sexta-feira, 17 de abril de 2009

Todo vocalista é viadinho

Hum. Mais um dia. Já é sábado? Não. Bem, pelo menos é sexta. Simbora.

Fiz aquilo tudo que todo mundo faz no banheiro pela manhã. Coloquei uma camiseta branca e sobre ela a camiseta sem mangas que tem os dizeres: "Eu nunca vou te abandonar, porque eu te amo". E assim meu dia começou ótimo. Se bem me lembro, Dex me deu um beijo antes de sair, mas não pude reagir. Tava embalsamado.

Tô indo pra SBT e sabe o que tá tocando? Black Sabbath, com Ronny James Dio cantando "The Sign of the Southern Cross", do disco "The Mob Rules". Que belo som. Tô chacoalando a cabeça, claro. Eu amo metal. Depois do som do inferno, uma anjo chamado Paulinho da Viola tá dizendo assim: "o leme da minha vida, Deus é que faz governar". Ê São Paulinho da Viola, o que seria de nós sem ti? Agora entrou uma cidadã chamada Cremilda. Pulei, por hora. Amo a Cremilda, "Talco no salão", mas entrou "Journey to the center of eternity", com ninguém menos que Ozzy Osbourne. Mas uma vez é o inferno quem fala. E o Randhy Roads, Deus o tenha, debulhando na guitarra. Depois disso o que pode vir mais? Purple! Judas! Que dia, que dia!

A saída 18 do trevo do Jaraguá tá engarrafada e o acesso pro SBT foi fechado. Larga fazer retorno no km 24. Poderia fazer um retorno mandrake pelo rodoanel, mais perto, mas paga um real e vinte. Não pago, nem fudendo. Isso me lembra uma vez que estávamos num hotel, sei lá em que cidade, e roubei copos d'água mineral no busão pra não gastar um real no hotel.

- Quero economizar, Cavalo!

No fim da nossa estadia eu havia gastado mais de cem reais em whisky com energético. Com água é que não pode, mas com álcool, beleza!

Tô na empresa de Silvio Santos. Olha o carro dele ali, na vaga com seu nome. O homem tá gravando.

Já na minha mesa. E agora? Que é que eu faço? Ok, já respondi todas as coisas pras quais não sou pago. Mas já é hora do almoço e então, vamos comer.

Hum. Já voltei. Dez pras três. Sexta-feira. Eu...Eu...Eu é que não vou procurar trampo. Marcão, redator do Silvio e ex-roadie do Cazuza e do Renato Russo nos anos 80, mandou alguém dar o cu pra quem tem tempo pelo telefone, bem aqui ao meu lado.
Sete pras três. Amanhã é sabadão e eu preciso pensar no meu figurino pro show do Raul. Seis pras três. Hum! E agora?

Segunda-feira poderia ser uma ponte no meio do feriado. Mas temos trampo aqui. Gravaremos Astros segunda e terça, então segunda estarei aqui sob a chibata do capitalismo televisivo. Mas antes disso, tem sábado e domingo. Então, pensemos em coisas boas, como feijuca, cervejas, Frangó, Empório Laura Aguiar, Terra Nova, Munique Chopperia, Timão ganhando dos Bambis, far niente. É isso. Fui cagar! Não fui. Tom pediu preu ler as perguntas que ele sugeriu para fazermos pra Benedita da Silva por conta do programa com Martinho da Vila. Li, sugeri algumas, mandei de volta e agora vou cagar. Não fui. Tocou o fone e meu irmão acabou de ver que vamos tocar na Virada Cultural e quer saber os horários. Ele pensou que seria este fim de semana. Expliquei que é no primeiro fim de semana de maio. Três e treze. Desliguei. Agora vou cagar. Toca o telefone de novo. É o Magrão, diretor do Programa do Silvio Santos e meu ex-diretor. Ele tá procurando os redatores do programa dele, Marcão e André, mas os dois já se mandaram. Eles todos estavam envolvidos na gravação do Seo Silvio hoje.

E neste programa, acaba a gravação, todo mundo desaparece. Às vezes o Silvio chama alguns pra bater papo no camarim. É algo bem arriscado ficar tão perto do chefão. Melhor sumir. Três e quinze. O Magrão quer bater papo. E eu quero cagar. Desliguei. Agora eu vou, porra! Gê, o tio da Dex que trabalha aqui, passou no corredor e deu tchau. Não entre, não entre. Preciso cagar. Ele passou batido. É agora.

To aqui cagando. Lá fora do reservado, pés entram e saem do banheiro. Um corno soltou uma bufa estrondosa. Será que vai feder? Eu soltei um peido silencioso. Este vai feder! Impressionante como a gente não se incomoda com o cheiro do nosso próprio peido. Pode ser o mais catinguento, o mais podre, que é até gostoso. Mas se for o peido de outrem, aí fodeu.

Voltei pra sala. Três e trinta e oito. Vim pra cá com uma idéia de letra fervendo na cabeça. Olha aí.

Todo vocalista é viadinho
(Paulo de Carvalho)

Baixistas são silenciosos, calados e observadores
Cachaceiros discretos, xavequeiros pacientes
Baixistas andam com passos leves
e sabem controlar o volume das suas vozes
estão sempre precisando de uma camisinha
e quando resolvem beber, o fazem com maestria

é assim que se faz um som
estrada, muita amizade e pouco dom
duas bandas e um cu juntinho
mas todo vocalista é viadinho

Guitarristas são exibidos e só vêem o próprio umbigo
Metrosexuais não assumidos, egoístas divertidos
Guitarristas são barulhentos e mentirosos
Quando o assunto é volume ou órgãos genitais
Estão sempre perdendo palhetas e chaves
E vomitam no fim da noite, mas nunca dormem sozinhos

é assim que se faz um som
estrada, muita amizade e pouco dom
duas bandas e um cu juntinho
mas todo vocalista é viadinho

bateristas são leais, bons de copo e de porrada
não se importam em ficar com as feias
não se importam em não ficar com ninguém
sempre têm uma ponta ou um copo de whisky
bateristas vivem atrasados e dormem na sarjeta
e passam dias e dias com a mesma camiseta

é assim que se faz um som
estrada, muita amizade e pouco dom
duas bandas e um cu juntinho
mas todo vocalista é viadinho

teclado, gaita, percussa, é tudo acessório
sax, back vocal, metais, é tudo ilusório
só roadies são fundamentais
bebida e buceta nunca é demais

Antes que alguém pergunte se a letra é autobiográfica, quero dizer que não sou vocalista. Nem viado. Sou compositor. Eh,eh,eh. Mas se fosse não seria da conta de ninguém. Minha pátria é a felicidade e minha religião é a liberdade. Quinze e cinquenta e nove. Fui Pra Band.

O computador caiu no chão. E são apenas três aqui no Sex Prive, sendo que um é só pra edição. Logo, ta uma fila pior que Lan House pra usar. E sendo eu redator, que posso fazer neste local sem um computador? Nada. Absolutamente nada! Então estou planejando uma ida estratégica e imediata a um bar. Beber, cair e levantar! Nénão?

E falando em viado, quando eu tava deixando as dependências do SBT encontrei um amigo que era hetero, aparentemente. Eu o encontrei há uns 5 anos e ele tava totalmente viado, desmunhecado, uma bicha deslumbrada. Agora, pelo que pude perceber, ele continua beliscando o azulejo, mas ta mais contido. Um viadinho sem penas voando em volta. Vcs que são viados ou conhecem melhor este ramo de atividade, me digam: é assim mesmo? Primeiro vem o desmunhecamento desesparado. Aí, com o tempo, o furor fica só no cu e a pessoa se contém?

Ok, fui pro bar!

Ficamos bebendo lá no St Marche, mercado de rico, eu, Soninha, Fernando e Calazans, que ficou na Coca Zero. Nosostros tomamos brejas. Aproveitei uma geladeira do mercado e coloquei umas brejas da prateleira pra gelar: duas Colorados, uma tal de Justus Hildebrand que eu nunca havia visto e duas Leffes. Enquanto elas gelavam bebemos Harps irlandesas, uma Therezópolis, duas Quilmes e duas Brahmas Extras. Pra tirar gosto, mandei o cara fatiar duzentos gramas de mortadela. A parte de fora do Mercado tem umas mesinhas pra tomar chá e café, mas nós mandamos foi breja pra baixo. O pessoal deste café empresta os copos de vidro e tudo dá certo. Claro que no meio de uma das minhas dissertações calorosas sobre sei lá que assunto derrubei um dos copos e quebrei. Ninguém viu. Soninha foi embora e passei a beber no copo dela. Papo furado pra cá, uns goles pra lá, acabou a mortadela e peguei salame cortado. E aproveitei e peguei tb as brejas que havia posto pra gelar. E larga tomar todas. 

Dex me ligou e combinamos de ir tomar uma no Mercearia Laura Aguiar, local de prodigiosas brejas importadas. Simbora, dei uma carona pro Fernando que no meio do caminho ligou pro irmão e resolveu ir pro Mercearia tb. Chegamos e fomos tomando uma breja inglesa com mel da Fullers. Esta tem que ser servida com rodelas de limão. Delícia. Chegaram o irmão e o sobrinho do Fernando. Mandei descer mais três Colorados, uma de Cauim, uma Demoselle e uma outra que eu não lembro. Pra baixo. Eu confesso que já estava meio inebriado, meio alcolatrado, como diria Adoniran. Simon respondeu meu convite, já que ele mora ali ao lado, e disse que tava vindo com a Luiza e a Fê. 

Dex chegou tb e aquela bebedeira ficou ainda mais divertida. Fui explorando a geladeira valiosa do Zé, dono do bar, e mandando descer coisas que não conhecia como uma breja chama Nessie e duas austríacas feitas á base de malte de whisky. Amarguinhas, bem graduadinhas, deliciosinhas. Beleza. Dex e Luiza tomaram Serra Malte. Elas não tem pagadar pra estas preciosidades. Apenas eu e Simon decustamos aqueles néctares. Se bem me lembro combinei de ir com Simon ver o documentário Fiel, sobre a volta do Timão á primeira divisão. Acho que ele vai me ligar amanhã á tarde. A porta do bar foi fechada e pedimos a conta. Despedidas, beijos e go home. 

Ao chegar na parte onde a Nova Cantareira bifurca, tal e qual noite passada, dei de cara com uma barreira de cones, desta vez com um militante do CET junto. Meio vesgo de tanta breja dei uma olhada no asfalto por trás da barreira e vi que não havia nenhum impecilho pra que eu chegasse á minha rua. Informei que minha rua era a primeira e ele disse que a carreta que era o motivo da barreira já estava na altura da primeira rua e tudo estava bloqueado. Olhei novamente e vi a entrada da rua da minha casa livre, sem nenhuma carreta por perto. Será que eu tava bebão além da conta e não conseguia ver a carreta? Ou seria o guarda que tava doidão? Falei de novo com ele, já meio puto, reiterando que não havia empecilho preu chegar á minha rua. E já emendei:

- Com que direito o CET interdita uma via sem pedir autorização ou informar aos moradores?
Ele ficou meio puto, eu engatei a primeira e fui mais pra perto da barreira de cones, insistindo que dava pra chegar á minha rua. Ele finalmente compreendeu e perguntou se eu me referia "áquela travessa sem saída ali?".

- Claro, porra!

Absolutamente contrariado ele abriu os cones e me deixou passar. Toca o telefone pouco antesde eu embicar o carro no portão do condomínio e Dex tenta me avisar do bloqueio pelo qual eu acabara de passar, temendo que meu estado etílico me levasse a um confronto e a conseqüências piores com a autoridade. Olhei no retrovisor e vi o carro da Dex atrás do meu. Ela havia dado a volta que o bloqueio sugeria e chegou depois de mim. Já em casa, batemos boca, não me lembro por que, mas provavelmente pelo meu atrevimento de discutir com o cuzão do CET movido a tal quantidade de álcool. Ela foi deitar e eu ainda tinha fome. Esquentei a torta de frango e as costelinhas de porco que a sogra havia mandado no domingo passado. 

Passei o pão no molho que sobrou, dei dois goles na Coca Cola, comi metade do pudim, uma parte do bolo de côco que havia sobrado do churrasco de sábado passado e mais dois bombons do ovo de páscoa da Dex. E fui dormir, como uma cobra que acabou de comer um boi. Bufas e bufas no ar. Rezei direitinho desta vez. 

Um arroto. Já era!