Abri os olhos e olhei no despertador ao lado da cama: nove e meia da manhã. Ou levanto agora ou miau pro casamento do Fabião em Ilha Bela. Enquanto pensava neste assunto o despertador da Dex tocou e pulei. Como havia tomado banho antes de deitar, ali pelas 6 da manhã, não ia tomar outro banho poucas horas depois. Não dormi cagado, caralho.
Dex passeava pela casa meio sonâmbula. Rapidamente lavei a cara, penteei o cabelo e comecei a arrumar minha malinha. Separei uma camisa branca semi-social, uma calça cinza meio "casual" (que coisa viada!), chinelo do Timão, pijama, camiseta das Velhas Virgens, escova de dente, pente e um monte de badulaques na bolsinha com símbolo do SBT.
To pronto. Dex desceu pra passar a roupa que vai usar no casório. Aliás, este é um casamento bem curioso. O Fábio, com quem trabalho na Band (ele é chefe do Calazans que é o meu chefe), e a Andréa, que eu não conheço, já moram juntos há cinco anos e só estão legalizando a parada toda. Eles marcaram o casamento, civil imagino, num lugar ao ar livre em Ilha Bela, ao por do sol. Parece que será na praia. Tanto que no site do casamento eles avisam pra ir com uma roupa despojada. Algo como "não precisa salto alto, vestido longo e terno". Mas também não vale ir de biquíni. No site que eles criaram para a festa há espaço para mandar mensagens, espaço pra confirmar presença, mapa do local e endereços interessantes na Ilha Bela, como pousadas, hotéis e cabeleireiros. Eles também contam como se conheceram e o porquê do casório ser na Ilha.
Mas o mais legal é que tem um esquema para dar presentes via Internet, usando cartão de crédito. Como eles vão passar uma semana em Cuba de lua de mel, vc pode clicar em coisas como, passagem de ônibus, caixa de charuto, passeio de Scooter, pagamento de parte do valor da passagem, ingresso para museus e etc. Cada ícone deste tem um valor e uma foto onde vc clica tb para depois colocar o número do cartão e tal. Os valores são variados. Então vc dá o presente sem ter que ir a lojas e mandar entregar. A grana cai na conta deles e só sai da minha no vencimento do cartão. Cômodo, né?
Bem, eram onze horas e Dex comia pão de queijo com café na Conveniência no posto de gasolina. Eu tava abastecendo o carro e sacando uma grana no caixa eletrônico. Pronto. Estrada. Marginal veia de guerra, Rodovia Ayrton Senna e tamos a caminho. Meu carro não tem som, mas eu tenho um adaptador pra dois fones no meu I-Pod e fomos neste esquema, com Dex discotecando e limando os sons que não curtia. Eu tava meio ou muito virado. Mas Dex adora encostar o corpo e me dar o volante. Então, não adianta reclamar. Aliás, eu tava pensando naquele papo do carro dela quebrado. Mesmo que não tivesse sido eu quem indicou a compra, ia sobrar pra mim. Tudo sobra pro homem neste mundo que elas chamam de "machista".
Vc já deve ter ouvido mulher pedir igualdade, né? Já viu alguma mulher querer igualdade na hora de servir o exército? Hum! Querem igualdade nas coisas boas. Sempre sobra pro homem cuidar de carro quebrado. Mesmo que seja um "nérso" em matéria de mecânica como eu. O que não tem remédio...
Ta gostoso. Ta divertido. Adoro viajar com a Dex. E ela ama ir pra praia. Então ta tudo certo. Meu Fox 1000 é aquela água: quando pega embalo vai bem, mas na retomada da velocidade perde pra uma cadeira de rodas. Fomos indo, à direita na rodovia dos Tamoios, chegamos a Caraguatatuba após descer aquela serra danada de obliqua. Á direita em direção de São Sebastião. Uns 30 quilometros até a balsa. Dezessete reais e quarenta centavos e ói nóis singrando o braço de mar que separa o porto de São Sebastião da tal Ilha Bela. Eu não sei nadar. Eu não gosto de água. Eu tomo banho de bóia nos braços. Então, estar num barco me é uma situação muito incômoda. Desfavorável. Tenho pavor, porra!
Levamos uns 20 minutos até que os pneus do Fox estivessem novamente rodando em terra firme. À direita na rotatória e simbora. Uns quilômetros pra frente, viramos à esquerda, logo depois á direita, esquerda de novo e lá estávamos no Hotel da Ilha, que eu tinha reservado pela Internet durante a semana, seguindo indicações do site dos noivos. A mocinha que nos atendeu era hiper jovem mas não o suficiente para transformar minhas observações em pedofilia. Ela tava usando um daqueles chinelos "croc-croc" e não posso negar que fiquei pensando em como seria o seu pezinho. Foi um pensamento automático e passageiro. Eu sempre olho os pés das mulheres. É inevitável. Tudo rola aqui dentro, no território livre da minha cabeça.
Tamo no quarto. Dex no chuveiro. Sai pra comprar repelente, pois os borrachudos tem tradição neste local. Aproveitei e comprei uma garrafa de água mineral e duas brejas em lata. Fui mamando uma no trajeto de volta ao hotel que, por sinal, é bem legal, com piscinas e etc. O quarto tb é amplo e confortável. Dex ta no banho e eu to bebericando a breja na cama, vendo tv. Ela sai e começa a se maquiar. Ela ta pelada. Eu ataco e ela ta atrasada e sei que não vai rolar nada agora. Hum! Abri a segunda lata. Os x-saladas que eu pedi na portaria chegaram. Eu não almocei. Eu to com fome. Dex fala alguma merda do banheiro.
- Vai começar a chapação cedo hoje, é?
- Dex, vc me aluga muito. Me deixa.
E cortei o papo. Tomei banho. Antes de colocarmos a roupa nos besuntamos de repelente. E olha que eu já tinha sido picado por um maldito borrachudo. Estes insetos de merda são os verdadeiros donos da ilha.
Bem, todo mundo pronto, tamo no carro e a caminho do local. A mocinha do "croc" falou que era só para ir para a esquerda na estrada que a gente, depois de uns sete ou oito quilômetros, ia encontrar um restaurante chamado Almirante. E foi assim. Eu tava achando que a coisa toda ia rolar na praia, mas na verdade o tal Almirante é um restaurante construído na encosta, com o marzão todo lá embaixo e o sol se pondo atrás de onde foi colocado o altar. Que beleza.
Fabião nos recebeu no primeiro patamar da escada com uma camisa social branca, uma calça relax e chinelos. Olha o clima praiano aeh. Parecia bem feliz ao me apresentar sua mãe. E fomos descendo as escadas até chegar ao local onde a festa propriamente dita deve rolar. Tem um DJ com cabelo Black Power, claro, fazendo um som. Encontrei algumas pessoas da Band que eu não conheço direito. Cumprimentei meio de longe. A Maura eu não reconheci. Acho que ela é secretaria do chefão, Edu Ramos. Ela adora ligar pro Sex Prive e me pedir para falar o nome do canal com um jeito meio malandro. Eh,eh,eh. To aqui sentado com a Dex. Ela quer água. Eu não to a fim de ir buscar. Ela reclama e vai. Helena ta descendo a escada acompanhada. Ela trabalha no Band Sports e tb no Sex Prive. Sentaram-se com a gente. Papo vem papo vai descubro que o namorido dela é santista. Isso rende boas conversas. O cara é muito gente boa. Ele e Helena são ratos de academia. Eu prefiro o bar.
Chega Fernando com a namorada. Tamos todos na mesma mesa. Lá vêm descendo um batalhão de padrinhos. Lá vem descendo Fabião com a mãe. Lá vem o DJ black power descendo a escada e executando a marcha nupcial no trombone, ao vivo. O cara toca. E bem! Taí um DJ que eu tenho que respeitar. Este Dj não apenas aperta o play, como toca um instrumento. Lá se foi ele. E agora quem vem é a noiva. A cerimônia começa e o som não ta funcionando, de modo que a juíza de paz tem que projetar a voz pra que a gente ouça. Atrás de tudo isso há uma coisa chamada "pôr do sol" em andamento, fazendo um fundo inacreditavelmente belo. Dex ama estas coisas da natureza e eu faço questão de ficar tirando sarro dela, como se eu não ligasse. Mas é impossível não ligar prum por do sol destes. No site os noivos disseram ter mandado convite pro Sol, mas como vinha chovendo pra caralho desde manhã, ninguém acreditava que ele viesse. Mas veio!
Cerimônia terminada. Começou a festa pra valer. Comida rolando, breja a rodo, whisky 12 anos, pró-seco e caipirinhas feitas na hora. Que bela festa. De vez em quando o DJ pega o trombone e toca afinadinho com as músicas. O cara é fera. Ta todo mundo dançando e bebendo. Um dos garçons é da Mooca e tem o nome Nelson tatuado no braço. Ele me explica que é o nome do pai dele. Ele se chama Marquinho. Falo dos meus amigos na Mooca e a minha mesa passa a ser a única em que há garrafas de cerveja. Nas outras os garçons passam, servem, mas não deixam o vasilhame. Na minha ele deixa a garrafa, cumpadi. E ta todo mundo com inveja. A garrada nem ameaça esvaziar e vem outra. Fernando arrumou umas caipirinhas. Eu tb. O barman coloca folhas de tangerina e a coisa fica ainda mais saborosa. Dex, vira e mexe, sai pra fumar. E a festa vai comendo.
Em determinado momento ouvi uma buzina quando estava entrando no banheiro. Que porra é isso? Tô mijando e pensando no assunto. Na subida da escada encontro um garçom com algo na mão. Não é o pau: é uma daquelas buzinas com lata de spray. Vai começar outra fase da festa, com a galera vestida de marinheiro e pirata. Porra, ta todo mundo de quepe de marinheiro, capitão e pirata. Eu tb quero. Mas não to afim de ir dançar. Eu não sei dançar. Eu não gosto de dançar. Não vou dançar pra ganhar uma porra de um chapéu. Olha só este garçom de chapéu de pirata. Roubo o chapéu dele. Ele não curte muito, mas Marquinho, o garçom mano, manda o cara deixar o chapéu comigo. To bem bebão. Dex ta de olho. A festa segue.
Marcelinho chegou atrasado com a namorada. Mais uma capirinha. E a breja come solta. Ninguém entende as garrafas que nunca esvaziam na minha mesa. Jo soy malandro, bicho! Dex quer sem mandar. Já estamos bebendo há umas 4 horas. Eu to meio breaco. Ou completamente breaco. Saideira. Completo o copo do Fernando e do Marcelinho. Meu copo ta pelo meio e a garrafa quase vazia. Quer ver só eu fazer uma média com a Dex.
- Vamos embora amor – falo – não vou tomar a saideira.
Dex me olha sem crer. Ela nunca me viu fazer isso. Subimos as escadas trançando as pernas. Uns docinhos ajudam a melhorar o foco. Tamos no carro. Eu to breaco. To alcolatrado. Dex quer dirigir, mas não quer muito. Eu conheço ela. E bêbado por bêbado, confio mais em mim. Vou beeeeem devagarinho. Passo da entrada do hotel. Volto. Direita, esquerda. Garagem do hotel. To tirando a roupa. Liguei o ar condicionado no máximo. Apaguei. Dex tb. Amanhã Marcelinho e Fernando querem ir pra praia e chapar. Querem que eu veja o jogo aqui e suba mais tarde. Mas tenho ensaio depois do jogo. E não curto muito praia. Mas curto beber com os amigos.
Porra. Bela festa. Grazie pelo convite, Fabião.