sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Fim do show. Saio antes e quando a banda entra no camarim to deitado no chão chorando de dor.

Ele toca e eu finjo que não ouço. Claro, o despertador. Enrolo mais alguns minutos e levanto. Tenho que fazer a barba. Tenho muita coisa pra atualizar antes de zarpar.

Jornal. Ronaldo volta domingo, a mesma pasmaceira de política, economia, o mesmo diz-que-diz, o mesmo nhenhenhém. Não to com o menor saco préssa merda. Nem pro Tutty Vasques. To de ovo virado! To com a vó atrás do toco, né André Prata?

O suplemento do fim de semana anuncia na capa a Virada Esportiva dirante o fim de semana em sampa. Virada Esportiva durante todo o fim de semana, sacaram? 31 horas envolvendo 2 mil atividades e, estima-se, 3 milhões de participantes. Seria uma boa matéria pro CQC, se é que vcs me entendem.

Banho. Barba. Faz mais de um ano que não faço a minha, eu mesmo. Só dou uma aparada. Me corto no pescoço. Nada de mais!

Roupa. Camiseta "Ninguém beija como as lésbicas". Internets. Dex acorda meio zonza. Ah,ah,ah, ta dançando uma coreografia estranha. Porra, ela foi tão carinhosa á minha chegada, ontem. Me abraçou, beijou e disse que tava com pena de mim por causa da maratona que se aproxima! Eu a amo! Mal sabia ela. E eu!

Ela vem aqui e me dá um beijo. Dou uma "afofada" nas costas dela e ela se derrete. Um aperto na bunda, claro!

Desceu. A mestruação não, ela, até a cozinha!

Terminei o blog. Vou checar mais umas coisinhas e me mandar. Sigo na frente na pesquisa do Uol, que já tem um quetionário novo em seu lugar. O resumo é: votaram 17.310 pessoas e eu fiquei com 32,87%, seguido da Mônica com 28,06%, o Morgado com 23,88% e a Carol com 15,19%. Será que isso influencia de alguma forma a direção do programa? Num sei. Mas melhor ganhar que perder.

Ângelo Ravazzi, o diretor do documentário das VV que tá pelos festivais, me manda um e-mail crendo que minha exposição no CQC pode alavancar um piloto de programa que a sua produtora faria comigo. A idéia, boemia, é ótima. Melhor até que a proposta de trampar no CQC, se for pensar. O programa rolaria nos bares. Uhu! Vai saber qual será o meu destino? Ta nas mãos do Homem lá de cima. Ele toma conta da minha cabeça!

Fui pro SBT, depois pra Campinas, Campo Grande, São Paulo, Campo Grande, Dourados, Campo Grande, São Paulo e, espero, minha cama no domingo, aqui no pé da Serra da Cantareira. Eu amo este lugar!

Bora pro SBT. Milagres da edição de texto e...Cheguei. Pego algumas coisas no carro e coloco na bola. Ele vai ficar por aqui até terça de manhã, quando volto pra trabalhar. Pelo menos não pago estacionamento!

Vamolá. Que é que tá rolando neste DL? Jorjão foi acompanhar a gravação da surpresa do Valter Leite. Naná ta melhor e mandando bala nas coisas, assim como Ed. Dante dando andamento nas correções da entrega do apê do Tito. E eu aparando arestas aqui e e ali. Ed tá trampando com a gente a cachê faz tempo e tamos tentando agilizar sua contratação. Espero que ele fique. Doidão e eficiente.

Almoço. Gente segue me parando pra declarar apoio. Comida no bucho. Fernando Benini, que vcs conhecem do Topa Tudo por Dinheiro, senta-se perto e comento que tenho visto muitos filmes dele, da época das pornôchanchadas. O cara era jovem, magrinho, cabeludo boa pinta e cheio de amor pra dar, metendo a vara em gente como a Sandra Bréa, muito diferente das barbas e cabelos brancos de hoje. Ele dá risada, lembrando os bons tempos, especialmente os filmes dirigidos por Carlos Reichenbach. Grande cara, o Benini. Ao lado do Ivo Honalda (ambos estão fazendo novamente pegadinhas pro programa do SS) são dois caras que admiro pacaraio e vira e mexe encontro aqui no SBT.

Atenção, Nádya: vai tarde, anda tarde, passa tarde...opa, passou ( a tarde, entende, era uma prece pro dia passar logo e fui atendido...eh,eh,eh...beijos)

Cinco horas.

- Se tudo continuar como está, avisem o Jorjão que ele ta de folga domingo. Mesmo não estando aqui em mais este fim de semana, acho que dá pra dar folga para mais uma pessoa na equipe. Semana que vem só terei show na sexta, em Piracicaba. Então, domingo to aqui! Aí dou folga pra mais dois. Quanto menos a gente trabalha, mas vale o salário que nos pagam.

To no busão do SBT que sai ás 17h10 e vai me levar até a estação Barra Funda do metrô, de onde, ás 19h, sai o ônibus da Azul Linhas Aéreas para Campinas. Ta um transito do quinto dos infernos em sampa e olha sai duas horas antes, com medo de perder esta condução gratuita da empresa. Ao meu lado, no banco, vou papeando com um estagiário do DL.

E não é que acertei em cheio. A marginal ta cimentada e chegamos á Barra Funda 10 pras sete. A fila do busão da Azul é bem na cara de onde o do SBT me desembarca. Fico batendo papo com um cara que me reconhece do CQC. O cara adora trilhas, é biker, e me conta umas aventuras, uma delas até Matchu Pitchu. Ele ama trilhas. Eu prefiro cerveja. Cool.

O busão da Azul tb se atrasa e saímos coisa de sete e meia de sampa, para encarar mais congestionamento.

Caralho! Tem um cara com a maior pinta de pagodeiro carioca, de bermuda , barriga pronunciada, sandália de dedo e boné virado pra trás, ouvindo uma porra duma rádio comercial no banco da frente. Pagode meloso de corno em andamento, alto pra caralho. Tem uns caras que não se tocam. Ao sairmos da cidade, o que leva mais de 50 minutos, o sinal da rádio some. Será que agora vou conseguir dormir um pouquinho? Porra, o celular do cara não pára de tocar e a cada toque entra um ruído especial brega pra caralho, alto que só a porra! Filho da Puta.
Tenho até amigos pagodeiros. Mas este é muito mala.

- Hey pagodeiro, vai tomar no cu!

Claro que este berro ecoou apenas dentro da minha cabeça. Não vou começar este fim de semana atarefado com treta. Não. Vamos na paz.

Viracopos na área. Desço e faço novamente o check in que tinha feito na Internet, pois o código de barra não foi impresso. Resolvo rápido.

Vou praquele bar que vende Schin, mas tb Devassa, Eisenbahn e Baden Baden. Ah, paraíso! Peço uma Baden Baden Red Ale sentado ao balcão. A mocinha repasa o pedido:

- Uma rédi ali, a vermeia, ali!

Pronuncia em inglês não é o forte das meninas. Peço amendoim. Parece haver uma maldição de quebra de copos entre elas hoje. O comentário é sempre o de que "quebrou mais um".

Mudo de lugar, coloco minha bolsa masculina no outro banco e peço agora um chopp Weiss da Eisenbahn. Na minha frente há um copo de batida de morango, acho, esquecido, vazio. À aproximação da mocinha, o copo estala e se parte em dois pedaços sem que ninguém o toque. Ela faz cara de espanto. Imediatamente faço uma imposição das minhas mãos sobre ele, como se lançasse uma energia e fosse o responsável pelo estranho acidente.

A moça se assusta. Olha pra outras, tb espantadas e declaro, inspirado em Zé do Caixão.

- Agora vou explodir uma das garrafas da prateleira!

O grito de "não" vem em uníssono. Cool. O chopp Weiss tá demais, assim como estava a Baden Baden. Deu minha hora. Embarque.

Gente, que mulheres são estas no staff da Azul? Caraio. Que loiras são estas? Mulheres lindas. Esta Roberta tem porte de miss. Caraio!

Os bancos são mais distantes neste avião tornando o processo de ficar sentado mais agradável, sem falar nas pessoas, que são mesmo gentilíssimas. O vôo sai na hora e ta tudo indo nos conformes.

Tamos no ar e São Paulo, não tem jeito, é um lindíssimo tapete colorido á noite. Não tem pra ninguém. Vôo tranqüilo.

Chego a Campo Grande pelas 22h20, horário local. Banas já me aguarda com Carol, produtora dos dois shows, e um motora. Bora pro hotel. Subo até meu quarto e minha mala já está no jeito. Uma cama de casal, um banheiro e num outro quarto uma cama de solteiro.

A mala de figurino está no Barfly, onde vamos tocar. Ligo pra Dex e metade do primeiro estágio deste fim de semana de maratona já está vencido. Agora é show e começar o segundo estágio, voltando pra sampa pela manhã de avião.

Me troco, acionando os chinelos e a bermuda. Ta quente aqui. Fico pelado um pouco. Dou um cagão, me animo e toco uma bronha. Taratatááá!

Meia noite temos que estar lá embaixo. Veja bem, meia noite no horário de Campo Grande, que é uma hora atrasado em relação a Brasília, o que quer dizer o mesmo pra sampa. É por isso que sai ás 21h50 de e cheguei aqui 22h20. Com uma hora de fuso, a gente fica confuso. Seria isso um Hai Kai? Assim o avião não cai! Eh,eh,eh! Porra, esqueci o livro do Reinaldão Morais, onde o personagem principal vive fazendo Hai Kais infames. Bem, como diria Fiori Gigliotti, o tempo passa e simbora descer. Ta todo mundo aqui. Cumprimento um por um e checo se faremos mesmo o set de BH, se as colas estão na mão. Ta tudo meio nebuloso. Van. Barfly á vista.

O clima ta du caraio, lá fora e aqui dentro. Todos brincando, todo mundo rindo. Porta lateral aberta e já encontro o Nilsão. Abrax, mano. Edu ta com a barraquinha na lateral. Fala, veio. Vamos lá pra trás onde vai rolar o esquenta. Passo sem ser notado no meio da galera que curte o Bêbados Habilidosos que tão destilando blues cortantes no palco. Dou uma olha e diviso Renato Fernandes e Marc Blues, baixista e vocal, bons amigos. Mesmo com a correria, depois do show a gente toma uma ou doze, seguramente. Sou muito fã destes caras!

Cá atrás é o quarto de alguém que mora no bar. Tem um banheiro detonado cuja porta veio abaixo. E uma grande cama de casal. Virou camarim. O frigobar ta lotado de breja. Tem vodka e rum sobre a mesa, assim como liquidificador e frutas. Bora esquentar. Um cara para quem prometi dar um depoimento em um documentário sobre o rock brasileiro chega. Não tem luz suficiente aqui, apenas no banheiro. Dou a entrevista sentado na privada.

Uma repórter de rádio pra quem o Cavalo deu entrevista á tarde tb chega. Fotos. Bebida vem, bebida vai, dei uma cagada meio "cóliquenta" na hotel e to meio preocupado em ter que cagar durante o show. Sim, pois este espaço onde estamos agora é só passagem. Minhas trocas de roupa serão no palco, num camarim improvisado atrás do pano da gente. Deve ter um balde com gelo por lá que será, é certo, receptáculo de muito mijo e, quem sabe, merda!

Ok. Ta na hora deu ir pra lá alongar e me trocar. Depois o pessoal vai. Rico vai na frente abrindo caminho. Cumprimento uns e outros que me reconhecem no escuro do bar. To aqui. Vamos alongar.

Sinto uma fisgada estranha nas costas, mas nada pra me preocupar. Quente pra caralho. Pouca luz e ventilação. To pronto. Banda chega. Anuncio feito. Adoro Campo Grande. A galera curte rock e sabe do que fala.

Bora. Será o mesmo set de BH, com as novas "FDP", "Gênio...", "Strip'n'blues" e "A Última partida de bilhar". Bora.

Primeira canção em andamento. Me estico por sobre as cabeças das pessoas e, ai, um puxão mais forte na musculatura das costas do lado esquerdo, fisgando o músculo da coxa. Volto á minha posição e a dor não pára.

Terminou a primeira música e embora eu esteja semianestesiado pelo álcool, a dor me incomoda. A partir da segunda canção a dor se intensifica de tal forma que mal posso ficar em pé. Me prego no pedestal a là Joey Ramone e sigo cantando com muita dificuldade até que termina "Tudo Que a gente Faz", por sinal, uma homenagem aos Ramones. Antes disso, FDP foi legal. Saio e me deito no chão, urrando de dor encoberto pano e tendo meu grito sufocado pela Mulher do Diabo que já ta comendo no palco.

Peço a Rico, que ta me ajudando, que me alongue pra ver se a dor diminui. Me troco com muita dificuldade. "Strip'n'Blues" foi bem. Volto pro palco com as costas latejando, com espasmas de dor que ameaçam me fazer desabar. E assim segue todo o show. Puta que pariu, já não basta minha correria, ainda vou ter que faze-lo com as costas limitando muito meus movimentos e me impingindo uma dor filha da puta? Em meio ás letras das canções, ás brincadeiras com o povo e ao álcool que atrapalha e organiza minhas idéias, penso nas dificuldades que terei pra fazer toda a maratona deste fim de semana e, como todo canceriano, sinto pena de meus infortúnios. Tudo isso entre um solo e outro de guitarra. O show, ainda assim, segue sem dar pinta do que ta rolando comigo. Faço o Gênio que vira bem. A Ultima Partida de Bilhar tb vai legal, apesar de ser lenta. A dor segue e passo a avaliar a possibilidade de interromper o show, sair do palco e ir pro hospital, neste turbilhão de inseguranças, ódios, medo e sentimento de vingança que chacoalham dentro da minha cabeça.

Peço que Rico faça a Cuba Libre mais forte que já fez na vida e me dê. Do jeito que estou, um simples movimento de abaixar pra pegar uma breja ou uma gaita torna-se uma epopéia. Uma aventura. Uma jornada. Jornada do herói. Hum! Antes de conseguir aquilo pelo que lutou por todo o tempo, o herói tem uma prova final que vai mostrar se ele merece ou não alcançar seu objetivo. Ai, meu Deus!

Dou vários goles grande na cuba que tá puro óleo diesel. Fico mais tonto, erro palavras, gaguejo, mas a dor continua intacta.

Fim do show. Saio antes e quando a banda entra no camarim to deitado no chão chorando de dor. Cavalo, pra ganhar tempo, volta e faz "Não Vale nada". Entro no fim, de mago, com toda a dor do mundo. Fazemos Rauls. Vamos terminar sem Sitio de Sorocaba e Beijos de Corpo. Não! Fazemos mais estas duas e saio do palco direto prum carro que a produtora arrumou. Vamos eu, ela e Banas pro hospital.

To deitado atrás e a dor beira o insuportável. O primeiro pronto socorro não pode me atender. Vamos pra Santa Casa. Acho. Não consigo sacar o que tá acontecendo. To bebaço e, mais que a chapação, a dor me domina.

Fecho os olhos. Abro e to sentado em frente a uma mesinha, num consultório, aparentemente á espera do médico. Ele chega com a cara amassadíssima. Tava dormindo. Passa de cinco da manhã. To com dores e os movimentos limitados por uma crise de dor na coluna e daqui duas horas tenho que estar dentro de um vôo pra sampa onde vou gravar uma matéria ligada a esportes. Ai, meu Deus, me ajude, senão fudeu!

- To bebaço, dr. Mas a dor ta demais. Já tive isso há muito tempo atrás e só o que aliviava era cortizona!

Não sei se ainda dormindo, ato contínuo, o homem receitou corticoides e mais umas porras num soro intravenoso que agora vejo pingar e adentrar minha veia. Banas ta no quarto e gemo de dor. Carol está com as mãos justapostas sobre mim, fazendo um reiki. Toda ajuda é importante. Ninguém precisa me curar agora. Basta tirar a dor e permitir que eu faça o que tenho que fazer hoje.

Apaguei. Lá se foi o soro, com direito a ronco animal ecoando por todo o hospital.
Carro. Hotel. Muita dor ainda. Parece que não me deram nada!

To sozinho no meu quarto tentando tomar banho e a dor segue me açoitando. Troco de roupa, peço que Banas dê um jeito nas minhas coisas, uma vez que não posso sequer me abaixar. To vestido. To no carro a caminho do aeroporto. Caminhando com passos curtos e a dor gigante. Check in. Sala de espera. Embarque. To caminhando naquela velocidade em que as tartarugas e as lesmas passam por mim e dão tchau. Fudeu. Era só o que me faltava.

To sentado no meu lugar perto do corredor. Tamos no ar. Vou apagar. Espero que , quando acordar, o pesadelo tenha passado.