do Maracanã, semifinal do campeonato brasileiro, Fluminense 1 x 0 Corinthians: 29 minutos, 1º tempo – escanteio na esquerda para o Corinthians – narração Osmar Santos)

“...capricha aí, garoto, que o placar não é teu... autorizado o menino... levantou pra boca da botija... subiu Geraldo de cabeça...
pro gol...
‘ih quih’ gol!
Ruço, beijinho doce!
Olha só a festa do Maracanã, festa do povo, alegria do povo, é isso aí, Ruço. Coringão empatando a partida. O maior espetáculo da Terra...feito da simplicidade...do sorriso...da explosão e do amor... amor por vc, Corinthians...amor pelo seu futebol, pela sua camisa, pelo seu passado e pelo seu distintivo... o amor fala mais alto no Maracanã... Um turbilhão de emoção no Rio...uma festa indescritível...estão tremulando, tremulando, tremulando as bandeiras do Corinthians no Maracanã... Ruço, Ruço, bom de bola o garoto...”

...Guerrero começa a sair do chão...

(Quinta feira, 13 de outubro de 1977 – São Paulo, Estádio do Morumbi, 3º jogo da final do Campeonato Paulista, Corinthians 0 X 0 Ponte Preta: 36 minutos, 2º tempo – falta do lado direito para o Corinthians – narração Osmar Santos)

“...eu faço fé nesta cabecinha, garotão Zé Maria. Autorizado, vai chover na boca da botija, barreira com dois homens. Correndo pro pedaço o garotão Zé Maria...confusão na boca do gol, tentou Basilio de cabeça, tentou, bateu na trave, de cabeça Wladimir, no zagueiro, tentou Basílio pro gol...
‘Ih, quih gol!’
Coringão na frente...
Vc enche de lágrimas os olhos desse povo...vc enche de felicidade o coração dessa gente...Corinthians, o grito sufocado de um povo... Basilio pro pedaço...Basilio, 37 minutos do segundo tempo...Doce mistério da vida esse Corinthians...inexplicável Corinthians...”

...Guerrero se ajeita para cabecear...

(Domingo, 16 de dezembro de 1990 – São Paulo, Estádio do Morumbi, 2º jogo da final do Campeonato Brasileiro, São Paulo 0 X 0 Corinthians: 9 minutos do 2º tempo – Narração Osmar Santos)

“...olha o Coringão, Tupã, escapa, mete bola para a ponta direita para Fabinho...Recolheu Fabinho, tentou o corte pelo miolo, deu sorte, arrumou na boca da botija pra Tupã... Na área, um pra lá, dois pra cá, tiroliro-lá, tiroliro-li, na boca do gol...
‘Ih quih gol!’
Do timão! Tupã...É do Timão! O Corinthians vai, na raça, na vacilada da zaga do São Paulo, coringão chega lá...1 a 0...Corinthians sai na frente...É do Timão...Tupãzinho abre o placar no Morumbi...”

... o estádio...  p-a-r-a-l-i-z-a-d-o...

(Sexta feira, 7 de janeiro de 2000 – São Paulo, Estádio do Morumbi, Grupo A, 1º Mundial Interclubes da Fifa, Real Madri 1 X 1 Corinthians: 19 minutos do 2º tempo – Narração Luciano do Vale)

“O Corinthians sai perigosamente jogando, tocando, mas deu certo...Ricardinho... Olha a abertura aqui no costado do Roberto Carlos... Edilson... o jogo é eletrizante aqui no Morumbi. Lá vai Edilson... passou pelo Karembeu... bateu...
goooolaço do Edilson!
Meteu entre as canetas... botou entre as pernas do Karembeu! E aí ele disse: eu sou Edilson, o capeta!”

...o matador se prepara para realizar seu ofício...

( Quarta feira, 4 de julho de 2012 – São Paulo, Estádio do Pacaembu, segundo jogo da final da Taça Libertadores da América 2012, Corinthians 0 X 0 Boca Juniors: 8 minutos do 2º tempo – Narração Deva Pascovicci)

“... sete minutos e quarenta e quatro, mais uma bola parada para a equipe Corinthiana...O Riquelme pede para a defesa sair... todo mundo na marca do pênalti... partiu lançamento, bola para a área... tocou de cabeça Jorge, vem Danilo, vem Alex, se enroscou, tocou de calcanhar...Emerson... cara a cara, cara a cara, cara a cara....
Gooooool!!!
Um chute e o gol...e o passo para ultrapassar a última fronteira que falta...o gol pra conquistar, quem sabe, a América e depois... o mundo...”


23’39. Guerrero de cabeça é gol!É gol! Gol! Gol! Gol! Gol! Gol! Gol! Gol!

Loucura... Berros estéricos... Abraços gerais... Adney, Jorginho, Afonso... Quem tá perto... Até o nipobrasileiro falador... Até o vendedor de cerveja... Até este cara de armadura, com uma lança enfiada na garganta deste dragão azul... Até Nossa Senhora de Aparecida... Jesus Cristo... Gol do Corinthians! Paolo Guerrero!
O empresário do rapper americano chamado“G”, o rastafari “Young”, abaixa as calças e corre pelo anel superior atrás das cadeiras onde estamos, gritando feito um débil mental... Com a bunda de fora... o japinha provocador olha pra nós de boca aberta sem crer na eletricidade corinthiana que contagia a todos...
- Chupa minha rola alvi negra flamejante, japinha da casa do caralho! Não tem pro Imperador e nem pra Rainha! Aqui é Corinthians, porra!
G-u-e-r-r-e-r-o!
Timão 1 a 0. Fudeu! Seremos Bi!
Faltam 20 minutos. Meu Deus
25’13. Recomeça... E ai Davi Luiz: parou de rir por quê? Chupa!
25’14. Ainda não acabou? Acaba, porra!
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
25’59. Emerson se estica... recupera a bola
26’23. Emerson costura... Davi Luiz retoma...
26’49. Emerson no chão... Oscar vai entrar no Chelsea...  sairá Ataliba
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
27’47. Danilo na esquerda... toca para Fabio Santos... bate-rebate... linha de fundo
28’47. Capacete manda chutão pra frente... franga loira ajeita... lá vem... Franga... lá vai ela... pra fora... na nossa barba! Aqui bem na frente! E o Japinha provocador solta seu “uh”...”Uh” é aqui...”Uh”, my eggs!
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
30’00. Falta no Ralf... o brasijapa tá falando mais que quando chegou... se isso não for cocaína, eu não sei o que é!
30’26. Tamo tocando...  Paulo André põe fora...
30’58. Bola pra Guerrero na esquerda... E o Brasil? Como estará a quadra da Gaviões? O Parque São Jorge... São Jorge tá sentado aqui do meu lado, dando uma gravata no dragão azul! Aperta mais Jojó!!! (Jojó é São Jorge!)
31’23. Alessando lançado no ataque...  bola perdida...não existe bola perdida pro nosso capitão... divide uma... divide duas...ganhou... tá na área... tira a zaga...o cara é foda!!!
“Vamô...Vamô Corinthians...esta noite...teremos que ganhar!”
32’44. Bico de Fabio Santos na lateral levanta a fiel. Somos maioria física e vibratória no estádio internacional de Yokohama! 70 mil, 80 mil? 150 mil? 30 minhões.. sofrendo...vibrando... Vai Corinthias!
34’14. Não sei se olho pro jogo, se ajoelho e rezo ou se urro o nome do meu time na orelha daquele japinha chiliquento ali... Cruzamento...Chicão tira... de novo... Chicão tira!
35’50. Paulinho luta pela bola... lateral deles...
36’39. Alessandro só acompanha... São Jorge mostra sua mão esquerda tremendo...a direita está dando uma gravata no dragão azul!
“Timão, ô, ô... Timão,ô, ô... Timão, ô, ô...”
37’16. Entra um espanhol no time deles...Piriguete...Heim? É Azpilicueta? Vai ser Piriguete mesmo!
37’50. Ramires faz falta no meio e tem chilique...chupa!
39’04. Eles cruzam... defesa tira...Vamos ganhar!!!!!
39.28. Franga loira ganha na corrida de Fabio Santos... para...puxa a bola... tiramos
39’40. Vem Martínez no timão... Da-lhe Argentino...no fim é sempre aquele disputa entre Europa e América do sul... Tamos juntos, hermanos!
39’57. Lateral batido na área do timão...  tocou em Alessandro... São Jorge, me salve... a bola sobra livre para a Franga Loira, cara a cara com Queixada... na nossa frente... Chuta...  Cássio pega com a perna direita... Milagre! São Jorge solta o Dragão e a lança e aplaude. Tem outro santo no campo fazendo milagres...C-á-s-s-i-o!! São Queixada!
40’23. Opa...Ramires e Paulo André se estranham numa dividida! Este Ramires é bem encrenqueiro...
40’45. Entra mais um no Chelsea...e saiu Guerrero pro Martínes entrar...
41’42. Davi Luiz desfila frondoso lá atrás...o Chelsea é todo ataque...
42’11. Cruzamento na nossa área... São Queixada pega!
“Timão, ô, ô... Timão,ô, ô... Timão, ô, ô...”
43’14. Ave pernalta lança a bola na nossa área... o cara tá sozinho... a zaga tira...
44’00. Epa... vai terminar... vamos ser campeões deste interclubes 2012... bi campeões interclubes da Fifa... Emerson caído no circulo central... deram uma pegada nele... vermelho pro zagueiro azul... chupa! Jogo parado para atendimento do Emerson... o idiota do nipo brasileiro ameaça gritar “é campeão”...
- Espera acabar, filho da puta! – Eu
- Cala aboca senão eu te mato – Adney
45’43. Entrou Wallace no lugar do Emerson... Mais 4 minutos de tempo adicional... Eu...vou...morrer! Vamos nos segurar lá atrás... São Jorge levantou e está pra lá e pra cá sem soltar a garganta do Dragão que vcs sabem: é azul!
46’00. Martínes dribla dentro da área. Vai gringo! Ramires tira!
46’10. Bola na direita para franga loira... cruza uma vez... volta... cruza de novo, para o outro lado da área... Tira Wallace... volta preles... o tempo não passa... Ajuda São Jorge! São Jorge faz sinal de paciência! Tá doidão tb.
46’29. Oscar mete bola na área... Queixada sai... Fernando Torres antecipa de cabeça...na marca do penalty...a bola tá entrando...não...não...não! O Japinha provocador grita gol. A bola entra! A bandeira do auxiliar está erguida. Franga loira comemora. Não valeu. Santo bandeirinha que eu amo e respeito. Adoro!
-  Fuck you, Japa Gay, son of a Bitch...Suck my eggs!
O Japinha olha pra nós e desvia o olhar, naquela onda de “te desprezo, ogro!”
A franga loira estava impedida. Não valeu o gol destes azuis de merda!
- Se sair gol deles vc morre - eu, pro brasileiro papagaio
Meu Deus...o que falta acontecer? Gol a estas alturas? Não podemos tomar! Desce lá São Jorge!
47’25. Jorge Henrique no meio... falta pra eles... acaba!!!
47’45. Piriguete na direita... passou por Danilo... caiu... Nada!  Acaba, juiz desgraçado!
48’01. Martínes para Paulinho... Abriu Jorge Henrique... contra três... vamô... Lateral deles...ACABA!
48’32. Impedimento deles. Te amo bandeirinha! Acaba, juiz!A-C-A-B-A!
“Bi-campeão... Bi-campeão... Bi-campeão... Bi-campeão... Bi-campeão...”
48’40. Tiro de meta...o povo pula...
“Bi-campeão... Bi-campeão... Bi-campeão... Bi-campeão... Bi-campeão...”
49’14. Bola no ataque deles...esta merda já acabou...o cara passou pelo Fabio Santos... aqui na nossa frente... passou pelo Cássio... Meu Deus... Paulo André no pé da trave... São Jorge ao seu lado! Vicente Matheus ao lado de São Jorge! Oswaldo Brandão! Tobias, Ronaldo Giovannelli, Dida, Gilmar dos Santos Neves, Sócrates, Casão, Palhinha, Marcelinho, Tevez... Rivelino! Todo mundo em cima da linha! O cara tá sem ângulo...ele chuta...na “t-r-a-v-e”! Eu disse “trave”!
49’28 Tiro de meta...
A-C-A-B-O-U!  A-C-A-B-O-U!  A-C-A-B-O-U!
“Bi-campeão... Bi-campeão... Bi-campeão... Bi-campeão... Bi-campeão...”
Somos bi-campeões do mundo no Japão! A camisa do meu pai está nas minhas mãos. As lágrimas em todos os nossos olhos corinthianos. Abraços a todos. Obrigado senhor por poder viver o momento em que meu time conquista o mundo numa terra distante e diferente como esta...contra tudo e contra todos...alô secadores...sequem my eggs!
“Bi-campeão... Bi-campeão... Bi-campeão... Bi-campeão... Bi-campeão...”
Alguns torcedores do Chelsea passam à minha frente e do Adney...É hora!
- Hey, Chelsea...my eggs! Hey, Chelsea...my eggs!
Após muita festa com direito a ver a cara de bunda mole do Rafa Benitez e da franga loira no telão, troféus para Guerrero, Davi ave pernalta e Cássio, que foi o melhor do jogo tb. Troféus pros nossos amigos mexicanos do Monterrey. Medalhinha pro Chelsea! Troféu pro Tite. Simbora!
“Bi-campeão... Bi-campeão... Bi-campeão... Bi-campeão... Bi-campeão...”
Na descida em direção á saída, um grito de guerra me arranca gargalhadas.
“Um, dois, três, São Caetano inglês! - Um, dois, três, São Caetano inglês!”
Encontro no largo da FIFA coalhado de bi-campeões do mundo! A cada um que chega os abraços e os gritos de bi-campeão se somam. Mas não é algo eufórico. É um grito cansado, de quem venceu uma batalha sangrenta e cansativa. Uma batalha que começou nos jogos do Pacaembu, pela Libertadores. Uma luta que atravessou continentes e oceanos. E demorou mais de cem anos para ser vencida! Sofrimento e amor pelo nosso Corinthians!
Antes de voltar para o hotel, Rivelino, o cozinheiro “cordato”,  sentencia:
- Não vamos parar no caminho.Vamos tomar banho no hotel e depois sair pra comemorar!
Assim seja, sua majestade!
Dentro do ônibus, luz apagada e silencio surpreendente. Soldados extenuados recuperam as forças.
-          É verdade? É verdade? Ganhamos? Ganhamos mesmo?
-          Ganhamos, porra – o povo responde!
No hotel, corpos sem mais um pingo de energia se arrastam para seus mocós. Rivelino vai sair sozinho. Agora podemos descansar. Agora somos donos do Japão. E do mundo! Nunca vamos esquecer destes dias!