sábado, 19 de setembro de 2009

Lá vem Dex. Me abraça ainda sentado e choro ainda mais nos ombros dela. Sorry, mas não posso resistir. Acho que fudeu!

Acordo em algum lugar entre São Paulo e Campo Grande, muitos mil metros acima de ambas as cidades. Pelo menos sentado a dor aliviou.

Meio em transe, pelos remédios, pela bebedeira e o pouco tempo pra dormir, cheguei.

Ao levantar noto que a dor diminuiu e fico mais esperançoso. O vôo é internacional e veio da Bolívia. Desembarcamos na ala internacional. Pego uma fila descabida para a alfadega. Reclamo que to vindo de Campo Grande, não da Bolívia. A moça me manda passar sob uma daquelas divisórias de elástico, esqueço da situação e ao fazer este movimento sinto uma forte fisgada que quase me faz desabar no chão. A partir de então ando com muita dificuldade, a ponto de solicitar de um funcionário uma cadeira de rodas. To vendo o sonho de ser o 8º CQC ir pro buraco e tá me dando vontade de chorar.

Ligo pra Dex que ta me esperando em alguma parte do desembarque em Cumbica. Cadê a cadeira, caralho? Foda-se. Me levanto e sigo andando a passo de que está com algemas nos pés. Presidiário da dor.

Vou falando com a Dex via fone e caminhando como um carro avariado que volta pro Box. Sento-me num ponto do desembarque do terminal dois, já do lado de fora, e começo a chorar por trás das lentes escuras. Lá vem Dex. Me abraça ainda sentado e choro ainda mais nos ombros dela. Sorry, mas não posso resistir. Acho que fudeu!

Ela deixou o carro no estacionamento. Diz que vai pega-lo, mas insisto em ir andando. Caminhada dolorosa. Em determinado momento desisto, me sento e peço que ela vá buscar o carro. Quando estava ainda em Campo Grande liguei pro meu irmão médico, Cá, notando que nada fazia efeito e pedindo que ele me indicasse algo pra tomar em sampa. Agora é hora de tentar uma nova medicação. Ainda há uma esperança. Eu não desisto! É quando a vida me desafia que eu sempre dobro a aposta!

Peço que Dex siga sentido Pacaembu, onde fica a produtora, sempre de olho na aparição de uma farmácia. Opa, ao lado da produtora, além do Pão de Açúcar, tem uma. Tento comprar a injeção que meu irmão indicou, mas não há ninguém pra aplica-la. Além do mais, sou informado que ninguém mais da injeção em farmácia sem receita médica. Compro um antiinflamatório, relaxante muscular e sei lá mais o que a ser ingerido via oral. Como umas barrinhas á venda na drogaria para não fuder meu estomago com o remédio. Tudo resolvido. Vamos pra CuatroCabezas. Pego a mochila trazida por Dex que contém artigos preu pular numa piscina, como parte da matéria esportiva. Me digam vcs, como vou pular numa piscina se mal consigo andar? Ok.

Dex se foi, não sem antes beijar-me e desejar sorte. Vou precisar. Sigo andando com dificuldade. Apenas um dos produtores, Salinas, ta na área. São onze da matina. Ele me passa algumas informações. Abro a Internet e tento criar algo em cima da pauta. As pessoas vão chegando: câmeras, áudio, motora, minha adversária momentânea, dois dos CQCs que vão apadrinhar-nos na gravação. A dor ta presente, mas suportável. Tento informar a todos do estado físico em que estou, mas meu caminhar lento e adernado para a direita diz tudo. Vamos sair. Daqui pra diante é segredo e vcs vão ver no ar, segunda. Tenho que dizer que começamos a gravar pela uma da tarde e paramos depois das 16h, basicamente no centro aquático do Pacaembu e no Anhangabaú.

Entrevistei (ou quase) todas as celebridades e autoridades presentes. Tive crises caminhando onde fui ajudado por Danilo Gentilli que, como o nome indica, é um cara sensacional: sem o cara eu não teria conseguido fazer o que fiz. Brigado, amigo!

Cinco da tarde. To num táxi indo pro aeroporto de Cumbica. Ta cedo, pois o vôo só sai ás 22h. Ligo pra Dex pra dizer que consegui fazer tudo e, graças a Deus, com qualidade. Sinceramente, com mais qualidade que na do Raul. A dor segue intensa, até maior por causa do esforço e de ter ficado muito tempo em pé.

Ela insiste que eu vá pra casa descansar um pouco ao invés de ir penar no aeroporto. Mudo o itinerário e, entre comentários com o motora de que o transito em Sampa ta tão filho da puta que não dá folga nem em sábado, to em casa.

Beijos, carinho. Bode. Uma hora deitado e a esperança que a dor diminua. Meu trabalho hoje foi tão bom que me dispensaram de gravar amanhã. Quer dizer que o estágio dois se foi. O próximo desafio é, depois de esticar as espinhela na cama e tomar banho, pegar o vôo, andar 300 km e fazer o show em Dourados. A cama reanima pouco. Uma hora de repouso não é nada, mas tamaqui. Banho. Ainda dói. A caminho do aeroporto. Ainda dói. Dex me deixa. A dor não! Ando com dificuldade. Mil beijos, amor. Eu te amo!

Check-in eletrônico. Vou prum bar onde sei que tem Guinness. Sento perto do caixa. Agradeço a Deus entre um gole e outro desta deusa negra irlandesa. Abro o celular pra enxergar se alguém me ligar, pois coloco o fone. Ta tocando "Starry Starry Night", Don Maclean. A história de um gênio incompreendido como Vincent Van Gogh que, diz a letra:

"And when no hope was left in sight, on that starry starry nigh .You took your life as lovers often do".

Vcs sacaram? Algo como, "e quando não havia mais esperança, vc tirou sua própria vida, como amantes eventualmente fazem". Os versos aumentam minha pressão emocional interna e o resultado são dramáticas lágrimas descendo enquanto o casal da mesa ao lado joga vídeo game animadamente. Caraio, quanto terror! Mas fiz meu trabalho. Bem feito. Du Coleone, chefão do crime cultural de Ibitinga, me manda um torpedo querendo saber o que rolou. Assim como meu sobrinho Dani, meu outro sobrinho Emerson (este com recado gravado) e outros amigos e amigas. Brigado, gente!

Ligo pro Coleone chorando com Don Maclean cantando. Abrax, bro.

Peço uma porção de filé de frango aperitivo enquanto abro a segunda Guiness. Entra "Too old to rock'n'roll and too youg to Die" do Jethro Tull e desabo a chorar mais intensamente. Velho pro rock e jovem pra morrer, né? Mas no fim muda e diz:

"And he was too old to Rock'n'Roll but he was too young to die. No, you're never too old to Rock'n'Roll if you're too young to die".

Parece muito autobiográfica, não? Dá-lhe chorar mais. Se continuar assim vou menstruar.

Uma Warsteiner está no copo.

Que porra de complô é este: Sarah MaClachlan, Arms of na Angel? Caraio. "Gaste todo o seu tempo esperando por uma segunda chance, neste intervalo que vai fazer as coisas melhorarem. Tem sempre alguma razão pra gente não se sentir bom o suficiente". Vou desidratar. Cerveja ingerida, lágrimas engolidas. Bora pro terceiro estágio, andando com difiuldade pra caralho.
O embarque é no portão 21. E cada passo é um drama. Parece que tudo piorou depois destes momentos sentado, cheios de desabafo. A dor é tanta que tenho que parar e me sentar duas vezes até chegar ao local. Penso em pedir uma cadeira de rodas. Mas sigo a pé. Inside.

Porra, sentado no avião tudo melhora. Há um casal com uma filhinha ao meu lado. To com o I-pod á toda. Passo todo o trajeto ouvindo e dançado. Do outro lado do corredor há uma mocinha magrinha, pequena, tira suas sandálias de dedo e massageia sensualmente seus delicados pés descalços e não posso negar que esta é uma cena cheia de sedução, prum pedolátra como eu.
Viagem ótima, com muita música e dança sentado. Se as coisas pegarem, farei o show sentado hoje. A garganta não tem fisgada e ta ótima. Obrigado, meu Deus por ter chegado até aqui. E se cheguei aqui, Tim Robbins, quem sabe consigo ir mais longe? Né, Morgan Freeman!

Ok. O atendimento da Gol já foi mais aconchegante, como o da Azul. "Ahora" ta profissa demais. Beleza.

Vejo pela janela a mesma imagem de Campo Grande á noite que vi ontem quando cheguei. Déjà Vu? Não. Realidade.

Desço do avião sem dor, como aconteceu em Sampa de manhã. Mas á medida que caminho pelo aeroporto atrás da minha carona para Dourados, as dores voltam. Carol, a produtora, me encontra. Me leva até o carro que será dirigido por Preto. Tem tb mais uma mocinha que esqueci o nome. Viagem de carro boa. Cobrimos os 300 km de Big Field a Dourados em duas horas e meia como eu havia previsto que um motorista malaco faria. Preto é fã da banda e repete várias vezes que tudo o que ele quer agora é chegar, abrir uma Skol e vira-la no gargalo. Depois abrir mais uma e beber mais lentamente.

Foi muito bem, véio. Chego ao hotel e ainda tenho tempo de auxiliar Rico na montagem da mala de figurino. O bar onde vamos tocar fica a 100 metros daqui. Um pequeno passo prum cara saudável, mas um passo gigantesco para mim.

Rico colocou as roupas molhadas para secar pela cama e ta tudo em cima. Mala montada, a banda foi pro bar. Parece que o baixista da banda de abertura teve problemas e foi pro hospital, obrigando os colgas a se apresentarem sem ele. Como diria o saudoso Simplício:

- Ta sortô!

Quem ta "sortô"? O cão!

Antes de sair, cruzo com nosso técnico de som que convenientemente é tb fisioterapeuta. Caran me põe na cama e dá uma alongada profissa de uns 20 minutos. Melhora muito. Brigado, irmão!
Bora. O show é ao ar livre. Tem cobertura apenas no palco. O camarim para troca de roupa fica numa espécie de tenda ao lado do palco. To aqui, bebendo uma e outras para desespero do Banas.

- Chefe, bebendo ou não, a dor é a mesma. Se bebo, curo pelo menos meu humor!

E esta frase proferida de minha boca encerra discussões. Banas tb ta avariado, tomando remédio e tal. Mas segue sem beber. Me visto com pouca dificuldade. Peço a todos que pulem mais intensamente hoje. Ta frio em Dourados, o que é bem estranho. E para evitar que eu passe boa parte do show sem camisa, limamos "Homem lindo". De resto, cuidado nos ataques ao meu corpo durante "Blues do Velcro", Ju. E vamos no mesmo set de ontem.

Evito pulos, mas química dos acordes do rock fazem a mágica e me sinto mais forte pra conduzir a bagaça. As canções novas vão bem. Tudo vai sob controle. Num intervalo entra o grito que já vai ficando tradicional, nestes dias: "Paulão no CQC". Faço um flash back ligeiríssimo do meu dia e quase choro de novo.

Ao final do show sinto dores mais fortes. Volto pro bis. Acabou o bis. Agradecimentos e fico sentado numa cadeira dentro da tenda que virou camarim. Excepcionalmente, vou receber a todos sentado, como papai Noel. Assim rola. Aparece um ex-tecladista do Bando do Velho Jack. Aparece um monte de gente. Fotos, abraços, alguns e algumas não resistem ao fato de eu estar sentado e aterrissam de leve no meu colo. Dex não vai curtir, mas não há nada que eu possa fazer. Muito menos sexo, Dex, creia.

Volto ao hotel a pé e os 100 metros tornam-se um desafio da madrugada. Quarto. Banho longo. To pronto. Tem um táxi á minha espera pra me levar ao aeroporto de Campo Grande. A produtora e minha anja da guarda do fim de semana, Carol, vai junto. Brigado pelo apoio menina. Já que to com a passagem comprada, vou voltar de avião evitando o "chacoalha-coalha" de 14 horas de busão até sampa. Meu plano é ir direto pro hospital.

Vou deitado no banco de trás. Estagio três completo. Iniciando estágio quatro, o útimo. Goin to Big Field na back to sampa. O carro roda pela estrada e embala meu entorpecimento. Seis e meia da manhã.

A missão comprida tá quase cumprida. Graças a Deus.