sexta-feira, 5 de junho de 2009

Daqui pra diante só lembro de flashes.

Despertador. Oito da manhã. Frio. Rotina de merda. Ela está de volta. E eu nem posso enrolar pra sair da cama. Tenho que aprontar a mala de viagem pros shows do fim de semana. Na verdade, são duas malas: uma com figurinos e outra com minhas coisas pessoais. Primeiro, jornal e merda. Chuveiro ligado pra aquecer o banheiro. Porra, o Kung Fu morreu. David Carrradine foi encontramo morto pelado dentro de um armário num hotel de Bangkock. Teria se enforcado. Porra. Passei parte da minha infância e juventude o vendo fazer papel de chinês naquele seriado da TV. Ultimamente o Tarantino tinha ressuscitado o cara. Que puta morte estranha. Bem, ele era muito estranho.


Olha aí, sexta feira de óbitos. A dama do blues, Koko Taylor, morreu quarta feira aos oitenta anos. Porra, vi esta mulher ao vivo naquele festival de blues que rolou no Ginásio do Ibirapuera em fins dos anos 80 em Sampa. Grande cantora. Grande personalidade.

E mais um morto, o torcedor do timão que foi a vítima fatal do enfrentamento entre vaxcainos e corinthianos na noite do jogo. Olha só se não é coisa de bandido. No jogo de ida um corinthiano foi morto no Rio. Na volta alguma facção da torcida do Timão preparou uma emboscada pros ônibus da torcida do Vaxco. Eis que os vascaínos são amigos da torcida do porco e, prevendo a situação, pediram ajuda aos parceiros paulistanos. A torcida do Corinthians teria tentado abordar o último dos ônibus da caravana carioca. Porcos e bacalhaus perceberam e começou uma luta campal de paus e pedras que terminou com o massacre a um corinthiano que, segundo o irmão mais velho, palmeirense, diga-se de passagem, desfiguraram o cara. A polícia fazia escolta aos vaxcainos mas não pode impedir a batalha dos selvagens. Isso tudo poucas horas antes do jogo do Pacaembu. O que isso tem a ver com futebol? Me diga!

Depois da partida os corinthianos, ao saber da morte do alvi-negro, atearam fogo a um ônibus da torcida do time carioca. Que merda! Lamentável. Usar camisa do seu time pode ser sua sentença de morte, meu velho. Pense nisso. Triste!

Este jornal ta dando pano pra manga hoje. Pra aliviar este clima pesado, olha só a explicação do Tutty Vasquez pra lentidão do Ronaldo no Pacaembu contra o bacalhau carioca: "com um baú em cada ombro, ele só poderia ficar lento mesmo". Uma alusão ao patrocínio do Grupo SS. Na camisa do timão. Boa Tutty.

Well, pra água. Ok, pra toalha. Certo, pra dentro da roupa. Ta bom, arrumar a mala. São seis figurinos: pirata, samba-canção com joelheira e camiseta, padre, homem lindo, mago, roupão. Chapéus, gaitas, tênis, botas, sacos plásticos pra roupa molhada. Tudo dentro. Minha mala pessoal com o de sempre. Sem esquecer de levar minhas caixinhas de som que serão plugadas no I-Pod pra ter uma trilha sonora no quarto após o show. Isso é fundamental. O resto é roupa, chinelo, tênis, toalha, boné, óculos escuros, carregador de celular, livro. Pronto.

To suado, mesmo com o frio. Dex quer que eu abaixe o banco do carro dela para que ela possa devolver a mesa e as quatro cadeiras que a Dona Lívia nos emprestou ainda no réveillon. Mais suor. Ela faz um capuccino. Legal ela estar aqui de manhã. São as benditas férias. Quando voltar ao trabalho ela vai acordar e sair antes de mim. E não tem mais capuccino. É difícil ser um casal empregado e se encontrar em dias modernos, sabia? Beijos. Fui.

To atrasado. Claro. SBT. Dou uma olhada nos e-mails. Quando vejo já é quase meio dia. Vou pra ilha de edição. Os caras me levam prum outro lugar onde agora todos os programas em edição no SBT estão á disposição de quem precisar assisti-los, gente como eu, roteiristas. O lugar chama-se coerentemente "Assiste". Olho as imagens do Astros ingestadas dentro da rede de computadores do SBT. Fila da seleção feita em Curitiba. Tenho que escrever um texto destacando as pessoas bonitas que se inscreveram. Curitiba tem mesmo uma galera ajeitada. Separo imagens de rostos legais. Deu uma hora. Tom me liga perguntando se vou almoçar com o povo. Vou. Fui. Eu, ele, Pri e Marcão. Lá encontramos André e Fê. Tava no jornal de manhã e eu esqueci de comentar que o Astros, diz o caderno 2, iria acabar dando espaço praquele programa onde a tal de Susan Boyle virou celebridade, que é um Astros com variedades, quase um show de calouros moderno. Fê ta tensa, sem saber o que vai rolar. Eu tb to um pouco. Se houver esta mudança, quem irá dirigir o novo programa? E o que será de nós trabalhadores do Astros? Seremos reaproveitados? E o resto da galera da produção? Estes boatos e "vais e vens" são comuns em TV. Já passei por milhares de ondas de fofocas dando conta do fim de determinado programa e a estréia de outro. O negócio é deixar rolar e ver o que acontece.

Se sair daqui, vou prali. Já andei falando com várias pessoas, que não sou menino. Tenho muitos amigos e algum prestigio aqui. Nada que me dê garantias absolutas, mas sempre com bóas chances. São vinte e três anos de janela, mano. E se der merda, vamos á luta. Tem a banda. Tem a Band. E tem minha força de trabalho. Eu sou eu, Nicuri é o diabo!

Ocimar, diretor do finado "Olha Vc", passa por mim e diz preu ficar tranqüilo.

- 100% tranqüilo – segundo ele

Hum. Que seja. Ele é um dos diretores potenciais do novo programa. O outro é o próprio diretor do Astros, Ricardo.

Vejo mais imagens. Volto pra produção e escrevo o tal roteiro do VT sobre as pessoas bonitas de Curitiba. Sobre este charme discreto de suas meninas coradas e de pele clara. Amo Curitiba! Mesmo!

Numa das andanças de corredor encontro Ricardo e confirmo com ele que coerentemente, pelo menos até segunda ordem, é ele quem vai dirigir esta nova atração que tem um formato parecido com o do Astros. Ele diz que conta comigo. Pode contar. Tamo junto.

Fui pra Band um pouco mais tranqüilo. Aproveito e mando um torpedo pra Fê, dando conta das boas novas que devem manter as coisas como estão. Carona pro Tom e pro Brigadeiro até o estacionamento de baixo. Agora sim, Band.

Ta rolando a gravação da Núbia. E eu to acertando as coisas na internet. Pensei em adiantar pautas da semana que vem. Mas não. Vou jantar com o Fernando e depois pro ensaio. Que promete estar pegando fogo. Banas disse que vai lá e provavelmente os e-mails trocados durante o dia serão motivo de conversa e polêmica. Espero, mesmo, que tudo fique bem. Estes caras são meus amigos. Esta banda é minha vida.

Jantar!
Área.

Chego á casa do Roy e ta tudo calmo. Cumprimento todos, todos sorriem e subimos pra fazer o som. A gripe ainda debilita minha garganta e preciso me poupar, pois tem dois shows pela frente no fim de semana. Primeiro Ju passa a música dela, "Cu de bêbado não tem dono". Depois ela passa o dueto com o Roy. Agora é minha vez. Faltam seis canções. A coisa flui com uma rapidez espantosa. Pouco mais de onze da noite e terminamos a parada. Em dois dias passamos as dezesseis canções.

Nada de conversas definitivas, nada de Banas que não veio, nada de nada. Ao final Cavalo faz um comentário dando conta de que leu meu e-mail. Ele diz que eu escrevi que ele tem estado nervoso (usei a palavra amargo) e promete curtir mais a produção do novo cd. Entendo isso como "ta tudo certo, vamos em frente". Ligo pra Dex que ta promovendo um fondue lá em casa pras amigas. Ela me diz que tem bastante vinho e que apenas Carlota e Ana Paula estão lá. Rita alegou diarréia pra não aparecer. Boa. Convido a todos pra beber vinho e comer fondue lá em casa. Tamos a caminho, eu Cavalo e Ju. Tuca ta de moto e diz que vai tb. Simon vai dormir.

Cerca de meia noite meu carro aporta em frente á casa oito do Residencial Bougainville. Tem mais quorum que Dex havia mencionado. Bio e Márcia, amiga das baladas e dos tempos de Brasília, tb chegaram. Cool. Dex ta meio chapadinha de vinho. Ela fica linda chapada. Ela fica linda até dentro de um tonel de merda. Começo a entrar na garrafa de vinho. Cavalo não bebe. Juju dá umas bicadas. As meninas seguem bebendo vinho, notadamente Carlota que é chapada de nascimento. Bio tb bebe. O fondue é revitalizado. A casa ta um puteiro. Zoneada mesmo. Dex vai ter que se virar pra arrumar tudo amanhã. Mas a esta hora eu, Cavalo e Ju estaremos no busão a caminho de Londrina.

Desce vinho. Resolvo checar a lareira que Dex, aparentemente, estreou hoje. O fogo apagou. Eu vou acender novamente, porra.

Lenha, papel. Fósforo. Sou ridicularizado por todos que dizem que não é assim que se acende lareira. Gente! Gente! Nunca tive lareira na vida. To aprendendo. Me deixa me divertir, caralho. Rodragg chegou e tamos juntos no vinho. A lareira não é uma churrasqueira. Não ta fácil de pegar. No fim, Dex me mostra uma pedra acendedora que faz o serviço e o fogo pega. To sentado ao lado da lareira que começa a fazer um foguinho de nada. Algumas pessoas estão indo embora. Mais de duas da manhã. Carlota ta sem voz e quando fala desafina pra caralho. Ta engraçado. Ela vai dar carona pro Cavalo e pra Ju que vão dormir na Gabaju. Tuca ficou de me pegar de táxi lá pelas quinze pras sete, novo horário de saída. Aliás, ele ficou de vir pro fondue e deu um perdido. Chantageio Carlota pra que fique mais um pouquinho e beba uma taça de vinho do porto. Ela topa. Bio tb vai nessa. Lareira começando a criptar. Márcia mora do outro lado da cidade mas resiste ao convite de Dex pra dormir aqui. Paulona tb quer ir. Escondo a chave. As pessoas reclamam. Devolvo a chave. To bebendo a última garrafa de vinho com Rodragg.

Foi todo mundo embora exceto meus cunhados Rodragg e Bio. Rodrigo pega o violão e eu o baixolão do Tuca e começamos uma jam embriagadésima no meio da madruga. Bio deita-se no sofá e vai apagando. Dex ta dando indícios de que vai começar a pegar no pé pela barulheira noturna. Eu e Rodragg seguimos fazendo um som. Passa das quatro da manhã. Não sei mais se vale á pena ir dormir. Dex acha que vale e vai. Eu e Rodrigo no internamos na minha salinha de som atrás da lavanderia. Eu to breaco. Bem breaco. Muito breaco. O vinho acabou e estamos, faz algum tempo, nas brejas importadas. Foi Leffe, foi Stella Artrois, foi Lowenbrau. Daqui pra diante só lembro de flashes.

Dex espanca a porta da lavanderia reclamando que eu estou gritando e tocando som muito alto. Bio ta apagada no sofá da sala. Porra, Dex ta reclamando de novo. A gente discute. Não me pergunte o teor. Tuca toca o telefone, o porteiro toca o interfone e eu e Rodragg, chapados, estamos trancados na salinha dos vinis e som e nada ouvimos. Dex levanta puta da vida pela milésima vez e... E acho que tô no táxi com Tuca. Acho que paramos pra pegar o Banas. Acho que tamos na Gabaju. O busão ainda não chegou. Acho. Acho que eu e Roy estamos na padoca da esquina tomando Heinikens. Acho que estou fora de controle. Acho que to no busão. Acho que, antes de entrar, gritei uma pá de palavrões pra vizinha da Gabaju que reclama de nosso barulho embriagado. Acho que o Cavalo ficou puto com minha absoluta e total embriagues de sábado cedo.

Acho que a cada dois segundos eu grito: "eu sooooou Corinthians". Acho que Cavalo não me suporta mais e vai pra frente do ônibus. Acho que, quase oito da manhã, eu vou dormir.