segunda-feira, 20 de abril de 2009

Viva a merda!

Poderia ser um feriado prolongado, mas tenho que ir pro SBT. Dex reclamou que eu cheguei tarde e não cumpri minha promessa de horário. É assim. Quando chego no bar quero morar lá. Sorry. Mas nem demorei tanto assim. 


To na privada lendo as conseqüências do jogo de ontem.E me surpreendo ao ver que no Estadão ninguém escreve a palavra merda. Eles grafam apenas o M seguido de reticências. Mas todo mundo viu e ouviu, ao vivo, depois do jogo, o Ronaldo falar a palavra "Merda". Só que agora ele disse apenas "m...". Gente, qual o problema de publicar esta palavra tão conhecida e tão inerente ao ser humano? Merda todo mundo faz. Inclusive na privada. O que deveríamos falar no lugar, então? Cocô? Fezes? Detrito? Excremento? Nada disso é merda. Merda é merda. Aquilo que sai pelu cu, resultado da digestão de tudo que a gente come. Opa, cu tb não pode falar. Orifício anal, então. Ah, vai se foder! Epa, isso tb não pode. Que tal "introduza seu pênis no seu próprio ânus"? Ah, aí pode. Até nisso a sociedade é hipócrita. Todo mundo fala esta porra de palavra todo dia. E se não fala, pensa! Que merda!

Bem, simbora pro trampo. Sai de casa dez e meia. Antes disso, meu xará zelador do condomínio pediu que eu colocasse o lixo pra fora, pois apesar do dia correto do recolhimento ser amanhã, trata-se de um feriado e ele, claro, não vai dar as caras no trampo. E nem eu. Mas hoje temos que baixar a cabeça aos feitores capitalistas. Beleza. Pus o lixo na calçada e zarpei pro SBT. 

Esta onda de feriado prolongado esvaziou a cidade e cheguei á sede da emissora em vinte e poucos minutos. Ta todo mundo com a camisa do timão. A bambizada ta de canto e os porcos em silencio. Que coisa linda. Entrei na sala e cumprimentei Tom a Brigadeiro chamado-os de "Corinthians". Abraços e sorrisos, alguns rosnados dos derrotados do fim de semana e a vida segue. Regina "rainha" é sãopaulina e ta de tromba. Vou respeitar a dor real. Só hoje. Quarta feira tem chumbo grosso. Eh,eh,eh! 

Gosto muito da Regina e sei o que é perder prum rival. Isso passa, querida. Só não passa a lembrança de ter estado na segundona.

Respondi as coisas todas e fui almoçar. Voltei e pensei em escrever pra vcs, mas dona Aninha da edição do Astros me convoca a assistir o que já foi editado do malfadado pgm 57. Chamei Tom pra ir junto. Assistimos á demência toda, anotando comentários. Beleza. Mais de quatro horas e hoje não tem Band. Lá emendaram o feriado. Santo canal pornô. Voltei pra casa pra dar um bode e aguardar a hora do ensaio, nove da noite no Roy. Hum, to com uma sede.

Bem, amanhã é aniversário do meu sogro, Seu Ricardo. Parece que vai rolar uma festa surpresa aqui. Eu estarei ausente, pois temos ensaio também amanhã ás duas da tarde. É gente! Pensam que é só subir no palco e mandar ver. A gente deixa de conviver e curtir um monte de coisas por conta do rock e das Velhas. E quer saber: vale á pena.

Vou jantar mais daquele frango congelado com sorvete e me mandar. E, com este tipo de dieta, o resultado só pode ser bombástico. Da-lhe peido, meu irmão!

Epa, opa! Naquela bebelança de importadas de sexta feira eu trouxe um lanchinho pra casa: uma strong ale inglesa chama Hen's Tooth. Que tal temperar o trajeto até o covil do Roy com uns goles desta maravilha cevada? Seu desejo é uma ordem, Paulão. Aí, pra consumar o clima de cornidão, dei play no I-Pod e entrou Benito di Paula:

"E não precisa me perdoar, basta me compreender e me deixar ficar". 

Eh, acho que tenho complexo de corno mesmo. Como eu gosto destas músicas mela cueca que falam de amor, aqueles refrões chorosos. Sou fã do Benito di Paula. E daí? Ele vai tocando aquele piano percutido como um tamborim e eu me vejo num piano bar muito escuro e esfumaçado, tipo aquele que tem no andar de cima do Brahma, na esquina da Ipiranga com a São João. Aí, meu velho, é só ir mandando descer: primeiro, pra abrir, um chopp cremoso, com três dedos de colarinho. Uma cachacinha, pra temperar. Terminando a cachaça, vai bem uma caipirinha de vodka. Tenho tesão na cor verde (argh) deste drink. Acho que é a única coisa verde que eu amo. Aí, se o paladar estiver bom, uma porção de pastéis de carne. Forrei? Então uma tequila sunrise, com algumas gotas de limão. Ta na hora de pedir mais um chopp e uma música pro pianista: "As time goes by". O choppinho ta demais, então desce mais outro. Hum, que tal uma cubinha pra mudar o gosto da boca? É o quê? Claro, rum prata. Tequila? Prata tb. Tudo prata, não gosto destas versões amarelas mais amargas das bebidas. 

É verdade: eu não gosto de whisky. Bebo por questões profissionais, mas não gosto. Se tiver que escolher, que seja um Red Label com red Bull. Não tem? Hum. Pode ser com guaraná. Igual á Elis: 

"Eu ontem me embriagando de whisky com guaraná, ouvi sua voz murmurando são dois pra lá, dois pra cá". 

Porra entrou Trio Los Panchos e meu bar virou um estabelecimento mexicano. Chapelões, xales, burritos e muita tequina com limão e sal. As canções mexicanas são de deixar inchados os cotovelos. Acho que é por isso que os chicanos são tão gentis com os brasileiros. Somos muito parecidos nesta tristeza insistente, nesta passionalidade, nesta nostalgia hereditária. Olha só.

Tu me acostumbraste
Tu me acostumbraste
a todas esas cosas,
y tú me enseñaste
que son maravillosas.
Sutil llegaste a mi como una tentación
llenando de ansiedad mi corazón.
Yo no comprendía cómo se quería
en tu mundo raro y por ti aprendí.
Por eso me pregunto al ver que me olvidaste
porque no me enseñaste como se vive sin ti.

E desce Hen's Tooth, meu velho. É bem verdade que o cenário ideal préssa cerveja seria um pub londrino. Rolando Stones ao fundo, Back Street Girl. A galera falando alto, mulheres branquelas, um exército de couro e jeans. Todo mundo com seu pint na mão, tomando cerveja não muito gelada. Camden Town. Saudades de Londres.

Bem, back to Brasil. Ensaio em andamento. Começamos com "Aonde é que esse velho vai", um punk divertido contando as peripécias de um velhote beberrão e mulherengo. Qualquer semelhança comigo não é mera coicindencia. Na verdade, é um exercício para imaginar como estaria minha vida após os 60.

"É na sinuca, é no buteco, é no balcão de bar, é no baile, é no xaveco, este velho é de lascar".

Ficamos andando em círculos tentando adaptar um riff de guitarra do Roy à canção. Mais de quarenta minutos. Em determinado momento, quando a coisa já estava absolutamente encruada, Tuca sugeriu que tocássemos a canção sem riff, pra tentar achar outro caminho. Este cara é muito lúcido, ás vezes. Foi batata! Tocamos a canção de forma desencanada e surgiram idéias e até um riff novo criado pelo Roy, absolutamente Bad Religion, Green Day. Inventamos um breque pra destacar o tal riff e a coisa ficou ótima. Esta Roy Carlini é o cão! Desmemoriado, esfumaçado, engraçado. Mas que puta guitarrista nós trouxemos pra banda. Já falei pra vcs que ao terminar o show ele sai perguntando pro resto do time "já falei que amo vcs hoje?". É o cara! Arrumamos um irmão mais novo.

Passamos pruma canção que eu amo e que temo que se não ficar legal seja limada. É "A Balada do Adney Narigudo", onde descrevo uma carona que este corretor de Seguros do SBT me deu um dia. Foi assim: entrei no carro e notei uma esbórnia alcoólica, com uma latinha de sminoff ice no console. Ele tava preocupado por que tinha metido o pé na jaca. Mudado de bar, trocado de mulher. Em primeira mão vou transcrever a letra aqui:

A Balada do Adney Narigudo
Em meio ao happy hour da moçada
a napa avantajada do homem se destaca
Parece até barbatana de tubarão
Eis que em meio ao dia que amanhece
o vagabundo me reconhece e oferece carona
Não há como dizer que não
No console do carro do sujeito jaz uma lata de sminoff ice
No painel do carro do canalha há um toca fitas que não se faz mais
e seus olhos vermelhos denunciam a bebedeira explícita da noite passada
Whisky e putaria, trocou de mina, trocou de bar
a sensação definitiva de que a noite nunca vai acabar
e a pergunta: será que meu caso não tem solução, paulão!
você beijou macho na boca ? não!
deu a bunda ou chupou rola ? não!
então tá tudo bem!
se não matou nem roubou também
não fez nada de errado, não fez mal a ninguém
hoje é sexta feira e daqui a pouco tem mais
daqui a pouco tem!!!

Como vcs podem ler, relatei estritamente o que aconteceu. E minha idéia préssa canção era uma coisa meio Audioslave, meio Led, com uma frase pesada se repetindo, umas levadas meio funk. Na verdade, quando começamos a tocar ficou mais pra Aerosmith ou quem sabe Living Colour. Porra, ficou demais. Todo mundo curtiu e acho que a música tem muita chance de entrar. Uau! Outro dia o Adney me perguntou se a canção ia entrar no disco e eu disse que estava entre as finalistas:

- Porra, Paulão. Pra onde tem que ligar? O que eu tenho que fazer pra música entrar? - perguntou o narigudo.

Eu disse que não era eleição pela Internet e nem SMS.

- Vamos ver como a canção fica – completei.

Ói, Mr. Nariz, tu tem grande chance de ter uma canção com seu nome no "Ninguém beija como as lésbicas".

Bem, passamos desta para "O amor é outra coisa". Esta é uma onda meio ZZ Top, meio John Lee Hooker. A guitarra fica marcando e eu vou recitando versos dizendo o que não é amor. De repente entra um clichê com a banda toda metendo a porrada. Depois volta pra coisa da guitarra mansinha. A música toda fica assim: peso, leveza, peso, leveza. Olha um trecho da letra:
"Amor não é uma coisa que te embrulha o estomago e deixa marcas por onde passa. O nome disso é diarréia. Amor não é uma coisa que você guarda lá dentro e não deixa ninguém tocar e nem ver. O nome disso é vibrador. Amor é outra coisa".

Foi inspirada num texto que recebi pela Internet. E ficou do caralho! Do grandississimo caralho. Por último fizemos uma que a gente acha que vai ser a maior farra ao vivo: "Filha da Puta", que pode até mudar de nome pra não confundir com a do Ultraje. É uma mistura de Clash com Muddy Waters. Pelo menos na minha cabeça. A gente vai xingar todo mundo, do vereador ao prefeito, do juiz de futebol á gente mesmo. Vai ser demais. Ela é longa, repetitiva, vai cromatizando de meio em meio tom. Só ouvindo. E chega de ensaio. Pensei em ir tomar uma, mas tô meio derrubado. Já não sou o garoto de antigamente. Porra, que frase de cuzão. 

Sou sim, só to com sono. Cheguei em casa, dei aquela esculhambanda na geladeira e sabe o que restou? Pão com maionese e salame. Que seja. Um pouco de tv. Babei no sofá. Acordei a Dex que dorme trancada pra abrir a porta do quarto. Roncos meus e cutucos delas. Virei de lado e o sono veio. 

Amanhã tem mais!