Retomo a lucidez por volta de meio dia, a estrada comendo lá fora e a ressaca me roendo por dentro. Pelo que pesquei no ar, serão quinhentos e cinquenta quilometros até a Serra Gaúcha. Tá frio. Tá muito frio. E eu, burro, tô de bermuda. Pernas de fora. Tento cobrir esta região do corpo onde tenho mais frio com os curtos cobertores de bordo. Que é que eu faço? Leio? Leio! I-pod? Não. Fome? Pouca.
Opa, o busão parou pro almoço. Vamos jogar algo no estômago pra tentar melhorar este sabor de batente de bordel que tá na minha boca. Chuva e frio.
Cá dentro, onde rola o espeto corrido, uma lareira central melhora a sensação glacial que tomava conta de mim. Buffet. Hum. Coca cola zéro.
De volta ao busão. Ainda vamos rodar pra caralho. Frio. Sono. Acordo. Durmo. Porra, nunca chega esta porra. Serra Gaúcha. È bonita mesmo. Chegou? Quatro e meia da tarde. Bento Gonçalves. Ainda faltam mais uns vinte quilometros. Caraio. Não aguento mais ficar sentado nesta porra. Roy passa pra ir ao banheiro. Descubro que ele arrumou mais uma confusão para sua coleção. Saiu do camarim com uma garrafa de vodka e foi perseguido por uns caras que queriam tomar a garrafa dele. É o Zé Tretinha. Edu vomitou. Não deu tempo de chegar no banheiro. Tá tentando limpar usando copinhos d'água. Parece que agora chegamos de verdade.
Hotel. É uma espécie de hotel fazenda. Parece que o contratante não reservou a quantidade pedida de quartos. Vamos ter que nos hospedar em duplas. Zé Tretinha vai ficar comigo. São chalés. Tá frio pra caralho. Vamos nós, procurando a cabana F-1. Taí.
Hotel. É uma espécie de hotel fazenda. Parece que o contratante não reservou a quantidade pedida de quartos. Vamos ter que nos hospedar em duplas. Zé Tretinha vai ficar comigo. São chalés. Tá frio pra caralho. Vamos nós, procurando a cabana F-1. Taí.
Roy fica com a sala onde tem sofá cama e TV. Eu fico no quarto. Começo a pendurar meus trapos e farrapos pelas paredes. Roy estourou um. O ar condicionado teima em não esquentar. A mocinha vem ajudar, mas tb não sabe como. No meu quarto tem um ar que funciona e já está aquecendo a porra toda. Quero escrever o blog. Tomo um banho e subo pra portaria. A porra do computador derruba a conexão toda vez eu tento salvar o texto do blog. Resolvo o Twiter, respondo as coisas do Blogspot, mas não dá pra escrever. Desisto.
De volta ao quarto. Cama quente. Livro do Reinaldão. Pornopopéia tá du caraio!
Os caras vão sair pra jantar. Eu peço pra me trazerem algo. Não vou encarar este frio. Cochilo com o livro na mão. Olha o Banas aí, com meu jantar. Tô com fome. Salada e carne. Pra baixo. Mais bode.
Roy foi pro chuveiro. Tô arrumando minha mala e com uma vontade louca de cagar. Não quero interromper o banho do cara pra cagar. É. Mas não tem jeito.
- Roy, pelo amor de Deus, me deixa entrar pra cagar!
Ok. Vou dando descarga pra não feder muito. Roy tá fazendo a barba. Tá bem humorado. É um cara de boa. Sempre.
Terminei. Mala arrumada. Bora. Tô na recepção. Pinta um papo que parece ter esvaziado um pouco nosso show. Algum idiota mandou um e-mail pra vidente Mãe Dinah, perguntando se poderia acontecer alguma coisa ruim no nosso show, hoje á noite. A retardada da charlatona respondeu que a boite iria desabar. E isso fez com que o povo da cidade evitasse o show. Pode? Deu meia noite. Todos começam a me cumprimentar. Brigado, galera.
Os contratantes não disponibilizaram uma van pra nos transportar. Estamos indo em duas viagens, contando com a gentileza de uma galera que veio de Vacaria numa van escolar. Olha a galera aí. A Ane pula no meu pescoço e está trêmula por nos conhecer pessoalmente. Porra, vieram de Vacaria em excursão pra nos ver e terminaram levando a gente pro show. Tá todo mundo eufórico. É sempre bom ficar pertinho dos fãs assim.
Mil fotos, beijos e autografos depois, tamos no camarim da boite Shelter. Lá fora rola funk carioca. Aqui a gente vai se embebedando. Já fui com a parte de baixo da roupa de pirata. Tá frio pra caralho. Rico me mostra o acesso ao palco. Já tocamos aqui outras vezes. Termino de me vestir. Foto pro jornal da cidade. Vontade louca de cagar de novo. O banheiro é meio podre, mas só de ter banheiro já fico feliz. Cago uma vez. Duas vezes. Tô pronto. Bora pro palco. Tem gente de várias cidades: Garibaldi, Soledade, Passo Fundo, Caxias e, claro, Vacaria. Tb tem gente de Veranopolis, mas menos do que a gente esperava. Mas tá bonito.
E tome rock. Sequencia normal. Mando a Mãe Dinah tomar no cu! Vou dando meus textos. Juju entrou. Juju saiu. Vamonóis. Juju puxa parabéns pra mim. Fico com cara de bobo. Eles puxam "Envelheço na cidade", do Ira. E eu tô quase chorando. Quase? Mais abraços e cumprimentos da banda. Sou um cara privilegiado por poder viver um momento como este no palco. Segue o enterro.
Em "Blues do Velcro" tiro a bota e a meia da mocinha que dança com Juju e bebo cerveja na meia dela. Coloco a bota dela dentro da cueca samba-canção. Palmas pra Aline. O show vai. Bis. Raul. Mais duas nossas. Foi.
Camarim divertido. Fotos, abraços. Saio pro meu rolê básico na galera. Mais cumprimentos e fotos. Tô ao lado da nossa barraquinha. De volta ao camarim. Pego o maior número de cervejas que posso. Quero seguir comemorando meu aniversário.
Busão. É quando estamos assim, alcolatrados ao extremo, que surge a improvavel torcida "Timão-Porcô". Eu, Caran, Roy e Simon pulando e gritando. Só chapados mesmo. A banda só tem um não-corinthiano que é o Roy. Mas na equipe tem gente do chiqueiro e acabamos fazendo esta média com os verdes.
Chalé. Banas. Roy. Bebedeira... Sete horas. O café começa e sou o primeiro. Cama. Saída ás dez. Té mais.