Hoje eu não vou trabalhar. Não vou. Não adianta insistir. Não vou e acabou. Heim? É isso. Não vou trabalhar, caralho. Não vou. Inclua-me fora desta. Eu não vou e pronto. Vou dormir. Curar minha ressaca na horizontal, abraçado no cobertor e no travesseiro, nesta manhã fria de outono.
EU NÃO VOU TRABALHAR, VAI TOMAR NO CU TODO MUNDO. NÃO VOU!
Ok, tô no trono. Lá embaixo Dona Rosa, a faxineira, faz o trabalho dela. Tô lembrando da minha agonia pela casa, mamado, ontem á noite. No passado, quando eu morava sozinho, ligava ou pro Fabio Brum em Campo Grande ou pro Gegê no Rio e ficava horas conversando sobre tudo. Era do caralho. Haja interurbano! Gegê casou e tá com filho pequeno. Aí não me arrisco a acorda-lo esta hora. Fabio Brum tá em sampa e quase sempre com celular desligado. Então, perdi meus terapeutas noturnos. Paciência!
Ainda cagando. Eu tô revirando o Estadão. Olha o que está na primeira página:
Afeganistão: mulheres contra a "lei do estupro"
Afegãs protestam contra nova lei do país que permite aos xiitas exigir sexo de suas mulheres; centenas de xiitas atacaram as manifestantes, aos gritos de 'cadelas".
Porra, caralho! Mas legalizar a cretinice não tem graça, né? A lei deveria ter um complemento que garante às mulheres o direito de negar. Fazer sexo à força é ruim demais. Porra, tem que ter pelo menos um tesão de parte a parte. Senão é uma merda. A diversão das Velhas Virgens, por exemplo, é dar uma sacaneada no comportamento feminino, mas com direito a manifestações em contrário e com humor. Não com violencia. O legal é usar o cinismo, a ironia, a desfaçatez. Nunca os músculos. Porra, afegãos xiitas: vão tomar no cu, caraio!
O chuveiro atenuou minha revolta contra violência destes imbecís e tb minha ressaca. Opa, já tô quase bom. Uma bronhazinha tb ajuda. Só faltou um café da máquina italiana do SBT e fico zerado.
Saiu uma notícia sobre a programação da Virada Cultural no caderno Metrópole e nos coloca entre as principais atrações do palco Toca Raul. Nenhuma citação no palco rock, mas é natural. Ninguém vai falar da gente duas vezes num jornal como o Estadão na mesma edição. Cool.
Separei as gaitas pra levar no ensaio de hoje. Talvez precise delas. Fabinho Haddad tb quer ir pra ver o que tá rolando. Ele deve ser nosso produtor. Já fez isso antes e é bródi.
Tô atrasadaço como sempre e o transito tá uma merda. Liguei pro Roberto Seixas e ele curtiu o convite. Beleza.
Tava entrando no prédio do SBT quando ouvi uma mocinha ao telefone dizendo que não sabia como pagar o favor de um cara. Minha mente demente e sem noção já imaginou o seguinte diálogo:
- Uma chupeta...
- O quê? - diria ela...
- Faz uma chupeta para pagar o favor. Uma chupetinha bem feita é ótimo. Se deixar gozar na boca, melhor ainda. De repente ainda rolam umas pintadas na cara. Eh,eh,eh!
A moça seguiu no telefone sem imaginar a cena que eu criei. Segui sorrindo. Coloquei os sessenta centavos na máquina carcamana e começaram aqueles ruídos que indicam que o capuccino está sendo preparado. Abaixei-me pra pegar a infusão e descobri que a máquina esqueceu de colocar o copo. O café caiu todo no ralo. E eu perdi sessenta centavos. É mole?
Entrei na sala reclamando. Fernanda se compadeceu e foi até a praça de alimentação buscar um café pra mim. Brigado, querida!
Será que vou conseguir passar o dia todo fugindo do trabalho? A ressaca tá me corroendo e preciso de um yakissoba pra rebater. E hoje é dia. Fui.
Vinte pra três. Não quero trabalhar!
Dos mil e-mails que recebo, recebi um de um grupo mostrando uma tatoo com símbolo do Timão nas costas de um cara. O problema é que Corinthians tá escrito sem o segundo "n". Tá errado. Como é que o cara ia ver: é nas costas. O tatuador tb é um idiota. Mas tem uns caras no grupo detonando o corinthiano, dizendo que é ignorante, otário, não sabe ler. Aturei uma, duas, mas na terceira piadinha disse que otário era o cu do cara que escreveu e perguntei em que ele era formado, chamando-o de cuzão. Tô esperando a resposta. Eu bem podia ter deixado passar, pois agora vai ser aquela troca de insultos intermináveis e vou acabar falando do oríficio vaginal da mãe do cara. E sempre vão aparecer aqueles que pedem pra ser excluídos de tão chula discussão.
Sabe qual é o problema: é são paulino, porco, santista, tudo quanto é torcedor, todos chamam corinthiano de ignorante, como se não tivesse gente das classes baixas nas outras torcidas. Fico puto com este preconceito do caralho. Toda torcida tem gente simples, de pouco estudo, sem grana. O Brasil tem muita gente assim, de todos os times. E não é porque temos eventualmente diplomas ou terminamos o colegial que somos melhores que estas pessoas. Mas os caras insistem em generalizar os torcedores do timão como bandidos e ignorantes. O cara do sequestro da Eloá estendeu uma camisa dos bambis na janela, lembram? Então. Que merda de papo! Chega!
Preciso ler uma pesquisa sobre a vida do Martinho da Vila que vai ser o convidado do pgm 002 do Você se Lembra? Let's go!
Vim pra Band babando no volante de sono. Tocou um Pink Floyd maravilhoso, "Confortably Numb", do The Wall. Porra... O David Gilmour toca uma guitarra inacreditável. A banda toda é fera. Teclado, batera. A voz do Gilmour é, pra mim, uma marca registrada das canções. Ok, muitas músicas tem a voz do Roger Waters tb. Os outros dois tb cantam. Mas o Roger Waters teria tudo pra ser o menos importante da band. Baixista, voz meio grave anasalada. Sabem por que ele é fundamental no Pink Floyd? Porque ele é o maluco. Ele, Roger Waters, é o visionário. É o cara que inventa as coisas, os enredos. Ele é o sujeito na banda que tem contas a acertar com a vida. Uma banda só vai pra frente se tiver alguém que parece querer questionar a criação, a sociedades, as instituições, Deus. Tem que ter um cara que vive inquieto, que não se conforma com o que o cerca, que entra em choque, que quer mudar o mundo. Este cara no Pink Floyd chama-se Roger Waters. Este é o cara!
E eu já escrevi a pauta da entrevista com a Vanessa de Oliveira, uma ex-garota de programa que ficou 5 anos "na vida", atendeu mais de 5 mil clientes e já escreveu 3 livros sobre este assunto mundano que é a prostituição. Uma onda parecida com a da tal de Bruna Surfistinha, saca? Aí armei todos os dez roteiros de gravação do Sex Daily, que só vai rolar dia 29. Mas já ta tudo no jeito. Preciso ir jantar e depois corro pro ensaio.
To comido. Saladinha, costelinha de poço, um steak empanado e já era. Tá um frio da porra, sabe?
Cruzei o segurança que é fã da banda e cola nos shows doidão. Tá todo sério, terno e gravata. De dia abaixamos a cabeça por que nós precisamos desta grana. Viva o Camisa de Vênus. Posso dizer que, exceto o Aldo Machado, sou amigo de todos os "Camisas" originais. Marcelo Nova e Robério Santana moram aqui em Sampa. Marcelo eu encontrei recentemente em Curitiba, no Hangar. O Robério eu falo por telefone de vez em quando, mora peto da Roosevelt. Karl Franz Hummel e Gustavo Müllen moram em Salvador e são grandes manos tb. Saudades de tomar várias com eles. Karl e Gustavo discutem tanto que vc acha que os caras vão se matar. É impressionantentemente engraçado. Certamente chegarei antes e verei o show deles na Virada Cultural. Depois rola o nosso. E não posso ir pra balada, senão não consigo atacar no palco do Raul às nove.
Tô conversando com o Marcelinho, assistente aqui do canal. Ele diz que apesar da Monica Mattos ter chupado pau de cavalo e cachorro, ele continua apaixonado por esta estrela pornô. Ela ta no ar agora, chupando o pau daquele maldito anão, filho da puta. A Monica Mattos é a maior vadia do universo, mas é linda. Não posso culpar o Marcelinho. Eu mesmo já me apaixonei por ela. Depois foi pela Tamiry Chiavari, que a gente carinhosamente chama de Tamiry "quervara". E tem a Julia Paes, ex- da Thammy. Uau! Uau! Que morena. Degustação visual, voyeurismo puro. Tudo aqui, no território livre da minha cabeça. Fui!
Ensaio em andamento na casa de Roy Carlini que vai tocar com o pai dele e o Tutti Frutti na abertura da Virada Cultural, sábado, dois de maio, às sete da noite. Tuca veio de alguma audiência e tá de terno e gravata. Cavalo pergunta se ele vai pregar. Roy tá com uma camisa do Camisa de Vênus e Simon... bem, Simon está sussa como sempre. Resolvemos começar tentando acertar a música que vai dar nome ao cd, "Ninguém Beija como as Lésbicas". Como eu já disse, Cavalo e eu fizemos versões diferentes para a letra. Passamos as duas acusticamente e resolvemos, a banda toda, aproveitar a parte central do jeito que eu fiz e o refrão do jeito que o Cavalo fez. Então, inicialmente, a coisa ficou meio Frankenstein. Foi difícil acertar a passagem da minha parte pra do Cavalo.
No fim começamos a achar o caminho pensando nela como "My Generation", do Who. A música tem algumas passagens, mudanças de clima, ficamos quase uma hora só nela, mas o resultado compensou. Primeiro inventamos um começo pesadão que depois foi pro meio e virou base pro solo. Aí deixamos uns breques pesados no começo com ataques de batera e guitarra e na hora da voz entrar, ficou meio jazzy, subindo pruma coisa mais shuffle'a'billy no refrão. Aí repete tudo de novo, vai pra essa parte pesada no solo, cai e fica um climinha, breca, volta pro refrão, repete e acaba. Porra, a letra é quilométrica, recitativa, preciso achar um jeito bom de "fala-la". Mas gostamos do resultado.
Passamos pra "Eu bebo pra esquecer" e esta já estava bem encaminhada. A levada é meio "House of rising sun", mas com uma abordagem meio chicana, meio mariacchi, saca. Pensamos inclusive em colocar um trumpete pra dar o ar latino de bordel. Tuca sugeriu que chamemos o trumpetista do "Trovadores de Bordel" pra tocar, tal o clima de puteiro mexicano. Cool.
Desta fomos pro terror da noite: "A Boca, a Buceta e a Bunda". Esta música foi feita toda em cima da frase do baixo que repete o nome da música, em cuja letra os três objetos do desejo masculino discutem para mostrar sua importancia na hora do sexo. Tentamos andar meio soul tipo (I told you i was trouble, da Amy Winehouse) mas não rolou. Tentamos ska, diminuimos a velocidade até ficar reggae, com as guitas no contratempo, mas tb não rolou. Passamos a canção inteira e conclui que não posso ficar repetindo o refrão todo o tempo, senão cansa. Hum! Pra mim a saída é pensar Creedence. Uma guita no contra, mas pesada e não ska. O baixo marcando as frases meio "Superstition" e uma batida reta e pesada. Bem, fica pra outro ensaio.
Passamos para "Esta mulher só quer viver na balada" e acertamos de prima. É um rock direto, meio com cara de anos 80, Ultraje, até Engenheiros do Hawai. Tentamos por uns breques e soar mais Ramones. Inserimos uma parte em que eu canto o refrão junto com a batera. Tudo clichê e tudo ficou ótimo. Passava de uma e meia da manhã e paramos.
Bye, bye Roy, que colocou seu pijama de flanela listrada e resolvemos tomar uma. Cavalo, Tuca e Simon vieram de metrô e voltamos todos no mesmo carro, o meu! O assunto era a porra da "Boca, Buceta e a Bunda" que todos adoramos como projeto e que não engrenou. Ainda. Tuca deixou a moto na Gabaju, onde eu teria que deixar Cavalo. Pensamos em tomar no Terra Nova, mas por ser muito perto da minha casa e do Tuca, criaria um problema: ou Cavalo e Simon não iriam ou eu teria que devolve-los a Santana na madruga. Decidimos, pois, tentar achar um local em Santana mesmo, de modo que todos pudessem beber. Bar do Justo. Tem uma porra de um pagode na mesma rua. E não há onde parar o carro.
Mais uma volta no quarteirão cheio travecos e garotos de programa pela calçada. Parei na Voluntários da Pátria. As guitas estão no porta-malas. Acorrentei a direção, como sempre faço. Coisa de velho. O Justo costumava ter chopp Itaipava, mas agora é Brahma. Vá lá! Desce quatro. Pedimos uma porção de churrasco aperitivo e Tuca emendou uma de amendoim. Viagra natural entende? Porra, depois de um ensaio cansativo, nada melhor que falar merda e tomar umas e outras no bar. Foram vários chopps. E tava bom! Acabou a porção de carne e pedimos frango à passarinho. Ao fundo havia um telão gigantesco passando um jogo da Libertadores: América do México e Defensor. Eta gente pra maltratar a bola.
Passava de duas da matina quando zarpamos. Deixei Simon na casa dele, depois rumei pra Gabaju e deixei os dois restantes. Tava frio e Tuca ia de moto: se fudeu! Ainda parei no posto pra botar alcool, já que estava no osso. Entrei em casa faltando vinte pras três. Me troquei, escovei os dentes desta vez e acordei Dex que agora deu de trancar a porta do quarto. Ela abriu e, como eu esperava, perguntou porque demorei. Expliquei a bebedeira de cerca de cinquenta minutos no Justo. Informei a hora (três da manhã). Ela tava quentinha sob as cobertas. Fiz minha prece e apaguei no meio.
Sorry, Jesus. Amanhã eu rezo direito.