Hum. Mais um dia. Já é sábado? Não. Bem, pelo menos é sexta. Simbora.
Fiz aquilo tudo que todo mundo faz no banheiro pela manhã. Coloquei uma camiseta branca e sobre ela a camiseta sem mangas que tem os dizeres: "Eu nunca vou te abandonar, porque eu te amo". E assim meu dia começou ótimo. Se bem me lembro, Dex me deu um beijo antes de sair, mas não pude reagir. Tava embalsamado.
Tô indo pra SBT e sabe o que tá tocando? Black Sabbath, com Ronny James Dio cantando "The Sign of the Southern Cross", do disco "The Mob Rules". Que belo som. Tô chacoalando a cabeça, claro. Eu amo metal. Depois do som do inferno, uma anjo chamado Paulinho da Viola tá dizendo assim: "o leme da minha vida, Deus é que faz governar". Ê São Paulinho da Viola, o que seria de nós sem ti? Agora entrou uma cidadã chamada Cremilda. Pulei, por hora. Amo a Cremilda, "Talco no salão", mas entrou "Journey to the center of eternity", com ninguém menos que Ozzy Osbourne. Mas uma vez é o inferno quem fala. E o Randhy Roads, Deus o tenha, debulhando na guitarra. Depois disso o que pode vir mais? Purple! Judas! Que dia, que dia!
A saída 18 do trevo do Jaraguá tá engarrafada e o acesso pro SBT foi fechado. Larga fazer retorno no km 24. Poderia fazer um retorno mandrake pelo rodoanel, mais perto, mas paga um real e vinte. Não pago, nem fudendo. Isso me lembra uma vez que estávamos num hotel, sei lá em que cidade, e roubei copos d'água mineral no busão pra não gastar um real no hotel.
- Quero economizar, Cavalo!
No fim da nossa estadia eu havia gastado mais de cem reais em whisky com energético. Com água é que não pode, mas com álcool, beleza!
Tô na empresa de Silvio Santos. Olha o carro dele ali, na vaga com seu nome. O homem tá gravando.
Já na minha mesa. E agora? Que é que eu faço? Ok, já respondi todas as coisas pras quais não sou pago. Mas já é hora do almoço e então, vamos comer.
Hum. Já voltei. Dez pras três. Sexta-feira. Eu...Eu...Eu é que não vou procurar trampo. Marcão, redator do Silvio e ex-roadie do Cazuza e do Renato Russo nos anos 80, mandou alguém dar o cu pra quem tem tempo pelo telefone, bem aqui ao meu lado.
Sete pras três. Amanhã é sabadão e eu preciso pensar no meu figurino pro show do Raul. Seis pras três. Hum! E agora?
Segunda-feira poderia ser uma ponte no meio do feriado. Mas temos trampo aqui. Gravaremos Astros segunda e terça, então segunda estarei aqui sob a chibata do capitalismo televisivo. Mas antes disso, tem sábado e domingo. Então, pensemos em coisas boas, como feijuca, cervejas, Frangó, Empório Laura Aguiar, Terra Nova, Munique Chopperia, Timão ganhando dos Bambis, far niente. É isso. Fui cagar! Não fui. Tom pediu preu ler as perguntas que ele sugeriu para fazermos pra Benedita da Silva por conta do programa com Martinho da Vila. Li, sugeri algumas, mandei de volta e agora vou cagar. Não fui. Tocou o fone e meu irmão acabou de ver que vamos tocar na Virada Cultural e quer saber os horários. Ele pensou que seria este fim de semana. Expliquei que é no primeiro fim de semana de maio. Três e treze. Desliguei. Agora vou cagar. Toca o telefone de novo. É o Magrão, diretor do Programa do Silvio Santos e meu ex-diretor. Ele tá procurando os redatores do programa dele, Marcão e André, mas os dois já se mandaram. Eles todos estavam envolvidos na gravação do Seo Silvio hoje.
E neste programa, acaba a gravação, todo mundo desaparece. Às vezes o Silvio chama alguns pra bater papo no camarim. É algo bem arriscado ficar tão perto do chefão. Melhor sumir. Três e quinze. O Magrão quer bater papo. E eu quero cagar. Desliguei. Agora eu vou, porra! Gê, o tio da Dex que trabalha aqui, passou no corredor e deu tchau. Não entre, não entre. Preciso cagar. Ele passou batido. É agora.
To aqui cagando. Lá fora do reservado, pés entram e saem do banheiro. Um corno soltou uma bufa estrondosa. Será que vai feder? Eu soltei um peido silencioso. Este vai feder! Impressionante como a gente não se incomoda com o cheiro do nosso próprio peido. Pode ser o mais catinguento, o mais podre, que é até gostoso. Mas se for o peido de outrem, aí fodeu.
Voltei pra sala. Três e trinta e oito. Vim pra cá com uma idéia de letra fervendo na cabeça. Olha aí.
Todo vocalista é viadinho
(Paulo de Carvalho)
Baixistas são silenciosos, calados e observadores
Cachaceiros discretos, xavequeiros pacientes
Baixistas andam com passos leves
e sabem controlar o volume das suas vozes
estão sempre precisando de uma camisinha
e quando resolvem beber, o fazem com maestria
é assim que se faz um som
estrada, muita amizade e pouco dom
duas bandas e um cu juntinho
mas todo vocalista é viadinho
Guitarristas são exibidos e só vêem o próprio umbigo
Metrosexuais não assumidos, egoístas divertidos
Guitarristas são barulhentos e mentirosos
Quando o assunto é volume ou órgãos genitais
Estão sempre perdendo palhetas e chaves
E vomitam no fim da noite, mas nunca dormem sozinhos
é assim que se faz um som
estrada, muita amizade e pouco dom
duas bandas e um cu juntinho
mas todo vocalista é viadinho
bateristas são leais, bons de copo e de porrada
não se importam em ficar com as feias
não se importam em não ficar com ninguém
sempre têm uma ponta ou um copo de whisky
bateristas vivem atrasados e dormem na sarjeta
e passam dias e dias com a mesma camiseta
é assim que se faz um som
estrada, muita amizade e pouco dom
duas bandas e um cu juntinho
mas todo vocalista é viadinho
teclado, gaita, percussa, é tudo acessório
sax, back vocal, metais, é tudo ilusório
só roadies são fundamentais
bebida e buceta nunca é demais
Antes que alguém pergunte se a letra é autobiográfica, quero dizer que não sou vocalista. Nem viado. Sou compositor. Eh,eh,eh. Mas se fosse não seria da conta de ninguém. Minha pátria é a felicidade e minha religião é a liberdade. Quinze e cinquenta e nove. Fui Pra Band.
O computador caiu no chão. E são apenas três aqui no Sex Prive, sendo que um é só pra edição. Logo, ta uma fila pior que Lan House pra usar. E sendo eu redator, que posso fazer neste local sem um computador? Nada. Absolutamente nada! Então estou planejando uma ida estratégica e imediata a um bar. Beber, cair e levantar! Nénão?
E falando em viado, quando eu tava deixando as dependências do SBT encontrei um amigo que era hetero, aparentemente. Eu o encontrei há uns 5 anos e ele tava totalmente viado, desmunhecado, uma bicha deslumbrada. Agora, pelo que pude perceber, ele continua beliscando o azulejo, mas ta mais contido. Um viadinho sem penas voando em volta. Vcs que são viados ou conhecem melhor este ramo de atividade, me digam: é assim mesmo? Primeiro vem o desmunhecamento desesparado. Aí, com o tempo, o furor fica só no cu e a pessoa se contém?
- Com que direito o CET interdita uma via sem pedir autorização ou informar aos moradores?
Ele ficou meio puto, eu engatei a primeira e fui mais pra perto da barreira de cones, insistindo que dava pra chegar á minha rua. Ele finalmente compreendeu e perguntou se eu me referia "áquela travessa sem saída ali?".