quarta-feira, 29 de abril de 2009

Hoje os palmeirenses souberam como é ser corinthiano

Ressaquinha mixa. Não resistiu ás primeiras gotas de água quente do chuveiro. To inteiro. Ainda na cama, antes de levantar, li mais um pouco do livro do Tim Maia. Porra, o cara tá passando de folclórico e engraçado pra agressivo e egocentrico. Toda vez que alguém se acha maior que todos acaba tropeçando na empáfia. Já dizia aquele samba do Paulo César Pinheiro, acho, gravado pela Beth Carvalho: "Eh, maior é Deus pequeno sou eu...". Beleza.

Tô na loja de fantasias onde frequentemente compro suprimentos pras minhas performances nas VV. Resolvi comprar uma fantasia de Mago pro show do Raul. Ela é azul e é uma coisa meio Merlin, saca? Com um chapéu em forma de cone, cheio de estrelas. Tem uma foto clássica do Raul vestido de mago, sabem qual é? Então! Esta não é identica, mas vai evocar este espírito. Vi um chapéu de cowboy com estampa de couro de vaca. Parece um sorvete de flocos. Comprei tb. E segui pro SBT. Tava aqui respondendo orkuts e coisas do gênero quando o Edu do Astros me pediu pra fazer um trampo sigiloso. Já agilizei.

No meio de tudo isso, fiz uma pausa pra ingerir o néctar divino das quartas feiras:

Feijoada nossa que está na panela
Santificado seja vosso caldo
Venha nós o vosso feijão
Seja feita a vossa farofa
Assim no prato como no garfo
A bisteca nossa de cada dia nos daí hoje
Perdoai os nossos peidos
Assim como nós perdoamos os vossos arrotos
E não nos deixei esquecer a couve refogada
Mas livra-nos do regime
Amém

Ah, feijuca, como te amo. Ah, feijuca, como te adoro, Ah, feijuca como te como. Adorei.

E já tô na correria pra ir ao estúdio onde aparentemente o Nasi está ensaiando sua apresentação no palco do Raul. Parece que um jornalista vai lá falar sobre o evento e eu vou tb. Dia corrido. Fui
Antes de chegar ao carro, uma caganeira me ataca. Corro prum banheiro que tem aqui perto. Quase, quase borro a cueca. Pronto simbora.

O estúdio onde o Nasi tá passando os sons do Raul é no Butantan, caminho da Band. Desconfio que é um estúdio onde já gravamos em 1996, Macan, quando do lançamento do "Vcs não sabem como é bom aqui dentro". Gravamos nossa primeira marchinha aqui, "Marcha do Tira a roupa". A dona era a Márcia, um ex-cantora ou chacrete, não lembro. Virei á direita na Vital Brasil que depois muda o nome para Corifeu. O estúdio é do outro lado, na mão de quem vem de Osasco.
É isso mesmo. To aqui. É o mesmo estúdio onde gravamos, com a mesma fachada com uma janela em formato de estrela.

E olha só quem abriu a porta: a própria Márcia. Lá dentro já estava um fotografo, mexendo no seu lap top. Lá em cima Nasi mandava ver "Al Capone". Os arranjos estão bem próximos dos originais, pelo que eu saquei. O fotógrafo começou a fazer umas fotos minhas. Ao mesmo tempo, ligou pra redação e descobriu que o jornalista vai me entrevistar por telefone outra hora. Peguei umas lanças medievais que estavam enfeitando a parede e o cara saiu fotografando. Dali a pouco Nasi fez um intervalo e veio fazer as fotos tb. A orientação era fazer fotos juntas. Conheço o Nasi pessoalmente, já bebemos umas em bares pela noite. E sou fã do cara que também é sempre gentil comigo. Pegamos as lanças e fingimos uma briga. Mas a melhor foto foi uma ao lado da mesa de som em que eu abracei o cara. O fotógrafo zuou ele, dizendo que ele era "quase firmeza", fazendo referencia ao fato do Nasi ser torcedor do São Paulo. Ele levou na boa. 

Fotos findas, falei pro Nasi que tenho uma versão para português da música "Minnie The moocher", com gravação original do Cab Calloway. A minha se chama "O rei da putaria". Ele curtiu a idéia, mas como não costuma acessar internet, fiquei de mandar a letra em mãos durante a Virada Cultural. Beleza. Cumprimentei os músicos, especialmente meu bom amigo talentoso e multi-instrumentista Johnny Boy. Andando pelo estúdio lembrei que tava namorando com Dex fazia pouco tempo na época em que gravamos aqui. E lembro que nesta mesma sala onde Nasi tava ensaiando eu e ela tivemos um momento muito, digamos, íntimo. Uhu! Ô nega gostosa! Me despedi de todos e me mandei pra Band.

Puta merda. Entrei espremendo as pernas de vontade de cagar. Diarréia do caralho. To aqui na privada, me desfazendo em líquido. Pronto. Deixa eu fazer um "agazinho" antes de me mandar. Não tenho muito tempo. Às oito preciso estar na Barra Funda, pra falar sobre redação em TV na Oswaldo Cruz. Respondi uns e-mails, discuti umas pautas e etc e tal e simbora. Caraio, á saída mais uma cólica e larga mijar pelo cu novamente. Isso tá virando uma caganeira crônica. Só falta me dar vontade de ir ao banheiro durante a palestra. Dez pras sete, trânsito violento no túnel da Nove de Julho. Minha idéia é sair à direita antes da Praça da Bandeira e me embrenhar pela região da Augusta, depois Minhocão e ao final virar á direita, cruzar a Avenida Pacaembu e... pronto: Conselheiro Brotero, 475, campus de RTV das Faculdades Oswaldo Cruz. 

Eu já fiz palestras sobre ser radialista para galera de colégio, numas de ajudar a definir que carreira seguir. Mas para universitários é a primeira vez. Quem me convidou foi a Alê, decupadora e, não tenho certeza, estagiária do SBT. Tentei entrar por uma portaria, não era aquela. Me mandaram pra outra pra fazer cadastro. Não tem crachá pra mim. O segurança me acompanha pra outra portaria e da catraca pra dentro, uma mocinha me direciona ao estúdio de rádio e tv. Na minha época de FAAP as faculdades não eram cheias de catracas como estações do metrô. Deste jeito, os caras controlam exatamente quem entra e quem sai. Portanto, não dá pra assistir aulas sem ser aluno. 

Encontro o responsável pelo curso, Alexandre Ferroz. Papo vem, papo vai, descubro que ele cuidou da redação da GPM, uma produtora do Gugu que prestava serviços pro Domingo Legal na mesma época que eu era redator do programa. Fomos meio que colegas.

Os outros palestrantes foram chegando, todos do SBT: Marcello editor iria falar de direção e edição e Fabiano de Produção Executiva. Assim como a Alê, que faz Oswaldo Cruz e trabalha no SBT, tem várias estagiárias na turma que tb militam na rede de Silvio Santos. Vamonóis pro auditório. Grande, semi-preenchido. Muitas carinhas jovens olhando pra gente.

Garrafinhas d'água sobre a mesa, certificados de participação nos envelopes, um kit com caneta e chaveiro, microfone. É nóis!

Cada um fez uma breve apresentação de si, abordando a formação acadêmica e a experiencia na área. Eu fiz Faap de 83 a 86 e me formei Bacharel em Radio e Televisão. Depois fui estagiário de programação na 89FM, assistente de produção na TV Cultura, free-lancer como redator de histórias policiais na Rádio Globo, Produtor do programa Gilberto Barros na Rádio Globo, free-lancer como pesquisador e redator de verbetes na Editora Nova Cultural por duas vezes, produtor de pauta de Otávio Mesquita, redator do programa TV Itália co-produzido com a RAI. Como redator no SBT a partir de 1990, fiz vários programas como Mariane, Mara, Nações Unidas, Programa de Vídeos, Sabadão, Domingo Legal (os últimos quatro com Gugu), Concurso de Paródias com Moacyr Franco, Fantasia, Tempo de Alegria com Celso Portiolli, Hot Hot Hot com Silvio Santos. Na Record fiz um programa dominical com a Eliana. Participei de três edições do Teleton, dois realitys e há dois anos to no pool de redação do SBT, tendo escrito Viva a Noite, o humorístico Sem controle, Uma Hora de Sucessos, Nada além da Verdade, Programa Silvio Santos e agora Astros. 

Os outros fizeram o mesmo e começaram as perguntas. Algumas pertinentes ao curso e á carreira, outras apenas curiosidades sobre razões de mudanças na grade, dispensa de apresentadores, fofocaiada em geral. Em determinados momentos de silêncio fiz questão de lembrar que ás dez tinha Corinthians na TV, levando a galera às risadas. Aliás, foi o que mais fiz, contando alguns "causos" de bastidores ou emitindo opiniões diretas e objetivas sobre assuntos variados, sempre cometendo a gafe de incluir muitos palavrões em cada frase. 

Eu sou assim. Eu falo muitos palavrões e acho, mesmo, que os palavrões dão cor a um diálogo e são a verdadeira manifestação da alma humana. Em determinado momento uma aluna perguntou se eu já escrevi um texto que realmente me emocionou. Citei um que fiz pro Gugu quando ele, usando disfarce, visitou um lixão e viu pessoas vivendo no lixo. Ele deveria ter narrado tudo durante a gravação, mas apenas chorou muito, chocado com a miséria humana. Mas, não contendo meu orgulho pelos textos de putaria, li em voz alta algo recente que escrevi pro valoroso canal pornô:

"Um simples pneu furado revela à mulheres deliciosas o potente e grosseiro mundo do sexo com os borracheiros. Meninas de fino trato lubrificam com graxa os mastros destes rudes trabalhadores braçais que espanam as roscas de tudo quanto é buraco que encontram pela frente. Sempre pronta para um último reaperto, a "musa da borracharia" é a próxima atração do Sex Privê Brasileirinhas".

Amo muito tudo isso. O papo caminhou além do horário do início do futebol na TV. E quer saber? Foi bem legal. Acho muito importante mostrar pra galera que tá fazendo faculdade um pouco da realidade da profissão. Não tive nada disso na FAAP.

A coisa toda terminou por volta de dez e vinte. Agradeci e me despedi da galera. Peguei meu carro e fiquei decidindo se via o jogo com André Cabeça num buteco ou se ia pra casa. Dex solicitou minha presença e eu, cãozinho bem treinado, fui pra casinha. No caminho Fabinho me liga dizendo o seguinte:

- Vai ser dois a um, fica tranquilo.

Eu nem sabia que tava um a zero, mas como o homem não vinha errando palpites ultimamente, fiquei um pouco mais tranquilo. Cheguei em casa e dei com Dex bodeada. E o Atlético Paranaense metendo três a zéro fora o baile. Pior: Ronaldo tinha se contundido e foi substituído. Puta que pariu. Fabinho errou feio sua previsão. Lá se foi meu guru futebolístico. É isso que acontece quando eu não assisto o jogo. Beleza, vamos trabalhar pra diminuir o prejuízo. Sentei-me no abençoado lado direito do sofá, pûs na Band e comecei a torcer. Tá dificil. O Timão não se acerta e o Atlético marca forte e contra-ataca bem. Com quem? O artilheiro deles é o tal de He-man, Rafael Moura. Digo que este Rafel Moura é um merda. Pode fazer quantos gols quiser: é fase. O cara jogou no timão e é ruim de bola. Pior que ele só o Marcinho. Enganador, descarado. Bundão de marca! Ah, deu dribles? Hum, chutou a gol? Na hora "h" ele entrega. Pode escrever.

Tá mais pra sair o quarto dos "homi" que a gente marcar um, porra. Três a zero vai ser uma diferença dificil de tirar em cima do Altlético Paranaense no jogo de volta. Eles não são bobos. Portanto, precisamos fazer pelo menos um. Unzinho só. De mão. Impedido. Roubado. Precisamos de um gol, caralho. Opa, penalti pro timão. Elias, sempre ele, cavou uma penalidade que Chicão vai bater...e...e...nas duas traves e pra fora. Vai tomar no cu. O negócio tá de azar. E quando tá de azar, o de baixo caga o de cima, sacou?

Dou uma olhada no canal trinta e nove e a porcada tá empatando com o Colo Colo e saindo da Libertadores. Pelo menos isso. Silencio total na sala de casa. Uma voz fala dentro da minha cabeça: "se quer que o timão faça pelo menos um o outro precisa ganhar".

Porra, esta voz de novo. O outro só pode ser o nosso eterno rival: o porco. É isso, então? Pra gente continuar vivo na Copa do Brasil fazendo um gol os verdes tem que ganhar? Ok, Que seja.
Velho, batata! Passam dos quarenta e o grandalhão, grosso e desajeitado Souza batalha uma falta na frente da área. Cristian, sempre ele, mete a porrada, o goleiro vacila e caixa: gol, caralho. O gol que nos coloca no campeonato de novo. Agora, no jogo de volta, temos que ganhar de dois a zero. É dificil, mas não impossível. Vai acabar. É só segurar a onda. Mas tamos jogando bem. Bola cruzada, Otacilio Neto cara a cara e chuta pra fora. Filho da puta! Bem, meu negócio com Deus foi um golzinho só. Tá bom. Tamo vivo. Vai acabar. Alessandro manda pra área, Souza se desequilibra e faz um corta-luz meio sem querer pra Dentinho. Ele mete na rede. Ele me e na rede, caralho. Fizemos mais um. Três a dois. Obrigado meu Deus. Agora basta uma vitória por um a zéro ou dois a um e é nóis seguindo na Copa do Brasil. Acabou.

Mando pro Sportv pra ver a quantas anda o porcão. Quarenta e três. Os caras precisam de um golzinho. O comentarista diz que o time mandou duas bolas na trave. A Libertadores tá escapando das mãos deles. Pressão alvi-verde. Os caras tem poucos minutos pra meter um gol e seguir vivos tb. Sair na primeira fase da Libertadores vai ser uma paulada na cabeça dos porcos. O dez deles, Cleyton da minha rola, tá no meio da praça, longe do gol toda vida. Limpa. Chuta. Caralho. A bola viaja alto. O goleiro chileno toca mas não o suficiente. Bola na gaveta. Gol da porcada. Caralho! A culpa é minha. Eu diz um trato com "a voz". E o Timão meteu dois no finzinho. O trato era esse. Corinthians marca, o porco marca. Vibração intensa dos jogadores, da comissão técnica. Ninguém cria nesta classificação. Heróica. Hoje os palmeirenses souberam como é ser corinthiano. Ganharam sofrido como nós. A diferença é que com a gente é quase todo jogo. 

Eu não reclamo: sou corinthiano, maloqueiro e sofredor graças a Deus. Tô pensando num porco que trabalha no SBT, o Raul. Ele é o porco mais chato do mundo. Tenho zuado muito ele desde a eliminação do seu time paulista pelo Santos. Ele vai se vingar. Ele vai me torrar o saco. Tem tb o Toninho Lorenzeti, tb do SBT, também baú alvi-verde. Paciencia. Foi o trato com "a voz": pro Timão ganhar, os outros tinham que ganhar tb. Que seja. 

Gente. O jogo acabou e desci pra comer aquele miojo e aquele hamburguer que Dex fez na segunda. Mandei pra baixo. Banho. Tô com uma dor-de-cabeça que prenuncia gripe. Porra, tomei a merda da vacina contra gripe semana passada. 

Merda. Antes de deitar, mais um acesso de caganeira. Mijando pelo cu. Tá foda. Good night!