segunda-feira, 4 de maio de 2009

Eu sou pau mandado e faço exatamente o que ela manda. Ou quase.

Acordo depois de quase doze horas de bode. E eu mereço. Dex já foi, claro, e este é meu primeiro dia de férias do SBT. Só tenho que dar as caras na Band lá pelas cinco. Mas não posso esquecer que to no rodízio hoje, caralho. 


Uma extrema leveza de espírito me envolve enquanto folheio o caderno de esportes do Estadão e cago. Noventa por cento dele fala da nossa conquista. Claro que vão aparecer bambis e porcos dizendo que paulistinha não vale nada, que a gente não tem Libertadores, este tipo de papo de quem não percebe que é muito mais fácil, depois do torneio definido, dar parabéns e seguir a vida. Lá embaixo as roupas molhadas usadas nos shows estão batendo na máquina de lavar.

Depois de ler e reler cada palavra escrita sobre este delicioso campeonato invicto, passo pro caderno dois, que comenta a Virada Cultural. Falam de Tim Maia Racional, de Cordel do Fogo Encantado, do palco brega e até do Camisa de Vênus (que bom). Mas a gente, como sempre, não existe. Beleza. 

Ao invés de ir pro chuveiro ou escovar os dentes, desço, penduro a primeira leva de roupa e coloco a segunda pra bater. Vou pra internet regularizar e-mails, Orkut, contas, pagar cartão decCrédito, escrever no Twiter e relatar nos blogs a epopéia dos shows e do título do Timão. Quando me toco já é perto de quatro da tarde e eu sem banho, sem escovar os dentes e sem almoçar. To atrasado ou não? Banho voando, engulo aquele último filé de frango retirado direto da geladeira pro meu bucho. E simbora tentar chegar na Band antes de se iniciar o rodízio. Senão, além de tudo, ainda tomo uma multa, porra.

Saí por volta de quatro e dez. Se conseguir chegar á marginal até quatro e meia e ela não estiver parada, dá, tranqüilo. Caso contrário, to fudido.

Tem um rapaz que quer me entrevistar prum trabalho de faculdade e marquei estrategicamente na Roosevelt. Dex me ligou e perguntou onde seria a entrevista e ao tomar conhecimento do local já ficou estranha: ela odeia a Roosevelt.

Ok, venci a Eng° Caetano Álvares e a marginal ta andando. Se continuar assim, em vinte minutos aporto na Band. Demorou um pouco mais, mas cheguei sem ser multado. Hoje o Sex Prive Brasileirinhas vive um dia importante: a base de assinantes do antigo canal adulto da TVA será passada pra gente a partir das dez e meia da noite. Isso significa, em números, sair de uma audiência de mil e quinhentos assinantes para cinqüenta mil. É um salto e tanto. 

Dex me liga e me pergunta se Cavalo ligou pra confirmar uma visita com Juju (a dele) e Pedroca em casa hoje. Eu absolutamente desconheço esta visita. Vou tentar falar com ele.

De resto, meu chefe direto foi embora com problemas na virilha. O mais acima ainda não voltou da lua de mel. E o chefão mesmo tb não se encontra presente. Logo, com gatos todos relaxados, ratos rules. Fernando diz que na ausência de chefes, o chefe sou eu. Hum. To fora.

As pautas da semana estão sendo marcadas. Possivelmente uma casa chamada "Nefertiti" na quarta e uma peça sobre os "Cabarés" no sábado. As "cabeças" do Sex Daily com Núbia Oliver que seriam gravadas semana passada, ainda não foram. E devem ser ainda esta semana, sei lá que dia. De resto, to aqui e daqui a pouco to lá na Roosevelt. Segunda feira besta, de ressaca, de título, de alegria, de paz. E umas brejas, quem sabe. Acho que vou comer alguma coisa, pois só comi aquele filé de sola de frango. Depois sarto. Opa, me enrolei...Deu a hora. Fui.

Trânsito cool até a Roosevelt. Paro o carro na frente do P.P.P. (Papo, Petisco e Pinga ou será Porra, Puta e Pinto? Sei lá.) e um cara quer tomar conta pra mim. O carro na frente da minha mesa e o cara quer tomar conta. É demais, nénão? O garçom é o primo do Edu do Dr. Sin e é um cara super gente boa. Já falei com ele outras vezes, mas como to sempre bêbado, esqueço. Ele me cumprimenta e eu me ligo que conheço o cara. A mulher do Banas tem amizade com a mulher dele. Então, ta tudo em casa.

Mando descer uma Serra Malte e começo a pensar em algo pra comer. Lingüinha, ator e um dos habitues do local, vem conversar comigo sobre um lance que ele e o grande gaitista e multi-instrumentista Flávio Vajman fazem que mistura rock com churrasco. Mas não entra em detalhes. Daqui a pouco o Flavio vai passar aqui.

Gente, eu não sei se disse, mas adoro a Roosevelt. Sentado nesta mesinha da calçada eu fico observando as pessoas passando, de travecos a intelectuais, de trabalhadores a mocinhas de mãos dadas. Ninguém beija como as lésbicas. Vira e mexe passa algum conhecido. Enquanto espero o Igor, que vai me entrevistar, vou bebericando a Serra junto com o Lingüinha. Aproveito e ligo pro Bortolotto que ainda ta em casa e daqui a pouco ele aparece pré tomar uma. Ele mora do lado. Robério do Camisa tb mora aqui em cima.

Ainda não são nove da noite. Vou bater papo com o Igor, tomar mais uma e ir dormir. Nada de esticar a balada, senão Dex me mata. Sim, mesmo eu estando de férias do SBT ela me quer em casa. Sim, sim, eu sou pau mandado e faço exatamente o que ela manda. Ou quase.

Velho, enquanto bebo e saboreio um sanduíche de calabresa picada, toca Elvis. Que benção de Deus ouvir Elvis Presley num bar, puta merda. Obrigado, senhor! Um cara sai do bar e me cumprimenta. Este eu acho que não sei quem é. Será o Igor? É. Ele dá um documento preu assinar cedendo os direitos da entrevista e me avisa que é um trabalho de faculdade que deve ter 30 minutos. Portanto, a conversa tem que durar pelo menos isso. Vou ter que falar pra caralho. O papo começa e eu, papagaio descontrolado, falo mais que minha própria boca. Gente, vai falar assim na casa do caraio. No meio de tudo chegam Flavio Vajman, Marião e mais outros amigos. Tão todos enconstados no carro e eu to aqui, destrambelhadanente falando sobre música, tv, Velhas Virgens, esta papagaiada toda. Papo findo.

Eu, Igor e a namorada seguimos falando amenidades. Marião me pergunta se não estou a fim de tomar uma no Mercearia São Pedro, o bar do Marquinho que fica na Vila Madalena. Digo que não, senão Dex me trucida. Ele pede uma carona até lá. Aí tá ok.

Pago a conta, ainda tento bater uma foto com um cara que tava na mesa do lado e ao ouvir o papo veio me mostrar uma música nossa no celular dele. Um fã. Mas o celular ta com a bateria fraca e a foto fica pra outro dia. Ou noite. Agradeço o garçom, Ed (acho) e simbora. Vamos eu, Marião e Lingüinha. Marião reclama que não tem som no meu carro. Explico pra ele que roubaram um carro anterior, entortaram a porta e por isso uso só I-pod. Ok. Faço um caminho meio demente e como sempre dou várias voltas até chegar na Rua Rodésia, onde fica o Mercearia. Eu sempre me perco indo pro Mercearia. Pra quem não conhece, é uma mistura de bar, livraria e mercadinho, com uma porção de produtos de limpeza misturados a livros os mais variados e bebidas. O dono é o Marquinho, barbudo dos mais gentis. É aquele cara que quando ta fechando não consegue negar uma saideira pra ninguém. E olha que ele, assim como o Terra Nova, levou uma multa do Psiu de 26 paus. Alô, Kassab: vai tomar no cu!

Começamos com uma Serra Malte e elas vão se seguindo. O cara que atende no balcão e que eu esqueci o nome é outro boa praça. Ele ta fazendo um Blood Mary. Eu e Marião estamos ali, no balcão, meio hipnotizados pelo drink. A gente se olha e resolve pedir um. Copo gigante. Porra, Blood Mary é demais. Lembro que a prima Carlota faz um Blood sem igual. Este tb ta gostoso. O papo rola sobre esta coisa das multas, do cigarro proibido, da bebida sob controle. Concordo com o Marião: lentamente eles vão tolhendo nossa liberdade. É uma ditadura travestida de democracia e baseada em leis. E isso vem dos templos destas Igrejas Evangélicas da minha rola. Sim!

Tamos aqui no corredor e é tudo muito apertado. O banheiro, claro, fica lá atrás, e cada um que quer mijar tem que passar por aqui, desviando de prateleiras abarrotadas, plenas, superlotadas de livros, todos cobertos por um plástico, pra proteger. Aqui acontecem vários lançamentos de livros, como não poderia deixar de ser. O próximo, sem data definida, é do Reynaldo Moraes. Tem uma foto dele num cartaz, fazendo um discurso emocionado ou declamando algo ferozmente. Pergunto se ele faz sempre isso, pois um dia vi ele fazer uma cena como esta e tenho quase certeza que a foto foi tirada neste dia. Marião e Marquinho confirmam que não é sempre e que a foto foi tirada faz tempo.

É do caralho ficar batendo papo com estes caras que freqüentam o bar: cineastas, escritores, atores e atrizes, músicos, gente defintivamente legal de trocar idéias.

Chegam mais amigos e amigas do Marião e vamos pruma mesa. Eu já devia ter ido embora. Eu nem deveria ter vindo pra cá. Dex vai soltar os cachorros. Mas, mas, mas, ta tão boa a conversa. Mais um Blood Mary e mais Serras. Simbora. Fudido, fudido e meio. E eu to de férias. E isso não vai me salvar.

Tem dois caras numa mesa do lado. Descubro que conheço um deles. É o Keko, que trampa com o Dead Fish. E que trabalhava num estúdio aqui na Rua Purpurina em 93, quando gravamos uma demo sob a produção de Geraldo D'Arbilly. Uma demo fundamental, pois tinha uma cara meio bluesy e fez com que entendêssemos que blues não era a nossa. A não ser aqueles blues cervejeiros e esculhambados que a gente faz. O resultado ficou legal, mas não era nada daquilo. Aí a banda descobriu o que não queria fazer, saca?

O outro cara trampa com a Nação Zumbi. Me conta histórias de apresentações na Europa que me enchem os olhos. É este meu projeto com o Cuelho de Alice: lançar um disco só com baixo e batera, meio numa onda White Stripes, com ritmos genuinamente brasileiros como ciranda, samba, baião, côco, sei lá e jogar o baixo cheio de peso e efeitos em cima. Letras misturando portunhol com spagettenglish e bad french. Uma salada pesada com base brasileira e tocar na Europa. Eu vou fazer isso. Eu vou tocar em Paris, meu velho. Deixa eu engatar o novo disco e a nova turnê das Velhas que vou começar a mexer com este projeto. Coisa pra daqui a dois anos. 

Chega mais um pernambucano que toca na banda Ed. O papo ta divertido e inclui a ViradaCcultural. Carcarah, desenhista, caricaturista e o dono do opala que eu uso no clipe de "Trago com Deus", do Cuelho, dirigido pelo Marião, chega pra encontrar a namorada que já estava lá. Desce mais Serra, desce mais Blood. E a noite segue. Eu lembro que no dia seguinte, terça, seria aniversário de uma grande amiga nossa, atriz, Marisa, ex-namorada do Brum, que morreu faz alguns anos. Um brinde e alguns comentários celebram este momento triste. Ela era uma pessoa do caralho. Muito querida mesmo. Esteja bem Marisa.

Vou ao banheiro mijar e dou com uma mocinha meio breaca caída e com a porta do banheiro sobre ela. Caralho. Ajudo a levantar e cedo minha vez no banheiro masculino, enquanto o staff do bar tenta recolocar a porta. Mijo mijado, volto pra mesa e descubro que o bar já vai fechar. É o medo do Psiu. A gente entra e segue bebendo no balcão de novo. Mais conversa fiada, piadas, demências, histórias. Deu. 

Dou uma carona de volta pros meus amigos. Eles vão pra outro bar, o "Amistosas", do meu tb amigo Charles Bronson. Eu dou meia volta na Augusta e sigo pro Estadão, uma lanchonete que não fecha e serve o melhor sanduíche de pernil do sistema solar. Mas não é sanduíche o que eu quero. Vou de Virado á Paulista. Sim, são quase duas da manhã e eu vou encarar um Virado. Tutu, couve, torresmo, ovo, arroz. Eu adoro isso. O Estadão, entre outras coisas, serve feijoada a partir das seis da tarde do dia anterior, ou seja, começa na terça ás seis e vai até acabar. A feijoada de sábado começa a ser servida ás seis da tarde de sexta feira. Então, numa balada de sexta pra sábado, cansei de passar lá cinco da manhã e mandar uma feijuca antes de ir dormir. É mole. To comendo e bebendo uma long neck. Aqui não tem cerveja de garrafa. Eles não querem bêbados, querem rotatividade. Pedi tb umas "casquinhas" de pernil, aquele couro esturricado. Salgado e delicioso.

Na minha frente estão dois travecões, tb comendo. O loira ta flertando comigo. Eu balanço a cabeça e digo prela tomar jeito. Ela não ta sendo mal educada e eu tb não preciso ser. Esta praia, e isso não é da conta de ninguém, não é minha. Eu gosto de buceta. Mas respeito as outras opções e as diferenças. Mesmo. Terminei. 

Pedi um sanduíche de pernil pra viagem pra fazer um agrado pra Dex. Se ela não quiser, pode ser meu almoço de amanhã. To pagando. Os travecos tb. Ele ou ela insiste com sorrisos. Vá dormir, rapaz. Ok. To no carro a caminho de casa. Isso antes me incomodava muito. Hoje levo na boa. Tem tanto viado em TV que a gente fica escaldado e aprende a lidar com isso. E tenho alguns bons amigos viados. Travecos não.

A cidade é linda e calma na madruga. Cheguei. Escovei dentes e resolvi dormir no sofá pra não incomodar a Dex. É mais seguro. Ela deve estar trancada. Mas que isso não vai ficar assim, eu sei que não vai. Amanhã eu vou ter que ouvir. 

Ainda que não tenha feito nada de mais. Ainda que só tenha tomado umas cervejas com os amigos numa segunda feira. Eu amo a boemia! E a Dex tb.