Batiam cinco e pouco da matina e Dex já tava andando pelo quarto se preparando pra ir mais cedo pro trabalho. Pelo que sei haveria uma espécie de assembléia na empresa para qual ela trabalha e que presta serviço pra Petrobrás. Não sei se já disse, Dex é formada em Ciências da Computação e atua como Analista de Sistemas. Vc não sabe direito o que é isso? Nem eu! Mas o fato é que eu havia deitado duas horas antes e estava bêbado de sono. Ela falou algo e eu não pesquei. Ela foi e eu apaguei mais um pouco. No fim, saí da cama mais de nove horas. Bati um papo com a faxineira (quinta é dia de faxineira, Dona Rosa, a crente gentil e analfabeta) pedindo que desse uma passada nas roupas. O fato de ser analfabeta nos impede, por exemplo, de deixar bilhetes. Well.
Juntei o lixo do banheiro, jornais velhos, li o novo, caguei, mijei e só faltou a punheta. Deixei pro chuveiro. Durante a leitura do Estadão descobri algo que me deixou preocupado: em função do feriado prolongado, as blitze da lei sêca que eram duas até o fim de semana passado subiriam para dez hoje, justamente no dia em que estaremos nos embalsamando, digo, tocando no Aurora. Minha primeira providencia foi mandar um e-mail pra galera da banda, lembrando que somos malandros, mas a multa é de mais de 900 paus, podemos ter a carteira de motorista apreendida, o carro e até a gente mesmo pode ir em cana. Maldita lei seca da casa do caraio. Por isso mesmo, ainda semi-nu, cuidei em arrumar a mala com o figurino do show e descobrir como ir pro Bixiga sem correr riscos.
Quer dizer, ir é fácil. Difícil é voltar mamado igual a um gambá e escapar da polícia. No fim armei uma carona com Simon e Lu (sua esposa) pra ir. Ela dirige e não usa substancias alcoólicas, logo, está limpa, se é que vcs me entendem. E pra voltar, ou volto com eles ou com o Jorjão que vai levar nosso equipamento de van. De toda forma, deixarei meu carro na frente da Gabaju. Dali posso ir com o Simon, ou pego metrô ou vou de táxi. Eu e a Angélica. A merda do táxi é que morrem cinquenta paus. É foda!
Estava em dúvida entre deixar minha mala de acessórios de manhã na Gabaju, pra ir junto com o equipamento. Podia tb deixar em casa e levar comigo, junto com a carona do Simon. Foda-se.
No fim coloquei no porta mala do Fox Vermelho de minha propriedade. E ela tá lá fora no estacionamento superior do SBT. E eu, quatro e quarenta da tarde, atrasadaço pra Band, depois de um dia cheio. Eu estou sempre atrasado pro futuro. Caralho. Mas da hora em que cheguei aqui, por volta de onze e quarenta, até agora, já respondi tudo, já encaminhei tudo e já vi imagens do novo Astros. Na verdade, vi mesmo um depoimento do Miranda, falando do seu trabalho, sua carreira, gente com quem trabalhou, prêmios, idéias. Ele gosta de samba bom e forró antigo como eu. Gosta de misturadas e ouve de tudo. Já produziu várias bandas e artistas que eu admiro. Trabalhou com Tom Capone. Porra, seria legal te-lo na produção de um disco, quem sabe o próximo das Velhas Virgens. Será que ele topa? Ele nos conhece. Sempre que trombamos no SBT ele me cumprimenta gentilmente. Acho que ele respeita nosso trampo. Será que teríamos grana pra pagar? Sei lá. Mas a idéia tá coçando aqui dentro. Vamos ver no que dá. Chega de papo e atraso. Vamos pra Band. Depois tem Aurora e rock’n’roll. Quero ver se tocamos algumas coisas do Raul e, se der muito na telha, algo no cd novo das VV. Tô louco pra mostrar as canções. Mas música é igual bolo: se tirar do forno antes do tempo...vcs já sabem...desanda!
Saí do SBT ás cinco pras cinco. E cheguei á Band ás seis e trinta e cinco. Ta bom pra vc? Uma hora e quarenta de congestionamento nesta cidade filha duma puta que eu amo. Vai tomar no cu! Pra acabar de fuder, além da galera viajando pra curtir o fim de semana prolongado, ainda tem jogo da bambizada aqui ao lado da Band, no Morumbicha. Se fossem outros campeonatos não tinha problema: mas em jogo da Libertadores eles vêm mesmo. O jogo começa ás sete e quinze. Tinha um ônibus cheio de torcedores bem ao meu lado no congestionamento. Um bambi perdido e uniformizado me perguntou da janela se o estádio estava muito longe e se dava pra ir á pé? A pé só não dá pra ir pra Europa, pois tem o oceano no meio. A pé dá pra ir até Nova Iorque, caralho. Sabe o que eu respondi pro Bambi do caralho? Pro tricolor da minha rola? Que seriam uns 20 minutos de caminhada, que era meio longe. O cara é adversário mas eu tenho educação. Porra. E vai tomar no cu. Domingo a gente acerta estes “pó de arroz” no campo, que é o lugar certo! Sem essa de violência!
Mas antes mesmo de sair do SBT, eu não resisti e liguei pro Miranda. Como eu consegui o fone? Caraio, eu sou radialista, sou redator, tenho mais de 20 anos de janela, porra. Eu descubro qualquer coisa. Eu sei a cor da calcinha da Ana Hickman. Eu sei de tudo. Eu sou o próprio Big brother, eh,eh,eh.
Opa, Miranda atendeu. Me identifiquei e ele me cumprimentou. Perguntei se ele teria interesse em produzir nosso próximo cd e ele perguntou quando iríamos gravar. Disse que no meio do ano e ele disse que até lá estaria enrolado, mas que em agosto poderia ser. Isso atrasaria os nossos planos mas o importante era saber se ele gostaria de trampar com a gente. Datas e grana se vê depois. Ele disse que sim.
Ok, como ele está em férias ficamos de conversar quando ele voltar a Sampa, lá pra 28 de abril. Falei o nome do disco, “Ninguém beija como as lésbicas” e ele riu. Avisei o Cavalo da conversa com o Miranda e ele perguntou o que eu tinha em mente.
- Nada, apenas fiz um contato. Vamos conversar com o Miranda ao vivo e ver se rola. Conversar não tem contra-indicação. O cara produziu um monte de gente que nós gostamos, especialmente Os Raimundos. Seria legal ter uma opinião de fora da nossa galera e com a experiência dele. De repente rola uma co-produção, inclusive com a Fabio Haddad que já é nosso produtor de outros discos. Um bem bolado, saca?
Cavalo concordou. Grana a gente não tem, mas isso é depois. Aí me restou enfrentar a porra do transito furioso. E agora to aqui no Sex Privê Brasileirinhas, corrigindo um roteiro do Sex Daily e ouvindo a Márcia Ferro levar rola feroz. Hoje a noite vai ser boa e de tudo vai rolar. Tem agito no Bixiga. Tem chacoalhação de cabeça no Aurora. Tem Velhas Virgens no palco. Nós somos a maior banda de rock deste país, caralho. É noise, porra.
A ida pra casa foi, curiosamente, tranqüila. Nada de transito ou engarrafamento no corredor Nove de julho – Anhangabaú - Tiradentes. Comi umas salsichas que a Dex tinha cozinhado, uns pedaços de pão e tirei a roupa. Aí deu preguiça de ir pro banho. Sentei pelado no sofá ao lado da Dex. Tenho curtido muito ficar pelado. Chego em casa e tiro a roupa. Quando estamos viajando, fico pelado no quarto. Deixa a gente mais solto e dá uma poderosa sensação de liberdade. É isso que to fazendo agora: pelado e vendo aquele filme do Truman, aquele com o Jim Carrey onde ele vive num reality show. Olhei no relógio e já tava na hora de tomar um banho pra ir ao ponto de encontro com o Simon e a Lu, na frente da Gabaju. Banho tomado, me despedi da dex e fui. Aproveitei e levei um latão de London Pride que estava na geladeira. Que beleza. Menos de 10 minutos depois eu tava encostando o carro atrás do Fiat do batera. Cavalo veio tb e fomos em quatro pro Bixiga. Paramos no estacionamento do coreano e simbora pra dentro. Uma fila gigantesca se acotovelava em frente da esquálida porta do Aurora. Era pouco mais de meia noite e a galera comparecia forte. Muito bom. Bati papo com uns e outros na fila e segui empurrando minha mala de figurino. Cruzei um segurança da Band que já foi em alguns shows e o cara já tava meio zuado. É interessante vê-lo todo sério no trampo da portaria da emissora do Morumbi e depois encontrá-lo na balada. De noite todo mundo se revela, né.
Lá dentro já tinha uma moçada. Cumprimentei Edu “viado” que cuida da nossa lojinha e fui rumando pro diminuto camarim que fica atrás do palco do Aurora. Cavalo chegou cuspindo marimbondo por causa de uma reclamação do Zé Paulo, dono do estabelecimento, dando conta que o endereço da casa tava errado no nosso site. Calma, Horseman, simbora pro camarim tomar uma. Fui cumprimentando a galera no caminho e até ganhei uma gaita em Sol de presente. Caraio, gaita em sol é grave pra porra. Fico realmente emocionado com estes presentes dos fãs.
Já dentro da pequena sala de paredes verdes com banheiro que eles chamam de camarim procurei acalmar Cavalo e fomos bebericando as Heinekens que estavam no gelo. Cool, very cool! Ao mesmo tempo, fui pendurando minhas roupas na porta do banheiro: a casaca vermelha de pirata que muitos dizem que é das paquitas, a batina branca de padre, o roupão preto, o sutiã vermelho junto com o boá , a peruca e a bandana de pirata, óculos de estrela e de lente vermelha, camisetas, joelheiras, botas, tênis e a cueca samba-canção do timão que a Ju me deu e que eu vou estrear hoje. Papo vai, papo vem, dois caras de um site chegam pra nos entrevistar. Outro cara que fez uma matéria muito legal comigo no dia da primeira seleção das músicas do novo CD também chegou e ta pra lá de Bagdá.
Carandiru, nosso técnico de som, segue em recuperação de uma pneumonia forte, então Marcinho passa de roadie pra técnico de mesa e Rodrigo dois se junta a Rodrigo Beduíno como técnico de palco. Nada do Banas, nada do Rico da iluminação. A casa ta enchendo e lá fora os gritos são de “bota pra fuder”. Cá dentro desce Heineken e desce tb uma Cuba Libre que mandei buscar. Já chegou todo mundo: Roy, Juju e Mickey Hourke, Simon e Lu (que já ta manufaturando “um”) e falta Mr. Tuca. O papo ta bom, mas o tempo voa nestes momentos que antecedem o show. Perguntei a hora e faltam 10 pra uma, dei um gole e já era uma e dez, soltei um peido e era uma e vinte. Caralho! Mais um gole de Cuba e chegávamos a uma e meia, hora de começar a me alongar e vestir a fantasia. Foi o que fiz. Tuca deu as caras. Desde que saiu de casa e alugou um canto pra si, longe da Ana, ele ta mais tranqüilo e feliz.
Juju, mantendo a tradição das vocalistas das Velhas, me ajuda a colocar a bandana sobre a peruca do pirata. Quando comecei a usar este figurino não tinha muito cabelo e era mesmo necessário colocar cabelo falso. Mas hoje meus cabelos, ainda que brancos, tão volumosos e nem precisaria da peruca. Mas mantenhamos a tradição, né. Lá fora o grito é forte de Cubanajarra. Porra, esta canção foi feita pensando em gritos de torcidas e a idéia era que as pessoas gritassem isso pra nos chamar. Deu absolutamente certo. Ta na boca da galera.
****Segue abaixo...
quinta-feira, 9 de abril de 2009
"Mas música é igual bolo: se tirar do forno antes do tempo..."
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