Japão (ou Plutão?)
- 14 de dezembro de 2012 (quando?) –
Sunshine City Prince Hotel (heim?) – Tóquio (se vc tá dizendo...) –
Sexta feira (?)
Ai!Aaaiii! Que tipo de lutador de sumô me atropelou?
Gente! Que ressaca é essa? O relógio? Passa de meio dia. Adney está adernado e
mudo. Morreu, certamente. Eu não tô muito melhor! Enjôo. Dor de cabeça.
Sucumbirei? É isso! É chegada a hora da
despedida. É fato que este meu corpo, receptáculo de tantas substancias
tóxicas, não suportará este último golpe alcoolico em terras do sol nascente.
No atestado de óbito estará escrito: morreu vítima de intensa e descontrolada
bebedeira. Desafortunadamente não verei meu time na final do mundial
interclubes de Yokohama no domingo. Deixarei este planeta vil ainda neste amaldiçoado
dia 14 de dezembro. Dentro em breve os vermes estarão fustigando minhas carnes
embebidas em álcool. Sim, Jim
Morrison, this is the end. I’ll never look into your eyes, again!
Ameaço levantar-me, mas o corpo não responde. Prostro-me
no leito e aguardo a visita da morte. Acabou! Café da manhã já perdemos faz
tempo. O que estava planejado para esta manhã, mesmo? Nada! Morrer!
O relógio. Uma da tarde! Adney segue na mesma posição.
Apenas um ou outro suspiro, possivelmente o final, sai-lhe da carcaça fétida.
Arrasto-me até o banheiro. No espelho a imagem é tenebrosa. Serei mesmo este
espectro branquelo que se reflete? Vampiro tequileiro. Ébrio do saquê. A
banheira. Isso. Vou enche-la e deitar-me aqui.
E assim será encontrado meu corpo: nu na banheira japa que não comporta
meu tronco e minhas pernas esticadas. O quê? Um barulho no quarto. Adney
revira-se na tumba? Peço ajuda. Ele grunhe! Peço que traga a máquina
fotográfica e registre este meu derradeiro momento. Ele fotografa a tétrica
cena e volta pra cama. Ninguém vai sair vivo deste quarto hoje.
Passa-se uma hora e meu corpo mergulhado na água tépida dá
sinais míseros de recuperação. Preciso comer alguma coisa. Com o dedão do pé
retiro a tampa do ralo e a água vai se esvaindo. Dentro em pouco encontro-me
congelando á temperatuda ambiente do banheiro. Toalhas. A privada. Fezes.
Alívio mínimo. Sensação de terremoto. Será Neymarzilla novamente? Não! É a
tontura resultado da noite de esbórnia.
De volta ao quarto convenço meu parceiro de infortúnio e
cefaleia a sair daquele torpor e procurar um restaurante no shopping anexo. Com
movimentos lentos e mal coreografados, nos paramentamos e saimos hotel afora,
caminhando até o andar dos restaurantes no shopping. Nosso corpo ora parece
pesar uma tonelada, ora fica sem peso, como se estivessemos na ausencia de
gravidade lunar. Miami Garden. Massas. Na vitrine, como em quase todos os
reaturantes deste shopping, pratos cenográficos para ilustrar o que se pode
comer. Pode ser aqui. Macarrão à bolonhesa? Sim. O copo dágua tradicional vem á
nossa presença com duas pedras de gêlo. Água. Santo remédio. Sorvemos o
precioso líquido e solicitamos mais. Coca Cola? Sim! Tudo. Adney aventa a
possibilidade de pedir uma cerveja. Ele está melhor que eu. Eu bebi mais. Eu
sempre bebo mais. Négo com vêemencia. E repugnancia. E ânsia! A comida não
desce. Rodrigo nos encontra no restaurante. Diz que precisa tirar fotos na
frente do restaurante Bambi, pra sacanear os sãopaulinos. Adney diz que tb quer
ir. Eu não quero nada. Quero perecer.
Almoço finalizado. Edu surge junto com Rodrigo. Jorginho.
Os moicanos vão aparecendo. A idéia é ir de metrô fazer compras na Santa
Ifigenia deles. Até que após a ingestão do macarrão um pequeno fio de vida
surge dentro de meu ser. Não é todo dia que se vai a Tóquio. Preciso reagir.
Adney diz que andou de metrô no dia anterior e que é só pedir informações na
portatia do hotel e sair á caça das bugigangas. Simbora. Uma rápida passada no
quarto pra pegar mais grana e vamos nós. Tabajara e Rochinha tb vão.
Meu objetivo é musical e se chama gaita de boca. Estou á
procura de gaitas Lee Oskar ou alguma japonesa de qualidade. Vamos caminhando
em direção à Ikebukuro Station num trajeto semelhante ao realizado na bebedeira
do dia anterior. O ritmo é que é bem mais lento, uma vez que não estamos
movidos a álcool. Nosso destino é Akibahara/Shinjuku.
O metrô é uma cidade sob o chão. Milhares de pessoas em
movimento continuo, dezenas de entradas e acessos a metrô e trem, bilheterias,
barraquinhas de guloseimas, lojas e gente demais. Estamos sob a terra, dentro
do formigueiro. O mapa do metrô parece uma fórmula matemática ou coisa
parecida. As malditas arvorezinhas, luzes piscantes, linhas, circulos. Me
parece, pelo menos aqui na região de Tóquio onde estamos, haver dois ou três
rodoanéis ferroviarios. Então vc entra no metrô e ele dá uma volta por 20, 25
estações, retornando ao mesmo ponto de onde saímos. Metrô circular. Estamos
indo. A ressaca dá uma pequena trégua e seguimos observando e comentando sobre
os japoneses e seu país. Vez por outra uma mocinha interessante passa por nós,
carregando consigo nossos olhares de rapina. Estamos ressacados, mas somos
homens. Ou meio-homens. Há esta lenda de que os japas costumam assediar as
moças nos vagões e por isso a maioria dos homens faz questão de viajar
segurando nas alças de segurança, mantendo mãos e braços bem visiveis. Uma
denuncia de assédio promovida contra um estrangeiro pode mandar o cidadão
embora daqui imediatamente. Até que estamos nos guiando bem. Pronto. É aqui. E
agora? Pra qual lado? Um questionamento dentro do próprio metrô e o policial
nos indica a região que poderá,
aparentemente, suprir todas as nossas necessidades de compra.
É divertido andar nas ruas de uma cidade desconhecida.
Tudo é motivo de observação e comentário. E como tem corinthiano no local,
minha gente! Um grupo grande surge à nossa frente e nos indica o tal
Yodobashi-Akiba, nosso shopping horizontal. Sim, sim, #VaiCorinthians!
Na fachada do prédio, muitos luminosos com marcas
mundiais: sandisk, wimax, nikon, sharp, cannon, bufalo, brother, Apple, regza.
E,claro, muitas arvorezinhas.
À entrada combinamos nos reencontrar uma hora depois, na
mesma porta. A tal loja de departamentos tem muitas portas. Isso vai dar merda!
Vou caminhando sozinho e tento perguntar onde posso encontrar instrumentos
musicais ali. Curi-curi-curi ! Ninguém entende quando eu falo “Harmonica” ou
“musical instrument”, mas compreendem o gesto de levar as mãos á boca como se
eu tocasse. Dois andares acima? Não, aqui não vende gaita? Sei lá. Vou andando.
É uma loja de departamentos com absolutamente tudo. Brinquedos pra Maju?
Brinquedos pra crianças? Baratinho, né? O que mais? Videogames? Aparelhos
eletronicos. Tudo, mesmo! Ô, ô...dor de barriga! Me dirijo apressado ao
mictório mais próximo e coloco meus meninos pra nadar. O painel que aciona a
água quente é mais simples que do hotel. Só tem um tipo de jato. Claro, é um
banheiro masculino. Idiota! Este jatinho dágua quente no toba é muito
agradável. De volta às compras. Acho que não tem loja de instrumentos musicais,
mesmo. Já deu a hora de sair? Não! Mais um andar. E não é que bem na frente da
escada rolante tem uma loja de pianos e teclados. Começo a perambular pelo
local e encontro um “Ukelele Flying V”
por cerca de de 16 mil Yenes. Cavalo iria gostar. 16 mil yenes, vamos ver, 200
e poucos dolares e 400 e poucos reais. Não tá caro, mas não é pechincha. Vai
ficar pra próxima, Cavalo. Sorry, cumpadi! Vou até o balcão e encontro,
finalmente, gaitas de boca. Pergunto da Lee Oskar e tá caro. Mas tem uma
japonesa bem parecida que tá em conta. Preciso em dois tons: ré e do.
Infelizmente eles só têm uma em ré. Ok, vou levar essa.
Olha o Edu perdido ali. Descemos juntos e passamos a
esperar o resto do grupo. Chegam todos, menos Rochinha. Adney tá com fome e vai comer uns trecos empanados. Minha
garganta doi com o frio. Voz? Só um fiozinho. O nariz está todo ferido com a
secura do ar. Fumantes executam seu trabalho tabagista na área demarcada da
calçada. Muitas bikes estacionadas nas calçadas. Minhas pernas doem de tanta
andança chapado ontem. Não pode sentar no chão. Cadê Rochinha? Edu vai
procura-lo. Sumiu. Rochinha reaparece e agora é Edu quem não volta. Adney
voltou. Vamos dar um rolê no quarteirão pra passar o tempo. Uma churrascaria
brasileira. Tem a foto de um gorila. Será que servem carne de gorila? Ou só
pode entrar se for gorila? Estarão nos chamando de Gorilas?Tá me dando fome.
Opa, tem uns puteiros de gueixas na área. Será que tem gorilas no puteiro?
Vamos andando e notamos alguns restaurantes oferecendo o tal sushi de Maguro
que o Afonso falou. De fato, o peixe se “deita” e sobra largamente sobre o
arroz papa. Voltamos ao local do encontro. Edu reaparece. Vamos embora. Mais
metrô. Formigueiro por todo lado. Desta vez tamos em horário de pico e surgem
os tais empurradores, funcionários contratatos pra “socar” as pessoas dentro
dos vagões e fechar as portas. Sardinha em lata. Me lembro da hora do rush em
sampa. Caminho inverso em andamento. Não consegui comprar as gaitas que queria.
Parece que há uma rua só de instrumentos musicais em Tóquio chamada
Meidai-dori. Mas fica longe. Tentarei ver isso amanhã com a ajuda do Afonso.
Caraio! Tínhamos marcado de sair com o Afonso hoje á noite pra assistir uma
banda de blues. Consulto meus parceiros e tá todo mundo zuado da noite passada.
De volta ao hotel, Adney liga pro nosso host e pede a ele que cancele o
programa. Afonso se mostra feliz com o cancelamento, pois tá atarefado com seus
estudos. Marcamos um encontro pelas 11h da manhã no nosso hotel no dia
seguinte, sábado, para ai sim dar um longo rolê. No programa, diz Afonso, uma
visita á fábrica/museu da cerveja Yebisu, um templo para Adney que não foi com
a gente ontem, a rua dos músicos pra mim, depois banho no hotel pra tirar o
budum e balada noturna incluindo bebedeira num butecão típico japonês, depois
festa de fim de ano promovida pela embaixada inglesa (uau!) e por ai vai. A
noite nunca tem fim aqui no fim do mundo. E com uma previsão de programa como
estas, precisamos desta noite bem dormida pra encarar a tour Afonseana do dia
seguinte.
Tô com fome. Dou um pulinho solitário no shopping e fico
rodando, sem saber onde comer. Miami Garden de novo, não. Rodo, rodo e nada.
Passo por um empório com muita cerveja japonesa. Preciso vir aqui antes de ir
pros States. Jantar? No fim, encaro uma espécie de hamburguer com molho, batata
cozida e arroz papa no famoso Bambi. Sim, água gelada de entrada. Não, nenhum
sãopaulino por perto. Coca Cola. Um missoshiro delicioso pra abrir o apetite. A
decoração interna faz referencia a alces e veados, numa alusão clara ao
personagem de Walt Disney. Tai a razão do nome pra vc que achava que o
restaurante havia sido fundado por sãopaulinos radicados no japão. Chega. Não
atingimos nem 9 da noite e meu corpo implora pela cama. No corredor encontro
Rivelino, o cozinheiro. Ele me diz que foi até o monte Fuji e que foi uma
merda. Não viu nada a não ser Andrés Sanchez, ex-presidente do Timão e celebridade corinthiana. Me diz que foi a um
restaurante. Me dá detalhes do que comeu e não gostou. Vomita 30 mil palavras
em 1 minuto. Quando ameaço contar algo sobre a minha noite anterior ele vira as
costas e vai embora sem mais nem menos. Doutor gentileza. Volto ao quarto do
hotel e dou com Jorginho e Adney preparando uma ida ao shopping para tirar foto
na frente do restaurante galheiro e comer mais alguma coisa. Peço a Jorginho
para usar seu skype e consigo acessar minha casa. Os olhos se enchem de
lágrimas ao conversar com Dex. Maju sobe no seu colo e aí as lágrimas são
incontroláveis.
-
Oi, papai...tô com saudade...
Maju ensaia poucas palavras e eu tô soluçando aqui do
outro lado do mundo...Lá é de manhã. Lá é sexta de manhã. Eu to cerca de 12
horas á frente do tempo brasileiro. Meu dia ressaqueado acabou e o deles ainda
tá começando. E eu não morri. Ai, que dor no coração. Mil beijos, meus amores.
Ainda faltam 8 dias preu voltar. Ainda vou pra Nova Iorque. Ainda serei campeão
do mundo. Fim de transmissão. Hora de rastejar pro leito e apagar antes que o
castor roncador volte e transforme este quarto num pandemonio de decibéis sem
controle.